09/12/2024

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor?

(Trago questões, não trago respostas...)

Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulano é influencer e escritor, youtuber e escritor, modelo e escritor. Como se para ser escritor bastasse publicar um livro, sem nem necessariamente precisar tê-lo escrito.

Um psicólogo que escreve um livro de psicologia não é um psicólogo? E um matemático que escreve um livro de matemática, é um escritor?

Eu tendo sempre a associar “escritor” com ficcionista, aquele que escreve histórias – mas também poderia ser não-ficção... um biógrafo... um onanista...

Eu, com dezenove anos, já me dizia escritor, porque escrevia uns contos horríveis, fazia uns fanzines e distribuia aos amigos, que me davam tapinha nas costas: “Muito bem, Santiago...”

Comecei a publicar aos vinte e cinco, daí dizia orgulhoso que era escritor, as pessoas olhavam para minha cútis ainda não conspurcada pelas drogas e perguntavam: “Mas você publicou um livro?” E eu publiquei aos vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito...

(Hoje quando digo que sou escritor, ninguém estranha. Como um tiozão cabeludo, pareço um estereótipo de mim mesmo...)

Mas se para ser escritor é preciso escrever histórias e publicar, qualquer um pode ser, porque qualquer um pode se autopublicar de graça hoje em dia... BASTA APRENDER COM MEU CURSO GRATUITO (mentira, não tô vendendo curso hoje).

Sempre quando eu apresentava um namorado (na época que eu ainda praticava essas sodomias), as pessoas perguntavam para ele: “você também escreve?” E eu respondia: “Não, ele é analfabeto.” (Depois, quando me casei com um chef de cozinha, as pessoas passaram a ME perguntar: “Você também cozinha?” E eu respondia: “Não, como cru!”)

Então para ser escritor tem que escrever histórias, tem que publicar, tem que  viver de escrita? Viver de escrita é viver de livros? Ou serve dar oficina? Escrever em jornal? De quanto em quanto tempo é preciso publicar para não se perder a carteirinha de escritor?

Talvez seja tudo bobagem, porque ser escritor não é um EMBLEMA, né? Não é sinônimo de sucesso, de ser culto, de ser bom... Você pode ser escritor, mas ser um péssimo escritor...

(Escritor hoje em dia, mais do que escrever, tem que gravar vídeo. Este, por acaso é o roteirinho de um reel que acabei de postar no Instagram.)


06/12/2024

UM ANO ÁRIDO

Na pista...


(Se 2024 foi doce pra você, é porque você não presta.)


2024 foi um ano árido. Ano passado, a gente saía da pandemia, com novo governo, acho que todo mundo conseguia ser mais otimista. Daí a gente viu que não seria tão fácil ser feliz. Que a gente nunca havia sido feliz realmente. Que o pior não havia passado. Que o pior sempre está por vir. Novos rumos foram indicando Direita X Direita. O mundo se acabando em seca, em enchentes, queimadas, inundações...

Aqui, na minha quebrada, foi mais árido, mais quebrado do que nunca. 

Moro numa zona gay que está se acabando em demolições, reconstruções, "novos empreendimentos de alto padrão", que na prática significam expulsar velhos moradores e trazer novo rico que gosta de porta branca e varanda gourmet. É um pó só. Tem construção na minha rua toda, e é barulho, britadeira, poeira, o puro suco seco de São Paulo. Isso foi meu ano todo. 

Tirando isso, no campo pessoal, no campo profissional, meu ano não trouxe NENHUMA conquista, mas também nenhuma tragédia. A gente se acostuma sofrendo aos pouquinhos. O trabalho foi constante, os boletos foram pagos, deu para fazer duas viagens para a praia e uma viagem para a serra. E só. 

Comecei bem, a virada em Florianópolis, para onde também consegui voltar em outubro. No meu aniversário, em maio, decidi ir para a Serra da Mantiqueira, matar as saudades de lembranças bucólicas, e também pesquisar cenários para um próximo livro... Minha mãe me encontrou em Campos do Jordão, no dia das mães, e tivemos dias gostosinhos.

