27/02/2014

A MARCHINHA ZERO ZERO


Neste país que despreza nossa literatura, nunca teríamos uma escola, um desfile, uma marchinha que seja que homenageasse nossa valorosa GERAÇÃO ZERO ZERO,

Mas não tem problema, porque viajamos pelo mundo e podemos fazer nós mesmo nossa marchinha-literária-ostentação.

Senhoras e senhores, A MARCHINHA ZERO ZERO


Alô Galera, Alô Cuenca,
O Tio Pécora tá que não se aguenta
Alô Pratinha, alô Michel,
Cadê meu nome na coluna da Raquel?

Viajo pelo mundo,
Não levo mala não
Só do que eu preciso
É bolsa de tradução

Do Rio para França
De Flip a Frankfurt
Acordo com champagne,
Como se fosse iogurte.

Alô del Fuego, alô Terron
A vida é boa e Villas Boas acha bom
Alô, ‘na Paula, Alô Marçal
Quem não tem Granta espera a de Portugal.

O Sesc é minha casa
Marcelino meu prefeito
Rodrigo Teixeira
tem todos meus direitos

Se o amor é expresso,
Um micro-conto de oficina,
Tiro de Sete Letras
e mudo de Companhia
  
Alô Emilio, alô Scott
Quem não tem mira, isola, faz o seu fricote.

Salve Santiago , Salem Levy

Eu sou teu fã, teu seguidor, mas nunca li

Você pode ouvir a versão demo-deluxe funk ostentação aqui:



25/02/2014

CARTA A UM JOVEM ESCRITOR



Neste meio em que se valoriza tanto a experiência, e onde os anos parecem estar sempre à favor do autor, pouca gente terá algum conselho útil ao jovem escritor, além daquela máxima rodriguiana: “Envelheça!”

Porém essa perspectiva não só está desatualizada como carregada de inveja, recalque e hipocrisia. Como autor de meia-idade que começou razoavelmente cedo e hoje vive de glórias do passado, posso dar conselhos realmente proveitosos ao jovem autor que deseja ingressar no mercado literário.

- Publique o quanto antes, hoje, ontem! Podem te dizer para não ter pressa, podem aconselhar a escrever com calma, mas só querem é eliminar a sua viçosa concorrência. O quanto antes, melhor. Publicar aos trinta e pouco qualquer um pode; aos vinte e pouco é para os fortes; antes dos vinte é para prodígios! Pense em Rimbaud!

- Não basta ser jovem, tem de aparentar. Moleques pançudinhos com pinta de nerd não humilham com o frescor da mocidade. Corrija essa miopia. Troque os estudos pela esteira. Se a genética não te beneficiou, por hora sua ambição pela Academia deve ser a Biorritmo!

- Um adendo aqui. Até para juventude há limites. Certifique-se da verborragia de seus pelos púbicos e pelo menos um ou outro fio de barba, para sua publicação não cair automaticamente na literatura infanto-juvenil. Acredite, a crítica irá verificar isso.

- Não basta publicar cedo – Sete Letras é para os fracos! - tem de ser por uma grande casa editorial. De preferência pela Companhia das Letras, que conferirá um selo automático de confiabilidade a toda sua malemolência juvenil.

- Não basta publicar por grandes casas editoriais, tem de estar no primeiro time e participar da FLIP, FRANKFURT, GRANTA! Claro, como jovem autor você tem tempo para tudo isso. Daqui a vinte anos a Granta lança outra edição de “Melhores Jovens” e você ainda poderá participar, mas se puder entrar ainda na portuguesa, melhor! Todos os coquetéis, festas, viagens, entrevistas de que você participar serão mais bem aproveitados na sua mocidade, solteiro, com saúde e cútis intocada. Aos trinta e poucos seu fígado já estará capenga. Você PRECISA estar na PRÓXIMA FLIP!

