28/10/2022

OS MELHORES FILMES DE TERROR DE 2022

"The Sadness" (do final de 2021)

Já há uns bons anos, sempre a tempo do Halloween, faço minha lista de melhores filmes de terror do ano (vistos pós-halloween passado para cá). Assim, você pode maratonar...

Achei um ano especialmente bom para o gênero (pelo menos para isso...), com o streaming a todo vapor, lançando pérolas (literalmente). Acho que é um reflexo da pandemia: não só forneceu inspiração para se criar dentro do gênero, como impulsionou muito os serviços de streaming, e o terror se beneficia disso, porque é um gênero que não depende de grandes nomes, grandes verbas, pode fisgar um público só pelo tema, pelo argumento.

Nesse contexto, as grandes franquias foram as que mais decepcionaram: Halloween, Hellraiser, lançaram bombas, com roteiros estúpidos (a série do Chucky eu nem perdi tempo em continuar acompanhando). Mas novas franquias se fortaleceram.

O medo da velhice, o machismo, a misoginia são temas em alta, que geraram produções fodonas. Infelizmente, não teve NENHUM filme nacional - alguns anos atrás eu conseguia sempre colocar um ou dois. Mas isso só confirma minha triste teoria de que terror não vinga por aqui...

Então vamos à lista: 


SPEAK NO EVIL

Se eu tivesse de escolher "O" melhor do ano, seria esse, filme de terror cult, tenso do começo ao fim, sem nada de óbvio. Uma família dinamarquesa vai passar o fim de semana na casa de uma família holandesa. Eles estranham os modos dos anfitriões, sentem-se cada vez mais desconfortáveis, e as agressões vão escalando a níveis absurdos. Tem muito da passividade dos escandinavos, ecos de "Funny Games" (e até de "Bacurau"), e tem de ser lido de forma mais alegórica do que realista. INCRÍVEL.

X (e PEARL)


Em "X", um grupo de jovens aluga uma casa de fazenda para gravar um filme pornô, e é atacado pelos velhinhos proprietários. Já "Pearl" é uma prequel, conta a história de juventude da velhinha assassina (interpretada pela Mia Goth nos dois filmes), uma espécie de paródia de filmes de época (da primeira guerra), também tem muito de Coringa (do Joaquin Phoenix), na construção do personagem e da psicopatia. Os dois foram lançados este ano, produções da cultuada A24 (de "Midsommar" e "Hereditário") e gosto dos dois igualmente. Então valem como um da lista.

THE SADNESS

Trazer algo novo ao desgastado tema da epidemia zumbi não é fácil... O taiwanês "The Sadness" consegue não apenas pela ultra violência, mas também pela forte carga sexual de zumbis depravados, que querem "comer" suas vítimas de todas as formas possíveis. ("Lar dos Esquecidos", filme da Netflix, também tem um twist interessante nesse subgênero, com velhinhos de um asilo enlouquecendo; não entra no meu top 10, mas entraria num top 20). 

TERRIFIER 2











A baixíssima produção de Damien Leone conseguiu consagrar o palhaço Art como o maior ícone do terror em atividade - no nível de Freddy, Jason, Michael Myers. Esse segundo filme pesa tanto no gore que entra no terreno do absurdo, do pesadelo (para mim, a maior qualidade que um filme de terror precisa ter). Longe de ser perfeito (é longo demaaaais, tem um roteiro meio precário) é com certeza o filme que eu mais esperava, e não me decepcionou. 

BARBARIAN

Ao chegar no endereço de um Airbnb, uma mulher descobre que tem companhia para a noite... O filme mescla diversos gêneros - thriller, comédia romântica, zumbis - e tem viradas surpreendentes. Não é ótimo, mas é tenso e muito divertido. (Mini spoiler: tem uma cópia descarada da Niña Mederos, do Rec). 

