24/10/2007

DIVAS NA MINHA VIDA POLÍTICA


Havia um corredor dourado... e no fim dele uma luz...


Cuidado! Um espectro! Não olhe para os olhos dele!


Brasília já me torrou.

É apenas o ar seco. E o sol escaldante. Inventei de andar a pé por essas ruas, ruas em que ninguém anda, e fiquei vermelhin, vermelhin, até estou passando hidratante.

Brasília me tornou metrossexual.

A cidade é exatamente o que eu esperava, embora eu ainda não conheça a fundo. Uma cidade desértica, ampla, vazia, aquela coisa planejada, muitas vezes burocrática, tudo difícil e tudo distante.

A foto inevitável...

Ao menos já estou conhecendo gente queridíssima. Alguns leitores apareceram na mostra do CCBB, outros me levaram além. Uma leitora queridíssima já me levou para uma noitada, mas me comportei direitinho. Estou poupando minhas energias...

Se fisicamente Brasília é o que prometia, tem sido engraçado ouvir as pessoas daqui comentando “será que vai chover?”, ver os calangos nas ruas (e os candangos nos carros), treinar numa nova academia... A gente se acostuma tanto com “Brasília” como sinônimo de política (e corrupção) que estranha em ver que aqui tem gente que vive, que se diverte, que assiste a filmes e espera o sol se por.

Ontem mesmo, assistindo ao noticiário local, vi a história de um tamanduá que subiu num poste, vi uma reportagem sobre a guarda conjunta de crianças, sobre professoras particulares... Tudo sobre Brasília, e não era sobre política.

Minha trilha sonora aqui tem sido os novos discos de Deborah “Blondie” Harry e Annie Lennox. Peguei pouco antes de sair de São Paulo.


Annie says: "Posso estar velha, mas seu dentista me ama."


Annie Lennox já foi (e talvez ainda seja) minha cantora favorita. Claro, ela já foi andrógina, bizarra, sinistra. Agora é uma mãe de família (indo para avó...) que de vez em quando sai da casinha. Seu novo (quarto) cd solo, “Songs of Mass Destruction” é mais uma prova disso. Um disco de adulto, e isso não é exatamente um elogio. Tem aquele tom de disco-paisagem, embora Annie tenha dito recentemente numa entrevista que não faz “easy-listening”. Sua influência do R&B é flagrante, mas seu lado escocês é que a salva de ser tão chata quanto as atuais cantoras jovens norte-americanas. Aliás, fisicamente, Annie Lennox tem cada vez mais cara de escocesa, embora queira ser negona. Faixas como “Ghost in my Machine” e “Dark Road” quase empolgam. Há também balada bonitas, mas que não chegam a emocionar. No final, “Songs of Mass Destruction” acaba sendo mais um cd para ouvir durante um almoço, um coquetel, música de consultório de dentista (mas de um bom dentista, diga-se). Só é constrangedor mesmo ver a balada beneficente “Sing”, com a presença de várias cantoras de gosto duvidoso (como Madonna) e Annie exagerando nos vocais para mostrar que pode, como sempre se faz em músicas desse tipo. Aliás, é uma pena que ela tenha largado o que ela tinha de melhor: os graves.


Debbie says: "Não estou louca, o cirurgião só me esticou demais!"



Já Debbie Harry continua despirocada, continua fora da casinha e nunca se tornou mãe de família. Mas seu novo álbum de estúdio, “Necessary Evil” é obviamente bem mais tosco do que o de Annie, no bom e no mau sentido. A influência mais forte desse parece ser o hip-hop (estranhamente, duas loiras tão baseadas na música negra). Há algumas fracas passagens pop, baladinhas de butique, mas Debbie não conseguiria ser música de paisagem nem que quisesse, então é quando ela surta que fica divertido. Como na faixa “You’re Too Hot”, Debbie começa com um poderoso vocal gritado, mas sempre fora do tom e depois passa a música inteira numa única frase: “don’t touch me, you’re too hot.” Há também a ótima “Jen Jen”, em que o vocal de Debbie nem aparece, "In the Heat of the Moment", um sambinha experimental de gringo e o single “Two Times Blue”, bem new wave. No fim, “Necessary Evil” consegue ser um álbum divertido, “B”, tosco, mas divertido, infelizmente aquém das (ótimas) coisas que o Blondie ressuscitado andava fazendo.

E hoje, enquanto eu corria na esteira da minha academia temporária, ouvindo “White Out” da Debbie no Ipod, um treinador veio até mim:

“Desculpe, estava vendo você correr. Não quer fazer parte da equipe de corrida aqui da academia? Temos uma competição já amanhã e precisamos de mais um corredor...”

Veja só. Uma nova carreira, numa nova cidade.

O livro novo está nas finais (do primeiro tempo). Matei o último menino que faltava, agora é tentar salvar o sobrevivente.

Será que chego nas quatrocentas páginas? Das trezentas, já passei.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...