27/08/2024
18/08/2024
OS CURSOS DE AGOSTO
Terminou ontem minha Oficina do Personagem, curso de três aulas que dei aos sábados, focado no personagem como condutor da trama.
Consegui fechar uma turma bem boa, bem rápido. Éramos 14, um limite para conseguir ler e entender o universo de cada um. A ideia foi cada aluno trazer seus temas de vida, que geraram teses, que geraram personagens, que deram base para uma trama.
Ilustrei com exemplos de grandes personagens, de Wilde, Noll, Dostoiévski, del Fuego e até Machado.
Quis focar bem na construção do personagem porque tenho visto muito esse discurso da autoficção como único caminho possível na literatura (ou como o único caminho da literatura dita "séria"), como se a fabulação, a criação de personagens e tramas fosse algo menor. Isso é reforçado por aquelas falácias: "Ah, o personagem é sempre o autor." Não é. O personagem pode (e deve) carregar os temas caros ao autor, mas o quanto ele consegue personificar isso num personagem e o quanto o personagem se afasta dele para se aproximar mais de uma representação ideal da tese é questão de talento do autor.
E acho que esse formato deu muito certo. Quero trazer essa oficina de volta em breve. Fiz total por minha conta, sem nenhuma plataforma por trás, e acabou sendo bem mais vantajoso em termos financeiros$
Fora isso, também estou com uma turma grande da Casa das Rosas. É uma turma que já segue com eles há um tempo, mas que cada mês tem um curso diferente com um professor diferente. Por lá estou dando meu já conhecido curso Caminhos da Publicação - que é bem mais expositivo e menos interativo (também não dá muito para trocar textos com uma turma de mais de 50 alunos).
E assim vou mantendo não só as contas em dia, mas aprendendo mais como escritor, tanto na pesquisa e no preparo das aulas, quanto com os temas e perguntas que os alunos trazem.
30/07/2024
20 ANOS DE BLOG
Meu blog está fazendo... VINTE ANOS. É o blog de literatura
mais antigo do país, ainda em atividade.
Começou depois de eu publicar meu segundo livro, como uma
maneira de meus leitores me encontrarem, saberem o que eu estava fazendo, numa
época em que não havia tantas redes sociais.
Nunca ganhei UM CENTAVO com ele, nunca nem tentei monetizar.
Sempre foi um espaço independente para eu publicar meu ponto de vista, minha
visão do meio literário, minhas leituras, filmes, discos, tretas e várias
questões pessoais, porque um blog é para isso. Registrei em palavras e em fotos
dezenas de festivais literários, lançamentos, debates, reproduzi matérias que
escrevi pra Folha...
No começo, tinha espaço para comentários, mas quando o blog
começou a bombar, com minhas idas ao Programa do Jô, houve uma invasão de
haters, muita gente doída do jovem escritor que fazia sucesso, e acabei tirando
a interação.
Muito do sentido original do blog hoje se diluiu em outras
redes – Facebook, Instagram, os vídeos. Já não posto cada filme, cada livro,
cada encontro, deixo o blog para reflexões menos passageiras ou registros mais
importantes. Mas ainda faço questão de atualizar, umas duas vezes por mês,
exatamente para manter esse registro longevo. Vira e mexe eu mesmo consulto o
blog quando quero me lembrar em que ano fiz tal viagem, fui a tal festival,
resgatar fotos antigas...
Nos posts mais recentes mesmo eu discorro sobre a Feira do
Pacaembu, tem uma entrevista que dei pro Estadão, minha viagem de aniversário
para a Serra da Mantiqueira, uma lista com os 40 livros gays mais importantes
para mim...
Muita gente que eu encontro diz que ADORAVA meu blog, que
achava inspirador, pergunta se ainda está ativo. Fui checar quantos acessos tem,
porque não fazia ideia, há anos não verificava – e tem lá, atualmente uns 150,
200 acessos por dia, melhor do que eu pensava. Nas abas secundárias também fica
o serviço da minha bio, uma agenda e as obras que publiquei, mais confiável e
completo do que no Wikipedia.
