22/09/2009

SUPERFANTASTICAMENTE


No próximo sábado, na Livraria Martins Fontes (Paulista 509), a Terracota Editora lança a antologia "Alterego", organizada pelo querido Octavio Cariello. Nela, 20 autores escrevem contos de super-heróis, identidades trocadas e esquizofrenia fantástica (hum, gostei disso, esquizofrenia fantástica é uma nova modalidade de existencialismo bizarro?)

Eu não participo. Mas participo. Faço o texto de apresentação do livro, porque não sou muito de antologias, mas mais do que nunca acho que a literatura brasileira tem de fugir da praga do realismo; eu mesmo tenho me aproximado cada vez mais dessa cena fantástica - e meu texto de apresentação levanta essa bandeira.

Vai lá: Lançamento "ALTEREGO" - Livraria Martins Fontes (Paulista 509), dia 26 de setembro, sábado. À partir das 15:30.

Meu texto de apresentação eu coloco aqui, pra você ficar com vontade:


Vivemos num país sem heróis.

Ao menos, nossos heróis não têm superpoderes. Eles recebem ajuda do tio, emprego do cunhado, ganham mesada dos pais e pedem auxílio dos universitários. Vivemos num mundo sem fantasia e sem fantasiados.

Será que os valores insólitos do povo brasileiro que moldaram nossa tradição cultural, tão calcada na realidade, fizeram com que, por aqui, o dia-a-dia já bastasse como absurdo para não precisarmos dar aquele salto de trampolim para o além-Marte? O Brasil tem novelas exportadas para o exterior. O Brasil exporta mulatas, muamba, craques e cracks. Mas onde está nosso Homem-mico-leão-dourado, nosso paladino radioativo de capa e espada? Onde está nossa força imaginativa, nossa nova mitologia, deuses, monstros e heróis?

Talvez alguns pensem que eles estão por todos os lados...

É o que vemos nas histórias desta preciosa antologia de jovens autores, organizada por Octavio Carilello. Alterego é uma reunião de contos sobre super-heróis, identidades secretas, identidades trocadas. Mas todos com um tempero típico brasileiro – todos com algo de patético algo, algo de auto-paródia. Como se soubéssemos que, ainda que pudéssemos escalar um prédio como uma aranha, já seria esquisito o suficiente termos um nome de batismo como “Peter Parker”.

Alterego é um livro para desmoronar essas escaladas.

Aqui, a dupla identidade está no cotidiano, na paródia dos quadrinhos americanos, na tentativa de sobreviver com honra e hombridade numa vida que requer sempre que demos uma rebolada. Os heróis de Alterego não são tão fantásticos assim, são gente com quem nós mesmos podemos nos identificar; e suas identidades secretas... bem, eles são nossos vizinhos, nossos amigos, aquele cara esquisito que se sentava no fundo da escola.

E eles revelam novos autores com poder de fogo. Se os raios lasers ficaram nos anos 80, que venham com metralhadoras! São jovens prosadores que trazem a imaginação e inventividade que tanto falta na literatura brasileira. A influência das HQs e da cultura pop – tão natural, mas que costuma ser tão camuflada - aqui aparece com força, tomando de vez seu lugar ao lado da cachaça e da feijoada.

Batman está entre nós, não há dúvida – só não sabemos ainda se está perdendo a batalha para Fernandinho Beira-mar.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...