29/10/2021

DIA DO LIVRO



Hoje é o Dia do Livro. E eu, como escritor, sempre considerei mais como uma praga, uma maldição...

(Sintomático que venha colado ao Halloween...)

Acho bonito o depoimento de tantos escritores, tantos leitores que falam como a literatura abriu um mundo para eles, foi uma forma de conhecimento e de ascensão social. Na minha vida, na minha família, foi justamente o contrário.

Minha mãe veio de uma família rica, armênia, sempre foi apaixonada pelos livros e no começo da idade adulta se apaixonou por um artista (plástico, no caso), que vinha de uma família quatrocentona, e que também viu a decadência financeira ao se dedicar à arte. Ela fugiu de casa para morar com ele, nunca mais viu meu avô, e não teve o destino próspero da maioria dos meus tios. Quando se separou de meu pai, teve de camelar em diversos empregos para sustentar os filhos pequenos – meu pai (“artista!”) nunca ajudou, nem com a presença nem financeiramente (“Você é de família rica, afinal”, dizia ele). Usufruíamos de algo dessa riqueza, é verdade, ganhamos uma casa nos Jardins, viagens para a Disney, mas as contas mensais sempre dependeram do trabalho da minha mãe.

No que ela trabalhava? Com livros, em livrarias, na Biblioteca José Mindlin. Os livros ocupavam cada vez mais espaço em nossa casa – a cada ano minha mãe tirava um quadro do ex-marido da parede, para colocar uma nova estante de livros...

Talvez eu possa agradecer que foram os livros que me garantiram uma criação de classe média... Ou talvez eu deva lamentar que foram os livros que me restringiram a uma criação de classe média...

Sempre estudei em colégios particulares. Me formei numa faculdade particular (Comunicação, na FAAP), e comecei uma carreira próspera como redator publicitário (aos 19 anos, por pistolão da família, veja só). Mas a maldição...

Aos vinte e quatro anos larguei a publicidade porque queria trabalhar com livros, escrever, publicar, traduzir. Hoje é o que eu faço... e só eu sei como é difícil fechar as contas... Com ensino superior... 5 idiomas... 12 livros... uma centena de traduções...

Para além do ganho financeiro, a literatura (ou o meio literário) sempre me recebeu com ressalvas. Sempre viram meu trabalho com desconfiança – nunca entenderam se eu era comercial, underground, descartável, literário ou o quê. Nunca vendi horrores, nunca ganhei grandes prêmios; minha maior (única?) conquista nesses vinte anos foi conseguir continuar sempre publicando, por grandes casas, fazendo só o que eu realmente acreditava, dizendo o que eu queria dizer.

Talvez não seja pouco. Talvez seja uma grande maldição.

Mas a maldição não se limita a isso. A praga se estende também pelo meu apartamento (que não é meu, a literatura nunca me deu casa própria), pelas paredes, os livros empilhados, a poeira os ácaros. “Você tem toc ou rinite?” tenho de perguntar a qualquer um antes de vir à minha casa. Se tiver os dois, ele MORRE ao entrar aqui. É mesmo uma praga.



28/10/2021

OS MELHORES FILMES DE TERROR DE 2021


Hora da minha tradicional lista de Halloween - dos melhores filmes de terror que vi desde o pós-Halloween passado até esse.

Foi um ano bem ruim, com poucas estreias em cinema, produções paradas com a pandemia; e eu também não garimpei tanto quanto em outros anos. Não consegui colocar NENHUM nacional, por exemplo. Mas tá valendo. Sei que algumas escolhas serão POLÊMICAS, que muita gente não gostou, mas tem para todos os gostos. 

Vamos lá: 


- RENT A PAL

Um quarentão solitário que cuida da mãe inválida tenta encontrar uma namorada através de um serviço de encontros, mas acaba ficando obcecado com um "amigo virtual" que encontra numa fita cassete e vai se tornando cada vez mais recluso e doentio. Uma ótima exploração de temas tão em voga ultimamente (relações virtuais, isolamento), com uma ambientação retrô dos anos 90. Ameeei. 


- SON

Uma mulher com um passado traumático tenta fugir de perseguidores com seu filho pequeno, que talvez carregue uma ameaça em si. Seria muito spoiler eu dizer que parece uma sequência-reboot de "O Bebê de Rosemary"?


- THE BOY BEHIND THE DOOR

Dois meninos são sequestrados por uma gangue de pedófilos e têm de tentar escapar de uma casa isolada. Ótimos protagonistas mirins e uma condução tensa e pesada, apesar do final meio meh


- WRONG TURN

Polêmica! Esse é um reboot de "Pãnico na Floresta", que não tem nada a ver com o original, e talvez só tenha usado o mesmo nome (em inglês) pelo marketing. Mas achei esse bem melhor do que o original (e que todas as sequências, claro). É um filme pesado e violento, de um grupo de jovens que se perde numa floresta e encontra uma seita. Eu adorei. 


