26/08/2011

DINOSSAUROS MELANCÓLICOS





E hoje fui ver A Árvore da Vida....




Confesso que fui com uma certa má vontade, sei lá por quê, talvez por ser estrelado por Brad Pitt, o que me deixava certo que era um cultzinho de Kinoplex. O diretor Terrence Malick também nunca me sensibilizou. Mas as comparações com Melancolia, do Von Trier, grande candidato a meu filme favorito de todos os tempos, acabaram me arrastando.




E as comparações têm fundamento, claro; Á Arvore da Vida e Melancolia são filmes irmãos, mas ao mesmo tempo não poderiam ser mais diferentes...




Uma mãe perde o filho e questiona o sentido da vida para Deus. O diretor acha que ela está falando com ele e se põe a explicar, desde o comecinho, com vulcões e dinossauros. As imagens são lindas, mas já me deixaram constrangido. Eu estava vendo isso mesmo? O diretor estava empenhado em mostrar a sério o sentido da vida?




Depois da longa sequência da história natural (culminando com a morte dos dinossauros - ei, o que aconteceu com o surgimento do homem? As civilizações? As pirâmides do Egito?) o filme se concentra na história pessoal da família em questão - que, ok, é bem bonita, mas meio déjà vu - e se encerra com uma redenção etérea pau no cu, cafonérrima. Até Sean Penn questionou o papel dele e a montagem do filme em si. Bem, ele também deve ter ficado puto que não faz absolutamente nada lá.




Para resumir, achei o filme mais pretensioso da história. Me fez sair com raiva do cinema.




Já o Melancolia só me fez feliz, e não sei se quero ver de novo para não estragar esse deslumbramento inicial. Sei que muita gente ficou mal com o filme, mas para mim ele passa uma mensagem dubiamente positiva, que a aflição que vive o indivíduo pertence a todos. Que estamos todos sozinhos, e nos vermos excluídos de algo é apenas uma ilusão. O problema não pertence a nós e não há o que lamentar. É tudo uma grande bobagem.




Von Trier oferece uma visão pessimista, cínica, mas ao mesmo tempo reconfortante. Ele afasta a ideia de Deus, coloca o ser humano como seu próprio dono, a natureza como uma geração espontânea. Um ótimo desdobramento de ideias que ele já explorava em Anticristo.




A Árvore da vida e Melancolia são praticamente inversos, enquanto o primeiro se sustenta na família, no sentido da vida como algo maior e evolucionista, o segundo se encerra no indivíduo, numa lógica niilista. A cena em que Kirsten Dunst diz que não existe mais vida alguma, em lugar algum do universo, que é um acidente que só aconteceu na Terra e que vai deixar de existir é das melhores coisas que já ouvi. Enquanto isso, Malick pau no cu está botando fé no Deus dos dinossauros e dos girassóis. Haha.





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