17/03/2024

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo)


Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que gatilhos evitar para quem cresce em um país traumático como o Brasil? Você só descobriu o sexo depois que mamãe e papai autorizaram?

As polêmicas atuais em torno da censura de livros pretensamente passam muito pela proteção das crianças e dos adolescentes. Mas é mais fácil assustar uma criança ou ofender um evangélico? Quem realmente está se incomodando com o quê? Escolas, editoras, curadores e os próprios autores parecem estar tentando prever tudo isso. Como fazer para que nossos livros passem pela censura?

Nas últimas semanas, foi pedido o recolhimento do romance "O Avesso da Pele" (Companhia das Letras), do gaúcho Jeferson Tenório, em escolas do Paraná, de Goiás e do Mato Grosso do Sul, sob o pretexto de que a história contém palavras de baixo calão, de cunho sexual.

Marçal Aquino sofreu ataques semelhantes no ano passado, com seu romance "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios" (Companhia das Letras) sendo retirado da lista de leituras do vestibular de uma universidade de Goiás.

Censura ainda mais grave vem sofrendo o livro "Outono de Carne Estranha" (Record), de Airton Souza, vencedor do prêmio Sesc, por parte da diretoria da própria instituição.

O romance, que narra encontros homossexuais no garimpo de Serra Pelada, teve circulação restrita dentro do circuito do Sesc e levou a demissões, atrasos e mudanças no edital do prêmio, que ameaçam a independência do júri com uma censura prévia, do que pode ou não ser premiado em futuras edições.

Alguns observam esses movimentos como atos reacionários da direita, mas é importante notar também os ataques e as "readequações" que obras como as de Monteiro Lobato vêm sofrendo por representar realidades que já não estão de acordo com pautas progressistas. José Roberto Torero e Marcus Aurélio Pimenta tiveram seu livro infantil "Abecê da Liberdade" recolhido pela própria editora, a Companhia das Letras, em 2021, por mostrar cenas de crianças negras brincando em um navio negreiro.

A literatura é a arte do indivíduo, a materialização de universos particulares, independentes e subjetivos, em palavras. O grande mérito da literatura sempre foi não buscar consenso, e a grande literatura é aquela que traz algo novo, ainda não discutido, que pode surpreender, maravilhar e incomodar.

Há muito os autores brasileiros se acostumaram com a ideia de que o livro é uma obra limitada, de nicho, que não vai atingir grandes públicos, não vai mudar o país.

O problema talvez esteja na ambição de um livro de inegável qualidade, como o de Tenório, de furar a bolha da literatura e querer conquistar um público gigantesco no Brasil de hoje. Alguém sempre vai se incomodar. As crianças não estão preparadas para ler porque os pais não foram preparados para ler, para discutir, refletir.

Mas a ambição talvez faça sentido, porque, em muitos casos, as editoras se adiantam não para "abafar o caso", mas para expor nacionalmente a censura, fazendo com que o livro repercuta e venda ainda mais. Foi noticiado que "O Avesso da Pele" aumentou suas vendas em 400% depois da "censura provinciana". Seu alcance está longe de ser limitado, e o autor merece mais nossa admiração do que nossa solidariedade.

A grande censura, porém, é bem mais silenciosa. No meio da literatura infanto-juvenil, temas, palavras e ideias são previamente vetados há muito tempo. Livros tidos como controversos não são nem mais considerados pelas editoras, porque podem causar atritos com pais e professores e dificultar a aprovação em editais de compra do governo, o que inviabiliza a edição comercialmente.

Essa controvérsia se dá tanto com conteúdos sensíveis a grupos religiosos (que podem barrar até figuras clássicas da literatura infantil, como bruxas e dragões) quanto com temas que ferem a sensibilidade progressista, como a violência ou a representação exclusiva do modelo familiar clássico.

Editoras do segmento infanto-juvenil contam com conselhos de pais e professores para analisar o livro antes de sua contratação ou durante sua edição, orientando sobre o que pode ou não ser dito às crianças (um papel que deveria ser reservado a cada família). Desses livros impedidos de circular, nós nem ficamos sabendo.

Agora essa mesma prática está sendo adotada pelas editoras na literatura adulta, com a contratação dos "leitores sensíveis", responsáveis por analisar se certa palavra pode soar ofensiva a homossexuais, se uma ideia pode ecoar mal no movimento negro, se as mulheres vão se incomodar com certa cena, se o livro contém "gatilhos" (conceito tão amplo e tão odioso que, na prática, significa qualquer coisa que possa despertar algo de negativo).

