30/05/2022

DO PANTANAL À BOLÍVIA

Quebra Torto com Letras. 

Acabo de voltar de três dias intensos no Festival América do Sul, que teve dança, música, teatro e literatura em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, em meio ao Pantanal. 

Foi o primeiro evento presencial de que participo desde a pandemia. Bom ver os encontros voltando - como eu sempre digo, acho essencial para a carreira do escritor essa troca: encontrar leitores, encontrar escritores, e encontrar artistas de outras áreas. Valeu muito por isso, apesar da correria. 

Márcia Medeiros falando com nosso público. 

Minha mesa com as queridas escritoras Márcia Medeiros (do RS) e Carla Maliandi (da Argentina) aconteceu às 8h da manhã de um sábado - e achava difícil que tivesse alguém, mas encontrei um público lotado, interessado, participativo, que deu um banho em público de muito festival literário. 

A mediação foi do querido Wellington Furtado Ramos, que fez mestrado na minha obra (e doutorado na do Raduan Nassar; foi fácil pra ele porque ele ficou na mesma prateleira alfabética), então as perguntas eram as mais pertinentes. E o público também mandou bem. Os poucos livros que a editora enviou para serem vendidos lá se esgotaram num piscar. 

Bons drinques na piscina do hotel. 


Com uma mesa tão cedinho assim, tinha o sábado praticamente livre para ver jacarés, comer jacarés, abraçar jacarés... e consegui mais ou menos. 

Os bichos eu só consegui ver rapidinho, na estrada - capivaras, um punhado de jacarés, muitos tucanos - mas consegui comer (porque mortos eles não saem do lugar...). Disseram que o melhor lugar para comer jacaré era na Bolívia, que fica logo ao lado. Aproveitei a oportunidade para fazer uma viagem internacional improvisada, e acrescentar um novo país à minha lista - quem diria que eu conseguiria fazer isso em 2022. 

Em Puerto Suarez com a querida Manal, que é marroquina, muçulmana, e estuda minha obra aqui no Brasil. 
A trupe atravessando a fronteira. 

A fronteira da Bolívia fica a pouco minutos de Corumbá. Fomos de Uber, atravessamos à pé, depois passamos um perrengue lá dentro para encontrar onde tivesse o tal jacaré. A cidade de Puerto Suárez estava completamente deserta, tudo fechado, nenhum restaurante aberto, ao meio dia de sábado. No final, conseguimos chegar até uma biboquinha à beira do rio Paraguay, que servia um jacaré óooootimo (mas desconfio que misturaram com iscas de peixe, para completar a porção). Daí de noite, de volta a Corumbá, nos levaram a um restaurante que servia jacaré de tudo quanto é tipo: moqueca, filé, grelhado - pedi uma coxinha de jacaré. 

Nosso almoço boliviano. 


O jacaré. 

Também peguei um barco no final do dia, para ver os bichos, mas já estava escurecendo e só vi os mosquitos.

Domingo de noite já estava de volta a SP, cansado mais satisfeito. Ainda não sei direito quando será a próxima viagem, o próximo evento (tem uma turnê do Sesc pelo Paraná, em setembro, mas ainda não está bem confirmada). O tempo de enxurrada de festivais literários já passou - tanto pela pandemia, pelo desgoverno, a crise, o momento cultural brasileiro e o meu momento pessoal-profissional, que já não sou novidade nem estou no auge. Mas é bom também que os encontros agora sejam assim, bem mais esporádicos, que o fogo não é o mesmo e a preguiça impera aos 45. 

A mesa. 


23/05/2022

DE VOLTA NA PISTA


Na cidade do México em 2014. 

Começando uma semana voltando aos eventos literários presenciais. No fim de semana vou estar no Pantanal, num debate num festival pra lá de bacana. A programação toda está aqui: 

https://www.festivalamericadosulpantanal.ms.gov.br/

Estou fazendo uma série de stories/reels no Instagram, porque preciso agitar as coisas por lá (preciso agitar as coisas como um todo na minha vida, na real). E estava lembrando dos eventos literários mais bacanas que participei. Decidi desdobrar aqui, com fotos.  

Fórum das Letras de Ouro Preto. 

(Obviamente falo dos que participei, porque tem vários eventos que se orgulham de dizer quantos milhares de escritores já fizeram circular pelo Brasil todo, mas nunca me chamaram, tipo a Arte da Palavra do Sesc.)

(Acho que não sou bom o suficiente pra eles...)

Na Flip 2003 com Chico Mattoso, JP Cuenca e Paulo Roberto Pires. 

Começando para um dos mais célebres. A Flip. Fui convidado da primeira edição, em 2003, que já começou hypada e com certeza foi uma vitrine absurda no começo da minha carreira.

Em Passo Fundo, 2007.

A Jornada Literária de Passo Fundo é muito bacana porque não só leva os escritores para falar com os alunos, como adota alguns meses antes os livros desses autores em sala de aula. Então você fala para diversos alunos que te leram de fato. 

Na Fliaraxá com Marçal Aquino e Antonia Pelegrino, mediados por Carlos Herculano. 

Tem o Fliaraxá, do querido Afonso Borges, que reúne escritores de diversos gêneros, num hotel pra lá de cenográfico. Os encontros de bastidores são os melhores. 

Em Extrema (divisa de Minas e SP), tinha um festival bem bacana, do Marcelo Spomberg, que era muito voltado para literatura de gênero - terror, policial e suspense. Espero que volte...

Em Guadalajara, 2013. 

A feira do livro de Guadalajara, no México, sempre tem uma programação bem extensa com brasileiros, e é uma viagem incrível.