Todo o conteúdo continua disponível. Tenho certo medo de ver
o que tem lá, das besteiras que escrevi no passado, mas não serei revisionista,
tá tudo lá. Nesses 20 anos eu só fui mudando o layout e o título do blog, mas o
endereço é o mesmo (serei o último sobrevivente do blogspot?)
25/07/2024
DIA DO ESCRITOR
1. Como é ser escritor no Brasil hoje? É uma profissão romantizada?
Ser escritor no Brasil hoje é uma gama de possibilidades muito maior do que era no século passado. Como toda a cultura pós internet, o mercado se fragmentou. Há escritores de autopublicação na Amazon que têm milhares de leitores e nem conhecemos. Tem os autorzões de respeito do Jabuti. Os bestsellers voltados a um público jovem. Autores do Tik Tok... Então existem romantismos de vários tipos. Você pode romantizar ser Itamar Vieira, ou romantizar ser Raphael Montes, Tati Bernardi, Theago Neiva ou Arlene Diniz... Isso não quer dizer que ficou mais fácil. Há espaço para todos... ou quase todos, mas o número de leitores não se ampliou, apenas se fragmentou.
2. É possível viver da escrita e da venda de livros no Brasil? Ou é necessário ampliar o leque de atividades para completar a renda e pagar os boletos?
Sim. Viver da escrita é uma realidade para muitos escritores nas últimas décadas, exatamente por essa fragmentação. O escritor pode dar aulas, escrever para jornal, fazer tradução, roteiros (que é um mercado que cresceu muito, primeiro com a retomada do cinema nacional, depois com a TV a cabo e depois com os streamings). Tudo isso É viver da escrita, são atividades que agregam ao escritor e, ao meu ver, fortalecem sua literatura. Agora, viver da venda de livros é outra coisa. Fora os bestsellers, geralmente conseguem aqueles que trabalham com literatura infantojuvenil, pelo simples fato de que conseguem escrever e publicar com mais frequência, têm mais livros, porque têm menos texto. Um autor de literatura infantil consegue publicar vários livros num ano, ganhando por cada um o mesmo que um romancista que ficou cinco anos escrevendo uma obra.
3. Quais são os principais obstáculos que você enfrenta para publicar e distribuir suas obras no mercado editorial brasileiro?
Aqui é uma percepção muito pessoal minha. O obstáculo para mim é que não me encaixo exatamente em nenhum desses fragmentos - eu não me encaixo no perfil autorzão de respeito, mas também não sou um autor comercial; lanço mais provocações do que bandeiras; sou um autor alternativo que publica por editoras grandes, então fico meio isolado, as próprias editoras não sabem direito como me vender. E tenho notado cada vez mais dificuldade nisso, meus temas, meus próprios títulos são barrados hoje pelos filtros que desmonetizam conteúdos... Quem vai colocar "Veado Assassino" numa programação oficial ou mesmo num título de Youtube? Mas a provocação é a marca da minha literatura, é isso que vim fazer aqui, e para isso há cada vez menos espaço, cada vez menos espaço para o controverso.
4. Quais foram as principais mudanças no fazer literário, especialmente depois do movimento que ampliou a publicação de obras que atendem a pautas sociais e identitárias?
Não acho que o fortalecimento das pautas identitárias tenha alterado o fazer literário. Sempre há ondas de pautas na literatura, e os autores identificam-se ou não, tentam fazer parte ou remar ao contrário. E ainda que a literatura dita de respeito (ou as "editoras ditas de respeito") tenha adotado essas pautas nos últimos anos, há também diversas outras correntes em paralelo - se o feminismo vem com força na literatura premiável, por exemplo, há também todo um submundo de livros de mulheres submissas, que encontram o grande amor num homem poderoso, autoritário, que se transforma em lobisomem.
09/07/2024
TODA A VERDADE SOBRE A FEIRA DO LIVRO!
Del Fuego, Tracy, eu e meu mestre Furtado na Feira do Livro do Pacaembu. |
Tá tipo a Flip, só que do lado de casa.
