12/12/2019

PERCA PESO, PERGUNTE-ME COMO

Hoje


“Meu maior orgulho em 2019 foi ter desaparecido.”

Já considero essa uma frase clássica minha para mim mesmo.

Meus maiores orgulhos são sempre masturbatórios...

Na batalha. 

Perdi 25 quilos em 2019 – até agora. Em abril eu estava com 107kg, agora estou com 82 - e muitos músculos. Impressiona. Impressiona a mim mesmo. Mas não tanto se pensar que foram 25kg em 8 meses, uma média de 3kg por mês, nada muito radical.


Aqui, no começo do ano (com Caroline Rodrigues e Gustavo Valezzi) - não sou louco de postar uma foto sem camisa, mas acredite, eu estava com mais de 100kg.

Mais do que a perda, sei que muita gente se impressiona de eu ter chegado aos 107kg - até que foi gostoso. Foi uma somatória de fatores – que podem ser resumidos no fato de eu ser taurino, para quem acredita, e resolver tudo na comida.

Eu nunca tive tendência natural a ser magro, nunca fui tão gordo, mas sempre tive peito, tive massa. Só que desde a adolescência faço muito, muito esporte; começou com caratê, depois musculação, natação; e o ano que passei em Florianópolis – em que pra sair de casa eu já tinha que subir morro e descer morro – estabeleceu uma rotina de esforço físico insustentável.

Aqui, aos 33, pesava poucos menos de 70kg.

Uma hora eu simplesmente cansei. Literalmente “cansei de ser sexy.”

Quando me casei com o ex-cozinheiro, achei que podia relaxar. Troquei o prazer da atividade física pelo prazer de comer, cozinhar (eu mesmo cozinho MUITO bem, se é que não sabem). Estava chegando aos 40 anos e uma hora a gente cansa mesmo desse compromisso de pagar de gatinho, ainda mais trabalhando num meio (literário) que vê a beleza com desconfiança e com um namorado cozinheiro que estava bem acima do peso. Isso nunca foi problema pra mim.

Só que, em seis anos de namoro-casamento, eu fui engordando 10, 20, 30 quilos.

Uma hora simplesmente deixei de me pesar.

Claro que me incomodava, mas não o suficiente. Também não era como se o falecido parecesse incomodado - ele trazia cupcakes; talvez nutrisse um prazer (não tão) secreto em me ver degradar física, profissional e emocionalmente.


Se ganhei muito peso no casamento, transbordei de vez no último ano, em que estávamos separando e eu estava morrendo de ansiedade, sem trabalho, esquecido e acabado. Liguei um foda-se bonito. Em Maresias eu fazia churrascos praticamente TODOS os dias. E quando finalmente acabou, resolvi voltar a malhar (antes de tudo para não MORRER); a balança marcava 107kg.


Povo acha que sou vida louca. E até sou... ou fui. Mas minha vida adulta sempre foi uma tentativa de equilibrar o lado junkie, com o intelectual e o atleta... foi ficando mais difícil. Enquanto sou caótico no espaço, sou absurdamente regrado na rotina (JAMAIS furei um prazo num trabalho, faltei a uma mesa, deixei de cumprir um compromisso). Eu parei de usar drogas anos atrás, quando não era mais possível usar sem sair da programação. Sou uma pessoa obsessiva. Então apenas me reestruturei para perder peso – sem pressa. 

Agora chegamos aos segredos da dieta milagrosa!

Começando as selfies de academia em abril.

Voltei à academia em abril, e mantive um ritmo de 6 dias por semana: musculação e funcional. Como eu malho há quase vinte anos, recuperar os músculos foi fácil, em quinze dias já levantava o mesmo peso de antes, a questão era diminuir as medidas. Tinha de parar de comer.


Esse é um almoço padrão da minha semana hoje: peito de frango, abóbora, cogumelos e espinafre. Alguns dias é só um prato desses o dia todo. 


Como eu tinha ligado um foda-se bonito, também foi fácil, fácil diminuir. Eu não tinha regra nenhuma, então qualquer regra que estabelecesse já faria diferença. Decidi que álcool, açúcar e besteiras, só final de semana (sexta, sábado e domingo – três dias do que os nutricionistas chamam de “dia do lixo”). Nos outros dias era comidinha fit, em duas refeições por dia – almoço e jantar – só.

Saladinha de atum. 

