06/11/2021

GAIA



Perdemos a Gaia. Minha coelhinha de 6 anos morreu ontem de noite, depois de uma cirurgia.

Até quarta ela estava completamente normal (ou aparentemente normal). Na quinta não estava comendo. Notei um inchaço nas tetinhas. Levei ao veterinário.

Esqueleto fresco. 

Fizemos exame de sangue, raio-X, ultrassom, constatou uma infecção no útero. Deixei ontem (sexta) no veterinário para operar. Ela teve paradas respiratórias. Não voltou da anestesia. Perto da meia noite me ligaram para avisar.

Querendo colo...


Coelho é um bicho frágil – antes dela tive a Asda, comprada em petshop, que veio com diversos problemas, estava sempre doente, e morreu com um ano e meio. A Gaia eu peguei da cria de uma menina que estava doando (Victoria Gaia, uma adolescente lindinha, na época prestando vestibular para veterinária; tirei o nome da minha coelha daí). Em 6 anos nunca teve problema nenhum. (A expectativa de vida é de 8 a 10 anos...)

Ratinha, pouco depois de chegar aqui. 

Era um animal extremamente carinhoso, carente, destruía a casa, roía os fios, rasgava o sofá, estava sempre pedindo carinho (e petiscos), sempre dando lambidas; limpinha, não fazia um cocozinho fora da bandeja (como gato). Viveu a maior parte da vida aqui no apartamento comigo. Mas teve um ano feliz em Maresias (quando eu era casado com o ex-cozinheiro). Tinha um jardim enorme para correr, cavar, fazia tocas imensaaaas e desaparecia dentro. Eu tinha um pouco de medo, que era uma região de mata atlântica, com cobras, sarauês, aves de rapina. Mas ela viveu feliz por lá. Aqui no apartamento, ela tinha uma vida mais limitada, porém mais segura, e vivia solta comigo. Apesar de ser já "idosa", era extremamente ativa e arteira. 

Cavando tocas no litoral norte. 


Fez toda a diferença nesses 6 anos. Foi a alegria do meu dia-a-dia. Um motivo para levantar toda manhã; durante a pandemia, trancado aqui sozinho, se não fosse por ela não sei se teria aguentado...


Na bandejinha. 

Agora estou com o Klauz, meu namorado há 8 meses, que também se apaixonou por ela, e tem sido meu conforto nesse momento de luto. Bicho de estimação morre mesmo, quando não é o nosso a gente não acha grande coisa, mas quem tem sabe como é, a dor que é, a falta que faz. Minha rotina toda está alterada, não tenho mais o ritual de acordar para dar comida; vai demorar para acostumar que não preciso fechar a porta do quarto para ela não destruir minha cama...

 

Geralmente só deixava ela na cama mesmo para tirar foto, porque ela rasgou lençóis novinhos. 

Os procedimentos foram todos feitos pela Exoticare – clínica especializada em silvestres e exóticos, no Sumaré. Acho que fizeram o melhor possível, o que era possível, não havia mais o que fazer. Os exames e procedimento todos me foderam financeiramente, num momento difícil em que o trabalho está lento, recebi calotes, e TUDO resolveu dar defeito (de coelha a Macbook). Mas agora é tentar correr atrás do rombo financeiro, sabe-se lá o que vou fazer, porque no coração só com o tempo...

Para quem quiser saber mais sobre o que é ter um coelho de pet, escrevi algumas vezes aqui no blog. Acho que tem muito do que ainda penso – com exceção da castração, que é arriscada em fêmeas, mas sinto que é fundamental. Deixo um link do ano passado: 

https://santiagonazarian.blogspot.com/2020/02/como-criar-um-coelho.html


(No meu instagram tem uma pasta de "Stories" com fotos e vídeos. Quem quiser, segue lá: @nazarians)

Nossa última foto juntos, há quinze dias. 

03/11/2021

NOTAS PÓS-APOCALÍPTICAS

Meu deus, as pessoas estão voltando à vida...


600 mil mortes depois, entrei no shopping sem nem medirem minha temperatura. Como se eu não tivesse mais chances de morrer. Como se eu não tivesse mais chances de matar. Mas eu não tinha mais dinheiro para comprar nada...

Me lembra aquela canção do Assis Valente (ou um esquete do Porta dos Fundos). Investi no apocalipse e agora não tenho mais o que vestir.

O apocalipse só tinha igualado as realidades, para mim: todo mundo bonzinho, trancadinho, trabalhando em casa, fazendo tudo por delivery, pelas redes sociais. A vida como uma ideia virtual. Agora a vida volta a ser presencial; vejo os amigos se encontrando, viajando, os eventos literários... A vida como uma festa a qual eu não fui convidado...

Não é que eu não tinha planos pós-apocalipse, para o futuro, o ano que vem... É que não tinha expectativas, desejos, nem sonhos. O que faço agora que a gente tem de tirar a máscara? Não tenho vocação para sorrir.

Fui ao shopping não para comprar roupa nova, na verdade. Fui reativar meu celular. Uso tão pouco – a vida toda – que tinha perdido meu número. Ninguém NUNCA me liga. Até porque mantenho em modo avião. Permanente. Não recebo notificações. O atendente perguntou meu número e eu não tinha certeza.

“Não tem um nove a mais?”

“Pera, onde vê?”

(Se nesse tempo você recebeu mensagens minhas pedindo dinheiro, desconsidere. Mande por pix para o meu email: santiagonazarian(arroba)gmail.com)

Mas quem usa celular nessa vida em que não saímos, não saíamos de casa? Trabalho na frente do computador. Troco mensagens por email, Messenger, instagram... até Whatsapp, quando inevitável. (Mas Whatsapp checo uma vez a cada dois dias... Não, meu celular nunca recebe notificações).

“Que bonitinho, você troca e-mails com sua mãe?” Me perguntou esses dias meu namorado.

Sim, com minha mãe eu SÓ troco e-mails, porque ela não mora em São Paulo, não tem celular, nunca teve (eu já dei, ela repassou – detesta, e o sinal na casa dela é péssimo; e eu mesmo já fiquei tantos períodos sem celular...) e tenho fobia de fixo, esse zumbido invasivo. (Tenho um fixo, também, mas deixo fora da tomada.)

Isso não quer dizer que eu esteja desligado do mundo, veja só... Isso está longe de dizer que estou desconectado e “é por isso que você ainda não alcançou o sucesso, a felicidade, a fortuna, o Prêmio São Paulo.” JAMAIS furei um prazo. Eu trabalho o dia inteiro conectado (na frente de um PC de mesa). Também tenho um Macbook (prestes a falecer). E tenho um celular... Sou antenado acompanho a dancinha dos meninos bonitos seminus no Tik-tok, pelamordedeus!

O problema é a vida lá fora...


O professor Thomas Schmidt ao ser entrevistado pela Globonews sobre os maiores desafios nessa realidade pós-pandemia, colocou: “Uma única morte nunca terá o mesmo peso de antes; e uma simples tosse nunca mais será vista como inocente.”  Isso, obviamente, é frase minha.

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...