25/11/2011

"MEU REFRIGERADOR NÃO FUNCIONA"

De um lado o cemitério; do outro, o mar; no meio, uma ciclovia; não poderia haver no mundo uma síntese melhor da minha personalidade.

Hoje eu acordei, tomei café, respondi a uma caralhada de emails, trabalhei numa tradução, fui à academia, almocei, fui ao supermercado, trabalhei numa tradução, saí para andar de bicicleta, estou postando no blog, vou sair para a balada.

A mesma trilha, de dia.


Parece a minha vida de sempre, é a minha vida de sempre, mesmo que os cenários sejam tão diferentes. Eu sou sempre o mesmo, se você não notou...

Sigo numa "rotina não sei bem por quê", eu sei muito bem porquê. Porque é o conforto básico que eu tenho na minha vida tão volátil. (Novamente e sempre) como no "Feriado", ainda que eu não tenha chefe, ainda que a distinção entre dias de semana, finais de semanas e feriado não precisassem ter necessariamente efeito sobre mim, eu sempre respeito o calendário. Não vivo num mundo a parte. Por mais que eu gostasse... Não vivo num mundo a parte. E a urgência recai sobre mim numa manhã de segunda como me diverge numa sexta de noite.

Mas sobre o quê estou divagando?

O cemitério...


Ah, minha "nova" vida em Helsinque. Não é preciso muito para que se torne minha velha vida confortável, mas estou achando que será necessário muito para que se torne uma nova vida de fato. Talvez Florianópolis tenha sido mais fácil. Aquela realidade praiana-surfística-caiçara que exigia que eu ficasse amigo da mocinha da farmácia talvez seja bem mais distante de SP do que a vida em Helsinque. Mas ainda assim é divertido e lindo estar aqui.


- Ainda estou em hotel. Ainda. Estou cansado. Adoro ficar em hotel, mas tem uma hora que você quer se sentir em casa. E cozinhar. Pulo de hotel em hotel a quase um mês e meio, de cidade em cidade. Parte disso foi trabalho, ok, mas pouca parte. Agora está na hora de me fixar. Mas mudo para meu apartamento na próxima terça.


- Vida em Helsinque: como eu já disse, é difícil se sentir parte da vida da cidade trabalhando trancado em seu próprio computador; a dona do meu apartamento, Anni, se esforçou esta semana para me levar a algumas festas e tentar me enturmar. Mas eram festas do pessoal da moda, lançamento de uma revista e uma festa da Diesel; não acho que o ambiente mais friendly seja uma festa da Diesel...

- Sobre a língua: meu finlandês é o mais precário, mas é bem melhor do que nada. Eu consigo me virar nos cardápios, no supermercado, e absolutamente todo mundo fala inglês de bom
grado.

- O supermercado: esses dias descobri minha perdição, o subsolo da Stockmann. É uma grande loja de departamentos, com um subsolo de supermercado - mil vezes melhor do que qualquer Santa Luzia. E não falo isso de pirraça, até porque, se tem um problema na Finlândia é a comida...

- A comida: há algo muito estranho na comida da Finlândia. Há bons restaurantes, os pratos típicos são ok, mas o approach com a comida é estranho e muito diferente, mesmo comparando com todos os outros países escandinavos. É bacana você fazer um lanche com carne de rena defumada, como fiz hoje, mas... Você não encontra em lugar algum salgados suculentos, doces apetitosos. Se quer comprar um lanche pronto, vai encontrar pão preto recheado com salmão - nada de croissants dourados com presunto e queijo. Se quer comprar um docinho para ver no cinema tem... salmiakki! Que é literalmente "sal de amônia" algo próximo do alcaçuz, meio salgado. E é bem difícil você encontrar algo que não tenha isso. (Para você ter uma ideia, na última vez que fui ao cinema, de doce mesmo só consegui encontrar M&M's.)

Esta é a forma mais rápida de gelar uma vodca por aqui.


- Sobre o tempo: é o que todo mundo me pergunta - do friiiiio! O frio tem sido o menor dos problemas, so far. Tenho sofrido mais, mesmo, sério, com o calor. Todo lugar é muito aquecido aqui. Quarto de hotel, academia... Outro dia fui fazer uma aula de "Hot Pilates", achei que era um pilates mais hardcore. Mas era um pilates numa sala aquecida tipo uma sauna! Fiz até o fim, mas tive de dar uma de brasileiro e dizer "no meu país eu não sofro de calor assim, blá, blá, blá".

Num sábado "de sol."

- O tempo: está tranquilíssimo; hoje estava 9 graus! Nada de neve por enquanto. Me disseram que é razoavelmente comum (e visto como uma maldição) não ter nada de neve até o Natal. Fiquei mega decepcionado. Nada de neve até o Natal? Se não há na Finlândia, onde haverá? (Bem, estamos ao sul da Finlândia, mas ainda assim, ao norte de imensa parte da Europa.) Ano passado eu estive aqui em outubro e já caía uma nevezinha decorativa. Ao mesmo tempo, luz há cada vez menos. O céu está sempre turvo, o sol amanhece tarde e morre cedo, e esse circuito todo parece apenas um fim do dia. Não dá muita vontade de sair da cama.

Num dia estranhamente claro em novembro.

- E o tempo: mexe mesmo com a cabeça e o calendário. O povo começa a voltar para casa por volta das 4 da tarde (que já está bem escuro), sabe-se lá que horas eles vão trabalhar. Sei que é preciso um esforço especial da minha parte para sair de casa antes das 14h (quando já entra mesmo em final de tarde) e sentir que eu vivi o dia.


Mas no final não há nenhum grande choque - já estive aqui várias vezes - e é um pouco constrangedor como as dificuldades têm de ser encaradas (por mim mesmo) como um choque de cultura. Se sofro com o calor de uma sala de academia, não é um problema pessoal meu com uma academia nova, é o problema de um brasileiro com uma academia finlandesa. Não é exatamente assim nem para mim, nem para eles, mas acho que essa é a impressão geral que se estabelece.



Enquanto escrevo isso, Rudolph me observa com censura do canto do quarto. Essa rena tem pacto com o demo, te digo.


MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...