28/07/2010

DOIS LATINOS
Uma vez questionei Golo sobre seu tênis. Era um Converse velhíssimo, que ele nunca se precupava em lavar. Sugeri que, já que seus quadros estavam vendendo tão bem, quem sabe não seria uma boa hora de comprar novos sapatos. Golo ficou ofendido. Ofendeu-se tanto que nessa noite não trepamos. Usou de desculpa a cocaína que nos restava e foi dormir no sofá.

(Trecho de Temporada de Caza para el León Negro - de Tryno Maldonado, em tradução ligeira minha.)


Acabei de ler dois dos escritores que conheci em Madrí: Tryno Maldonado (México) e Juan Sebastián Cárdenas (Colômbia). Rapazes bacaníssimos, que confesso que já torcia para gostar dos livros. Do Maldonado inclusive eu comprei, e - ufa - foram leituras mais do que prazerosas. Por isso estão aqui.

Temporada de Caza para el León Negro é uma declaração de amor a um personagem. "Golo" é um jovem artista plástico cocainômaco, anárquico e autista - que equilibra sensibilidade e poesia com uma futilidade estúpida. Mais do que a figura de um excêntrico, é um retrato (abstrato) de nossa geração (a "Geração Atari", como Maldonado coloca no livro), então o livro se torna uma visão afetiva de nossos valores e ideais.


O livro é estruturado em parágrafos curtos isolados, descrevendo Golo e sua ascenção do anonimato ao topo do mercado das artes plásticas. O narrador é seu namorado, mas não chega a ser um personagem. É um narrador que se oculta e se anula em favor de seu muso. O mais interessante é que, por mais que seja daqueles livros perfeitos para se apaixonar pelo protagonista, não aconteceu comigo. Apaixonante para mim foi a paixão narrada, mas o tal de Golo eu achei... um ser desprezível... e levemente asqueroso. Não consegui nem imaginá-lo fisicamente atraente. Sinal de que Maldonado criou algo vivo, aberto à cada leitura.


Eu não uso marcador de páginas. Insisto em apenas tentar memorizar o número da página em que parei. Nem sempre dá certo. E nesse livro, em especial, com parágrafos isolados se repetindo, eu me pegava achando que estava relendo uma página já passada, então pulava para frente, percebia que estava pulando páginas. Fui lendo e relendo fora de ordem, o que não me pareceu fazer diferença para a estrutura do texto e reforçou a sensação do livro próprio.


Uma graaaaaaaaande experiência de leitura.

Maldonado e eu no braço de ferro em Madrí. (O curioso - bizarro, pitoresco - é que eu sugeri o braço de ferro, mas há uma cena semelhante no livro dele; que eu fui descobrir depois.) (Ok, perdi na disputa.)
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O zumbido da fábrica era muito grave. Outro em meu lugar; ou eu mesmo em circunstâncias diferentes, teria dito que o zumbido propagava uma atmosfera solene, que era uma trilha sonora mais do que adequada a imponente aparição daquela paisagem. Mas o zumbido na verdade não representava nada. Tampouco tinha um valor simbólico nem era uma metáfora. O zumbido não era mais do que um zumbido, assim como a lembrança da mulher não era mais do que uma lembrança. Seu único valor, se é que tinham algum, remetia a sua própria presença. Algo que fazia vibrar o ar e se metia nos pulmões, de modo que você acabava respirando antes de entrar na corrente sanguínea.

(Trecho de Zumbido, de Juan Sebastián Cárdenas, em tradução ligeira minha)


Cárdenas é um colombiano que mora já há vários anos na Espanha, fala muito bem português e atua também como tradutor. Traduziu inclusive (para o espanhol) João Gilberto Noll - que dividimos como um dos nossos autores favoritos.



Por Cárdenas ter me revelado de antemão essa influência (ou não), foi inevitável eu não ver algo de Noll no romance Zumbido. Um homem que sai do hospital onde morreu sua irmã e segue levado por uma mulher desconhecida e pelo acaso para uma série de situações absurdas, oníricas e quase surrealistas. Tem algo do forasteiro eterno do Noll, sim, mas também algo muito próprio (porque afinal as influências se tornam influências em grande parte por já estarem lá anteriormente, por despertarem essa identificação.)



