01/04/2016

SOBRE A VIDA

Ontem acordei com a notícia de que a filha de oito anos de conhecidos havia morrido de gripe. O pai dela postou no Facebook, ao que se seguiu centenas de comentários solidários, de pêsames, emoticons de tristeza, alguns polegares positivos...

Não conhecia a menina, mal conheço os pais, achei melhor não mandar recado algum. Dificilmente terei filhos, nunca tive uma perda pesada dessas, não sei o que dizer, nem sei o que sentir. Ainda assim, não tinha como não me colocar no lugar do pai, do outro lado da tela. Ele abria a timeline para postar sobre a morte da filha e via a foto do café da manhã de um amigo, outro postando um meme sobre o pato da FIESP, escritores aproveitando uma viagem a Paris. Sua filha morre e o mundo continua sorrindo.

Passei o dia com uma sensação incômoda. Apenas uma sensação incômoda. Não consegui postar sobre uma estreia teatral, o lançamento do livro de um amigo, cada postagem que surgia na minha timeline parecia um desrespeito com o sofrimento daquela família.

Pessoas morrem todos os dias. E o mundo continua rindo.

Tenho cinco mil amigos no Facebook. Sabe-se lá quais estão perdendo diariamente entes queridos, quais morrem eles mesmos, enquanto escrevo este post, enquanto compartilho uma crítica ao meu livro.

 Outra conhecida compartilhou a notícia da morte. Com uma legenda que até agora não entendi o sentido:

“Quantos mais irão morrer?” ela perguntava. Não entendi. 

Sem querer ser sarcástico, tive de responder com obviedade:


“Todos.”

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...