16/05/2023

FESTA LITERÁRIA DE MIM MESMO




Fazia tempo que não tinha dias tão gostosos.

Tirei 5 dias em Paraty, para comemorar meu aniversário. Fazia dois anos que não ia para praia, que não viajava a lazer. Por indicação da querida Adriane Hagedorn fiquei na Pousada do Príncipe, uma delicinha, perto de tudo, não exatamente barata, mas valeu de presente pra mim mesmo.

Biscoitando na piscina. 

Paraty continua linda (apesar da energia pesada). Escolhi lá porque tinha lido sobre o tempo, frente fria e chuva, e achei que se não rolasse praia ao menos tinha a cidade para aproveitar, a vida cultural e gastronômica. Rolou de tudo (ou quase...).

A cidade continua linda. 

Fiz as coisas que eu mais gostava. Deu praia, piscina, fui ao teatro, fiz longas caminhadas, comi bem, bebi pouco. No dia do meu aniversário, peguei uma escuna que parava em praias desertas e numa ilha cheia de peixes, para mergulhar. (Já fiz até curso de mergulho com cilindro, e os peixes do meu aniversário tavam uma beleza.)


O barco. 

(O que irrita muito em Paraty é a necessidade de colocarem música constante, alta, de mau gosto, nas praias, nos barcos, não dá para curtir um momento bucólico de silêncio. No barco, achei que podiam ao menos cantar um “parabéns a você”; avisei bem aos guias que era meu aniversário – queria saber o que daria na hora do “é-pique-é-pique-é-pique é-big-é-big-é-big” com paulistas, fluminenses e estrangeiros misturados; queria passar pelo constrangimento de estranhos me desejando felicidades, mas só ganhei um drinque.)

Praia deserta. 

Toda a viagem-feriado-aniversário foi absolutamente sozinha, feriado de mim mesmo. Poderia ter sido melhor com uma companhia, mas também poderia ter sido BEM pior, então melhor assim.

Turismo gótico-bucólico

Já tinha ficado quase um mês em Paraty, exatamente vinte anos atrás, nas preparações da primeira FLIP, onde fui um dos autores convidados. Depois, voltei uma vez num feriado com o amigo Marcelino, em 2010, e outra na Flip de 2014, a convite do Sesc. Acho FLIP sempre muito lotada, cara, carão, uma festa para a qual não fui (mais) convidado, então evito. 

Sem FLIP, convidei meus próprios autores, que estavam esperando há tempos aqui em casa. Tem sido difícil ler por prazer, porque felizmente tenho feito muita leitura crítica, participado do júri de alguns prêmios, daí tem os amigos que quero ler, os que não quero mas devo, os que quero, mas não são amigos...

Consegui matar dois. O excelente Mike Sullivan lançou “Atire a Primeira Pedra”, sintomático para ler no dia das mães. A novela analisa um matricídio brutal através de dois personagens: o assassino e um psiquiatra forense que examina o caso. Tem muito a ver com meu próximo livro, e a escrita do Mike é sempre linda, poética e melancólica. Um dos meus autores preferidos em atividade.

Mike e eu na piscina. 

Outra boa surpresa que consegui ler foi meu aluno Túlio Dias – que participou de duas oficinas minhas e lançou seu primeiro romance: “O Almoço de Natal”. Com uma observação sagaz e ácida dos tempos atuais, Túlio faz um romance-crônica sobre os fatídicos encontros de família no Natal, em tempos bolsonaristas. Bem divertido.

Levei outras coisas que não consegui ler, e já tenho uma caralhada na fila, muito trabalho. (Cheguei em casa e tava me esperando na portaria o novo do grande Fabrício Corsaletti.) Também tenho trabalhado muito como ghost, o que tem me salvado as contas.

Adoro café da manhã de hotel. 


As coisas melhoraram bem – e alguns podem dizer: “Viu, e você só reclama, não adianta reclamar” – mas as coisas só melhoraram PORQUE eu reclamei. Trabalho sozinho, em casa, as redes são meu único contato de trabalho. A exposição de tempos difíceis foi o que fez amigos e colegas queridos me indicarem para Jobs que salvaram meus dias. Que continue assim...

11/05/2023

VEADO ASSASSINO




Um presidente de extrema direita é morto por um adolescente não binário. Por meio de uma longa entrevista, conhecemos a história do jovem e as decisões que o levaram a cometer o ato. Seria ele uma vítima, um terrorista ou um violento incel — um celibatário involuntário? Numa narrativa estruturada apenas em diálogos, Santiago Nazarian apresenta o retrato de uma geração tão engajada quanto individualista, que sabe o que precisa combater, mas não o que defender. Questões raciais, sexuais e de gênero são colocadas numa balança sempre desequilibrada, e a visão parcial de um personagem pode revelar mais do que suas palavras. Com o cinismo e o sarcasmo típicos de Nazarian, Veado assassino é uma louca novela especulativa, divertida e reflexiva na mesma medida.

Já em pré-venda aqui: https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9786559215669/veado-assassino

05/05/2023

CALADA NOITE PRETA

 

Ontem foi dia de homenagear mais uma amiga querida que faleceu.

Vange Leonel morreu em 2014, outra vítima de câncer, ontem teria feito 60 anos, e os queridos Rodrigo de Araujo e Pedro Alexandre Sanches organizaram um ato solene em homenagem a ela na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Vange sempre foi uma militante política, ativista LGBTQIA+, natural que sua homenagem também passasse por isso.

Eu a conheci como a maioria, no início dos anos 90, início da minha adolescência, com a “Calada Noite Preta” trilha de novela da Globo. Era uma gótica que chegava ao poder, embora ela rejeitasse esse rótulo. (E até hoje, não houve nenhum hit gótico brasileiro maior do que esse). Depois a conheci pessoalmente como fã, nos tornamos amigos, colegas, quando eu comecei a publicar. Ela sempre foi uma querida.

Me chamaram para fazer um dos discursos de ontem, representando os escritores (acho que representei mais os góticos, mas tudo certo). Discorri um pouco sobre o papel dela, o papel de nós, artistas à margem – não por condições sociais, raciais, mas por escolhas estéticas, ideológicas próprias, talvez muito fruto da homossexualidade, sim, mas não só isso (porque o que não falta é artista-escritor-cantor gay integrado ao mainstream). Acho que é mais uma visão Lado B da vida, que nos amaldiçoa.

Comentei ontem como essa visão particular, alternativa, às vezes encontra confluência no mainstream – como foi a fase “Noite Preta” da Vange (como talvez tenha sido minha fase “Mastigando Humanos”, em que os emos estavam no poder) – mas que na maior parte do tempo estamos em paralelo, comendo pelas beiradas. E às vezes parece que tem que ser assim mesmo, e está tudo certo.

Como ontem, em que ficou claro o papel que a Vange teve e tem (não só como cantora, mas como ativista, escritora) e a porrada de gente bacana que ela tocou e influenciou. Estavam lá também os queridos Ivam Cabral, a Cilmara Bedaque, Bel Kowarick, Zé Pedro, Fernando Bonassi, Marisa Orth, Andre FischerCris Naumovs e mais uma caralhada... Ou “bucetada”, como bem disse a Marisa.

Essas coisas é que me inspiram e me fazem continuar. Meus heróis tão particulares. Talvez os ventos mudem e a gente volte a estar na onda, talvez não. Mas o importante é continuar fazendo o que a gente acredita, continuar produzindo e continuar sendo uma alternativa. 

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...