O trecho que traduzi acima para mim se tornou chave do romance. O zumbido que é apenas um zumbido (o assobio que é apenas um assobio) e que arquiteta um delicioso paradoxo na cabeça do leitor, que sempre recheará de sentidos próprios, implícitos o que está lá. Afinal, se o zumbido está lá, está em livro, está escrito, ele deixa de ser apenas um zumbido. E o livro está recheado disso, duelando com a prosa espontânea.

Tem algo de beat, algo de Fante e (talvez por nossas influências em comum) algo até de Olívio (que Cárdenas não leu). E eu poderia dizer algo de Eyes Wide Shut (Kubrick, com o qual meu Olívio também foi comparado). É uma viagem delirante, um pouco incômoda, mas riquíssima. Cárdenas sabe muito bem o que faz.

Cárdenas e eu, algumas semanas atrás, em Madrí.



Não, Maldonado e Cárdenas (e esses dois livros que menciono) NÃO foram publicados ainda em português, no Brasil. Fica aqui a dica...

Aos poucos vou ampliando minha visão da América Latina, com escritores que conheci em eventos na Colômbia, Peru, Venezuela, agora em Madrí e também no Brasil. E essa geração, nossa geração, a "Geração Atari" que seja, vai amplicando suas fronteiras para mim. Vou me sentindo mais e mais integrado nessa comunidade global de escritores, por nossa semelhanças e, principalmente, por nossas diferenças.

25/07/2010

ENCHENDO LINGUIÇA EM ESPANHOL



Ese hombre que tú ves ahí
que parece tan galante,
tan atento y arrogante,
lo conozco como a mí.

Ese hombre que tú ves ahí
que aparenta ser divino,
tan afable y efusivo,
sólo sabe hacer sufrir...

Es un gran necio,
un estúpido engreído,
egoísta y caprichoso,
un payaso vanidoso,
inconsciente y presumido,
falso enano rencoroso
que no tiene corazón.

Lleno de celos,
sin razones ni motivos,
como el viento, impetuoso,
pocas veces cariñoso,
inseguro de sí mismo,
soportable como amigo,
insufrible como amor.

Ese hombre que tú ves ahí,
que parece tan amable,
dadivoso y agradable,
lo conozco como a mí.

Ese hombre que tú ves ahí,
que parece tan seguro
de pisar bien por el mundo,
sólo sabe hacer sufrir


Aprendi todos os adjetivos que sei em espanhol com Rocio... nesta música.

(Tenho me esforçado para postar com frequencia no blog, mas estou na reta final do meu próximo livro, correndo com uma tradução e, principalmente, tentando fechar 100% do Castlevania Rondo of Blood do PSP - O Drácula eu já matei faz tempo, claro.)

19/07/2010

OS PÁSSAROS





O corvo de Marco Túlio em "Mastigando Humanos."



( Conto meu publicado na Revista Galileu de maio, matéria de capa sobre "o lado positivo da depressão)


Minha mãe morreu e eu ganhei um apartamento com vista para o mar. Uma ilha distante – da vida que costumávamos viver. Depois que eu saí de casa e meu pai morreu de câncer, minha mãe, que costumava não sorrir para não causar rugas de expressão, decidiu torrar o resto da vida sob o sol. Eu nunca fui visitá-la – não naquela ilha, ao menos. Nos encontrávamos quando ela vinha a São Paulo, no Natal, na casa da minha tia, no dia das mães. Agora eu me encontrava numa casa estranha, numa nova vizinhança, com uma vizinha explicando onde minha mãe guardava as contas, onde guardava o sal.


Fui até a ilha cuidar do enterro, dar baixa nos papéis, ventilar o apartamento. Pretendia vender a propriedade, mas ponderava se não podia viver por lá. Largado há três meses de um longo namoro, suspeitando que a qualquer momento eu podia ser demitido, viajei com o leve prurido da possibilidade de que, se eu fosse outra pessoa, vivendo aquela minha mesma vida, eu poderia deixar tudo para trás.


Deixar o quê?



Deixando o sol e o sal entrarem pela janela, aquela balneabilidade toda entre paredes, reafirmei a mim mesmo que eu não poderia ficar por lá. Acendi um cigarro tentando recuperar o carbono da cidade. Abri gavetas, peguei papéis, decidi ser rápido e objetivo. Minha camisa era escura e pesada demais para aquele clima, eu suava. A vizinha pareceu reparar na minha palidez – me olhava com pena – mas não ousaria sugerir que eu aproveitasse a praia; o luto me absolvia de ser feliz.


