30/09/2021

TRILHAS DE UMA VIDA


Já há um tempo com assinatura de Spotify, minhas playlists têm se multiplicado por lá, pela praticidade não só de pesquisar/encontrar músicas – muita coisa eles não têm, afinal – mas pela possibilidade de compartilhar as seleções.

É um hábito antigo, desde o colégio, gravando fitas K7 para os amigos, depois CDs-R, as discotecagens que eu fazia quando era baladeiro... O longo período do iPods (que ainda uso diariamente – ainda tenho um Classic com 25 mil músicas e dezenas de playlists, que torço para que resista mais um tempo; troquei a placa dele há uns três anos), desestimulou o compartilhamento; mas isso voltou com força no streaming...

Ou com força em termos, né? Compartilho quase que semanalmente uma nova playlist em minhas redes; é pouca gente que escuta, que curte. Em rede social... assim como fora dela... assim como na vida... assim como no pós-morte, as pessoas querem é escutar/ler/ver o que já conhecem. Se posto uma banda obscura, ninguém se interessa. Se posto David Bowie, todo mundo curte porque já ouviu.

Eu não ouço tanto playlists de amigos, porque são poucos que compartilham (e muitos não sabem fazer direito, não tem cadência, kkk...). Mas às vezes acho coisas bacanas (como a playlist de sons armênios do Heitor Loureiro ou o Paris-Brest do Alexandre Staut) e também pesquiso a de estranhos. Isso é bem bacana.

Ter a assinatura também faz toda a diferença (e isso aqui está parecendo um publi; ME PAGA SPOTIFY); só consegui engrenar no Spotify depois de ganhar aqueles três meses gratuitos, e acabar aderindo. Não faz o menor sentido estar ouvindo um jazz gostosinho e entrar uma propaganda de um sertanojo escroto – ou não poder ouvir as músicas na ordem correta. E minhas playlists TÊM a ordem correta. É pensada como uma discotecagem...

(Sinto falta, por sinal, de funções de mixagem, poder fundir uma música na outra, fazer transições – era algo que fiz por um tempo no meu blog, mas tive de tirar por problemas de direitos autorais com as gravadoras.)

Então, com a quantidade de playlists que já tenho, resolvi colocar no blog algumas de minhas favoritas... MAS TEM QUE OUVIR NA ORDEM!

 

TRILHAS QUE TRILHEI

Começo com a playlist de trilhas sonoras – de filmes favoritos, ou trilhas favoritas. É daquelas que a sequência faz toda a diferença, porque aponta, por exemplo, as semelhanças entre a trilha de “Império do Sol” e “Cannibal Holoucaust.”

https://open.spotify.com/playlist/1f3vGX6oVvFDZI2iy2wGwd?si=6a4d4dfb73ea44da

 

CHACHACHÁ

Das minhas favoritas para cozinhar. O nome diz tudo.

 https://open.spotify.com/playlist/0XyCQ0uo3ekO2KMuhJBlVF?si=23ea71304b324b24


FEIJOADINHA

Fiz há algumas semanas, para preparar uma feijoadinha como se deve, com um pagodinho. Mas aí tem outro ponto bem negativo do Spotify: as músicas podem sumir, se o artista/gravadora tirar do serviço. Não me conformo que tiraram aquele pagodinho japonês: “Ai, gatinha, me dá uma chance, pra esse lixoooo, MA-LA-VI-LHO-SO.” (Quem não entendeu, procura “pagode japonês” no Youtube, que lá ainda tem).

https://open.spotify.com/playlist/2dPwAjcGPvvMjoLefoZyXk?si=a74ea0cb45074423

 

SONS PAULISTANOS

Das temáticas de feriado, fiz essa no aniversário de São Paulo. Impressionante como há tantas músicas sobre o Rio, mas pouquíssimas sobre SP (impressionante, mas não exatamente surpreendente). De todo modo, achei uma boa seleção – e essas coisas são ótimas de se pesquisar no Spotify.

https://open.spotify.com/playlist/0IZGF7bFA6jiaiQC3zf2KK?si=6a40087102934568

 

TRILHA DA GRIPEZINHA

Playlist meio piada, com músicas sobre doença, vacina, covid. Muita coisa eu não conhecia e só achei na pesquisa.