Alguns livros controversos ainda são publicados, pois, no fim das contas, o investimento é relativamente baixo. Mas esses livros não são inscritos em editais como o Programa Nacional do Livro e do Material Didático, circulam pouco, e seus autores não são convidados para grandes eventos, para grandes festivais, não têm colunas em jornais, pois podem tanto inflamar a ira de bolsonaristas quanto de movimentos de minorias e, principalmente, afastar patrocinadores.

A verdadeira censura, afinal, não é ideológica, restrita à direita ou à esquerda, é uma censura de mercado. O que pode limitar o potencial mercadológico do livro vem sendo vetado.

Alguns podem dizer que sempre foi assim —o livro, afinal, é um produto; se não tem viabilidade comercial, é rejeitado. Isso, porém, vem se intensificando e penetrando cada vez mais em um meio em que eram permitidos o conflito, o debate, a reflexão.

A literatura sempre foi o último meio de resistência, no qual se podia dizer tudo o que não se pode dizer em nenhum outro lugar. Se não for mais assim, algumas ideias permanecerão apenas em nossas cabeças. Eu me pergunto: o que acontecerá quando essas ideias não encontrarem mais meio de escape?

A censura mercadológica se intensifica também na literatura porque o mercado penetra em todas as áreas da existência contemporânea. As redes sociais promoveram a mercantilização de nossas vidas. Buscamos não apenas sermos valorizados, "curtidos", mas monetizados.

Os criadores de conteúdo —hoje, qualquer um que tenha conta no Facebook, Instagram, YouTube, TikTok e afins— estão sujeitos a uma censura sobre seu próprio dia a dia. Ideias, palavras, momentos não podem ser compartilhados porque ameaçam o alcance de suas postagens e o eventual lucro (financeiro, inclusive) que se pode obter.

Nesse contexto, não há espaço para o sarcasmo, o cinismo (como o parágrafo de abertura deste texto); a ironia foi assassinada, tendo de vir sucedida do odioso SQN ("só que não") para deixar claro que o texto contém contradições.

A questão das palavras proibidas tornou-se tão patética que canais do YouTube sobre crimes reais, dedicados a analisar a violência, precisam alterar algumas grafias ("v1olência", "est*pro", "m4t4r"), ou então perdem a chance de serem monetizados. Não é uma questão de não assustar as criancinhas, é não assustar os anunciantes.

A subjetividade da literatura vem sendo ameaçada não por bolsonaristas, não pela "cultura woke", mas porque os meios de comunicação atuais buscam o consenso, a unanimidade, atingir todos os públicos, não ofender ninguém. As redes sociais, que cresceram promovendo a diversidade e a comunicação de nicho, agora têm de agradar a todo o mundo ao mesmo tempo.

E a literatura não é isso, nunca foi isso. Não tem espaço nessa realidade. Como venho dizendo, querem que vivamos em um mundo de censura livre, quando deveríamos buscar um mundo livre de censura.


11/03/2024

VEADO VENDIDO



MEU LIVRO VAI VIRAR FILME!

(não sabe de nada... inocente...)

Mas saiu hoje na coluna de Ancelmo Gois em O Globo. Veado Assassino foi vendido para o cinema ARGENTINO (acho que eu fui o único brasileiro a se beneficiar da eleição do Milei...)

Já vendi horrores de livros para o cinema, para saber que esse é só um primeiro passo. Ter os direitos vendidos não significa necessariamente que MEU LIVRO VAI VIRAR FILME! As produtoras geralmente pagam um adiantamento e, se conseguirem viabilizar, o filme acontece (daí a grana é melhor...)

Mas é sempre bacana ver esse interesse, ainda mais um livro com esse título, com esse tema. Chegou a ser sondado por produtoras importantes no Brasil, mas não deu em nada (que surpresa). Agora já assinei (e recebi) com os argentinos, que parecem estar bem empenhados em viabilizar logo, vamos ver...

A peça com Pedro Goifman no papel título também está sendo adaptada por mim, com direção da Fernanda D'Umbra. Mas também nada certo ainda; estamos atrás de viabilizar a produção, editais, parcerias, produtores... Quem quiser entrar nesse barco..

