17/10/2010

DE QUANDO JESUS ATRAVESSOU UM RIO DE PIRANHAS


Eu e Sasha, perdidos na noite.


Helsinque tem sido insana.


Além das carnes de urso, da neve que vai e vem e de um vento frio cortante, meus dias aqui têm sido uma profusão de shows, filmes e amigos de ocasião.


Conheci um soldado, um enfermeiro, uma adolescente alcóolatra, um personal trainer sósia do Emimem, um modelo russo que viaja o mundo seguindo a Lady Gaga.


Aliás, daqui a pouco falo dela...


Ontem me peguei explicando para um metaleirozinho liiiiiiiiindo, com um cabelo loiro comprido incríiiiiiiiivel, quem foi São Tiago, Santiago, quem fui eu:


"Sabe quando Jesus tentou atravessar o Amazonas?"
"Uh?"
"Tiago tomou a dianteira e disse: 'Meu senhor, deixe que eu vou na frente para certificar-me de que o rio é seguro.' Tiago entrou no rio e foi atacado por piranhas. Assim Jesus pode atravessar com o resto de sua trupe e Tiago se tornou um Santo, o Santo que livrou Jesus das piranhas."

Acabei contando essa história mais de uma vez.

Turku.


Voltei pra cá na quinta, vindo de Rovaniemi. Ainda passei o dia em Turku, cidade duas horas a leste de Helsinque. Bonitinha, mas nada especial. Voltei a tempo de pegar um show da Lady Gaga num estádio de hóquei.

Estou longe de ser fã dela. Essa coisa ultrapop não me convence. Fui mais pelo evento... e para fazer inveja às bichas amigas - hohoho. Foi divertido, mas saí de lá com uma visão PIOR do que eu tinha dela. E continuo não gostando das músicas.

Para começar, ela se propõe ser uma cantora de verdade - e é - mas está jogada naquele contexto de megashow com bailarinos, efeitos especiais, um cenário pirotécnico com figurinos horroroooooosos. Não se encaixa exatamente - me pareceu frágil e deslocada. Durante todo o show ela repetia: "Aqui nós não dublamos, somos músicos de verdade," mas a verdade é que grande parte das músicas ela cantava sobre bases pré-gravadas de vocais, para que soasse exatamente como no disco.

O show tinha um pseudo enredo, dela procurando o "Monster Ball", a "melhor balada da terra." Cafona até doer. Termina com ela encontrando o "Monstro da Fama", um boneco gigante que parece um peixe abissal, e os bailarinos fugindo dela. Sintomático.

O melhor momento, para mim, foi quando ela cantou duas músicas ao piano - com o piano pegando fogo. Mas foram duas músicas e só. O resto do show todo era aquela coisa de coreografias, drama e frases de efeito: "Vocês são lindos," "acreditem em vocês mesmos," "vocês são os superstars," "quero que vocês saiam daqui não gostando mais de mim, mas gostando mais de vocês mesmos." (Música pop de auto-ajuda?)

Eu esperava que ela fosse mais alternativa, mais esquisita. E tivessão mais culhão.

Ao ver o show, entendi porque a platéia era formada na sua imensa maioria por... crianças. Meninas, na verdade, com os pais. Pouca gente montada, até poucos gays, era quase tudo meninas pré-adolescentes mesmo.

Do meu lado, se sentou um egípcio (nascido no Cairo, ok? Não uma bicha fazendo a egípcia) com a namorada, coitada. Rapaz simpático - até demais - passou o show tentando sondar minha sexualidade. Eu até entendo que, como executivo de uma multinacional, ele sinta que precisa viver enrustido, mas quando Lady Gaga soltou seus hits, ele não conseguiu se conter...

O show ainda teve a abertura da banda de punk-poser Semi Precious Weapons. Fake até doer.


Carne de urso e o ingresso. Só para provar que eu estive lá.

Também fui duas noites ao cinema - meio para matar tempo naquele vácuo entre jantar e balada.



O primeiro foi "Mr. Nobody"; como diria uma crítica que eu li "a mess of a movie." Uma espécie de "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças," com "Peixe Grande" e "Efeito Borboleta." Jared Leto faz o "último mortal vivo," com cento e poucos anos de idade, contando para seres imortais do futuro a história de sua vida, cheia de possibilidades conflitantes e contraditórias. Difícil de entender? É porque o filme é uma bagunça mesmo. Tem coisas bem bonitinhas - Jared é lindo, e PÉSSIMO ator - mas fica naquele tom "metafísico fofo, " com visual publicitário e a trilha sonora mais clichê do mundo, reciclada de diversos outros filmes.

Hum, acho que estou meio amargo hoje nas minhas resenhas...

Também vi "Buried", thriller minimalista do espanhol Rodrigo Cortés. É um ator trancado num caixão - um motorista de caminhão que é pego por terroristas no Iraque, enterrado vivo, e tem de tentar se salvar pelo celular, enquanto os terroristas exigem um resgate milionário. Isso aí, tem um celular e o celular tem sinal dentro do caixão, embaixo da terra; vamos considerar que isso é possível, que o filme se torna tenso e interessante.
Mais do que investir na claustrofobia da situação, o filme acaba revelando o inferno das esperas telefônicas e da burocracia, com o personagem à beira da morte tendo de aguardar na linha, falar pausadamente e com calma, enquanto tenta se comunicar com a polícia, com o FBI e com sua esposa. Me lembrou muito toda vez que tenho de falar como Banco do Brasil...

Antti Tuisko. Tosco.
Para terminar com as resenhas amargas do dia, ainda fui no show de Antti Tuisko- Who? Um cantorzinho vencedor do programa "Idols" daqui. Vi uma fila de menininhas na porta da boate gay DTM (que significa "Don´t Tell Mama", sacou?), perguntei o que era e resolvi conferir
O show era... Ah, chega de acidez por hoje - é a depressão de domingo, é a depressão... Vê a foto dele que você já pode imaginar o que foi.

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...