13/05/2019

4.2



42, corpinho de 46, espírito de 64. 


A sensação que eu tenho é que estou voltando de uma longa viagem, de uma terra estrangeira, de volta a São Paulo, cenários tão familiares, mas seis anos mais tarde.

Acabo de completar 42 anos – corpinho de 46, espírito de 64. Há anos que sinto que vivi mais do que o suficiente, mas insisto. Sem grandes vontades, é verdade; passei o último ano basicamente trancado em casa, só trabalhando para pagar as contas, deixando o tempo passar, os planetas se realinharem... Daí quando me dei conta estava tudo fora do lugar.

Estou solteiro de novo, depois de seis anos – a sensação que eu tenho é que estou voltando de uma longa viagem... O ex-cozinheiro soltou a mão e fugiu para o outro lado. Não era mais um relacionamento confiável; uma pessoa que só me colocava para baixo...

Mas o que não me deixa para baixo nos tempos em que vivemos?

Trevoso. 

Daí, estou tendo de me esforçar a sair mais de casa, voltar à academia, ver os amigos, conhecer pessoas. “Aproveite para se dedicar ao trabalho”, me disse uma. Eu só me dedico a isso - eu não saio, eu não transo, não vejo a família. Mas é uma fidelidade não-correspondida. O que eu tenho a oferecer as pessoas não valorizam... “A vida é muito maior do que a escrita”, dizem outros casados e com filhos. A minha vida não é maior do que nada.

É só a coelha que me faz levantar da cama todos os dias.



A sensação de retorno não é só pelo fim do relacionamento. O trabalho mais estável nos últimos meses me possibilitou ir colocando as coisas no lugar. O sofá destruído (pela coelha): vamos arrumar o sofá; as cuecas velhas de casado: troquei por novas da Calvin Klein; o celular... Passei um ano sem celular – e antes disso, pouco usava. Então com iPhone novo comecei a usar mais o Instagram, baixei Tinder, e Grindr, e Hornett, e Uber, e Whatsappp... nunca tive Whatsapp... Os aplicativos de pegação eu até já tive, 6 anos atrás, conheci o falecido assim, mas agora é um mundo novo, ou um mundo a que retorno, depois de uma longa viagem, ou de um coma, seis anos mais velho...

E que preguiça, meu deus...

Descamisado, bem padrãozinho, aos 33. 

Ao menos afastei a preguiça da academia. Quem me acompanha há tempos sabe como já fui rato, rato de tanquinho. O tempo passou e eu deixei passar. Já não sentia necessidade alguma de exercício físico. Tão bom poder ficar dias e dias sem ver ninguém, nem sair de casa... daí ir ao mercado e voltar. Mas o corpo cobra o preço. Voltei a malhar e fazer funcional há pouco mais de um mês, o peso vai diminuindo, e já consegui restaurar a vontade de malhar TODOS os dias – porque para mim as coisas só funcionam assim: se for para fazer, tem de ser para valer. Sou da escola da androginia, e sei que nunca mais serei um rapaz lânguido e esguio – até porque, nunca mais serei rapaz – mas com toda a MASSA que tenho, estou aprendendo a me aceitar como homão.

A foto atual padrãozinho na academia...

(Se eu posso dizer que há UMA coisa que eu gosto em mim hoje, uma ÚNICA coisa, deve ser exatamente o que você sugere que eu deva cortar: meu cabelo. Mesmo cada vez mais branco, é tudo o que me resta.)



 Então nesse aniversário de 42, resolvi chamar os amigos. Pensei primeiro nas amigas, as meninas – buscar um pouco de colo; passei Natal, reveillon e Páscoa sozinho, afinal. Agora, o dia das mães dificultou. “Aniversário não é importante”, “problemas todo mundo tem”, foi meio o que escutei ; “relacionamentos vêm e vão”, me disse uma quarentona que nunca teve um relacionamento estável. Lembrei porque nunca comemoro aniversário – parece um estorvo, que estou pedindo favor. Não é importante para mais ninguém  - mais ou menos como lançar livro. Nossa vida não é importante para ninguém. A gente morre e o pessoal corre para não perder o pilates.

Mas então os amigos, os meninos – que não tinham pilates – não me decepcionaram. Os meninos mais próximos toparam. Obrigado aos queridos que estiveram comigo nesse domingo.

No Badauê, o melhor restaurante de Maresias, agora em São Paulo. 

E que venham mais... 42? Não, 4.2 está de bom tamanho... Julho de 2023 já está mais do que bom.


(Enquanto isso, nos aplicativos...)










MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...