Não teve lançamento de livro, nem grandes colheitas dos livros anteriores. Veado Assassino foi vendido para uma produtora argentina, mas já vendi livros o suficiente para o cinema, para saber que não necessariamente são produzidos. Ao menos veio uma graninha. Agora no final do ano, também aproveitei para jogar na Amazon uma versão do Veado em inglês, que eu mesmo traduzi. Se não é uma conquista editorial, ao menos me dá orgulho de conseguir traduzir minha própria obra.

As versões/traduções para o inglês foram bem constantes este ano, por sinal. É o que resta em tempos de inteligência artificial - tradução do inglês para o português o povo acha que consegue fazer com as ferramentas de IA. A versão para o inglês precisa ao menos de alguém fluente para avaliar se está correta. 

Fiz muita leitura crítica, que é algo que adoro fazer, e acho que faço cada vez melhor. Vi autores evoluírem muito. Dei três oficinas de escrita (e a quarta não rolou), tive livros adotados em clubes de leitura e fui jurado de um prêmio de literatura que até agora não soltou o resultado. Enfim, é assim que se vive de literatura no Brasil...

Participei de mais eventos literários do que no ano passado. Mesas com o Ricardo Lísias, Alexandre Vidal Porto, Celso Suarana e Cristhiano Aguiar. No MIS, discuti sobre adaptações literárias no cinema. Também participei de um debate na USP, sobre revisionismo e censura de livros, que foi uma pauta forte este ano. 

Em março, publiquei uma matéria na Folha sobre isso, sobre a verdadeira censura pelo qual os livros têm passado, de temas, de palavras, uma censura prévia, mercadológica, de algoritmo, que não é restrita a direita ou esquerda, mas que tenta barrar tudo o que é controverso, que pode ser "gatilho", tornar tudo "censura livre", em vez de livre de censura. Teve autorzão do momento, avesso ao debate, que ficou putinho, veio com desaforos e barrou qualquer possibilidade de conversa. EU cumpri minha função, que é de contestar. 

Sigo escrevendo, sigo trabalhando, vou seguindo para 2025 sem muitas vontades, nenhum sonho, nenhum plano, sem muito sentido, na verdade. 

Ficam as fotos de bons momentos deste ano...


Virada com a familinha de Floripa.


Com o ângulo certo, ainda dá pra enganar...


Riachos bucólicos no aniversário na serra. 

Um esquilo fotogênico.

Dia das mães em Campos do Jordão. 

Pousadinha em Santo Antônio do Pinhal. 


Debate com Celso Suarana na Casa Queer. 



Na Feira do Livro do Pacaembu, com Del Fuego, Tracy Mann e Wellington Furtado. 



Com Rita Couto e Alexandre Vidal Porto.



Debate no MIS. 

Debate na USP





Com a familinha da ilha também em outubro. 


Barra da Lagoa




Beetlejuice no Halloween.





O Veado em inglês, em capa foda de Alexandre Matos. 





Ainda assino uns livros...


13/11/2024

VEADO EM INGLÊS

 


Temos o Veado em inglês! Há cerca de um ano, traduzi para a Companhia tentar vender lá fora, sem grande sucesso. Então encomendei essa capa fodona para meu irmãozinho, parceiro de longa data, Alexandre Matos e joguei na Amazon. Já está disponível lá, tanto para Kindle quanto impresso. (O impresso só é vendido pelas Amazons de fora, então fica bem carinho com o frete. De qualquer forma, devo receber uma remessa em breve e vejo o preço camarada que consigo, para quem quiser.) Não é uma GRAAANDE conquista, mas não deixa de ser um orgulho, estar conseguindo traduzir minha própria obra e jogar para o mundo. Há anos que faço isso para livros dos outros - já traduzi obras do Ziraldo, da Fernanda Emediato, do Raphael Montes - e tava devendo a mim mesmo. Essa tradução teve desafios específicos, a começar por toda a discussão sobre veado-viado, o bicho, a bicha, que só o próprio autor teria tanta liberdade para adaptar (Renato virou Rudolph, para começar). E assim vamos seguindo; o importante é continuar fazendo, o importante é fazer com prazer, porque os frutos são sempre discutíveis...




