16/10/2006

PICOLÉ DE SANGUE FRIO


(Araki, meu filhote, by Luciancencov)

Ah, inércia, inércia, quanto mais nos movimentamos mais temos energia para prosseguir. Meus dias tem sido bem produtivos criativamente, vários projetinhos paralelos e um romance novo, que acabei de começar.

Não vou falar nada dele, não, porque se começar a soltar teasers agora vocês vão ter de agüentar isso por dois anos, haha. Então é melhor eu me conter. Até porque não quero lançar livro ano que vem, quero descansar dessa tensão e responsabilidade, que no final se somam principalmente em expectativas frustradas...

Então vamos ao teatro. Neste final de semana fui ver uma ótima montagem de "Toda Nudez Será Castigada", com a Armazém Companhia de Teatro, no Centro Cultural Vergueiro. Assisti também à pré-estréia da nova peça dos Satyros – "Inocência", que estréia nesta quinta. Estupenda. Eles inclusive foram meus convidados no programa Le Kitsch C’est Chic desta semana, Ivam Cabral e Laerte Késsimos. Além da entrevista, eles cantaram, pintaram e bordaram, levando coisas bem divertidas para tocar. Eu toquei, entre outras coisas, Rufus Wainwright (fazendo "My Funny Valentine"), Ney Matogrosso, Rocio Jurado, Doris Day e Sinéad O’Connor (fazendo "Chiquitita", do Abba). Eles levaram pérolas kitsch que não vou revelar aqui...

Vocês podem ouvir o programa amanhã, terça: 18h com reprise às 23h, no www.mixbrasil.com.br/radiomixbr

Eu também escrevi um texto para o programa dessa peça nova deles. Reproduzo abaixo:

A vida continua na praça Roosevelt. Mesmo depois de morta – talvez suicídio, talvez assassinato – ela permanece vibrante nos sonhos e corpos (e que corpos – ulalá – haha!) da trupe dos Satyros. Não, não é como zumbis que se arrastam, pois não há nada de arrastado. Não é como fantasmas sem carne, ainda que assombre. É uma alma viajante, persistente, que não se apaga tão facilmente no final de um ato, numa saída de cena.

"Inocência" dá prosseguimento à parceria da dramaturga alemã Dea Loher com o grupo brasileiro. Se em "A Vida na Praça Roosevelt" ela fabulava as histórias que conheceu com o grupo, em "Inocência" parece ser o grupo que fabula as histórias de Loher. A mãe do assassino, os suicidas voadores, a stripper cega, o necrófilo autista, o imigrante ilegal, são arquétipos de que praça? Passageiros de qual meio? Vindos de qual mundo? É isso, uma fusão de mundos, gerando esse universo, expandindo os horizontes do Satyros, chegando até o oceano... E afundando.

Pois como todo universo complexo, há a densidade, o exagero, num tom que combina o kitsch e o macabro. Kitsch para rir das desgraças. Desgraça para levar o drama a sério. Ou talvez apenas uma poltrona estampada para tornar a viagem mais confortável. Feijoada servida durante o vôo. Eu gosto. Me acomodo. E ainda assim me perturbo, saio com os piores jetlags, algo inevitável ao viajar nessa companhia. (Oh, mas quem mandou eu me empanturrar? Aqui não se serve comida de avião.)

Sim, somos conduzidos, dirigidos, mesmo quando não flagrantemente interativos. Indo além do texto, além dos atores, além do som e da psicodelia visual, é a platéia que faz do Satyros os Satyros, mais do que em qualquer outro teatro. Nós somos dirigidos por eles. E assim eles nos deixam onde querem.

No final do percurso, fica essa constatação de um novo cenário (afinal, apenas a companhia aérea é a mesma). Para um grupo que sempre se aprofundou em questões da alma humana, "Inocência" revela: há um oceano na Praça Roosevelt. É lindo e é bravo.

(o elenco completo da peça)



Para saber mais: http://www.satyros.com.br

Mas não esqueci do meu jacaré não. A divulgação de "Mastigando Humanos" continua. Quarta, 22h, faço uma participação relâmpago no programa Saia Justa, na GNT. Acho que ficou bem divertido. Passa também em várias reprises, mas delas não sei o horário...

E neste final de semana participo da Balada Literária, sexta, 17h, na Livraria da Vila. Boa oportunidade de você aparecer, levar o livrinho para eu assinar ou mesmo comprar lá. Veja a programa completa do evento:

www.baladaliteraria.blogspot.com

Depois eu falo do lançamento no Rio (dia 31 de outubro) e em Porto Alegre (dia 11 de novembro).

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...