Eu dei só uma passada, nos dois domingos, para encontrar
amigos, colegas, fazer a social e tentar ser finalmente feliz. Bate um pouco
aquele clima “Malévola", né? De uma feira paulistana, muito da panelinha Quatro-Cinco-Um-Companhia-Todavia,
da qual eu não faço muito parte. (Meu livro tava lá, o Veado, no estande da
Companhia, meio escondidinho, mas tava.) Vejo muito autores se queixando disso,
da panelinha, os mesmos debates/convidados de sempre. Mas acabam convidando
quem está vendendo. Para discutir as pautas (exaustivas) do momento. E quem
se alinha com a linha editorial da organização... O que eu acho meio limitante.
Isso porque esses debates parecem ser sempre mais de auto-exaltação,
buscar mais um consenso entre os participantes do que uma discussão. Eu entro
numa discussão quando acho que tenho algo diferente a acrescentar (como no caso
sobre a Censura aos Livros), mas o meio editorial brasileiro é um meio pequeno
e frágil, que tenta sobreviver e não está interessado na contestação. (Pelo
menos essa fama de “sincerão” tem me rendido muito job de leitura crítica – em privado,
ainda querem saber o que tenho a dizer...)
Mas a feira também serve para essas discussões privadas.
Encontrei muita, muita gente legal, editores, agentes, autores, amigos,
leitores gatinhos e até minha sobrinha tava saracoteando por lá (e tive de
puxá-la para uma foto, porque criança e cachorro sempre aumentam engajamento, e
cachorro eu não tenho). E a gente pôde discutir coisas como essas nos
bastidores, nos estandes. Sempre falo isso: acho imprescindível o autor
participar desses eventos, trocar ideias com os pares, afastar (ou confirmar)
paranoias, ver que não somos tão especiais ou desprezados assim. Não dá para
esperar sempre (ou nunca) estar na programação oficial; dá para ir ouvir os colegas
da vez, e continuar a discussão nos bastidores.
Danilo, Valentina e o Biajoni, na social louca de domingo. |
E claro que faz toda a diferença eu estar numa região
central, em São Paulo, ser só uma caminhada para ver a Tatiana Salem Levy e a
Tati Bernardi falarem na Megafauna, ou o Marçal e o Bonassi na Livraria na
Nuvem. À Feira do Pacaembu eu chego em 40 minutos, caminhando tranquilo, ouvindo
um suedezinho, com meu GALAXY BUDS PRO 2 – que garante até três horas de música
com redução de ruídos (Use o cupom: NAZA20 e peça o seu com descon... Mentira).
Essa diferença da FLIP faz toda a diferença: dá pra eu ir,
passar duas horinhas e voltar. Porque para passar dias naquele circo de
vaidades, com todo mundo tentando se vender, como na FLIP, eu acho que não
tenho mais energia... (Todo ano eu penso ano em ir, todo ano eu desisto, todo
ano me arrependo, mas penso que se tivesse ido me arrependeria mais.)
Aproveitando, este ano quem primeiro me puxou para a feira foi a querida Tracy Mann, autora norte-americana que escreveu um livro FODÁSTICO, que eu traduzi: “O Mundo Todo É Bahia.” É um livro de memórias dela nos anos 70, quando veio fazer um intercâmbio aqui em São Paulo e se apaixonou pelo país. Acabou fugindo para a Bahia (naquele sonho de viver na praia, tão arquetípico de meninas no final da adolescência) e conheceu Gil, Caetano, Wagner Tiso, Milton Nascimento, Tom Jobim e mais uma porrada. Virou uma espécie de Forrest Gump da MPB. O livro acaba sendo tanto um romance de formação quanto um registro da cena musical da MPB, em plena ditadura. Eu traduzi direto de encomenda para ela – tem algumas editoras lendo, mas parece que ela ainda não fechou a publicação no Brasil (fica a dica).
Tracy e eu. |
Del Fuego, Tatiana e sua filha procurando meu coelho... |
03/06/2024
SOBRE A PARADA...