(Link para compra: https://www.amazon.com/-/ )



11/11/2024

AINDA ESTOU AQUI

 Fui ver um dos filmes mais comentados atualmente.

Não tinha NENHUMA sessão legendada. E todas as mortes do filme ocorrem off-screen. Ainda assim, gostei bastante...



Piadolas à parte, estava curioso para ver "Ainda Estou Aqui". O livro do Marcelo Rubens Paiva é bem jornalístico, objetivo - queria entender como conseguiram adaptar para algo mais emotivo, nível Oscar.
E, para mim, funcionou.
Tanto o livro como o filme têm um universo muito próximo a mim, parece (e é) algo que aconteceu pouco antes de eu nascer... com gente próxima... citam tanto gente da minha família materna quanto paterna, amigos dos meus pais.... (a classe média intelectual carioca-paulistana é um ovo, afinal), mas o filme torna isso ainda mais palpável.
A primeira parte me remeteu muito aos próprios álbuns da minha família, a fotografia, os figurinos, os cabelos. Teve uma cena numa cozinha que eu parecia identificar vários utensílios, a decoração das casas de quando eu era pequeno, queria ter pausado, entrado na cena, aberto as gavetas e revisto parte da minha infância lá.
Mas daí o filme dá aquela virada, a prisão do Rubens Paiva, e a própria nostalgia que eu sentia foi embora. Parece que aquela época se perdeu de vez, a fotografia muda, as casas se tornam menos reconhecíveis... O filme é sobre isso, afinal.
Adorei, e fico surpreso de o filme estar tão popular. Não me parece uma isca tão óbvia quanto Central do Brasil (que eu também adoro). Acho que o filme deve ecoar para cada um de uma forma diferente...

Também me lembrou muito o livro da Tracy Mann, que traduzi no começo do ano, que se passa na mesma época e cenários, mais focado na MPB, e que parece que AINDA NÃO TEM EDITORA NO BRASIL, incrivelmente...

(Fernanda Torres tá um espetáculo, claro, mas fico me perguntando se Oscar não gosta mais de mulher se esperneando....)

29/10/2024

OS MELHORES FILMES DE TERROR DE 2024

 

 


Hora da minha tradicional lista de Halloween, dos melhores filmes de terror do ano (até aqui).

2024 foi um belo ano pro terror, hein? Acho que a consolidação dos streamings fortaleceu o gênero, que rendeu não só podreiras, mas muita coisa mais consistente e reflexiva.

A misoginia foi um tema forte este ano, com histórias de mulheres, estreladas por mulheres, dirigidas por mulheres, invertendo muitas vezes a lógica da “final girl”. Outra tendência foi filmes ultraviolentos, o fim da censura ao gore. Os estúdios perceberam que a classificação indicativa não era mais uma barreira para o filme repercutir – vide Terrifier 3, A Substância e até Beetlejuice, que teve uma classificação indicativa de 14 anos e investiu muito mais em nojeiras gráficas do que o filme original. Acho que isso é consequência de a bilheteria do cinema não ser mais a única possibilidade, pela força que ganharam os streamings.

Porém, a tendência mais ATERRORIZANTE do ano foi o fortalecimento da dublagem. Puta merda, cada vez menos sessões com áudio original nos cinemas.  Já falei horrores de como a dublagem é um empobrecimento - e sei BEM do que estou falando, já fiz muita tradução pra dublagem. Mas essa é outra conversa...

Então vamos lá. Teve tanta coisa boa que este ano minha lista tem VINTE títulos. Gostei que tem dois ótimos nacionais. Deixei de fora alguns favoritos, como “Longlegs” (mais pretensioso do que qualquer coisa) e “Oddity”. Vários estão longe de serem perfeitos, mas são todos divertidos e trazem algo de novo. Segue a lista:

 

 

A SUBSTÂNCIA


Meio Retrato de Dorian Gray, meio episódio de Black Mirror, com Demi Moore buscando a fonte da juventude, não tem muita lógica e até o terceiro ato eu estava detestando. Mas o final do filme assume o grotesco e o absurdo de uma forma, que se torna “O” body horror mais aflitivo que já vi.