https://open.spotify.com/playlist/0VMMKFdgQiRcvwjvqEgU66?si=9dfaeeb282fa478c

 

CAMURÇA

Tenho várias playlists dedicadas só a um artista/banda de que gosto. Nessa misturei todas as bandas/artistas/projetos derivados do Suede, minha banda favorita de todos os tempos.

https://open.spotify.com/playlist/66fuSuClEbloOiWbWmfTUm?si=f25ac7e92aab43e7

 

BIBAS DEPRIMIDAS

Das mais antigas, que já gravava para amigos em K7, em CD. Spotify não tem muita coisa dos meus clássicos (quase nada do Klaus Nomi!), mas tá valendo.

https://open.spotify.com/playlist/0Qne2hY6YAJLg596f213o7?si=79d5b93cd5d64c8f

 

FOREVER ALONE

Essa é só de músicas de fossa “héteras.”

https://open.spotify.com/playlist/0vNmEmErNFtq2uOmWsuwYq?si=9296f0e1371d4ba6

 

SELEÇÃO HIPNÓTICA

Das mais “funcionais”. Músicas para dormir. Funciona mesmo. (No meu iPod eu tenho DOZE playlists diferentes que fiz só disso).

https://open.spotify.com/playlist/6w2lwKOvuxssOiNwzurpNI?si=67e60ede38914dc6


FUK-FUK

Essa é a mais recente... ao menos no Spotify (porque fiz seleções semelhantes em K7, CD-R, iPod, a vida toda). Músicas gostosinhas para o sexo. A ordem também faz diferença – até porque a última música é um convite para seu date ir embora pós-sexo.

https://open.spotify.com/playlist/4Ppns6M6pS9UYf6CQRCCik?si=2cf304bedb594e06


Também tenho uma maaaara de festa junina, uma de Natal... Mas é só me seguir por lá. 


Para encerrar, fazendo o "coach" das playlists, dou dicas para a sua fluir melhor (aos meus ouvidos):


- Playlist tem que ter ritmo, tem que criar um clima. Não pode ser aleatória.

- Se é playlist de um artista só, para apresentar aos amigos, limite-se a DEZ músicas. Ninguém vai ficar duas horas ouvindo um artista que não conhece. Coloque suas dez favoritas, por mais difícil que seja. Se o amigo gostar, ele vai ouvir mais. 

- Se a playlist é variada, temática, varie. Coloque uma música só de cada artista. 

- Variada não significa bagunça. A playlist tem que ter um norte, um tema, um clima. 

- Tente colocar um número de músicas mais ou menos redondo: dez, vinte, vinte e cinco - senão me dá toc. 

- Playlists temáticas, para festa (Natal, Junina, sexo) podem ser mais longas e ter menos compromisso com a ordem, porque ficam fluindo, mas ainda assim não devem ser totalmente aleatórias. 


Para mais dicas, vejam minha oficina sobre playlists na escrevedei... Mentira. 





27/09/2021

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE

 

A vida não vai voltar ao que era antes, porque já temos quase dois anos a mais...

Geralmente a vida vai mudando pouco a pouco, dia a dia, a gente envelhecendo, as fases passando. Mas a pandemia obrigou que tudo mudasse de um dia para o outro – e agora que se pensa em afrouxamentos, que se pensa em voltar atrás, já passamos tempo o suficiente para termos outros desejos, outra rotina...

Hoje um amigo me falava dos programas do fim de semana – foi ao parque, foi beber na Praça Roosevelt – “mas ainda não me sinto seguro pra balada...”, disse ele. Eu também tenho arriscado flexibilizações, mas não me sinto seguro pra balada desde que cheguei à meia-idade, há quase dez anos. Ano, passado, começo do ano, depois de me reaclimatar com a vida de solteiro, até ensaiei umas saídas, carnaval, umas festinhas, mas BALAAADA, acho que nunca mais...

Agora ainda menos, ainda mais.

Penso se para algumas pessoas isso ficou em suspenso – o envelhecimento... ou a passagem do tempo. Não importa que dois anos se passaram, querem voltar a fazer o que fariam em 2020. E isso não é, está longe de ser, uma crise de meia idade.