Bienal do RJ, com Michel Melamed e Cecilia Gianetti. 


As bienais acho que são voltadas para uma literatura mais comercial, literatura infantojuvenil, mas sempre é uma oportunidade de business, encontrar os editores (que geralmente não estão presentes em outros eventos). 

Aliás, isso é algo essencial nos encontros literários presenciais, trocar ideia com os pares. A literatura é uma atividade muito solitária, então a gente alimenta muitas paranoias e vaidades descabidas - "ninguém me ama" ou "todo mundo me ama", é bom saber o que está acontecendo com os colegas, que a gente não está sozinho nas frustrações e conquistas. 

´Só gente bonita e joiada em Araxá. 

Os encontros mais bacanas acontecem não nas mesas de debates, mas nos bastidores. Encontrar o Marcelino Freire no hotel, café da manhã com o Ziraldo, beber de noite com o Raphael Montes, com o Xico Sá...

Drinques com Mutarelli no México. 

O atual (des)governo já fodeu muito com o apoio para cultura, muita coisa perdeu patrocínio, se tornou inviável. Agora temo a pá de cal que a pandemia jogou nos eventos literários - com o estabelecimento definitivo dos encontros remotos. Acho que muitos eventos que poderiam ser presenciais, principalmente em cidades mais distantes, no exterior, vão optar por um modelo online ou híbrido, para não ter de arcar com passagens, deslocamentos, hotel... Quem perde é principalmente o autor. Eu comecei numa época - no começo dos 2000 - em que os eventos literários se proliferavam à toda - e foi essencial para minha formação de autor, para conhecer o meio, fazer meu nome circular....

Só gente joiada: Felipe Franco Munhoz, Paulo Lins, Marcelino Freire, Paulo Scott e eu.

Vamos ver como a coisa fica. Por enquanto, esse evento no Pantanal é o ÙNICO presencial que tenho no ano (mesmo sendo finalíssimo dos principais prêmios no ano passado, veja só...). 

Ao menos o trabalho aqui em casa tem sido intenso... Mas sempre dá para se queixar, para melhorar...

Bons tempos, na Espanha. 


#literatura #fliaraxa #flip #filguadalaraja #artedapalavra

12/05/2022

45 (DO SEGUNDO TEMPO)

 

45 hoje, só no cafézinho. 

Não há muito o que comemorar, apenas agradecer pelo que resta...


Nos últimos anos, até que tive aniversários tranquilos - com pandemia e tudo, não me faltou trabalho, dinheiro, e aniversário passado até consegui ir pra praia. (Foi a última viagem que fiz, por sinal.) 

Desde o segundo semestre as coisas ficaram bem complicadas por aqui, com pouco trabalho, pouco dinheiro, inflação galopante, e os gastos, as dívidas, os boletos que não param...

Uma amiga minha comentava esses dias: "Que inferno é ser adulto", de uma hora para a outra você precisa ter alguns milhares de reais sobrando para pagar um veterinário, daí precisa trocar o celular, daí sua geladeira quebra... E é tudo eu que tenho de arcar, sozinho. Não tem papai-mamãe, não tem marido, não tem renda. Cada jujuba que entra nessa casa vem de uma lauda que eu escrevi/traduzi/preparei... 

A pegadinha deste mês é essa: como viver sem geladeira.

...ou sem jujubas. 

Mas podia ser pior. Estava pior, há um mês. Na verdade, até pude contar com a bondade de estranhos, depois que desabafei nas redes sobre a falta de trabalho/dinheiro/perspectivas. Recebi todo tipo de conselho - de investimento em binários a trabalhos em TI e restaurante -; recebi também pix e até ovos de Páscoa!

Parece que todo mundo aceita que é impossível viver como escritor no Brasil...

Bem, eu tenho vivido, há vinte anos, alguns anos melhor, outros pior... Nunca esperei viver da venda de livros, mas meu nome como autor é o que me garantiu trabalhos como tradutor, palestrante, roteirista... Só que eu sinto é que esses trabalhos pagam cada vez menos... Talvez meu nome valha menos também... 

Não me arrependo de nada, só lamento que nada deu muito certo...

O histórico de carreira não conta tanto; a literatura é mais um meio que se alimenta de novidades, da pauta do momento (que atualmente está mais com as mulheres e os negros). É prender a respiração e ver até onde posso cruzar...

Continuo tentando, continuo fazendo projetos pra cinema, TV, tem livro novo para o ano que vem... Mas a fé, o entusiasmo, são cada vez menores. A gente deve continuar tentando que uma hora dá certo? Ou é preciso saber a hora de desistir? Aos 45 (do segundo tempo)?

Eu só queria estabilidade... (Oh, such a taurus...)

Sempre acho meio constrangedor expor assim as fraquezas - queria eu só expor prêmios e reconhecimento - mas é o único jeito de as coisas acontecerem. Muita gente se solidariza - porque gosta de ver que o outro está na merda -, mas alguns de fato ajudam, percebem a emergência. E foi só assim que consegui engrenar de volta nos jobs. 

Então, se a situação continua complicada, se não há motivos para comemorar, ao menos há muito trabalho (o que faz toda a diferença não só no bolso, mas principalmente na cabeça). Já é motivo para se agradecer. Estou inclusive traduzindo um dos MAIORES autores de literatura infantil do país para o inglês... 

(Será que ele também está na merda?)


(Acho que este post na verdade está parecido com tantos outros que já postei nos últimos meses, no último ano... Por isso não tenho postado mais nada por aqui, não tenho muito mais a dizer.) 


TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...