04/10/2009

UM ESCRITOR, UMA PRODUTORA E UM JORNALISTA SE ENCONTRAM NUMA ESQUINA...


Fábio e eu, no drinque de domingo à noite ("Agora estou aqui, estudando as possibilidades, pacientemente, numa batida de maracujá. Vendo o mar ir e voltar, esperando você. Nós dois moramos no mesmo prédio, mas você nunca está em casa. Nós dois olhamos para a mesma praia, mas você faz parte dela. Nós dois queimamos sob o mesmo sol, mas você nem sente. Antigamente... " do meu conto Mar Negro)

Como é bom poder ver peças de amigos e realmente gostar. Neste domingo fui ver o querido André Coelho em "Henfil Já", uma montagem clownesca divertidíssima dos textos do Henfil. Previsível dizer que continuam hiper atuais - a censura sendo subtituída (ou revestida?) hoje pela "crise de conteúdo". Mas papo militante à parte, é uma peça realmente divertida e muito gostosa de se ver pela afinação dos três (ótimos) atores.


Serviço: "Henfil Já" - Rua Jaceguai 400, horários aí em cima. O ingresso é dez reais (inteira) e ainda tem um esquema de poder pagar com uma lata de leite. Checa lá.


Falando em crise de conteúdo, crise de mercado e o caralho, dia desses estava conversando sobre isso aqui no "baixo augusta". Encontrei um amigo jornalista numa esquina e estava comentando como tenho dado mais entrevistas e falado mais sobre meu próprio livro do que lido respostas da "crítica". Parece que hoje os jornalistas recebem o livro, não lêem e me procuram para que eu mesmo fale "o que pretendia com isso." O que é bastante frustrante para quem já passou três anos trabalhando no texto, e agora preferiria receber respostas.

E ele comentava como não existe mais mercado, como não há mais opinião, nem espaço para crítica, que tudo é volátil e baseado em eventos e entradas no Twitter.

Não é a toa que esse meu último lançamento foi o mais badalado, o mais noticiado, mais coberto por colunas sociais, mas se encerra por aí.

E conversando com esse jornalista na rua, chegou uma amiga produtora musical, depois um amigo ator, e fui apresentando um ao outro, e fomos formando uma roda de lamentações pela rua, os tópicos se repetindo, as impressões se reafirmando, a crise do conteúdo, o fim do mercado, e quando eu vi já era quase dez horas da noite e eu tive de correr porque o mercado ia fechar mesmo e eu precisava ainda comprar cogumelos para um estrogonofe...

(suspiro)

Enfim, tudo remete ao que eu disse naquele post do Cauby, alguns "centímetros" abaixo, e tudo se encaixa. Principalmente agora que traduzo uma biografia do Bowie, e percebo como tudo começou, nos anos 60, com o surgimento da cultura pop, a arte como bem de consumo e a sedimentação do mercado cultural, que agora acaba...

O título deste post sugere algo como uma fábula. Mas ainda estou pensando em qual é a lição de moral.

(Ps - sorry pela falta de chá-chá-chá por aqui ultimamente. Tenho trabalhado horrores - tudo intensamente baseado em conteúdo, tradução e avaliação de livros - e tenho me sentido bem desprendido da realidade do nosso dia-a-dia.)

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...