- Como bem aponta Luciana Villas-Boas, que bebe da fonte Catherine Deneuve de juventude eterna, começar com contos e poesia é para punheteiros! Isso todo mundo faz, e o mercado despreza livros de contos e poesia. Porém aponto ressalvas em começar pelo romance: você perde o trunfo de poder publicar o primeiro romance já com uma carreira sólida e bem-estabelecida e concorrer automaticamente ao Prêmio São Paulo de autor iniciante aos 45 do segundo tempo!  (Ou melhor, aos 39, onde concorrerá apenas com os iniciantes mais jovens, aumentando consideravelmente suas chances).

- Então, se não pode começar pelo conto, poesia ou romance sugiro começar pela... autobiografia! Vamos, um livro de memórias é muito mais fácil de escrever aos 19. Não precisa ser tudo verdade, claro que não, o ideal é que tenha a emoção da ficção com o fetiche do biográfico. Pense em Mayra Dias Gomes!

- Claro que vender uma autobiografia sem sobrenome de peso ou grande acontecimento/tragédia/conquista na vida não é fácil, mas pense em todas as coisas que você faz, que todo mundo faz, mas ninguém conta. Fez sexo grupal? Cheirou cocaína até cair? Acordou na casa de uma travesti? A literatura está aí para dizer o que todo mundo faz, mas ninguém diz. Pense que um ator da Globo nem pode dizer que fuma uma baseadinho. Pense em Bruna Surfistinha.  

- Agora, essa dica é difícil, eu sei, e também vai bem contracorrente, mas é importante:  Publicou? Afaste-se das mídias sociais. Twitter, Facebook, Skoob. Você está acima disso; seu livro impresso, revisto, preparado, editado e selado é seu atestado, e seus posts insensatos, impensados e embriagados só deporão contra você. Nada vale mais do que o jovem discreto e misterioso. Nunca despeje tudo (ou mais do) que querem saber. Corpo a corpo com os leitores na rede é coisa de autorzinho juvenil da Novo Século.  


- Obviamente esses conselhos não almejam que você escreva melhor, que tenha a melhor obra, que seja um grande autor; apenas que tenha uma vida plena, feliz, realizada, com uma polpuda conta bancária. A permanência da sua obra está menos condicionada a isso do que ao derretimento das calotas polares, os vazamentos de Fukushima e à iminente extinção da raça humana.

A citação final é aquela tradução livre de Roberto BolanõS: "Se você é jovem ainda, jovem ainda, jovem ainda. Amanhã velho será, velho será, velho será..."


23/02/2014

ENCONTROS

Com os queridos irmãos Antonio Cícero e Marina Lima, esta semana. 

A Azougue Editorial acaba de lançar "Encontros", volume de entrevistas com o poeta, filósofo e letrista Antonio Cícero, organizado pelo querido (músico) Arthur Nogueira. Estive no lançamento esta semana e bati bons papos com Cicero, que sempre é a pessoa mais fofa do mundo.

Eu mesmo o entrevistei anos atrás, para a revista Joyce Pascowitch, junto com a Marina. Procurei, procurei a entrevista para postar aqui, mas não encontrei. De todo modo, acabei de fazer uma NOVA entrevista com o Cícero para meu Programinha Bizarro e você pode ouvir aqui, com direito a grandes músicas escritas por ele:

https://soundcloud.com/santiago-nazarian/programa-7-antonio-c-cero

No mais, o livro está delicioso, recomendo bem.


O lançamento já passou, mas o livro está aí. 




16/02/2014

LOBÃO SEM RAZÃO

Sou um grande entusiasta da Internet, redes sociais, do Facebook.

Enquanto que o discurso padrão é sobre o esvaziamento do indivíduo, a Internet sempre como "superficializadora"; não consigo deixar de ver com otimismo essa pulverização (em todos os sentidos) da informação. É um pouco o que coloquei (ironicamente) numa frase aqui outro dia.

"Essa geração de hoje só se informa por Facebook. No meu tempo, a Veja tinha mais páginas."

Eu acordo todo dia e abro o Facebook. Como o ritual de ler o jornal, passo pelos links dos amigos, as matérias postadas, fotos, comentários do dia (até porque, quando eu acordo o dia já começou há um tempo...). Muitas vezes encontro diferentes pontos de vista para uma mesma notícia. Diferentes matérias para um mesmo fato. Bate-bocas por um determinado assunto. Isso sem falar nas indiretas, picuinhas, alfinetadas...