 

ALIEN ROMULUS


A potência minimalista do original ainda é imbatível, mas essa é uma ótima sequência, claustrofóbica, meio nojenta e com reflexões bem pertinentes sobre ética em inteligência artificial.

 

TERRIFIER 3



Não concordo que seja o mais violento dos três – muitas mortes são rápidas e off-screen. O palhaço Art também está um tanto descaracterizado, com essa temática natalina. Mas ainda é um slasher divertido, ousado e muito sangrento.

 

MADS

Terror francês de epidemia, contado num longo plano sequência insano. Bad trip das boas.

 

IN A VIOLENT NATURE

Slasher com o argumento mais genérico possível: um monstrão zumbi desperta numa reserva florestal e passa a matar geral. Toda a diferença está na maneira em que é filmado: lento, silencioso, sem trilha sonora e com longos planos sequência. Uma bela amostra de como a direção e a montagem fazem TODA a diferença.

 

PISQUE DUAS VEZES

Duas garçonetes são convidadas a passar uns dias numa ilha particular. Aos poucos vai surgindo um clima crescente de que algo não está certo. Um mistura de “Corra” com um Midsommar dos bilionários.

 

NÃO SE MEXA

Thriller de serial killer perseguindo sua vítima por florestas e estradas, mas daqueles raros em que não se baseia na imbecilidade da vítima, que toma todas as atitudes que a gente tomaria (e ainda assim, dá merda).  

 

UMA FAMÍLIA FELIZ


Thriller nacional, com argumento e roteiro do Raphael Montes, traz uma série de plot twists e surpresas e um clima macabro permanente raramente visto por aqui. Bem bacana.

 

ABRAÇO DE MÃE


Um surpreendente terror cósmico nacional (co-produção com Argentina), com Marjorie Estiano fazendo uma bombeira que vai atender uma ocorrência num asilo aos pedaços e encontra uma estranha seita...

 

STOPMOTION

Tentando finalizar uma animação em stopmotion idealizada pela mãe falecida – artista referência nessa arte – uma jovem vai pouco a pouco surtando com as minúcias da produção e seus personagens macabros. Estranhíssimo, mas ótimo.

 

IMACULADA

Esse e “A Primeira Profecia” trazem exatamente a mesma sinopse: uma noviça gatinha vai para um convento na Itália e tem que enfrentar um complô de padres e madres que querem gerar o anticristo. Só que esse é bem melhor.

 

LA MESITA DEL COMEDOR

Terror tragicômico espanhol, rodado há alguns anos, que só agora ganhou circulação. Traz uma sequência de acontecimentos catastróficos para um pai que é deixado por poucos minutos cuidando do filho recém-nascido. É tão pesado, tão bizarro que se torna uma comédia absurda com ares alegóricos.

 

SOB O SENA

Uma grata renovação nos filmes de tubarão, trazendo questões ambientais, mar de plástico e uma ambientação em Paris às vésperas das olimpíadas. Bem divertido.

 

WHAT YOU WISH FOR

Um chef de cozinha é contratado para trabalhar para um clube seleto, que oferece jantares de luxo com pratos bem peculiares... Thriller tenso e divertidíssimo.

 

LOWLIFES

Ótimo slasher que subverte o clichê de “caipiras assassinos”, com uma família de Los Angeles passando uma noite numa remota propriedade rural.

 

STRANGE DARLING

Um thriller fragmentado de serial killer perseguindo sua vítima, cheio de twists e surpresas subvertendo as convenções do gênero. Bem bom.

 

A GAROTA DA VEZ


Thriller baseado em fatos reais, de um serial killer que participa de um programa de “Namoro na TV”. De forma fragmentada, intercala o programa com assassinatos cometidos por ele. Mais uma interessante produção sobre misoginia e feminicídio.