08/03/2024

Os filmes do Oscar (que eu vi




- American Fiction: adorei, achei divertidíssimo, mas o final acho muito facilitado.
- Anatomia de uma queda: Achei bonzinho, mas nada de novo.
- Barbie: Puta blábláblá chato. Uma merda.
- Assassinos da Lua das Flores: Filmão ok, meio sem graça.
- Pobres Criaturas: Esse eu ameeei. (Mas não chega perto de concorrentes do ano passado, tipo Tár e Triângulo da Tristeza).
- Segredos de um Escândalo: Moralistinha, mas bacaninha.
- Dias Perfeitos: O livro do Raphael Montes é melhor.
- O Menino e a Garça: Detestei com todas as forças.
- Homem-Aranha Através do Aranhaverso: Fui ver com preguiça, porque tava todo mundo falando, e não pude deixar de me impressionar. Dava pra esse o Oscar de animação.
- Godzilla Minus One: Uma injustiça estar só no efeitos visuais. (E não vai leva
r).

06/03/2024

A CENSURA AOS LIVROS...



Saiu no Estadão... Então AGORA temos um caso grave de censura na literatura brasileira, com demissões, restrição à circulação de um livro e mudanças num dos principais prêmios para novos escritores.

Eu já sabia dessa história do Prêmio Sesc há uns dias – que o romance vencedor estava sendo boicotado, que funcionários foram demitidos, cogitavam MUDAR O REGULAMENTO para que “obras assim” não pudessem mais vencer. Isso sim é muito grave.
 
O romance premiado – Outono da Carne Estranha, do Airton Souza – retrata relações homossexuais na Serra Pelada, foi mal visto pela chefia do Sesc, que baixou o sarrafo. E assim, todo o edital, o futuro e o legado do prêmio é ameaçado.
 
É sintomático, porque expõe aquilo de CENSURA PRÉVIA  – livros com essa temática não conseguem circular, não conseguem ganhar prêmios, não são nem inscritos em editais. O Prêmio Sesc ainda era um prêmio sério, uma zona rara em que os livros ganhavam exclusivamente pela qualidade literária (até porque, são inscritos com pseudônimo). Mas agora também querem impor barreiras extra-literárias. Ouvi dizer sobre “classificação indicativa” (que nunca existiu em livro), livros “censura livre”. E ASSIM é que nossa literatura vai se tornando cada vez mais pau no cu... no mau sentido.
 
Eu sempre falo isso, como um livro como Mastigando Humanos (narrador por um jacaré, que vive nos esgotos, se alimenta de travestis, garotos de programa) foi ADOTADO EM ENSINO MÉDIO, COMPRADO PELO GOVERNO, foi LEITURA DE VESTIBULAR, no começo do milênio. E nunca foi polêmica... (Pelo menos, nunca chegou a mim. Nunca fui chorar que eu estava sendo censurado...) Hoje em dia... jamais. O quanto encaretamos? Hoje EU sou um autor muito mais transgressor, com convites muito mais restritos, circulação muito mais restrita, do que quando eu tinha 25, 30 anos...
(Bom, talvez seja só uma questão de colágeno...)

E isso, infelizmente, não é só reflexo dos últimos anos de um governo fascista. É fruto de uma sociedade reacionária, de direita e de esquerda, que não está aberta ao conflito e ao diálogo, está sempre pronta ao cancelamento.

É uma censura de MERCADO, que veta palavras, temas controversos. As redes sociais quiseram tornar tudo acessível a todos, então não podem incomodar ninguém, não podem assustar as crianças. Querem que a gente viva num mundo censura livre, quando a gente deveria estar vivendo num mundo livre de censura. 
 
Nesse contexto, o “boicote” ao livro do Jeferson Tenório é só um detalhe (que foi inflado de maneira que me pareceu promocional), mas que deve ser observado como algo maior, respingo de uma cultura que vem refreando o potencial da nossa literatura. Está chegando aos poderosos. Agora eles se doem. Mas a gente já tá sentindo há um tempo...

Toda a minha solidariedade ao Airton Souza, que merecia estar colhendo só os louros, que outros autores menos talentosos do Prêmio já colheram, e ao Henrique Rodrigues, que sempre batalhou como ninguém pelos autores do Sesc.