Funcionou. Comecei a perder 3 quilos por mês. Uns 700 gramas por semana. Claro, toda segunda feira eu voltava inchado do fim de semana – segundas e segundas pensei que tinha fodido com minha dieta - mas toda sexta tinha perdido em relação à sexta anterior. Continua sendo assim até hoje.


Pra você ter uma ideia de como me permito literalmente TUDO no final de semana - comi esse panetone de 1kg inteiro há uns quinze dias. Valeu cada caloria. E já foram todas queimadas - porque não ia ameaçar minha boa forma com "Cacau Show", né?

É muito frustrante perder peso quando você está 30 quilos acima – porque você leva meses para perder 10 quilos, mas ainda está com 97kg, ninguém repara, ninguém acha você “magrinho”. Até hoje, as pessoas falam “como você está forte”; porque eu estou de fato forte; e com 82kg (para 1,78m) estou longe de ser “magrinho”.

Dia desses, no parque. 


De toda forma, já recuperei quase todas minhas roupas antigas - algumas camisas agora apertam pelos músculos, mas voltei a usar calças 38. Tem sido um prazer reencontrar tantas peças de guarda-roupa antigas, de que felizmente não me desfiz.

Dia desses provando uma camisa que comprei em Londres, em 2002 -agora que as flores voltaram às estampas masculinas. 


Continuo perdendo, não tenho um limite estabelecido (é aquelas, não existe essa coisa de "magro demais"), mas acho impossível voltar para a casa dos 60 (como tinha aos trinta e poucos). Sou um senhor escritor de 42 anos, não dá para pagar de modelo. O importante é que já está dando para ser feliz... de leve.

Aqui aos trinta. 

Eu venho da escola da androginia – sou um ex-gótico, ou “um emo velho”. Eu nunca gostei de cara forte. Nunca quis ser musculoso (ou “Barbie” e nem tenho pelos suficientes para ser "Urso"), JAMAIS tomaria bomba, anabolizante ou o que quer que fosse (nunca nem tomei suplemento algum). Só que meu tipo de corpo é mais fácil ser forte (e gordo) do que ser magro definido.  Eu faço o que dá com o corpo que tenho...

Ainda dá para perder um pouco de barriga, ainda dá para perder um pouco de peito. Ainda dá para trincar o abdome e foder de vez com minha escrita

Quando comecei a perder peso, recebi pouco incentivo. “No começo é fácil”, muita gente me disse. Não é exatamente verdade. No começo é mais fácil perder, porque tudo é lucro, mas se exercitar com mais de 100 quilos nas costas não é fácil. Conforme fui perdendo, foi ficando mais fácil me exercitar; quanto menos eu comia, mais fácil ficava diminuir a comida. Tive de fazer esses ajustes, claro, cortando carboidrato, colocando uns jejuns durante a semana. Foi mais fácil ir cortando as calorias gradativamente.

Atualmente, se de sexta até domingo eu me esbaldo, segunda eu só vou comer (com parcimônia) no jantar; isso é um jejum de 24 horas (jantar de domingo a jantar de segunda). Faço outro jejum de 24h do jantar de quarta ao jantar de quinta. Isso sempre sem deixar de treinar segunda de manhã, quinta de manhã, como em todos os outros dias.


Arroz branco já é uma indulgência que me permito no máximo uma vez na semana. 

No fim de semana, nunca cortei (conscientemente). Mas claro, fui notando que eu CONSEGUIA comer menos, conforme emagrecia. Só não foi uma preocupação. Até agora me deixo livre pra comer, beber o que quero de sexta a domingo - de delivery do Outback a parmegiana no boteco e jantar com os amigos -, é dos poucos prazeres que a vida me dá... E são 3 dias livres por semana, 4 de restrição, não é nada absurdo.

(Mas numa dieta assim não se pode ter exceções - nada de beber um dia no meio da semana e compensar na sexta. Sigo rigidamente a programação.)

Não estou tendo acompanhamento de nutricionista. Duvido que exista uma nutricionista que criasse uma dieta como essa - com três dias absolutamente livres, que me deixasse beber vodca; mas para mim funcionou. Criei o que funcionava para mim. Eu devia escrever um livro sobre isso (faria mais sucesso que o meu existencialismo bizarro... rá!).

Não tenho nutricionista, mas tenho a Elisângela, com que faço aula de funcional três vezes por semana. Muito da perda devo a ela. 

É fácil, é tranquilo? Mais ou menos...

