29/06/2023

5 conselhos para o escritor iniciante


(Não é indireta/shade pra ninguém específico, é um monte de coisas que observo há tempos, lembretes para mim mesmo, muita coisa que eu mesmo já fiz nesses 20 anos de carreira, que às vezes ainda não resisto, mas de que não me orgulho...)
 
1. As redes sociais estão aí para você divulgar seu livro e seus leitores saberem do que você está fazendo. Quem quiser saber que te siga. Então não é preciso mandar mensagens privadas ou emails contando tudo o que você está fazendo, o que disseram sobre seu livro, pedindo para as pessoas comprarem. Reserve isso a uma mensagem pessoal ou outra, para convidar para um lançamento ou algo assim. Da mesma forma, JAMAIS marque outros escritores numa publicação sobre seu livro, a não ser que eles tenham trabalhado ativamente nele.
 
2. Mensagens privadas de leitores deveriam permanecer privadas. Se o leitor te manda uma DM elogiando o seu livro, ele quer que só você saiba. Se ele quisesse tornar isso público, ele postaria nas redes dele (e ele DEVERIA postar nas redes dele, se ele quer ajudar o autor).
 
3. Direitos vendidos para cinema/TV não significam que “MEU LIVRO VAI VIRAR FILME!” (Sempre que leio alguém postar isso abro um sorrisinho melancólico: “Não sabe de nada, inocente”. Já vendi tantos livros, tantas vezes, já vi tantos amigos vendendo – às vezes por uma boa grana, às vezes só com promessas -, mas para o filme ser produzido mesmo é ooooutra batalha.)
 
4. Seu livro nunca vai ser tão importante para NINGUÉM quanto é para você, nem para a editora. Então é VOCÊ que tem que fazer o máximo e esperar o mínimo (é difícil, eu sei, sei bem...).
 
5. SORRIA nas fotos de divulgação, ou vai acabar igual a mim... (agora é tarde demais para mim, mas você ainda pode sorrir, meu jovem...)

12/06/2023

LIVRO NOVO



Meu Veado está saindo do forno...

Recebi aqui os primeiros exemplares de Veado Assassino, meu novo livro pela Companhia das Letras. É uma novela especulativa, de um adolescente não binário que mata um presidente fascista...

Sempre é emocionante receber o livro físico, parece que minhas ideias ocupam um lugar no mundo. E bem ou mal eu sempre consegui viabilizar as ideias mais esdrúxulas, pelas maiores editoras do país. O Veado segue nessa linha -  depois de lançar um livro "maduro", finalista de prêmios, como o Fé no Inferno, acho que era importante mostrar que ainda posso ser transgressor, fazer algo diferente e ousado.

É um livro muito minimalista, escrevi rápido, mostrei para pouca gente, mas não posso deixar de agradecer a quem ajudou. Começando pela Taliyah Dias, que foi muito da inspiração e fez a primeira leitura comigo. O Taiya Löcherbach, amigo catarinense que fez a revisão do "sotaque" do protagonista (e também foi fotógrafo da capa fodona do BIOFOBIA, anos atrás). A Luara França, que começou a edição do livro na Editora e o Antonio Xerxenesky, que assumiu o processo na reta final. A Andrea del Fuego, que deu toda a força e um "blurb" bacana para a quarta capa. E o Renato Parada, que fez a foto de orelha. 

Vou começar a vender autografado pelas minhas redes (me segue lá, para saber mais. No instagram: @nazarians). O livro já está em pré venda há um mês, já está impresso, mas só sai em 27 de julho - confesso que não entendo muito essa estratégia da editora, mas espero que faça sentido. Eu publico regularmente, sempre a cada 2, 3 anos, mas cada vez encontro um cenário novo, uma lógica de divulgaçao nova. 