 

DADDY’S HEAD

 Após a morte do pai, um menino e sua madrasta têm que conviver com uma estranha presença numa casa remota. O filme permite várias leituras sobre o luto e tem um final matador.

NÃO SOLTE

Terror shyamalanesco (mas dirigido pelo grande Alejandre Aja) de uma família isolada numa casa na floresta, temendo um mal que pode ser imaginário. Bem bom.


BEETLEJUICE! BEEETLEJUICE!

Passa como terror? Bem, é mais terror do que o primeiro, mais sombrio, tanto graficamente quanto na trama. Bem divertido (ainda que bastante hiperbólico), um ótimo filme de Halloween.

23/10/2024

CÍCERO

 

Em Ouro Preto.

Tristeza imensa  pela morte de Antonio Cícero, escritor, filósofo, poeta e um dos maiores letristas do país. Era também das pessoas mais doces que conheci.

Entrevistei-o há uns vinte anos para a Joyce Pascowitch. Ele marcou num restaurante japonês no Rio, caríssimo, e eu fui me perguntando se a revista me reembolsava, se eu devia pedir só uma aguinha. Nem lembro do que pedi, lembro que o papo foi ótimo e ele fez questão de pagar tudo. Depois disso, nos encontramos em eventos literários, em bares, ele topou participar de um proto-podcast que eu tinha no blog, nos tornamos amigos.


Num lançamento meu no Rio. 

Lembro bem de uma vez que voltamos juntos de um evento literário em Ouro Preto, numa van, e o motorista tocava o pior sertanejo universitário a todo volume. E eu pensando: “Tô com um dos maiores letristas do país do meu lado e tenho que escutar isso...”


Com a irmã Marina, em São Paulo. 


(Vou fazer uma playlist com minhas letras favoritas dele.)



Fiquei feliz quando se tornou imortal, mas para mim ele já era. E agora se une ao time dos lendários que tive o prazer de encontrar, junto ao Noll, Jô, Millôr, Scliar, Guzik, Victor Heringer, Fernanda Young, Lygia, Ziraldo...

A carta que ele deixou: mais do que digno. 




18/09/2024

LEIA AUTORES SUICIDAS

Com Tom Farias, Renata Nakano e Flávio Moura, hoje na USP.

 

Participei hoje de um debate promovido pelos alunos de jornalismo da USP, sobre revisionismo e censura nas obras literárias.

A censura é um tema que me aflige e tenho discutido muito nos últimos tempos, desde a matéria que escrevi em março para a Folha, mas é interessante analisar essa questão junto ao revisionismo - como autores como Monteiro Lobato, por exemplo, hoje são considerados racistas e podem ou não ter suas obras alteradas postumamente. 

Tenho visto muitos autores fazendo isso ainda em vida - quando reveem obras lançadas quinze, vinte anos atrás, que não caem bem atualmente com pautas como feminismo, racismo ou identidade de gênero. 

O que a gente esquece muitas vezes é que o livro é antes de tudo um produto do seu tempo, pensado como produto por uma empresa (editora); e ainda que possa sobreviver por décadas, isso é uma exceção. O livro é feito para ser vendido como um produto de sua época - se o texto não é pensado conscientemente assim, a capa, o projeto gráfico, os aparatos, até o título são. (Não à toa que talvez a capa de um livro seja o que envelhece primeiro, fica logo datada.)

Então é pertinente analisar o quê deve ser revisto para um livro sobreviver - se é só dar uma nova roupagem, uma nova capa, se é preciso atualizar a ortografia, ou se termos e passagens já não fazem mais (ou não fazem o mesmo) sentido. Quando isso vai pesando demais, talvez seja a prova de que o livro não sobreviveu de fato. Para que insistir?

Eu, como autor vivo (quase morto), acho mais interessante trazer algo novo, publicar algo novo do que ficar revisitando, reeditando minhas antigas obras. E acho importante a bandeira de "leia autores vivos" exatamente pelo caráter transitório do livro. Não é porque um livro é perecível, que ele é necessariamente descartável. Às vezes ele traz discussões e questões que são fundamentais naquele momento, mas que deixam de fazer sentido com o tempo. 