14/02/2024

EU NÃO PRECISO SER ALEGRE O TEMPO INTEIRO




Jack Sparrow da Shopee. 



O carnaval foi inevitável...

Ano passado, fui atrás. Não estava bebendo, mas ainda tinha esperanças de ser feliz. Este ano estava com muito trabalho, patrão de mim mesmo, não me permiti o luxo de um feriado.

Mas os batuques, os tambores, as batidas tribais pulsavam até mim. Vindos da Augusta e filtrados pelas carcaças de prédios em construção, soavam como Suede, Eurythmics, Steklovata...

Tentei ignorar colocando um Bowiezinho no talo. Fugi para o cinema para me trancar 3 horas vendo a Anatomia de uma Queda, (tinha sido cancelada). Consegui ver Segredos de Um Escândalo, que é um filme muito silencioso. Entre os soluços de Julianne Moore, eu ainda podia ouvir uma marchinha...

Quando vi, estava na Augusta, com foliões mijando no meu pé.

Com o querido Lucas na Avenida. 


Eu até que gosto, na verdade... Dos foliões, da anarquia. Gosto de observar o desfile de corpos, os personagens, os meninos seminus... Mas pouco consigo fazer parte.
Uma coisa que acho que nunca contei, é que tenho essa deficiência, que é minha incapacidade de sorrir. Não é só por minha herança armênia, a incapacidade do nosso povo de ser feliz, é mesmo uma condição clínica.

No início da adolescência, eu disse o nome de Jesus em vão, fiz uma careta e abri a porta do congelador, tudo ao mesmo tempo. O pote de sorvete era feijão. E o sopro frio contraiu os músculos dos meus lábios, me conferindo um bico perpétuo. Vez ou outra eu até sorrio, um sorriso involuntário, quando não consigo conter. Mas daí me provoca contrações terríveis nos músculos da face, repuxam meu olho, arrebitam (ainda mais) meu nariz. Sorrir para mim é uma tristeza. (Escrevi sobre isso no meu Veado Assassino, por sinal.)

E isso também dificulta muito minha interação, no dia a dia, no meio literário, no carnaval. Acham que sou antipático. Sempre passo por carão. E incapaz de suavizar essa imagem eu só posso fazer por merecer...

Então nunca, NUNCA ninguém chega em mim, nem no carnaval, nem na vida. Ontem ainda teve um destemido que disse que eu parecia o Jack Sparrow, tomei como um elogio. “Me dá um beijo, então, por favor”, implorei. Ele disse que era mais fã de Harry Potter.

Felizmente o carnaval acabou. Acabou a necessidade de ser feliz. A chuva trouxe o silêncio e meus olhos pintados voltam a causar mais estranhamento do que sorrisos involuntários em corpos que me desdenham.

Mas o ano está só começando. No Halloween quem sabe eu consigo.

Com os queridos Kizzy e Igor, que tentaram imitar meu carão, em vão. 

08/02/2024

DEPOIS DO FIM DO MUNDO...



A covid me deu superpoderes.
 
(Tô falando sério...)
 
Peguei umas 4 vezes. Uma logo no comecinho. Depois peguei no posto de saúde quando fui me vacinar (e achei que era efeito colateral). Peguei também uma vez da minha sobrinha e uma vez que participei de uma suruba de máscara, camisinha, luva cirúrgica, todos besuntados de alquingel, mas de algum modo passou...

Mas, falando sério, já faz um tempo que meu olfato tá super sensível. Toda madrugada sinto um cheiro forte de cigarro. Olho pela janela e é meu vizinho do apartamento de baixo, fumando num quintal enorme.
Outro dia senti cheiro forte de goiaba. Desci DOIS ANDARES e era o porteiro comendo goiaba.
 
(Quase) posso dizer tudo o que meus vizinhos estão cozinhando, quando estão copulando. Outro dia bati no décimo andar para dizer que o gás estava vazando.

Alguém mais teve isso?

Poderia usar esses poderes para o bem, para o mal, pedir emprego numa empresa de perfumes. Mas tenho medo de pegar transporte público...

(E é por isso que este ano não estou indo aos bloquinhos de carnaval.)

05/02/2024

CAMINHOS PARA A PUBLICAÇÃO



Sempre me pedem oficinas de escrita. Prefiro trabalhar com leitura crítica. (Escreve aí, e me manda.) Assim posso trabalhar com bases mais concretas, no que você de fato precisa.