Sobre a parada...
Eu sempre acabo observando meio como um observador externo, sem fazer parte, sozinho e quietinho, assistindo ao desfile de corpos. O mais legal da parada sempre foi a diversidade, que espelha a do país. A gente vê no noticiário só as drags, só os montados, mas a parada é um mar de manos, com tiozinhos, novinhos, bombados, trans, drags, de todas as classes; talvez o único lugar onde todas essas tribos se encontrem (dêem um beijo e percam o sapatinho).
De negativo, achei péssimo terem restringido os acessos à Paulista (não consegui chegar à Parada pela Frei Caneca, por exemplo, estava bloqueada). Isso criou gargalos sufocantes para entrada e, principalmente, para a saída, que quase me provocaram um surto. Achei tenso.
De mais positivo: terem recuperado a bandeira... em termos. Grande parte das bichas de verde e amarelo. Flagrei inclusive dois caras pintados inteiros de verde, dois gêmeos siameses (porque as relações homossexuais têm muito disso, do narcisismo, de se buscar um igual), pareciam dois Shreks; um deles se ajoelhou com uma aliança, para comemoração geral.
Encontrei só um amigo, voltando para casa, também vestido de verde e amarelo. Eu todo de preto, como sempre. “Que você tá de preto, Santiago? Virou bolsomion?” Só faltava essa. Agora sequestraram nosso luto.
01/06/2024
OS 40 MELHORES LIVROS GAYS (da minha biblioteca)
1. O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde
A grande obra sobre o mito de narciso. Provavelmente o livro mais importante da minha vida.
2. Morte em Veneza – Thomas Mann
A novela disserta sobre beleza e platonismo (coisa que o filme deixa para o expectador, através apenas da idealização da figura de um menino).
3. Morangos Mofados – Caio Fernando Abreu:
Um clássico homoerótico dos anos 80, que ainda inspira muito do que se faz de literatura gay no Brasil.
4. Frisk – Dennis Cooper
Das coisas mais pesadas que se pode ler, disserta exatamente sobre isso: há coisas que só se pode fazer em livro... (Sem tradução no Brasil.)
5. O Quarto de Giovanni – James Baldwin
Neste clássico dos sebos, a homossexualidade é personificada pela fascinação com a beleza clássica do velho mundo europeu.
6. Sou Eu – João Gilberto Noll
Infantil do Noll (ilustrado por meu irmãozinho Alexandre Matos), tem muito da sua representação latente da homossexualidade através de dois meninos à beira da adolescência que vão nadar num rio.
7. Memórias de Adriano – Marguerite Yourcenar
Outro clássico dos sebos, uma autobiografia imaginária do Imperador Adriano, que revela muito da homossexualidade na antiguidade clássica.
8. Nossa Senhora das Flores – Jean Genet
Um clássico maldito, escrito em fluxo de pensamento, é uma viagem pelo underground de Paris nos anos 1940.
9. A Confissão de Lúcio – Mário de Sá Carneiro
Um triângulo amoroso com um “duplo feminino”, que termina em crime; revela muito da personalidade conturbada do jovem poeta (amigo de Fernando Pessoa) que se matou aos 25 anos.
10. Meu Irmão, Eu Mesmo – João Silvério Trevisan
Através da relação com o irmão, morto prematuramente nos anos 1990, Trevisan examina sua própria condição de soropositivo que sobreviveu à epidemia.
11. Solo te Quiero como Amigo – Dani Umpi
Romance de “sofrência gay” retratando a vida gay no Uruguai contemporâneo. (Sem tradução no Brasil.)
12. Lucas e Nicolas – Gabriel Spits
Romance juvenil inocente e fofinho, uma espécie de precursor de Heart Stopper, num Brasil interiorano pré-bozo.
13. O Tripé do Tripúdio e Outros Contos Hediondos – Glauco Mattoso
Das melhores amostras da obra do poeta maldito fetichista.