Então, antes de pensar em revisionismo, pense em ler autores vivos. (Mas não adianta ficar levantando bandeirinha de "Leia autores vivos", "Leia autoras vivas",  "leia autorxs vivx" pra ler só as autoras da modinha). Leia os autores esquecidos, leia os autores vivos-quase-mortos, leia o quanto antes os autores suicidas. 

16/09/2024

CURSO EM OUTUBRO

 


A OFICINA DO PERSONAGEM está de volta em outubro!

A querida Nara Vidal me convidou para oferecer um curso na sua plataforma "Sala de Escrita" e eu trouxe de volta o curso que rolou em agosto, desta vez com quatro aulas. 

Já dei muito o curso "Caminhos para a Publicação", baseado em informações práticas sobre os processos para publicar e promover um livro, e sempre me pedem cursos baseados mais na escrita, então fiz esse formato, que tem uma parte expositiva, mas também é mais interativo, porque os alunos trazem seus temas de vida, que geram teses, que são personificadas em personagens que carregam a trama. 

Decidi colocar uma aula extra para poder trabalhar com mais calma os textos dos alunos, dependendo do tamanho da turma, e também para adentrar mais na estrutura do livro. 

Serão as primeiras 4 quartas-feiras de outubro, das 19h às 21h. A Sala de Escrita também oferece parcelamento e uma estrutura que geralmente não consigo oferecer sozinho - como a gravação das aulas para os alunos. 

As informações e valores todos estão no link abaixo. Espero vocês lá, este é o QUARTO curso que dou em 2024 e depois desse NUNCA MAIS DAREI CURSO ALGUM (em 2024). 

Acesse: 

https://www.sympla.com.br/evento-online/oficina-do-personagem/2634874?_gl=1*q5s3cd*_gcl_au*MTYxNjYzODU3NS4xNzI1ODg1MTM2*_ga*NjczNTgzODE5LjE3MjU4ODUxMzY.*_ga_KXH10SQTZF*MTcyNjA2NDE4OC40LjEuMTcyNjA2NDM2Mi4yMC4wLjIwMTk0NjgwMDk.&share_id=copiarlink&referrer=linktr.ee

12/09/2024

BEETLEJUICE! BEETLEJUICE!

 



Enfim fui ver ontem com minha sobrinha. Foi daqueles filmes da minha infância, o primeiro, vi mais de uma vez no cinema, até com meu pai, tinha o K7, depois o DVD...

Esse novo fez o que era necessário para agradar as novas gerações, o que significa que é bem mais hiperbólico, várias tramas paralelas, muita coisa acontecendo, diferente do ritmo mais contido do original. Me incomoda um pouco, mas sei que era inevitável, e o excesso de referências, easter eggs, não deixa de ser divertido.

Também achei mais sombrio do que o original. Flerta mais com o terror, tanto graficamente quanto na trama; com certeza não é para crianças pequenas.

E é um filme de Halloween. Se o primeiro já tinha o clima, esse é bem mais marcado, se passa na data, tem as abóboras, a decoração, a personagem adolescente comemorando com o namoradinho...

Senti falta de Danny Elfman – o tema clássico tocado na abertura foi de arrepiar, mas o filme se apoia mais em canções pop, tentando replicar o momento “Day-O” do original em várias cenas; não consegue, não tem nenhuma cena tão icônica, mas conseguiu provocar várias dancinhas minhas e da minha sobrinha no cinema.

(Vimos no Imax. Vocês gostam de Imax? Acho a tela grande demais, não dá pra ver a tela toda de uma só vez...)

Enfim, é o que tinha que ser como um Beetlejuice da Geração Z. Gostei. Minha sobrinha adorou. 

E tá bem em sintonia com meu próximo livro... Também  um livro de Halloween... Halloween no Brasil, anos 80... Afagando a criança trevosinha que eu fui.


Será que esse já dá pra ela?

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...