Mas a Astrolabio, um centro cultural bem bacana, me pediu um curso para março. Então vou fazer com eles o meu já testado e aprovado curso Caminhos para a Publicação.

É um curso que acompanha todas as etapas do livro, desde a escrita, a formatação, possibilidades de publicação e como funciona o mundo do livro como um todo.

Pessoalmente acho muito mais útil do que curso de escrita - porque para escrever cada um pode encontrar o próprio caminho, desenvolver as técnicas que mais funcionam para cada um, mas entender como a coisa funciona DE FATO é algo que só se tem com a troca de experiência.

A escrita é uma atividade essencialmente solitária. Então acho fundamental a troca com quem está há muito tempo no mercado, para não alimentar nem frustrações nem delírios de grandeza. E eu sempre preparo esse curso não só baseado na minha experiência pessoal (de mais de 20 anos de carreira, blábláblá), como com a troca com outros profissionais (ano passado eu inclusive convidei a Del Fuego, Raphael Montes e o Alexandre Staut para falarem cada um numa aula).

Eu não ia dar esse curso esse ano, porque acho que meus seguidores mais interessados já fizeram. Mas sempre aparece gente nova, e como a Astrolabio é que está organizando, conto com o público deles.

Também tem mais facilidades no pagamento, descontos, parcelamentos, etc. (E eu não preciso cuidar disso pessoalmente.)

Saiba mais no link. Nos vemos lá? ;) 

04/01/2024

MINHAS FÉRIAS




2024 foi lindo.

Minha semaninha em Florianópolis foi melhor do que eu esperava. O tipo de viagem perfeito para mim: fui sozinho, fiquei hospedado sozinho numa pousada bacaninha, mas encontrei vários amigos que eu não encontrava havia tempos; teve bebidinhas, comidinhas, muita trilha, mergulhos e banho de mar.


Banho de mar noturno.

Sempre fui muito para a Ilha, mas em 2010 resolvi realizar aquele sonho de morar na praia, pelo menos por um tempo. Acabei ficando um ano e formei laços para a vida toda. A Ida Andersen e família, que tinham uma pousada por lá, me acolheram até eu encontrar casa para alugar, e se tornaram uma segunda família – familinha linda que tenho visto crescer, nascer netos...


Ida desta vez deixou uma bicicleta comigo. 


Taiya é um cara sensacional. 




A Trishya eu vi crescer e agora tá com filho... (mentira, é sobrinho, o Igor). 






Raiza e Taro com o filho Igor. 


O Gael é outro que vi nascer. 


Agora eles não têm mais a pousada, e estão morando mais afastados, no Rio Vermelho, então procurei uma pousada bacaninha na Barra da Lagoa, e só fui visitá-los – acabei passando a virada e o último dia de viagem com eles. Taiya, o filho do meio (que inclusive fez a foto de capa do meu BIOFOBIA) me levou para trilhas na praia de Moçambique e tivemos ótimos papos.


A Ceia de réveillon com Ida e família. 

Também consegui encontrar uma irmãzinha gaúcha, Taina Fiori, que foi minha dupla quando trabalhei numa agência de publicidade em Porto Alegre; e o Pejota, meu técnico de informática que se tornou amigo, e também estava lá de férias com o namorado.

Reencontrando Taina para almocinho no canal da Barra. 

Pejota foi lá só pra formatar meu PC.

O puxado é que não consigo aproveitar esse tipo de viagem “de boa”, quero revisitar todos os lugares, aproveitar ao máximo, então acabo acordando 6 da manhã para fazer trilha, caminhar da Barra para a Joaquina, da Joaquina para a Mole, da Mole para a galheta, pedalar de bicicleta até o Rio Vermelho...

Vestido de turista para pegar o barco. 

Também peguei um barco para mergulhar. Queria ir até a Ilha do Campeche, mas os barcos de visitação estavam todos lotados, então consegui ir até a ilha só para mergulhar, não para desembarcar. O mar estava revolto e foi uma provação – no barco tinha umas crianças passando mal, umas crianças lindas, uns menininhos com uns cabelos longos, cacheados, com uns pais carecas... com tatuagens de Jesus Cristo. Tenho certo preconceito. Tive certo medo de que descobrissem que eu assassinei o ex-presidente... O passeio não acabava nunca, então literalmente abandonei o barco. Quando passou por uma praia conhecida, saltei no mar e voltei nadando.