[Se você não encontra tudo isso. Talvez o problema seja seus amigos...]

É inegável que isso dá uma visão mais ampla do que sempre ler apenas o mesmo jornal, a mesma revista. Claro também que grande parte dos comentários/visões/colocações são superficiais, não-embasadas e derivadas de uma terceira fonte, mas o conjunto de tudo isso possibilita que o indivíduo pensante tenha uma visão mais rica e questionadora.

Apesar disso, vejo com suspeita essa tendência de hiper-politização. Todos antenados, politizados, com algo fundamental a acrescentar. Aliás, vejo com suspeita essa tendência de hiper-tudo. Todo mundo tem algo a dizer sobre tudo, de BBB à morte de Lou Reed, Direitos Humanos, Copa do Mundo, Pec, Pac, Tetrapack e religião. Claro que é legal que todos se informem e procurem saber um pouco de política, mas na Internet parece que são todos profissionais sobre TUDO. E muitos RECEBEM para isso.


Gosto muito do Lobão, como roqueiro, como figura; outro dia estava vendo (tardiamente) a entrevista dele no Roda Viva, vendo como ele argumentava mal, como falava merda, e achando muito certo mesmo. Lobão é um roqueiro lesado, fala merda, tem umas ideias toscas, quem acha que se pode levar a sério o que ele fala sobre política? Quem vai pagar para ele falar sobre política? Lobão está certo de falar o que pensa, está sendo íntegro - coió é quem paga ler; safado é quem paga para ele escrever e está faturando em cima. 


Mesma coisa com tanta gente, sei lá, Rodrigo Constantino. É para ser levado a sério só por estar na Veja? Por que interessa o que ele acha de gay, política, do Bolsonaro? Que ele pode dizer além de achismo? A tendência da mídia impressa, "séria", "profissional" de financiar o "opinianismo" da Internet é que é a merda, por legitimar algo que deveria ser relativizado. Mas se todo mundo ler o blog da Veja como mais um blog (como este), fica tranquilo o direito de todo mundo dizer merda. 


Talvez o problema seja essa inclusão digital. Tanta gente sem ensino básico, nutrida a bolacha recheada, sem nem saber ler direito e achando que pode comentar...


Comento sobre isso (assim, gratuitamente, na minha casinha, ouvindo minha musiquinha) por essa pseudo-obrigação que se criou também do escritor ser politizado, atuante, determinante e participativo. Parece que o escritor que não fala de política não é politizado. Parece que o escritor não politizado é alienado. Eu participo quando acho que tenho algo a acrescentar. Não escrevo sobre TUDO. Sou um ficcionista. Faço literatura pop-underground-existencialista-bizarra e acho que já faço muito. Já faço muito pagando meus impostos. Ou já faço demais pagando os juros do Itaú. Já faço muito escrevendo a crítica de um livro para a Folha. Já faço muito assumindo publicamente minha homossexualidade. Já faço muito questionando o papel do indivíduo na sociedade (em tantos, em tantos livros, posts, comentários). Já faço muito questionando os valores acadêmicos. Já faço mais expondo tantos conflitos de minorias dentro de minorias. Já questiono muitos valores da cultura de massa que passam despercebidos pela massa pensante. E luto e me esforço e acho que o importante é fazer, quando muitas vezes eu preferiria passar o dia em coma. Eu me esforço. 


Esta é minha contribuição política. Não menospreze. 


E este é apenas um post, um achismo, uma opinião sem valor de alguém que acha que tem mais a dizer em seu próximo livro..




06/02/2014



“Talento, voz, rosto, tudo murcha com o tempo. A natureza é madrasta e, para um roqueiro de meia-idade que já viveu todos os excessos de sua geração, a natureza só existe como ameaça, inimiga, perversa. Isolado numa casa de campo, após o suicídio da mãe, ele enfrentará suas frustrações e medos internos, enquanto o mato cresce lá fora, o solo espera por seu sangue. BIOFOBIA é a volta de Santiago Nazarian ao thriller, seu primeiro romance ‘adulto’ em cinco anos, numa narrativa tão literária quanto cinematográfica. Prepare-se para o pior.” 