Eu voltava pelo calçadão no dia seguinte. Sábado de praia, ainda de manhã. Tive de ir cedo ao escritório do advogado, ou teria de esperar até segunda. Eu pensava de fato quanto tempo teria de ficar. Quanto tempo demoraria para vender o apartamento. Se eu teria de ficar por lá. Se seria capaz de cuidar de todos os detalhes, de todos os cuidados, não podia apenas deixar minha mãe partir? A morte é uma lenta e dolorosa burocracia – mesmo quando se morre de um câncer de pele fulminante. Talvez não tenha sido exatamente assim, a vizinha deixou implícito. Já fazia alguns meses que minha mãe descobrira; estava se tratando em casa, silenciosamente. Quem sabe com a ajuda das amigas – a vizinha guardava isso como um rancor contra mim? Eu voltava pelo calçadão, pensando, vendo todas aquelas pessoas queimando sob o sol...


Uma felicidade intensa refletia da areia em mim. Lamentei não ter passado protetor. Abri a camisa o máximo que pude, e ainda não pude conter a vergonha da magreza generalizada, a gordura nos lugares errados, os pelos escuros e indecisos em minha pele pálida. Pensei se todos aqueles olhares ao redor eram de pena, ou nojo, mas as pessoas não conseguiam deixar de sorrir.

Um ruflar de asas me fez levantar o olhar. Um urubu pousava num poste próximo. Tão vestidinho de preto, veja só, de luto, como eu. Todos aqueles mamíferos despidos na praia, e o urubu circunspecto e soturno, como eu.


Mais à frente, mais um.


Um segundo urubu pousou num poste próximo, quando eu passava. Estão me seguindo? Me perguntei. O segundo urubu também olhava para mim. De repente era como uma figura bi-dimensional, que parece sempre estar nos olhando, onde quer que estejamos. Essa é a mágica dos urubus, pensei eu, essa é a mágica da natureza, seu truque de sobrevivência. Parecem que estão sempre alerta, sempre nos olhando, onde quer que estejam. Um terceiro urubu pousou no próximo poste, assim que passei.


Na praia, as pessoas sorriam e se esqueciam, nadavam à superfície, dançavam o Rebolation. Não notavam os urubus nem o que se passava comigo. Logo, todos os postes da orla, do calçadão em frente à praia, estavam tomados pelos pássaros.


Cheguei ao apartamento e tranquei a porta. Eu pingava. Tirei minha camisa encharcada de suor. Meu corpo não fora feito para aquilo. De repente, meu corpo se adaptava àquilo? As glândulas se ativando, a pele se preparando para o sol. Eu me transformando num mamífero despido, como aqueles que tostavam e se esqueciam, meu corpo se moldando para dançar o Rebolation. Tomei uma ducha fria para interromper a metamorfose.


Olhei pela janela, os urubus ainda estavam lá. Com aquele olhar bi-dimensional, olhando para a mim e para a praia. E as pessoas ainda tostando, bebendo, dançando sob o sol e o mar. Já nem se lembravam de mim, pálido animal de luto. Era começo de um sábado de sol, e as pessoas ainda teriam muito mais a queimar. Mas urubus ficavam a espreita. Eram pacientes. Os urubus poderiam esperar.



O pinguim do Alê em "O Prédio, o Tédio e o Menino Cego."


(Lembrei desse texto hoje, correndo na praia na hora do almoço. Semana passada, quando voltei aqui para a ilha, avistei um pinguim nadando no mar. Hoje, havia dezenas e dezenas na praia, todos mortos. Deprimente...)

18/07/2010

BIBAS DEPRIMIDAS


Final de semana frio e chuvoso aqui no sul. A trilha perfeita é minha playlist de bibas deprimidas:

-Klaus Nomi - My Death
- Elton John - Sacrifice
- Lou Reed - Walk on the Wild Side
- Secos & Molhados - As Andorinhas
- Erasure - So the Story Goes
- Marc Almond - Yesterday When I Was Young
- Bola de Nieve - La Vie En Rose
- Antony and the Johnsons - I Fell in Love with a Dead Boy
- Cauby Peixoto - Retalhos de Cetim
- Boy George - Do You Really Want to Hurt Me
- David McAlmont - Enough
- Eduardo Dussek - O Pão
- Filipe Catto - Ressaca
- Michael Jackson - Speechless
- Freddie Mercury & Montserrat Caballé - How Can I Go On?
- Patrick Wolf - Augustine
- Pet Shop Boys - Being Boring
- Placebo - Centerfolds
- Suede - The 2 of Us
- Morrissey - We'll Let You Know
- Him - Beautiful
- Ké - I Am Nothing
- Rufus Wainwright - Zebulon
- Billy Mackenzie - Pain in Any Language

12/07/2010

CAMUFLAGEMMais uma ilustração do Alexandre Matos.