14. O Templo – Stephen Spender
Um jovem inglês que vai para a Alemanha no final dos anos 1920 e se deslumbra com a beleza, com os corpos, com "o templo" dos alemães. Anos depois, volta ao país e descobre que todo aquele culto à beleza assumiu uma conotação política perigosa, com o emergente partido nazista.
15. Ricardo e Vânia – Chico Felitti
Através de uma longa reportagem investigativa sobre o “Fofão da Augusta”, Felitti conta muito sobre o universo gay e trans das últimas décadas.
16. Três Porcos – Marcelo Labes
Romance lindamente escrito, de um personagem (ou um autor?) com uma sexualidade muito mal resolvida, fruto de experiências homossexuais na pré-adolescência.
17. Maldito Coração – JT. LeRoy
A falsa biografia de um michê juvenil, que passa por diversos abusos e situações insólita durante a infância e a adolescência. (A tradução brasileira é minha.)
18. Correndo com Tesouras – Augusten Burroughs
Esse aparentemente é uma autobiografia real, de um menino que também teve uma vida insólita e repleta de abusos na adolescência. Pesado e engraçado.
19. Igor na Chuva – Hugo Guimarães
Romance de encontros fortuitos e sexo casual numa São Paulo apocalíptica, escrito num fluxo de consciência fascinante.
20. O Beijo da Mulher Aranha – Manuel Puig
Um longo diálogo (veja só), entre um prisoneiro político e um homossexual, presos na mesma cela.
21. Nunca Mais Voltei – Alexandre Willer
Contos afetivos e nostálgicos retratando muito dos dramas da homossexualidade contemporânea.
22. Mysterious Skin – Scott Heim
Dois meninos são abusados na infância. Dez anos depois, um deles transformou tudo numa fantasia de abdução e o outro idealizou a experiência. Não foi traduzido no Brasil, mas gerou um belo filme do Gregg Araki.
23. The Night Listener – Armistead Maupin
Um radialista se envolve com a história de um menino vítima de abuso, mas aos poucos vai percebendo que há algo mal contado. Também virou um belo filme com Robin Williams e Toni Collette.
24. Paris Brest – Alexandre Staut
Uma improvável bem sucedida mistura de romance, memórias e receitas, trazidas do período do autor trabalhando com o namorado como cozinheiro na França.
25. Babilônia de SP – Pedro Balciunas
Interessante livro reportagem sobre michês paulistanos.
26. The Man Who Fell in Love with the Moon – Tom Spanbauer
Um faroeste gay narrado por um michê indígena adolescente. (Sem tradução no Brasil.)
27. Confissões de uma Máscara – Yukio Mishima
Outro clássico dos sebos, traz muito da sexualidade conturbada do autor, num adolescente que se descobre gay no Japão da Segunda Guerra.
28. Ilusões Pesadas – Sacha Sperling
Publicado ainda na adolescência desse autor francês, é uma autoficção que retrata a vida louca dos parisienses bem-nascidos no início dos anos 2000.
29. Temporada de Caza para el León Negro – Tryno Maldonado
Uma declaração de amor em prosa poética para a um jovem artista cocainômano, anárquico e autista. (Também sem tradução no Brasil.)
30. E Se Eu Fosse Puta – Amara Moira
Um retrato autobiográfico da cena trans contemporânea, escrito com humor, poesia e acidez.
31. A Resistência dos Vagalumes – Vários Autores
Antologia brasileira contemporânea que tem no seu maior mérito o que poderia ser seu maior defeito: é um tanto quanto inchada. São 61 vozes, então acaba oferecendo um panorama bem amplo de toda a sigla LGBTQIAPN+; indispensável para quem estuda essa temática.
32. Uirapuru – Febraro de Oliveira
Prosa poética de um jovem autor sul-matogrossense; das vozes mais interessantes para se acompanhar atualmente.
33. Atire a Primeira Pedra – Mike Sullivan
Através de dois personagens, um réu e um psiquiatra encarregado de examiná-lo, o autor coloca em choque duas visões da homossexualidade: a doença que precisa ser curada e a possibilidade de se enquadrar num novo modelo de família. Dos melhores que li ano passado.