- BLOOD RED SKY


Vampiros num avião. É basicamente isso, um filme de sequestro de avião, mas com vampiros. Produção britânica-alemã da Netflix. Beeeem divertida e não totalmente descartável. 


- OLD

Continuando com as polêmicas, eu adorei esse do Shyamalan. Estou longe de ser fã dele (acho que só gosto de "Sexto Sentido" e aquele found footage dos avós), mas esse é daqueles ruins que é bom. Tem uns diálogos toscos, o roteiro é totalmente discutível, mas a ideia (que não é dele, é adaptada de uma HQ) é ótima e ele faz o serviço. A sinopse: Uma família vai para uma praia isolada e descobre que a cada meia hora envelhece um ano de vida.  


- CENSOR

Uma censora de filmes violentos da Inglaterra dos anos 80 começa a suspeitar que sua irmã desaparecida desde a infância pode estar sendo usada nessas produções. Típico terror indie delicinha.  


-CANDYMAN

Nunca gostei do Candyman original. Acho um porre (e até tenho o DVD, que ganhei). Nessa sequência (que não é um reboot, porque considera o original) o discurso é mais incisivo e mais bacana, entrando nessa linha de terror racial do Jordan Peele (de "Get Out" e "Us"), que é produtor do filme. Investigando a lenda urbana do "Candyman", um artista plástico começa a "receber" a entidade. Não gosto muito do final, mas de resto tá ótimo. 



- MALIGNO

Mais polêmica! O novo terror do James Wan dividiu opiniões. Eu não gosto de quase nada dele - o invocaverso, e tal, odeio tudo - acho que só gosto do primeiro Jogos Mortais. E assistindo a esse novo, eu mesmo tive opiniões conflitantes. Achei interessante. Depois tosco. Depois muito tosco. E no final, achei tão tosco, tão trash que adorei. É total terror trash 80´s, sobre uma mulher que tem visões com um assassino cometendo seus crimes. Não vou entregar spoilers, mas só digo que as soluções são tão absurdas, a estética tão cafona, que não dá para acreditar que queriam levar a sério. E o mais importante: é bem divertido. 



- HALLOWEEN KILLS


Posso falar que gostei mais desse do que o anterior? Bem mais, na verdade. Entendo o povo não gostar desse; não entendo gostarem tanto do anterior - que tem um drama totalmente sem sentido de uma mulher (Jamie Lee Curtis) traumatizada por um assassino que matou meia dúzia de gente, uns podcasters que não têm função nenhuma no filme (a cena de abertura do Halloween anterior é constrangedora). Aqui eles seguem uma sequência direta, com a cidade toda à caça do assassino, o que é muito legal. É um slasher safado, como deveria ser. 


E o MELHOR terror do ano pra mim foi... 


SPIRAL  - FROM THE BOOK OF SAW


(Tá, agora tô zoando.)


21/10/2021

PESADELOS NESTA NOITE ASSASSINA DE HALLOWEEN




É HALLOWEEN! (ou quase). Quando eu era uma criança gótica (e colonizada) e queria comemorar, ninguém sabia o que era. Me lembro até hoje quando me fantasiei com meu amigo Frederico, lá com uns 8, 9 anos de idade, e tocamos campainhas das casas dos Jardins pedindo "gostosuras e travessuras"; ninguém colaborou, só nos enxotavam... (matei todos). 

Hoje em dia a data está cada vez mais estabelecida; já se tornou tradição eu arrumar uma abóbora ENORME para minha sobrinha decorar. Há dois anos, antes da pandemia, tentei comprar adereços para fantasia no dia, e as lojas já estavam com tudo esgotado. Os cinemas também têm reservado estreias especiais para outubro (como o novo Halloween Kills) e na televisão há programas especiais. 

Nesse clima, comecei a pensar nas franquias clássicas de filmes de terror - algumas hibernando, outras em plena atividade - que gostaria de ver de volta. E pensei também o que EU faria com cada uma delas (como fã, ficcionista e terrorista... digo, roteirista). 

Semana que vem posto meus filmes de terror favoritos do ano. Hoje, coloco minhas ideias (ou "fanfics") para sequências de filmes bem conhecidos (me contrata Hollywood)!