Bárbara não acreditava em moda. Mas precisava de um novo vestido para esconder as cicatrizes. Óculos escuros para olhos inchados. E percebeu que uma boa maquiagem poderia disfarçar tanto lábios inchados quanto um coração partido. Bárbara não tinha amigas para isso. Não costumava fazer compras. Não achava graça em “Sex and the City.”


Mas Bárbara re-encontrou colegas antigas. Por acaso, no supermercado, na saída do analista. Bárbara queria ficar sozinha. Pegou cartões de visita e prometeu ligar; desviou o olhar sob as lentes e forjou um sorriso.


Suas amigas acharam bonito. Comentaram como emagrecera, como ficara boa de preto, como se tornara elegantemente evasiva. Bárbara nunca se olhara tanto no espelho. Bárbara nunca precisou pensar no que não achava bonito.


Bárbara era bibliotecária. Bárbara vivera para os livros. E quando deixou o marido, Bárbara percebeu que, como a arte e como a poesia, como a escrita e a literatura, como o romance do século ou uma crônica de revista, a moda também nasce da dor.

(micro-conto meu para a revista de Moda da Joyce Pascowitch, deste mês)

08/07/2010

ÓDIO MORTAL



Se eu fosse escrever um post sobre minha relação atual com o Banco do Brasil (com o qual tenho a conta da minha empresa - Nazarian Txt - e agora da Petrobrás/Lei Rouanet) teria exatamente esse título. Mas "Hater - Ódio Mortal" é o nome em português sugerido por mim para minha tradução do excelente romance do inglês David Moody (apenas "Hater", no original).

(Deixemos o Banco do Brasil de lado, por hora...)

Escrevi uma matéria para Folha, no final do ano passado, falando sobre a enxurrada de livros sobre zumbis (incluindo o meu próprio). É essa aura apocalíptica noir no ar. Na Espanha, conferi como isso é flagrante. Nas rodas das livrarias, romances e mais romances, antologias, livros infantis, tudo com zumbis. Lá realmente é uma febre. E o Brasil vem aos poucos (sempre atrasado) com alguns lançamentos interessantes.

"Hater" não é exatamente um livro de zumbis, mas quase. Traduzi para a Arx (um selo da Saraiva) no final do ano passado, agora está nas livrarias. Como sempre, eu também fiz os textos de serviço (orelha, release, bio), então vai aí pra você entender melhor:

(teaser)
Eles estão entre nós. Por todos os lados. Na multidão, dentro do ônibus, por trás de um sorriso. Você nunca havia reparado nisso. Eles pareciam gente como a gente. Uma senhora octogenária, um colega de trabalho, uma criança inocente. Mas não se engane, olhe bem fundo em seus olhos. Você verá que eles são movidos por um ódio irracional, uma raiva que se espalha como fedor; como você nunca tinha percebido? Eles querem acabar com a gente. Eles vão nos atacar sem aviso. Até sua família, seus filhos, seu grande amor pode estar se virando contra você. Somos nós ou eles, colega, não há alternativa. Você sabe o que fazer. É uma ameaça, uma epidemia, você precisa livrar o mundo dessa raça maldita. Pegue o que estiver à mão. Arme-se com o que encontrar pela frente. Ataque-os antes que eles o ataquem. A paz só será estabelecida quando todo o sangue dessa escória tiver sido derramado.