34. Outono de Carne Estranha – Airton Souza
O polêmico romance que balançou o Prêmio Sesc retrata relações gays no universo ultra masculino do garimpo da Serra Pelada.
35. Balé Ralé – Marcelino Freire
Dos melhores exemplos da prosa oral e musical do autor, uma visão lírica da homossexualidade contemporânea.
36. Sodomita – Alexandre Vidal Porto
Divertidíssimo romance histórico passado no Brasil colonial, baseado num personagem real condenado por sodomia.
37. Homens Elegantes – Samir Machado de Machado
Romance de capa-escapa gay, divertido e debochado.
38. Quarto Aberto – Tobias Carvalho:
Um retrato desse geração “poligâmica”, dos relacionamentos gays abertos, numa Porto Alegre pré-diluviana.
39. O Dia que Não Matei o Presidente – Celso Suarana
Recém lançado volume de contos sobre vingança, violência, amor e superação num Brasil dominado pela extrema-direita.
40. Veado Assassino – Santiago Nazarian
Um retrato da geração atual: tão fluída quanto indecisa, não binária e assexuada.
23/05/2024
LEMBRANÇAS DE PORTO ALEGRE
Saudades de Porto Alegre...
Tenho acompanhado as notícias como todo mundo,
compartilhado, doado, ajudado como dá, com medo de falar algo mais e me
transformar na Juliana Didone no chuveiro. Não tem como todo mundo ter algo a
acrescentar. Não tem como todo mundo ter a solução. Mas fico pensando naqueles
cenários, como foram, como estavam, como ficarão...
Foi em Porto Alegre que comecei minha vida adulta, na virada
do milênio. Morei dois anos, fiz grandes amigos (bem, AMIGAS, principalmente,
que as gaúchas sempre foram bem melhores). Apesar de todo o inegável bairrismo,
me receberam muito bem, me levaram para conhecer a cidade, as praias, Gramado. Tornou-se
uma parte do que eu sou.
Lembro como era uma cidade boa para caminhar. Com uma vida
ao ar livre muito mais forte do que São Paulo, por causa do rio, dos parques. A
gente saía domingo na Redenção e encontrava todo mundo...
Para além da minha vida pessoal, é inegável a influência, a
consistência e a força da produção gaúcha na nossa música, na literatura,
vários de nosso maiores nomes, muitos dos meus favoritos.
Eu não vou a Porto Alegre há um bom tempo (talvez uns DEZ
anos?!), estava planejando uma visita. Agora nem sei o que iria reconhecer. Queria
só ver se os amigos estão bem.
Uma grande amiga, que mora perto de onde eu morei, no
Floresta, disse que saiu assim que a casa começou a alagar. Foi para a praia.
Não sabia como ficou a casa. Os amigos todos parecem estar em segurança, se é
que se pode chamar assim. Mas como fica uma cidade em trauma? Como evitar que
aconteça de novo?
Tava agora revendo um álbum inteiro de fotos que fiz por lá;
tantas lembranças. Eu tinha isso, de fazer álbum de fotos (físicas, impressas).
Sempre achei a forma mais segura de preservar: as fotos digitais se perdem, HDs
se vão, redes sociais são desativadas. Mas imagino agora todas as fotos e as
lembranças que ficaram debaixo d’água...
#tbt #portoalegre
14/05/2024
SEMANA NA SERRA
High na Cachu. |
Um esquilo fotogênico. |
E recorri a essas lembranças para escrever um novo romance.
Mais um. Apenas porque não posso evitar (e ainda tenho tanto prazer no
processo...). Um romance sobre as dores e as delícias da infância...
Inspiração é isso. |
Aproveitei a semana do dia das mães, meu aniversário e uma
folga nos trabalhos para revisitar esses cenários que eu não via desde a
pré-adolescência. Muita coisa mudou, mas nem tanto. Se não sou exatamente o
mesmo, aquela criança continua aprisionada aqui dentro, ocupando um terço da
minha coxa esquerda, ou o testículo direito...