Eu conversava com minha sobrinha esses dias, que tinha oito, já fez nove, está com quase dez anos. “Mas você passou de ano?” Me pareceu tão esquisito ela ter passado da terceira para a quarta sem o ano ter passado. Ano que vem ela vai para o “ginásio” sem os ritos de passagem, os bailinhos, o bullying, a mudança de escola... Ela deixou de brincar com os amigos no início da pandemia. Agora, se a pandemia acabar, ela não estará mais na idade de brincar...

Todos se reencontrarão pré-adolescentes, tendo que se apaixonar instantaneamente, prestes a se casar...

... ou pior! Os moleques com buço de office-boy estarão cantando baby-shark? Meninas com seios protuberando camisetas da Peppa Pig?

Eu, que sempre fui um ser solitário, muito pouco sociável, não passei a pandemia mais solitário do que ninguém. Minha mãe, minha irmã, sempre falavam que eu precisava sair de casa para conhecer pessoa, mas a vida toda – ou toda a vida adulta – eu conheci pessoas online. Desde bate-papo do Uol até Grindr, passando por todas as redes sociais. (Poderia fazer a defesa: conquisto melhor as pessoas por escrito, mas considerando que como escritor não conquistei tantos leitores, talvez seja o contrário: Achei que meu chaveco poderia se tornar uma carreira...)

(“Chaveco”, você vê, me formei como escritor nos chats dos anos 90.)

Meu namorado conheci há seis meses pelo Tinder. Seguimos todos os protocolos. Por dois meses só nos beijamos de máscara. Ansiava que ele visse meu nariz empinado, temia o que ele acharia da minha barba grisalha...

Semana passada tomei a segunda dose (astrazeneca, sem nenhum efeito colateral, como da primeira vez, mas da primeira vez eu tive COVID cinco dias depois). Ele também já tomou a dele. Já fomos ver uma peça da minha irmã. Uma exposição no IMS. Nesse domingo comemos num barzinho bem gostosinho do Bixiga...

Eu e Klauz no Bixiga. 

E sentado lá, tomando caipirinha no bixiga, coisa que nunca fiz (mesmo morando no Bela Vista há uma vida), olhando as fotos do Adoniran Barbosa,  senti que a vida segue só pra gente mesmo... No tempo, a vida continua sempre a mesma, a gente só muda de assento...

07/09/2021

CEGO, SURDO E MUDO

 

Flagrante verde e amarelo da esquina...

Fui hoje de manhã pra academia. Moro do lado da Paulista. Deprimente ver a quantidade de bolsominions, gente com camiseta do Brasil, muitos tiozões e velhinhas. 

Confesso que soltei uns mugidos, identificando o gado; se me xingaram eu não sei, estou sempre de fones de ouvido - os fones salvaram minha vida, como diria aquela música da Björk (lembro de uma vez, louco de cogumelo em Amsterdã, em que a música nos fones foi o que me deu a noção de tempo, para eu conseguir voltar ao hostel...) 

(Não entendo esses autores sociabilíssimos, que dizem ouvir "as vozes das ruas" - as conversas dos transeuntes, dos taxistas - hoje em dia é melhor não ouvir. Eu estou sempre de fone; sempre trancado comigo mesmo; a minha trilha é o que faz com que eu me sinta em casa, onde quer que eu esteja...)

(Mas estou divagando.)

Provavelmente o gado achou que meu mugido era só eu cantarolando; ou um "hmmmm" apreciativo, uma cantada. (Uma vez descobri um bolsominion no meu chuveiro, depois do sexo; se fosse antes, talvez eu tivesse broxado... ou não, às vezes é bom foder com raiva...)

Hoje foi só broxada. Não tenho mais esse ímpeto. Não tenho mais vontades. Vejo os amigos postando no feed: "se ainda tiver bolsomion aqui, caia fora, blábláblá" - isso desde 2018, quando eu também, eu ainda tinha esse espírito, ainda tinha esperança... Meu vizinho de baixo ainda grita "fora bolsonaroooo", e eu só faço um joinha. Minha voz não tem mais projeção; já tive um falsete tão agudo...

Surdo, mudo e broxa... a cegueira também avança. A cada semana fica mais difícil para eu ler sem óculos - é impressionante; e ainda insisto. Mas também já li muito, já vi de tudo, não há mais nada de bom a ver, por vir... (Isso também não é uma música da Björk?)

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MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...