(sinopse)
Danny é um sujeito normal. Normal até demais. Com um emprego burocrático e estressante, mulher e filhos exigentes e uma rotina que não deixa nenhum espaço para suas vontades individuais, ele não vê rumo em sua vida. Mas as coisas podiam ser piores. Bem piores. É o que ele percebe quando a cidade é assolada por uma estranha epidemia de violência. Pessoas estão atacando umas às outras sem explicação. Cidadãos acima de suspeita estão cometendo assassinatos terríveis. Aqueles que conseguem escapar estão se escondendo dentro de casa, com a porta bem trancada.
“Hater” é um thriller surpreendente, repleto de reviravoltas. Traz o melhor dos filmes apocalípticos, de terror e ficção científica, mas com uma visão íntima, cotidiana, aproximando a narrativa da vida de todos nós. Você vai se arrepiar de medo e repensar todos os seus conceitos de civilidade com esse romance, que já está sendo adaptado para o cinema.


(bio)
David Moody é um jovem escritor britânico apaixonado por filmes de terror e literatura de ficção científica. Publicou seu primeiro romance por uma pequena editora na Inglaterra, mas decepcionado com a fraca repercussão decidiu distribuir o segundo, "Autumn", gratuitamente pela internet. Foi um sucesso inesperado e gerou uma série de outros romances que prosseguiam com o enredo. Em 2005, Moody lançou sua própria editora, “Infected Books”, por onde lançou "Hater". Em menos de três meses os direitos do livro estavam vendidos para o cinema, assim como já havia acontecido com os direitos de "Autumn". Agora "Hater" é um fenômeno mundial, se espalhando como a epidemia descrita em suas páginas e chegando às suas mãos. Pode acreditar, vai ser difícil se livrar dele. Está com medo?

Beeeeeeem bacana.

06/07/2010

DORIAN AGAIN

Melhor do que eu pensava...


Há algumas semanas, quando escrevi aqui sobre a (péssima) edição bilingue de "O Retrato de Dorian Gray", uma leitora me comentou sobre a nova adaptação cinematográfica. Estava em cartaz em Barcelona, e fui conferir semana passada entre um chachachá e outro.


Gostei.


Dirigida pelo inglês Oliver Parker, e estrelada pelo pitéu Ben Barnes (o Príncipe Caspian das Crônicas de Nárnia) tem algo de cafoninha e um clima de filme para TV, mas consegue manter-se bem fiel ao romance ainda fazendo um filme genuinamente de terror, psicologicamente pesado.


A essência do texto de Wilde está lá (e várias de suas melhores frases); Dorian Gray é o jovem que vende sua alma para manter-se eternamente belo, enquanto que o quadro com seu retrato revela sua degradação física e moral. Barnes é lindo, mas longe da perfeição que se pode imaginar ao ler o romance - de qualquer forma, encontrar um ator para isso pode ser uma missão impossível. Muito do que é apenas insinuado no romance - as órgias sadomasoquistas, a bissexualidade do protagonista - é mostrado de maneira incisiva no filme. E o horror do relacionamento com o quadro mantém uma tensão constante.


Vale a pena conferir.


E aproveitei os vôos para conferir também aquelas bagaceirices que todo mundo já tinha visto, menos eu:


Avatar: Divertido. Como disse meu amigo Nicolas: "É um brinquedo de parque de diversão" (embora eu não tenha visto em 3D). O visual é bonito e o CG é realmente de primeira, que nem me incomodou. Agora o roteiro... é um roteiro primário, né? Uma coisa infantil, Disney, desavergonhadamente previsível. (Ainda não entendi o que o Galera comentou sobre "questões profundas do filme", na última mesa que tivemos juntos.) Pra falar a verdade, nem vi o filme até o fim, porque o avião aterrissou antes, mas não me deixou com curiosidade. Não é um filme que exija que se veja até o final... o que também pode ser uma qualidade.


Lua Nova: Esse eu não entendi. Achei muito complexo. Haha... Nah, não entendi qual é a graça. Sério. Filme com rapazinhos bonitos, bacana. Não acho Robert Pattinson grande coisa, mas tá valendo. Prefiro aquele lobisomem. Mas nem por isso, nem por isso o filme vale. É de um aburrimento só, lento, chato, sem ritmo, sem roteiro. Eu também não vi até o fim, porque não aguentei. Uma hora desisti, e pulei pro Avatar.


O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus: Esse amigos tinham me dito que era bom. Pode ser. Mas esse não entendi mesmo. Comecei a ver em inglês sem legendas, não estava entendendo nada; passei a ver dublado (porque não tinha opção com legendas), continuei sem entender. Achei o visual interessante, me senti numa viagem de ácido - e pode ter sido porque tinha tomado dois comprimidinhos pra dormir... Mas não foi uma viagem boa. Me esforcei, me esforcei... E dormi. Outro que não consegui assistir até o fim.