THE HATCHING







Finlandês estranhíssimo (se isso não é pleonasmo), sobre uma menina que vive numa família perfeita-margarina, encontra um ovo no jardim e resolve "chocar" uma estranha criatura. Daqueles terrores de alegoria da puberdade.

MEN

Após o suicídio do namorado, uma mulher busca refúgio numa casa no interior. A premissa parece bem manjada, mas é aproveitada para discutir a passividade agressiva do machismo. Tem cenas memoráveis (como a conversa com o padre) e um ato final pra lá de bizarro.

THE BLACK PHONE

Talvez a maior produção desta minha lista, acompanha uma cidade do final dos anos 70, atormentada por um sequestrador de meninos. É baseado num conto de Joe Hill, filho do Stephen King, e parece um suco de King ("It", "Stand by Me", "O Telefone do Sr. Harrigan"...). Tem também muito do diretor, Scott Derrickson (dos ótimos "Sinister" e "O Exorcismo de Emily Rose"), com as crianças fantasmas, a máscara do vilão, os atores... É bacana, mas temos um belo exemplo de um filme limitado por seu grande alcance - não pôde ousar na questão da violência e muito menos na questão sexual. 

PREY

Em termos de velhas franquias, a maior surpresa foi esse novo Predador, pelo qual eu não dava mais nada. Aqui a história é passada em 1719, com uma nativa comanche querendo se provar como caçadora e tendo que enfrentar o maior predador que sua tribo já viu. Lembra muito o original, tem uma fotografia linda e toca em temas muito atuais. 

FALL

Filme pequeno, minimalista, no estilo que eu amo. Para superar um trauma, duas amigas decidem escalar uma imensa torre de telefonia, mas ficam presas lá em cima, depois que as escadas desabam. O melhor filme de vertigem que já vi - despertou medos de altura que eu nem sabia que tinha. 


(Desisti de colocar os trailers. Geralmente coloco os trailers aqui, mas me deparei com vários bloqueios do Youtube e dos estúdios. Trailer não devia ser uma peça PUBLICITÁRIA, para DIVULGAÇÃO do filme? Em tese eu devia até RECEBER por colocar o trailer no meu site...)

Bom Halloween, e boa sorte a todos nós contra o palhaço genocida...


#terror2022 #besthorrormoviesof2022 #terrornacional #halloween #besthorrormovies #Lula13 


27/10/2022

NOTAS SOBRE O PRÉ-PÓS-APOCALIPSE

Minha casa está me expulsando...


Acho que muitos brasileiros tiveram essa sensação, com o resultado das eleições de 2018. A exclusão que era sentida por muitos foi oficializada, outros tiveram o primeiro choque de realidade. Não queriam gays, pretos, indígenas, esquerdistas, artistas... Votaram num presidente contra isso. Foi uma verdadeira facada – em alguns pelas costas – de famílias que até “nos aceitavam”, mas preferiam que não existíssemos...

Mas eu não ia falar disso.

Ia falar do meu apartamento, minha casa, é uma velha bolsonarista. E eu moro sozinho.

A moça do IBGE veio ontem de manhã aqui. Eu não queria recebê-la. Tava fodido tentando entregar uns trabalhos de tradução, de preparação de texto, trabalhos que exigem domínio profundo da escrita em duas línguas, e pagam “500 conto”, para estruturar textos de ricaços semianalfabetos. (A educação é uma mentira, te digo, ao menos que você estude “autoconhecimento”, “planejamento financeiro”...).

Mas enfim, veio a moça do IBGE... E depois eu li que você pode até ser multado por não receber o IBGE. Mas não foi por isso que eu a recebi.

A moça do IBGE era uma gatinha pós-púbere. Que teve de entrar sozinha no apartamento de um quarentão pós-cult, como tantos outros, talvez mais trevoso, pedir licença, pedir desculpas e perguntar quem morava aqui.

"Só eu, acho.”

Nesse momento, teve um estrondo na cozinha.