Isso! Finalmente posso revelar! Meu novo livro se chama BIOFOBIA, é um romance, um thriller de cerca de duzentas páginas, que fica num tom entre Feriado de Mim Mesmo e A Morte Sem Nome.

Foram cinco anos desde o último (O Prédio, o Tédio e o Menino Cego), nesse meio tempo lancei um de contos, lancei um juvenil, tentei me matar e tentei começar vários romances que não engrenaram. Na metade do ano passado tive a centelha para esse, daí foi um jorro, da primeira linha à versão final em seis meses.

É um romance de crise de meia-idade, claro, o confronto do homem com a natureza. O protagonista é uma personificação de várias frustrações, rancores e crises; um decadente cantor de rock alternativo num país que não sabe o que é isso.  É pesado, sim, tem seu flerte com o terror, mas não deixa de ser carregado de um humor negro.

Sairá novamente pela Record, que sempre entende tão bem o que sei fazer; já está entregue e no processo de edição. Sai na segunda quinzena de abril; lançamento em São Paulo provavelmente na primeira quinzena de maio (aceito sugestões de lugar), e no resto do Brasil onde me chamarem. (Ei, vamos lá me chamar de volta para as Bienais, Festivais, Festas, Simpósios, Colóquios e Flips?)

Os frutos são sempre incertos. Como um negativista, sempre me decepciono. Ou como esperançoso, sempre espero que meus livros possam alcançar mais. Mas já é um alívio e um alento saber que consegui mais um - que fiz o melhor que pude, que o livro está saindo, tem todo meu orgulho e estou inteiramente ali.

Aliás, obrigado a todos os amigos, queridos e leitores que postaram os teasers por esses dias no Facebook e Twitter (e vão CONTINUAR postando sobre o livro). Vocês sabem, literatura é essa arte mais solitária que existe.

Na verdade, é meio egoísta, não é? Nesse mundo multicultural, em que todos estão fechados em companhias, cooperativas, coletivos, produtoras, todos com seus projetos, tentando emplacar sua obra, sua resenha, serem vistos no coletivo, o escritor é como um motorista solitário de uma Kombi numa marginal na hora do rush... Tem de fazer TUDO sozinho, podendo contar um pouco com a editora quando o livro já está sendo vendido. Não, você que faz teatro divide com atores-produtores-diretores--iluminadores-som-figurino, você que faz cinema divide com isso e muito mais. Você que tem uma banda divide com a banda, e mesmo um cantor solo tem os músicos, o produtor e os técnicos. A escrita é um artesanato de praia. Então a força dos amigos, colegas e leitores faz toda a diferença.

Mas só assim que essa arte pode existir - sem compromisso nenhum com consenso, empresas, patrocinador, governo, tendência, é a visão de um único indivíduo materializada no produto livro. E não vou me cansar de insistir na importância disso. Cada vez mais.

Agradeço especialmente ao Taiya Löcherbach, querido irmãozinho de Floripa que fez a foto da capa, e ao Murilo que, com o infeliz posto de cônjuge de escritor, tem de participar de infinitas discussões sobre a trama, sobre a capa, sobre o futuro do país depois desse livro...



Trabalhando nas ideias da capa, dezembro passado. 


03/02/2014

RESENHAS DO FINAL DE SEMANA



Duas resenhas minhas publicadas neste final de semana, na Folha:


LIONEL ASBO: ESTADO DA INGLATERRA, de Martin Amis.

Sarcasmo, cinismo e ironia são recursos de estilo difíceis de serem traduzidos por aqui. Não apenas porque não encontram muita correspondência num país pretensamente simpático como o nosso, mas porque dependem de antemão de uma compreensão do leitor, uma cumplicidade, tornando-o aquele que também caçoa ou aquele que é caçoado.