Ainda assisti pedaços de "Edward Mãos de Tesoura" e "A Fantástica Fábrica de Chocolate," Na seleção de filmes havia uma opção "Festival Tim Burton", com seis filmes dele. Devo dizer que o serviço da Tam está de parabéns.

04/07/2010

KYLIE!

É ela sim...


Ok, não ligo pra Madonna, não gosto de Lady Gaga, nem sei o que a Beyonce canta, mas meu lado bichinha poc-poc aflora à toda com a Kylie Minogue...


Foi ela o show principal da parada gay aqui de Madrí, em praça aberta, gratuito, com milhões e milhões de bichinhas deslumbradas... como eu. Ela cantou pouco, meia dúzia de músicas entre canções novas e os hits ("Can't Get You Out of My Head", "Spining Around"), mas já valeu. Uma tetéia. E eu me espremendo para ver mais de perto...

Com a Vander Vuman.

Fora isso, parada super alto astral, gente linda e animada - mas uma parada bem mais pé na jaca, maior e menos politizada do que a de Barcelona. E a mim parecia muito, muito, muito maior do que a de SP...

1,5 milhões?


Além da passagem dos trios, o evento se espalhou pelas ruas paralelas e praças, madrugada a dentro, com vários palcos montados com shows, barracas de bebida e comida, o povo se jogando nos "minis", que são copos plásticos de 750ml (!) com cerveja, mojitos ou drinques vodca! (Algo como os "pints" ingleses) Só estou vivo porque já fui casado com um russo... Mas outro final de semana desses e eu morria.


Interessante notar (não só na parada) como existe essa tendência mundial de "hipermasculinização" dos gays. Enquanto os héteros se tornam cada vez mais estilosos, modernos e bem vestidos, os gays adotam um visualzinho básico, cabelo raspado, padrão homenzinho. Principalmente em Barcelona, demorou para eu perceber que os rapazes mais delicados (e interessantes) eram os héteros. Entre eles, está em alta cabelo abaixo da orelha, bermuda acima do joelho e camisa slim fit.


Também interessante notar como o Brasil está em alta por aqui. Pode ser pela nossa estabilidade econômica, pode ser por nosso megalômano presidente Calamar, mas se vê Brasil em todo lado, tocando nos bares e restaurante, nos pés de milhares de Havaianas, nas caipirinhas que se vendem em todos os lugares, nas camisas de futebol... bem, pelo menos até o Brasil ser eliminado da Copa - hi-hi! Difícil sentir a antiga baixa auto-estima de terceiro mundo, ainda mais porque a Espanha não é um país caro para nós (bem, ao menos para quem mora em São Paulo.)


E eu volto a SP na terça... Triste acabar as férias, mas tive mais do que o suficiente. E espero voltar antes do feriado (de 9 de julho) para Santa Catarina. Depois disso tudo, a melhor coisa será retomar o exílio e o trabalho.


...mas ainda haverá mais de Europa este ano...

02/07/2010

SURREAL BARCELONA, SURREAL MADRID

Dá pra ter uma ideia do visu?


Ai, tô até cansando de ser feliz...

Turistaaaaaaa.

Minha estadia em Barcelona foi perfeita. Sol, gente linda, um povo malemolente se jogando no verão e nos turistas... Tive as melhores refeiçoes da minha vida. Provavelmente a melhor foi uma salada de queijo de cabra fundido + paella + taça de vinho + brownie com sorvete, de frente para o mar, tudo isso por 18 euros (pouco mais de quarenta reais). (Fora as refeições que não posso mencionar aqui. )
Mais um momento Ivana.

Fui aos museus, ao cinema, mas confesso que passei mais tempo na praia (isso porque moro numa ilha) e nas baladas...


Tive momentos surreais - como ontem, às 5h horas da manhã, vendo “Olhos Famintos” e discutindo a “obra” de Victor Salva com um espanhol e um francesinho num apartamento na Plaça de Catalunya; e hoje, com uma piriguete no trem...

Também consegui fazer compras, alguns presentes e roupas de 5 euros na H&M.

Voltei hoje para Madrid, passar o último final de semana. Amanhã tem MAIS uma parada gay, com show de encerramento da... Kylie Minogue!


Isso sim são férias.

NESTE SÁBADO!