Leitura de férias. 

Além da maratona de passeios, também teve a maratona gastronômica: camarão à grega, moqueca de lagosta, lula à milanesa e muitas, muitas caipirinhas. Acho que, no saldo, fiquei na mesma, consegui queimar o que comi a mais... mas ainda não tive coragem de me pesar.


Com a Ana, gerente querida da Encantada Floripa. 

Super recomendo a pousada onde fiquei: Encantada Floripa. Não é barata, ainda mais em temporada, mas tem uma piscininha, os quartos são grandes e bem equipados (com cozinha, sala, utensílios, ar-condicionado). Também é super silenciosa e garante privacidade total - se posso considerar uma crítica é que não há muita área de convivência entre os hóspedes; então quem vai sozinho permanece bem recluso. 


Piscininha só pra mim. 

Muita gente evita viajar no ano novo, por causa da muvuca (e dos preços). Mas Florianópolis ainda é um destino que, apesar de cheio, dá conta do turista. Você consegue sentar tranquilo num restaurante, consegue entrar no mar e deixar suas coisas na areia. A praia mesmo só fica muvuca na região dos bares. É caminhar um pouco e você tem uma praia deserta. 

A Barra, onde eu fico, em plena véspera de ano novo.


Agora... é encarar o duro resto do ano. Janeiro começou com bons trabalhinhos: estou com uma tradução, uma preparação de texto e uma leitura crítica; fora os trabalhos que faço pra mim mesmo, a adaptação de um texto, a escrita de um novo livro...

Almoço em família no Rio Vermelho. 

Só não tenho grandes planos, só não tenho mais nenhum sonho. Mas vale a pena continuar vivendo por momentos como esses. Férias perfeitas. 

Deu pra queimar...

12/12/2023

O ANO DO VEADO


No lançamento do Veado, em foto do Ambooleg.


2023 até que foi bom para mim. Nada excepcional, mas foi um ano centrado como um todo.


No começo do ano dei este curso oline, com a participação de amigos-parceiros queridos.


Começou pavoroso, sem trabalho, fodido, esmolando jobs nas redes sociais. Mas às vezes funciona. Lá para março começaram a engrenar ótimos trabalhos, que renderam outros trabalhos, e consegui colocar as contas e a cabeça no lugar.

Com o brow Abílio, em Ubatuba.


Daí deu pra ser feliz, daquele jeito modesto. Duas viagens para a praia – Parati e Ubatuba - notebook novo, conseguir comer o que gosta, essas coisas que deveriam ser básicas. Não teve nenhuma viagem internacional, nenhum prêmio, nenhum novo amor...

O aniversário foi em Parati. 

    
Nem amor velho, nada. Não saí com absolutamente NINGUÉM este ano todo. Estou virgem de 2023. Bem cansado dos veados, dos veades, principalmente. Acho que me aposentei...

O Veado na Folha de São Paulo.


Mas isso trouxe meu Veado Assassino, meu 13º livro, se é que estou contando corretamente, uma novela estruturada só em diálogos, pela Companhia das Letras. Foi... bacaninha. Chamou atenção. Muita gente gostou. Muita gente ODIOU com força. Mas me orgulho de ter trazido algo diferente e ousado, que talvez se desdobre em outros formatos...

Gravando o programa Entrelinhas, da TV Cultura, com o Manuel da Costa Pinto. 


Fiz muita, muita leitura crítica, que é algo que eu adoro fazer (essa possibilidade de ler “conversando” com o autor, em comentários deixados ao longo do texto). Também fiz parte do júri dos Prêmios Sesc e Oceanos – e ainda apresentei os vencedores do Oceanos no palco, com a querida Fernanda D’umbra. Então foi dos anos que mais li (só como jurado foram mais de DUZENTOS livros).

Na entrega do Prêmio Oceanos, com as querida Fernanda D'Umbra e Luz Ribeiro.

E é um paradoxo, porque estou cada vez mais cego, ainda sem usar óculos. Ajuda ler no Parque Augusta, onde também aproveito para bronzear, biscoitar, ver os meninos bonitos seminus...


