15/03/2016

VESTINDO A CAMISA


"O Brasil não é um país sério"

“Estou farto de tanta corrupção” (obviedades de um comentarista de timeline: 400 curtidas)

Há dias que não falo nada. Só observo. Quietinho acompanho (de casa) as manifestações, cobertura sobre as manifestações, comentários sobre a cobertura. Faço a Glória e não me considero apto a opinar.

Política não é meu campo. As minhas opiniões são óbvias. Não fazem diferença e não tenho nada a acrescentar. Mas permanecer calado observando, em tempos de manifestação política, é mostrar-se alienado.

Nunca torci para time nenhum. Nunca entendi a razão para se ter um time. É pelo hino? É pelas cores? Gosto da camisa preta, gosto da camisa azul. O time tem uma personalidade em si? O jogador para quem você torce hoje não pode amanhã estar no time adversário ? Essa questão segue atualmente comigo em relação aos partidos políticos.

Me parece uma escolha aleatória e irracional. Me parece óbvio. Gosto da estrelinha. Sou do clube dos tucaninhos. Minha prefeita petista é do PMDB. “O cachorro é um lobo mais manso.”

Num cenário de corrupção institucionalizada, culpar o PT, defender o PT me parece tão ingênuo, tão fantasioso, tão óbvio, que tenho medo de estar fazendo papel de idiota. Não fui à manifestação porque me pareceu dirigida a um bode expiatório. Escolhe-se o governo como personificação da corrupção, lavam-se as mãos, e com um golpe o resto do bando assume. (Quem sabe Dilma não volta numa próxima como ministra do Aécio?)

Mas isso não é dizer o óbvio?

Domingo saí para almoçar e vi o povo de amarelo, camisa da CBF, grife de corrupção, ir protestar contra sei lá o quê, passear na Paulista, levar o cachorrinho, babá empurrando o carrinho das crianças...

O que importa é a mensagem. 

A imagem emblemática inflamou as discussões dos últimos dias. É apenas uma imagem, mas são apenas discussões. Pessoalmente acho estranho alguém precisar de babá quando os dois pais estão presentes. Acho estranho precisar de uma babá para empurrar o carro dos filhos num domingo à tarde. Acho mais estranho levar a babá uniformizada de branco numa manifestação política. Mas cada um faz o que quer; estão gerando emprego, pagando impostos, não estão fazendo nada de ilegal...

E cada um comenta o que quer. Se estão numa manifestação política, estão lá para passar uma mensagem, mostrar publicamente o que pensam. Estão sujeitos à crítica dos que não concordam.  

Eu acho que a primeira mensagem que eles me passam é: “Precisamos dos pobres para empurrar o carrinho dos nossos filhos.” E o casal ir dessa forma numa manifestação e nem compreender o que a imagem poderia transmitir me parece mais um agravante de alienação, como o casal que vestiu o filho de macaco no carnaval.

Você também pode dizer: “A patrulha da esquerda está demais. Não se pode nem sair de casa com a babá.”

Pode. E quem acha essas manifestações incongruentes também pode se expressar. Essa é a beleza da democracia que ainda temos...

A mim parece óbvio.

Por isso fico quietinho.

Ops...

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...