Mando de novo a sinopse: 

Um presidente de extrema direita é morto por um adolescente não binário. Por meio de uma longa entrevista, conhecemos a história do jovem e as decisões que o levaram a cometer o ato. Seria ele uma vítima, um terrorista ou um violento incel — um celibatário involuntário? Numa narrativa estruturada apenas em diálogos, Santiago Nazarian apresenta o retrato de uma geração tão engajada quanto individualista, que sabe o que precisa combater, mas não o que defender. Questões raciais, sexuais e de gênero são colocadas numa balança sempre desequilibrada, e a visão parcial de um personagem pode revelar mais do que suas palavras. Com o cinismo e o sarcasmo típicos de Nazarian, Veado assassino é uma louca novela especulativa, divertida e reflexiva.

 

10/06/2023

ORGULHO



Estamos no mês, na semana, na véspera da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+, e sempre me perguntei de onde vem essa palavra orgulho? Toda sexualidade em si não é uma fraqueza? Um determinismo biológico? Mais forte não é aquele que não tem vontades?

Sempre penso o quanto a homossexualidade me condenou, o quanto me salvou...

Tenho uma origem privilegiada. Sou filho e irmão de artistas. Nasci e cresci numa bolha paulistana em que a homossexualidade é (ou deveria ser) tida como natural. A vida toda sofri muito menos preconceito do que quase qualquer outro homossexual da minha geração. Mas não deixei de sofrer. Mesmo em colégios alternativos, particulares, havia o bullying. Mesmo com uma mãe compreensiva, escutei o “pode ser gay, só não pode ser afetado.” E o maior choque de realidade que tive na vida, quanto a minha não-aceitação no mundo, foi a eleição de um presidente declaradamente homofóbico.

Sempre penso o quanto a homossexualidade prejudicou, o quanto beneficiou minha carreira. O meio literário não é especialmente homofóbico – você pode ser gay... só não pode ser afetado. Vi recentemente uma mesa com o João Silvério Trevisan e pensei muito sobre isso. Meu discurso, os olhos pintados (os chifrinhos de veado), toda minha postura mais performática com certeza fecharam algumas portas, abriram outras. Considero o saldo mais positivo em momentos mais positivos, mais negativo em momentos mais negativos da minha carreira.

Mas hoje sendo um homem branco, cis, dos Jardins, vejo também o quanto a homossexualidade me salvou... O rótulo que tenho de “maldito” vem muito disso, não só da homossexualidade em si, mas de todas as escolhas e caminhos a que a homossexualidade me levou. Eu poderia ter crescido como um playboyzinho, mas foi a homossexualidade que me levou a experimentar coisas diferentes, me relacionar com pessoas diferentes, ampliar muito meus horizontes.

A sigla LGBTQIAPN+ já está virando meio piada (e acho que deve ser resolvida em breve), mas compreendo a intenção. Cada sexualidade é única, é difícil se colocar numa caixinha. Eu mesmo vivi um tempo como bissexual, porque não conseguia me encaixar na “homossexualidade oficial”; a hiper masculinidade não me atrai em nada (não consigo entender, por exemplo, qual é o apelo de um Henry Cavill, tenho até certo asco). Minha atração sempre foi por meninos mais femininos, andróginos; nos últimos 4 anos, só me relacionei com meninas trans – não tanto por um fetiche, mas por um traço geracional: os andróginos estão todos transicionando.

Então acho que, mais do que orgulho, estamos num momento de renovar as esperanças. O pior já passou (espero), as novas gerações já estão vindo desbloqueadas de fábrica. Minha sobrinha de onze anos é fã de Heartstopper, teve uma professora trans e aceita isso como natural.

Sempre gosto de lembrar de um episódio que aconteceu quando ela tinha uns seis anos, eu estava casado há 5 com um homem, era o tio provedor, com casa na praia, e me ocorreu perguntar à minha irmã se minha sobrinha não estranhava. “Não, porque ela já nasceu num mundo onde isso é natural, tem os amigos dos pais casais de homens, de mulheres. Ela ainda vai descobrir que isso é uma questão.”

Os 4 anos de governo bolsonaro devem ter ensinado isso a ela. Mas também devem tê-la tornado uma aliada mais forte.

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...