06/11/2014

SUCO DE ESCANDINÁVIA


Na próxima segunda o duo norueguês Röyksopp lança seu quinto (e supostamente último) álbum de estúdio, "The Inevitable End" ("O Fim Inevitável"), que já pode ser baixado pelos mais ansiosos ou ouvido em streaming em links como este: http://noisey.vice.com/pt_br/blog/ouca-o-ultimo-lp-do-royksopp-the-inevitable-end

Estou longe de ser um especialista ou entusiasta de música eletrônica. Mas o Röyksopp está longe de se limitar por isso. Em quinze anos de carreira eles foram do elektro ao ambient, passando por várias vertentes do pop e do experimental. Sendo basicamente uma dupla de produtores noruegueses, recorreram a grandes artistas escandinavos para dar voz às suas composições, mas também conseguiram completar sozinhos várias faixas instrumentais e cantadas que não ficam nada atrás.



Meu álbum favorito provavelmente é o "Senior", de 2010, totalmente instrumental, que deixou de lado qualquer intenção pop em favor de faixas climáticas, longas e lentas, que eu demorei a entender mas hoje me soam geniais. É um disco para se ouvir com atenção às texturas, aos andamentos, aproximando-se da música erudita.



No começo do ano eles lançaram um EP de cinco músicas com a Robyn - cantora sueca que eu detesto - que não me empolgou, mas confirmou o talento deles no experimentalismo na bela faixa "Monument". E agora eles voltaram para um disco inteiro.



A versão original-encurtada de "Monument"

"The Inevitable End" não é o melhor disco do Röyksopp, nem para quem curte o lado mais pop, nem para quem curte o lado mais experimental, mas é um bom caminho entre os dois. Funciona como uma coletânea de tudo o que eles fazem de melhor (e de pior).

Abrindo com "Skulls", cumpre a promessa de um som mais sombrio, com vocoders e distorções reconhecíveis, e não deixa de ter um ritmo delicioso. Segue com "Monument" e "This Sordid Affair", a melhor surpresa do disco, um pop suave que lembra "Poor Leno" (do primeiro disco) com vocal de Ryan James.


A melhor do disco?

O disco tem várias faixas lentas, bem lentas e minimalistas com vocal de Jamie Irrepressible (basicamente um Antony mais alternativo ainda do que o dos Johnsons) e faz a Robyn passar recibo de tosca com o vexame de "Rong". O ponto alto são as duas faixas com a (genial cantora norueguesa) Susanne Sundfor - "Save Me", um elektro-pop meio bagaceiro, mas divertidíssimo, e "Runing to the Sea", que já havia sido lançada como single há quase dois anos, e é das coisas mais lindas que eles já escreveram (que de certa forma destoa um pouco do disco pela elaboração e afetividade). Resumindo: conseguem ser divertidos sendo toscos, conseguem ser toscos sendo toscos, conseguem ser profundos sem divertir, conseguem divertir sendo profundos, e tudo o que resta entre isso.


Não dá para fazer elektro pop melhor do que isso. 


Talvez o que me atraia no Röyksopp seja o que sempre me atraiu na Escandinávia em geral, o clima melancólico,  onírico-etéreo, que já visitei tantas vezes como turista e breve morador na Finlândia, Dinamarca, Suécia e Noruega. Talvez por estar tão longe ou talvez tão próximo do meu espírito latino, continua me inspirando muito mais do que qualquer samba daqui. "The Inevitable End" não é sempre prazeroso - é amargo, azedo, com um toque de frutas vermelhas - mas é como tomar um suco concentrado de Escandinávia. E faz efeito.


(Amo essa foto, na fronteira da Finlândia com a Noruega, em outubro de 2011. Dá uma olhada no mapa para ver como é norte pra caralho, fim do mundo mesmo.)

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...