“Tem um coelho também”, eu disse, certo de que aquele barulho não viera do coelho.

Ela continuou me perguntando amenidades, fugindo do meu cabelo ensebado, se deparando com o tamanho dos meus pés descalços, e eu meio culpado por gostar de vê-la desconfortável, porque eu precisava voltar a trabalhar.

“Alguém faleceu aqui entre janeiro e julho de 2022?” (Juro que ela perguntou.)

“Se eu respondesse com honestidade, não te deixaria sair” (Juro que respondi).

Ela ainda conseguiu sorrir, constrangida: “É por causa da pandemia...” explicou. Eu me esforcei para que ela fosse embora em paz.

Depois, constatei que um vaso (meu ÚNICO vaso), havia se espatifado na área de serviço, por sorte não pegou o coelho. Daí que veio o barulho... Do vento?

De noite, enquanto eu assistia a “Barbarians”, acabou a luz. Fui dormir. Acordei de madrugada, do nada, com uma prateleira de livros chumbada à parede literalmente despencando no meu quarto.

Minha casa não quer meus livros. Minha casa não me quer aqui. Minha casa é uma velha bolsonarista e precisamos exorcizá-la. 

20/10/2022

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE SILENCIOSO

Eu sou uma pessoa sem sonhos...

Há uns dez anos, na verdade, não tenho mais nenhum sonho na vida.

É errado viver assim? Seria eu mimado-spoilt por meus privilégios ou apenas #gratiluz pelo que já conquistei?

Ainda tenho vontades, ainda tenho prazer nas pequenas coisas, como escrever, cozinhar, ouvir música, estar em contato com a natureza, e assim sigo. Mas às vezes acho que estou “quietly quitting”, para usar uma expressão do momento. Apenas tentando sobreviver... ou morrendo aos pouquinhos.

Ou talvez as pessoas vendam uma imagem errada do que deve ser o sonho, né? Ser famoso. Ficar rico. Morar fora... Esse era um sonho, mas nos lugares em que eu sonhava morar, eu já morei. Agora talvez haja o sonho de um lugar para morrer.
 
Pode ser um sonho, sim, ter uma casinha num lugar tranquilo e viver só do que eu escrevo, das coisas que a terra adubada dá... Mas esse sonho não parece uma aposentadoria? Aposentadoria pode ser um sonho? (Bem, no país em que vivemos, parece uma utopia.) Aos 45 do primeiro tempo eu deveria ter sonhos mais grandiosos, ou tudo bem?

(Às vezes vejo aqueles programas de casas lindas no GNT, e fico pensando como eu daria conta, como cuidaria do gramado, como tiraria o pó de todas as superfícies... Ser feliz é muito trabalhoso e caro.)

Eu não tenho como sobreviver à velhice...
 
(Nem motivos.)

Às vezes tenho a impressão de que você precisa desejar muito mais do que vai obter, porque se não deseja muito, não obtém o mínimo. Para conseguir pagar as contas, você precisa querer ser rico. As coisas mínimas nunca acontecem pra mim por acaso, de surpresa; muito menos as coisas máximas...

Mas eu vivo sob uma maldição...

Quem já usou muita droga sabe que o mundo real não basta, mas geralmente quem usou drogas demais conhece um Inferno que eu não conheço. Eu desisti do paraíso, de mansinho.
 
Admiro os amigos convalescentes na luta, admiro a força e a vontade que eu não sei se teria. Se eu acordo de madrugada com dores no peito, se vejo uma pinta estranha no queixo, eu fecho os olhos e espero que me leve rápido; não precisa ser totalmente indolor, posto que é morte, mas que eu não tenha de gastar o dinheiro público.

(Também não tenho nenhum, nenhum desejo para meu velório-enterro-funeral, sempre digo. Façam o que for mais fácil e barato. Joguem meu corpo no lixo. Joguem aos cachorros.)

#quietqutting #gratiluz

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...