Passar fome durante o dia, o jejum de 24 horas, é tranquilo pra mim. O problema tem sido mesmo durante a madrugada. Durante a semana eu acordo constantemente com fome, não consigo dormir, meu sono está uma merda. Parece que meu corpo ainda suplica por calorias na madrugada. Fim de semana, se eu acordo, eu me permito meter uma Nutella numa boa, e volto a dormir. Durante a semana eu não faço – mesmo com Nutella no armário, eu me controlo – e fico me revirando na cama.

Resumindo: eu era mais feliz quando era gordo...

Mas eu era gordo quando estava feliz...

Sinceramente, não posso dizer que me sinto MUITO melhor fisicamente. Sinto fome, tenho insônia. Me sinto mais disposto para atividades físicas, é claro - mas talvez a gordura (e a possibilidade de comer) me deixasse menos ansioso... ou menos ativo (ainda que não passivo), mais anestesiado... De todo modo, infelizmente, sinto mesmo é que o mundo me trata melhor, agora que estou mais apresentável.


Sem ironias, foi assim que já perdi 25kg, sem deixar de beber e comer açúcar TODOS os finais de semana. Não sei se é das melhores receitas de saúde - talvez eu morra amanhã mesmo, mas living is overrated; o importante é que meu caixão será mais leve – resumo em dicas rápidas o que está funcionando para mim:

- Exercícios SEIS dias por semana, DUAS horas por dia: uma hora de musculação, uma hora de aeróbico.
- Dieta restrita de segunda a quinta: é frango com salada e pouco mais. Uma ou duas refeições ao dia. Só. Nada entre as refeições. Nem um pãozinho.
- Pode café (sem açúcar) e água. Só. 
- Fim de semana pode, literalmente, TUDO.
- Comprei uma balança. Não me peso todo dia. Me peso QUATRO VEZES ao dia; ter uma balança me ajudou a ver como eu engordava, como eu emagrecia.

E por fim, o que mais ajudou, foi ter um ano absurdamente rotineiro, sem viagens, sem mudanças. Todas minhas semanas foram iguais. Trabalhei todos os dias aqui em casa - e eu mesmo preparo minha comida. Isso ajuda a seguir a dieta, o treino, a comida que eu mesmo faço. Se todos os prazeres são orais, não dá para ter prazer todos os dias.


Todo esse esforço, e o único ser que me ama no mundo é uma coelha. Bem, que ela me ajude a sensualizar então...


04/12/2019

PESSOAS NORMAIS



Crítica que assinei na Folha em 03/12



Connel é o atleta popular. Marianne é a garota esquisita. Durante o ensino médio eles engatam um romance secreto – e seguem com idas e vindas durante o espaço de quatro anos em que se passa a história, de 2011 a 2015, até o término da universidade. Por vezes Connel se torna o recluso esquisito; Marianne vira estrela da faculdade; então o contexto muda, mas a relação entre os dois permanece, num misto de amizade colorida e amor livre.
“Pessoais Normais” é a segunda obra da jovem irlandesa Sally Rooney, de vinte e oito anos, que estreou com “Conversas Entre Amigos” (lançado no Brasil em 2017, pela Alfaguara) e se tornou um fenômeno literário, publicada em mais de uma dezena de países e finalista do Booker Prize. É compreensível: sua escrita é sofisticada, fluida e, acima de tudo, eficiente. Ela inicia capítulos com saltos no tempo, para então recapitular e mostrar como as coisas chegaram até o momento presente. Os diálogos diretos são inseridos no texto sem separação de aspas (ou travessões, por aqui), como se toda sua escrita tivesse essa falsa despretensão coloquial. E esse o traço que mais salta no romance: falsamente despretensioso.
Rooney tem mestrado em literatura americana, e isso é flagrante não só na estrutura do texto, como no universo que retrata. Apesar de o livro se passar na Irlanda, não poderia ter um tom mais de high school americano, com as divisões entre os alunos, o bullying, o bailinho de formatura em que o menino precisa convidar a menina.  Com frequência surge um estranhamento quando o livro cita Dublin ou as viagens dos dois protagonistas pela Europa, nos lembrando que o livro não se passa nos EUA. Isso não é um problema em si, mas é um dos sintomas de a autora querer retratar “pessoas normais”, fazer uma “escrita normal”, eficiente, reconhecível e premiável. Ela não se arrisca, joga seguro – não há estranhamento, não há loucura, falta personalidade.
                Longe de ser um livro ruim, “Pessoas Normais” é, no final das contas, um livro de menininha - um bom livro de menininha. Mas espero que não crie escola – não precisamos de mais escritoras escrevendo normalzinho assim.