Ao menos mediei a mesa de lançamento da querida Amanda Orlando (aqui, com o Oscar Nestarez)


De evento literário, não teve NENHUM, nenhuma mesa, festival, palestra, debate, nenhum convite, NADA. Acho que o tema, o título, o Veado dificultou as coisas... Tiveram alguns destemidos bacanas, que me chamaram para entrevistas – o programa Entrelinhas, o podcast História Diversas, Revista Fórum. Também foi bacana participar de um documentário sobre minha escrita em relação com a cidade de São Paulo: pude realizar o sonho de entrar no fosso das cobras do Instituto Butantan.

Gravando no Instituto Butantan, com uma equipe bacana.


Uma grande tristeza do ano foi a morte do querido André Pomba, DJ lendário da cena underground de SP, meu amigo de quase trinta anos. Ao menos pude dar uma força no tratamento dele. E toquei na festa em homenagem a ele – fazia mais de dez anos que eu não tocava em balada.

Com os amigos trevosos de toda a vida, na despedida do Pomba. 

   
Minha mãe também teve um problema sério no pulmão, ficou alguns dias na UTI. Ainda não resolveram totalmente, mas ela já está bem melhor. São as coisas inevitáveis da velhice...

Almoço na casa da véia, com amigos queridos e minha sobrinha. 


Para 2024... ainda não sei muito. Não terá livro novo, mas estou trabalhando num próximo e em em outros projetinhos. Ainda não sei de nenhuma viagem; pelo menos estou muito bem de trabalho – tradução e leitura crítica - e começarei bem, no meu lugar favorito do mundo. Já reservei pousada uma semaninha, na virada, em Florianópolis. Quem estará por lá?


Mais glamour em 2024!


17/11/2023

POBRE PAULISTA




Esta semana participei das gravações de uma série sobre a relação de escritores e suas cidades. Enfim, representei São Paulo em algo.

Foi bacana rever minha trajetória, dos Jardins ao baixo augusta – um percurso que retratei tanto alegoricamente em Mastigando Humanos (o jacaré que sai de sua vidinha confortável para conhecer os esgotos), quanto de forma direta em Fé no Inferno (o protagonista que faz o percurso inverso: sai do baixo augusta para trabalhar de cuidador de idosos nos Jardins).


No Hitch, com o João, meu antigo chefe de bar. 

A gente visitou muito desses lugares – a antiga casa dos meus avós no Jardim América (hoje uma concessionária Mercedes Benz), a boate Aloka, o Parque Augusta... Também pude realizar um sonho de infância: entrar no fosso das cobras do Instituto Butantan (postei vídeos e fotos no Instagram).


No fosso das cobras (Serpentário). 

Tivemos participações especiais de pessoas importantes no meu relacionamento com a cidade – o João, dono do Hitch, que já foi meu patrão quando trabalhei de barman; o meu vizinho-amigo-escritor-editor Alexandre Staut; minha sobrinha Valentina...


Com o querido Staut. 

Muita coisa que me perguntavam sobre os livros – como São Paulo aparecia na minha ficção – eu não lembrava exatamente, mas foi bacana reler passagens (com certa dificuldade, AINDA sem óculos) e ver que São Paulo está mais presente na minha obra do que eu pensava. (Eu sempre busquei inspirações em outros lugares, outras cidades, na natureza – por isso os períodos que morei em Porto Alegre, Londres, Florianópolis, Helsinque, Maresias...).

Meu dia a dia parece sempre tão restrito, isolado, as conquistas sempre tão relativas... Mas quando a gente vê no macro, todo o percurso que eu fiz – nesses mais de 20 anos de carreira na escrita, mais de 40 de vida -, tudo em que já trabalhei, as pessoas que conheci (e comi!) a vida ganha algum sentido... mas não muito.


Me sentindo o Veado Popstar...

Aproveito para agradecer ao pessoal da Olé Produções, que está realizando a série. Gente queridíssima, foi gostoso passar a semana com eles. Quando eu souber de datas de estreia, plataformas, etc, aviso.


Gente linda. 

16/11/2023

AGENDA: FLIP 2023



Segue minha programação na Flip, semana que vem. Vejo vocês lá:


- Quinta, 23/11 - Estarei no grasnar de uma gaivota.
- Sexta, 24/11 - Poderei ser visto no prisma furtivo do óleo no mar.
- Sábado, 25/11 - No último gole de cachaça, eu estarei lá.
- Domingo, 26/11- A cada vômito nos paralelepípedos, você sentirá um beijo meu. 

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...