Esse jogo está em alta em “Lionel Asbo: Estado da Inglaterra”, a começar pelo título, com um intraduzível “Asbo” (de “ordem de comportamento anti-social”, em inglês) e um “State of England”, que nem em português deixa claro se se refere ao estado atual da Inglaterra ou a um fictício “Estado” do Reino Britânico.

Um pseudo-fictício momento atual da Inglaterra é o que encontramos no romance de Martin Amis. Desmond é um jovem criado nos subúrbios de Londres pelo marginal tio Lionel, um antipai, ou contrapai (“Lionel falava; Des ouvia com atenção e depois fazia outra coisa”) que recomenda que ele falte na escola, só leia porcaria e só use o computador para pornografia. Contrariando a educação familiar, Desmond, gentil, feminista e “romântico”, segue um progresso lento e constante através dos estudos, enquanto seu tio avança loucamente pelo crime e pela sorte, tornando-se uma celebridade instantânea ao ser premiado num bilhete de loteria.

A estrutura do romance é ousada, não só oscilando entre os dois personagens, como também incorporando reportagens e desconstruindo a linearidade, mas sempre oferecendo a possibilidade do leitor de rir daquilo como uma grande piada, um traço da boa literatura pop que não parece existir entre nós. O teor imoral do caráter de Asbo (que afinal é o herói do romance) e seu comportamento violento poderiam tornar o romance pesado. Mas sua completa inversão de valores toma ares de nonsense, como nos melhores filmes de Tarantino, e oferece um desafio ao leitor na voz do protagonista: “O mundo dos ricos é pesado. Tudo tem peso. Porque está aqui para durar. E o meu velho mundo... é leve! Nada pesa um grama! As pessoas morrem! As coisas... voam e desaparecem! Portanto este é o meu desafio. Ir do mundo flutuante... para o mundo pesado. E sou capaz de enfrentá-lo.”

Lionel Asbo é um desafio. Uma experiência literária sublime, mas produto da Inglaterra, que talvez perca grande parte de sua força em outros territórios, reinos e estados.

Avaliação: Bom


O TÍMIDO E AS MULHERES, de Pepetela. 

Pepetela é pseudônimo de Artur Carlos Maurício Pestana do Santos, escritor angolano que recebeu o Prêmio Camões em 1997, esteve na Flip de 2008 e tem duas dezenas de obras publicadas em seu país. No Brasil, a editora Leya vem publicando boa parte de sua obra, e agora traz seu romance mais recente, O Tímido e as Mulheres, recém lançado em Angola.
            Heitor é o “tímido”, um aspirante a escritor de “cabelo grande, barba grande, despenteado, um Jesus Cristo Negro”. Sua paixão platônica é Marisa, uma radialista sedutora de “seios fartos, uma bunda generosa e lábios carnudos”; que por sua vez é casada com Lucrécio, um filósofo resignado, aprisionado a uma cadeira de rodas. O que à primeira vista se apresenta como um triângulo amoroso se desdobra numa série de histórias interligadas, num foco narrativo que migra para outros personagens da Luanda dos dias de hoje: o fiscal corrupto, a estudante de história, os amigos boêmios.
            Com humor fino e uma sensível observação da sociedade, o autor constrói um texto delicioso que remete muito à crônica de costumes brasileira – passando por Machado de Assis, Nelson Rodrigues e Jorge Amado (esse citado nominalmente pelo autor). A proximidade da realidade angolana com a nossa é instigante, embora tal familiaridade também tire um pouco o brilho do romance. A esposa voluptuosa com o marido impotente, o protagonista aspirante a escritor, o amigo safo, até o imprescindível cão companheiro do herói – tudo resvala num déjà vu, magistralmente escrito, mas sem grandes novidades.
            Como tempero especial temos o português angolano, perfeitamente compreensível (a edição apresenta o texto original, sem adaptações), porém repleto de expressões curiosas e grafias alternativas. Um glossário de cincos páginas ao final desvenda termos como “ngombelador”. “ximbeco” e “cassule”.

Avaliação: Bom. 

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...