Avaliação: bonzinho. 
               


01/12/2019

SEM CHANCE DE SER FELIZ

Onde passei a virada, as férias, a páscoa, o ano todo...

Até que não foi tão mal...


2019 até que não foi tão ruim, para mim, melhor do que o ano passado, ao menos...

2018 estava naquela latência, naquela suspensão, todos na expectativa das eleições, os trabalhos parados, as pessoas se digladiando; não dava para fazer planos nem para ser feliz. 

Com o anúncio oficial do apocalipse, parece que as pessoas saíram da letargia e arregaçaram as mangas para aproveitar o que ainda dava em 2019, enquanto o Brasil ainda não foi destruído de vez. 

Em maio, ainda inchado, comemorei meu aniversário de 42 sem grandes ânimos, com amigos. 

Para mim até que teve bastante trabalho, bastante tradução - claro, aqueles trabalhos com pagamentos mirrados, que mal davam para fechar as contas, mas deu. Não tive férias, não viajei nada - o único voo que peguei o ano inteiro foi pra Bienal do Rio.

Passagem rápida por Jacareí, para entregar um prêmio literário do qual fui curador, no começo do ano. 

Foi bom para colocar a cabeça no lugar, de todo modo, trabalho e rotina servem para isso. E o corpo também - foram quase VINTE E CINCO QUILOS perdidos em 8 meses, um ritmo nada absurdo de uns 3 quilos por mês, constante e administrável.  E continuo perdendo. Em breve farei um post com os "segredos da boa-forma". 

I want cookies. 

Meu maior orgulho em 2019 foi ter desaparecido...

O processo começou com o fim do meu casamento de 6 anos com o ex-cozinheiro. Terminamos em abril - depois que ele foi cooptado de vez para o universo de luxo-fútil-bolsominion de Maresias. Jogado de volta ao "mercado dos solteiros", depois de 6 anos monogâmico, fui obrigado a cuidar do corpo. E que mercado selvagem encontrei...

Conheci muita gente louca, muita gente desregulada, que aos trinta e poucos ainda mora com os pais, que é travada para sexo, ou que é maníaca sexual, que tem namorado, mas quer mais de um, que só funciona com aditivos, ou que não pode beber, não pode comer, não tem nada a dizer. E eu, que estava com auto-estima tão baixa, que achava que não havia razão no mundo para alguém querer ficar comigo, comecei a achar que sou o melhor partido da cidade. 


Minha querida amiga Del Fuego fala o quão bom é estar casado, para focar no trabalho, não perder energia flanando por aí. Eu discordo dela; acho que o casamento tem um elemento castrador, a gente se acomoda, se aposenta. Estar solteiro me fez sair mais de casa, conhecer mais pessoas, ver os amigos, contatos que também se refletem no trabalho. 

Mas eu sempre prefiro estar casado. 

Lançamento do ano. 

Voltando ao trabalho, minha produção literária até que caminhou bem. Lancei pela Melhoramentos meu primeiro infantil: "A Festa do Dragão Morto", que não teve grande repercussão, porém mais do que eu esperava para um infantil: Estadão deu uma matéria de página inteira (do meu livro e da Paula Fábrio) e muita gente bacana elogiou. Não fiz lançamento em SP, porque preferi que a editora trabalhasse diretamente com o público alvo; mas fiz uma mesa-lançamento com o Tiago de Melo Andrade na Bienal do Rio - que serviu principalmente para encontrar colegas queridos. 

Na Bienal do Rio. 

No segundo semestre também lancei um continho, um "single", pela Companhia das Letras, "Solo És Mãe Gentil", que refletiu muito o clima de tensão pré-pós-eleições. E estou nas prés do meu próximo romance por eles - que saí já no primeiro semestre de 2020. 


O conto, em formato exclusivo digital, dá para ser comprado aqui: Amazon

Também teve um punhado de matérias para a Folha - que deram o que falar, como a matéria sobre a literatura fantástica -; o curso de publicação que fiz com o André Conti; e algumas mesas em São Paulo, mas nada muito grandioso; foi um ano de contenções e concentração.  

Debate no Mix Literário, agora em novembro. 


Chego agora ao final do ano sem planos, sem viagens, nem grandes expectativas; seguirei sem descanso nas traduções, na dieta e na academia. Porque se não dá para ser feliz, pelo menos dá para seguir estável. 



MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...