Praças psicodélicas... |
Comecei por uma cidade que não ouso colocar o nome, porque
dizem que é a cidade mais segura do Brasil, lindinha-lindinha e, se vocês
descobrirem, estraga. Mas é uma cidadezinha de 6 mil habitantes em que penso
em terminar a vida... (a questão é saber quando vai terminar; talvez eu devesse me
apressar...)
Santo Antônio do Pinhal (ops!) está cheia de restaurantezinhos
gostosos, lojinhas, tem até livraria, córregos, os bosques, a mata. Daria para eu ser
feliz... por seis meses. Caminhei uma hora e meia para encontrar uma cachoeira,
estava FECHADA. Não sabia que cachoeira tem horário de funcionamento, mas
aparentemente, atualmente, tem. Inconformado de caminhar 3 horas (ida e volta)
para dar com um portão trancado, TIVE de encontrar uma
forma... Caminhando um pouco mais de volta, vi uma cerquinha, com acesso ao
córrego, nenhuma placa de proibido... Caminhei de volta pela água até encontrar umas quedas d’água. Vontade de banho de cachoeira saciada. Foi o ponto alto da
minha viagem.
Quando Santiago caminhou pelas águas. |
Não resisto a uma piscininha. |
Também deu para trabalhar bem no livro, teve pousadas com
piscina, ótimos cafés da manhã, longas caminhadas... Numa noite, caminhava em Santo
Antônio, a cidade mais segura do Brasil, com uma menina adolescente logo à
frente, voltando para casa. Fiquei pensando se acontecesse alguma coisa com
ela, se ela sumisse, se ela morresse, se fosse encontrada morta. Provavelmente
o maior suspeito seria eu! (“Vi ela lá pelas 9 da noite, na estrada do Lajeado;
tinha um senhor estranho, cabeludo, caminhando logo atrás...”).
Cachoeiras com dona Elisa. |
Antes de ser preso, fui para Campos do Jordão no fim de
semana. Dizem que é a Suíça brasileira, porque é tudo muito burguês, mas, com
vontade, dá para se embrenhar um pouco no mato. Lá reencontrei os cogumelos que
soltam fumaça. Minha mãe veio no sábado passar aniversário e dia das mães
comigo. Aos 75 anos, e com o pulmão debilitado, aguentou bem as longas
caminhadas. Devo partir antes.
Brindando com dona Elisa. |
De especial, meu aniversário no domingo teve novos cenários,
belos cenários, os passeios e os pratos caros dos restaurantes, servidos por twinks
a serviço. Não tive presentes ou bolinho, mas estou naquela idade em que já não
posso mais esperar ser feliz. E até que fui. Por 6 dias.
Dona Elisa ainda encontra motivos para sorrir. |
09/04/2024
MESA
Será também minha PRIMEIRA MESA EM QUASE DOIS ANOS, e a primeira tarde de autógrafos do Fé no Inferno que faço numa livraria, veja só. Agradeço ao convite do Lísias.
Quem já tem os livros, quem não quer os livros, pode ir lá só pra nos bulinar.
Data: 13/04/2024
Horário: 15h às 18h
Local: Livraria Martins Fontes Consolação - Rua Dr. Vila Nova, 309 - Mezanino
Evento: Encontro com Autores que Publicaram na Pandemia com mediação de Rita Couto (podcaster) e Fernando Ferrone (escritor e tradutor).
Participantes: Ricardo Lísias e Santiago Nazarian (autores)
06/04/2024
ZIRALDO
Ziraldo em Búzios, 2015. |
Acabei de saber do Ziraldo.
Falava esses dias, com meus alunos de Caminhos da Publicação, sobre os escritores lendários com que cruzei nesses vinte e pouquinhos anos de carreira – Millôr, Noll, Lygia, Scliar, Márcia Denser, Victor Heringer...
E teve também o Ziraldo.
(na foto: a única imagem que tirei de Ziraldo naquela noite.)