NIGHTMARES ON ELM STREET

Freddy Krueger sempre foi meu vilão favorito. Mas esse é daqueles que está num hiato de mais de dez anos. Então deu tempo de pensar numa ótima sequência (ao menos para mim). Eu faria uma mistura de prequel com reboot: um jovem Freddy ainda vivo, trabalhando de guarda noturno numa refinaria depois de ter fugido de sua antiga cidade por ter sido acusado (injustamente?) de molestar crianças. O trabalho durante as madrugadas, com os gases tóxicos, faz com que ele tenha pesadelos constantes; sonha com um antigo funcionário da refinaria - de suéter listrado e chapéu - que morreu queimado por lá. Nos sonhos, o velho (interpretado pelo Freddy original, Robert Englund), o incita a raptar e matar crianças. O jovem Freddy vai ficando cada vez mais louco, alucinando, encontra as antigas roupas do funcionário morto e começa a cometer seus crimes. No final, ele seria morto pelos pais das crianças, dando início ao Freddy dos pesadelos. Assim, era uma forma de Englund "passar a tocha", ao mesmo tempo que rebootava a série. 

 

ARMY OF CHUCKY

Vi só o primeiro capítulo da série nova. Achei meio palha. Mas eu gostei da ideia plantada no filme anterior ("Cult of Chucky") de que não era mais um único boneco, e sim vários. Acho que a série poderia (pode?) seguir por aí. Cada capítulo seria um boneco possuído, numa casa diferente, uma história diferente, com Chucky querendo tocar o terror e dominar o mundo (tipo uma Audrey II, da Pequena Loja de Horrores). Poderia ter um fio condutor comum com os atores clássicos: Jennifer Tilly, Alex Vincent e tal...  (A série atual talvez siga um pouco por aí, mas a mim parece que vai seguir mais numa trama contínua, com o garotinho gay na escola). 

 

HALLOWEEN CULT 

Esse já foi tão rebootado, refeito, remendado que fica mais difícil. Eu até gosto dessa sequência atual, mas se fosse para EU fazer um novo filme, faria outra coisa. Não algo completamente deslocado (como o Halloween III), mas uma trama paralela, uma espécie de spin-off. Na noite em que Michael Myers voltou a atacar (na sequência atual), um grupo de crianças que está "trick-or-treating" entra numa casa decorada de Halloween, que promete oferecer muitos sustos. Na verdade, é lar de uma seita de satanistas que quer torturar as crianças para oferecer a uma entidade que só surge nessa noite. Poderia ter um protagonista mirim que escapa. E, no final, os vilões (ou um único vilão) sobreviventes encontrariam Michael Myers, achando que era a entidade que invocaram, mas seriam mortos por ele. 


FRIDAY THE 13th – PART 13

Jason também está há muito no fundo do lago, devido a disputas judiciais, mas até para o espaço ele já foi, literalmente. Eu faria um filme clássico, num contexto atual. Um grupo de jovens vai acampar no mato, em plena pandemia, para escapar do confinamento/cidade/aglomeração. De noite, coisas estranhas começam a acontecer, aparições de fantasmas, pessoas desaparecem. O núcleo principal (quarteto?) se embrenha na mata tentando fugir e encontra... Crystal Lake, que eles conhecem como nós, como uma lenda. O acampamento está totalmente abandonado, mas Jason ainda está por lá, cercado de fantasmas de suas vítimas... Dava para rechear de referências às vítimas da série clássica, que apareceriam como fantasmas. 


ESTA NOITE REENCARNAREI NO TEU FILHO

Zé do Caixão morreu com seu criador, José Mojica Marins. Mas o maior ícone do terror brasileiro poderia ter uma sobrevida.... e aparentemente vai! Li notícias que o (teteia) Elijah Wood comprou direitos para fazer uma versão americana do Coffin Joe. Não sei se vai rebootar, se vai vingar. Mas se eu fosse fazer, continuaria de onde o último ("Encarnação do Demônio"), parou. Uma mãe tem cada vez mais problemas com o filho adolescente - violento, drogado, problemático. Os psicólogos não sabem como ajudá-la, uma cigana diz que o filho tem o encosto do pai e que precisam fazer um trabalho no cadáver dele. A mãe revela ao filho que ele é fruto de um estupro - ela foi estuprada pelo Zé do Caixão. O filme seria um road movie de mãe e filho-problema viajando até os restos mortais do Zé do Caixão, sendo perseguidos por traficantes (a quem o filho deve) por toda a estrada. A busca do Zé do Caixão sempre foi fazer o filho perfeito, e nunca acreditou no sobrenatural; então nada mais justo que o filho renegá-lo e ele se tornar uma assombração. A mãe ainda poderia ser a diva under Cléo de Páris, que foi uma das noivas do Zé no último filme.


E não me faltam ideias para tantos outros filmes, outras franquias... Mas de graça, por aqui, já está mais do que bom. 


Semana que vem posto a tradicional lista de melhores filmes de terror do ano!




MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...