17/02/2010

ULTRA QUEER


Eu, na terça de carnaval.


Foi um carnaval razoavelmente low-profile. Fui para a casa de campo dos Nazarian, fui ao cinema, recebi amigos em casa, dormi horrores, mas ainda consegui me jogar na noite paulistana e queimar uns neurônios que estavam sobrando...

Agora não consigo mais recitar "A Balado do Cárcere de Reading" de cor.

Assisti ao "Lobisomem," filme com Benicio Del Toro, no papel título, e Anthony Hopkins... também no papel título. Uma merda. Para começar, o visual do lobisomem é meio... tosco. quiseram fazer aquela coisa antiga - homem peludo com focinho - que hoje em dia me parece meio ridícula. E o filme é todo antigo, todo antigo. Tudo bem, é uma refilmagem, e poderia ser legal resgatar essa atmosfera "clássica" de filmes de terror, mas o resultado final é que o filme não tem nada, nada de novo, nada de espetacular, assustador, instigante, nem a transformação, nem os desdobramentos. E parece que os roteiristas não fazem idéia de como se dão as fases da lua. Toda noite é lua cheia, mas quando o personagem é preso pára de ser, um ciclo lunar sem lógica alguma. Eu diria até que aquele filme de lobisomem com o Jack Nicholson é melhor - pelo menos explora mais as mudanças internas que o homem passa quando contrai "a maldição".


Falando em maldição, infelizmente chegou só aqui na quarta em casa uma pilha de livros que encomendei da Amazon (infelizmente porque já chegaram também novos livrinhos para eu ler profissionalmente). Tudo coisa queer de primeira (e quinta) categoria.


Para começar, tem o novo (não tão novo assim) livro de contos do Dennis Cooper - Ugly Man. Cooper é dos meus autores favoritos - coisa gay das mais hardcore: um mundo de drogas, estupro, pedofilia, necrofilia, tortura, snuff e assassinato. E é um grande escritor. Os "sensíveis" podem experimentar God Jr. romance anterior dele, não-gay, e relativamente suave (embora entre numa viagem paranóica igualmente perturbadora) que talvez seja o melhor livro dele, embora nada consiga superar o impacto de Frisk, o primeiro que eu li. Infelizmente, nada dele foi publicado em português, no Brasil. E seria difícil recomendar para alguma editora.

Cooper tem um livro anterior de contos, Wrong, que eu não gostei. Achei tolinho. Mas foi escrito há quase vinte anos. Ele deve ter aprendido novos truques...



E procurando um novo Dennis Cooper encomendei também os dois volumes de Queer Fear, antologia de contos de terror gays. Eu espero, torço, rezo para que não sejam histórias de vampirinhos afeminados a lá Anne Rice. Ao menos eu sei que entre os contos está Bug Crush, de Scott Treleaven, que gerou o curta homônimo (de Carter Smith, que dirigiu o longa Ruins), e que é das coisas mais creepy que já vi na vida, apenas pelo clima maravilhoso.

Sexy!


Outro autor gay metido com horror é Clive Barker (que agora escreve livros infantis de fantasia). Sua obra tem carga forte de sadomasoquismo, como o filme Hellraiser, baseado em seu romance, The Hellbound Heart, e dirigido por ele mesmo. O filme é meio trash, mas é bacana, o livro é péeeeeeessimo, parece um roteiro de R$1,99. Mas Barker tem seus momentos. Seu volume de contos Books of Blood - que eu encomendei na Amazon há alguns anos - tem coisas bem legais, como "Pig Blood Blues", "Dread" e "Scape-goats."

Desta vez encomendei os três volumes de quadrinhos "Hellraiser" (sim, que são melhores do que o filme e melhores do que o livro). Tenho alguns dos números que foram lançados no Brasil, mas queria completar a coleção.

Também encomendei outros romances gays mais fofinhos (é, foi uma encomenda volumosa) e uma nova biografia do Suede.

Vendo o tipo de coisa que encomendo pela Amazon, não me surpreenderia se eles tivessem passado meu cadastro pro FBI...




Até já escrevi umas resenhas por lá (há aaaaaaaaanos, tenho medo de ver meu inglês). No final dos anos 90, um professor de Miami entrou em contato comigo - provavelmente percebendo que eu não entedia nada de literatura e nada de inglês - e começou a me mandar livros de "queer fiction." Coisas suaves, de bom gosto, mas que gerou ao menos uma leitura inesquecível, The Man Who Fell in Love with the Moon, uma espécie de faroeste gay narrado por um índio!


Hum, bem "Dog Man Star" essa capa, hein?


Outro favorito meu de literatura queer daquela época é o Matthew Stadler, que eu cheguei a conhecer pessoalmente na Livraria da Vila (onde eu já trabalhei de vendedor) quando ele veio lançar O Agressor Sexual por aqui (traduzido pelo Daniel Piza e lançado pela Geração). Chegamos a ficar em contato por email e ele me mandou seu romance Allan Stein, lá por 1999. Eu gostei bem, mas não leio nada dele há uns dez anos, preciso rever...




Aqui no Brasil, com um mercado bem mais restrito, é difícil encontrar literatura gay de peso (em todos os sentidos). Mas temos um ótimo representante hard em Glauco Mattoso (que me mandou seus dois livros mais recentes há alguns meses e estão entre os próximos da fila).

O joveníssimo Hugo Guimarães é alguém que também vale a pena acompanhar, ele tem um volume de poemas chamado Poesia gay Underground, tem pegada e prepara um livro de contos.

Falando em contos... você deve se perguntar sobre a antologia de contos gays que eu estava organizando há anos com o Marcelino... Bem, a coisa deu uma brochada depois que o "respeitável" sr. Ruffato decidiu lançar uma antologia com o mesmo tema, alguns meses depois de eu conversar com ele sobre essa idéia (até hoje não entendi por que na ocasião ele não me falou que estava com a mesma idéia, sabe? Então me dou o direito de continuar achando que ele é um mau-caráter da pior estirpe). Bem, você pode procurar a antologia do Ruffato, mas é uma bosta. Nah, ok, não é uma bosta, mas é preguiçosa, previsível, caretíssima, sem nenhuma surpresa. Tipo: Caio Fernando Abreu? - "Sargento Garcia." João do Rio? - "Histórias de Gente Alegre." Machado de Assis? -"Pílades e Orestes" Ele passou pela lista de contos que eu e o Marcelino vimos e falamos "esse é previsivel demais", e ficou por lá. Agora que já se passou algum tempo, talvez nós ressuscitemos nossa idéia da antologia. Vai ser bem melhor.



E... só falta me perguntar quando EU lançarei um livro objetivamente gay. Não sei. Todos meus livros tem pitadas, não é? Coadjuvantes, insinuações... É um tema que me interessa, claro, mas não é um tema que me "perturba", por isso talvez não esteja tão presente. Mas meu livro de contos por enquanto está 60% gay... se é que podemos avaliar assim. E bizarro, como sempre. Tem até a linda história de amor de um menino e um guepardo...


"O guepardo continuava olhando para mim. O guepardo continuava me olhando com aquele olhar de guepardo. Você sabe como olha um guepardo? Com aquele olhar desconsolado. Como se te jantar fosse um destino inevitável. Como se chorasse a carnificina que há em sua sina. Algo como lágrimas de crocodilo. Por isso seus olhos pintados. Nada de crueldade. Nada de sadismo. Te como com lagrimas nos olhos, lhe diria."

(agora chega que estou neste post há horas!)

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...