25/09/2012

GUERRA SANTA





Eu voto na Soninha. É claro.

É preciso dar força política para ela, e para gente como ela, gente como nós. As pessoas reclamam tanto da classe política, mas continuam votando nas mesmas pessoas, nos mesmos modelos. A impopularidade da Soninha é exatamente fruto de sua coerência, de assumir seus valores e ideais sem medo de perder votos de conservadores e religiosos, de sugerir propostas concretas em vez de ficar nas promessas genéricas de "mais educação, saúde e segurança". Muita gente - mesmo gente como a gente, ou quase - quer político com mais cara de político, com discurso de político. Eu acho um discurso burro.

Tem me assustado como o Brasil está ficando careta, coxinha, cagão. A ascensão dos evangélicos está tomando ares de guerra santa e inquisição. Eu acho realmente difícil entender essa lógica religiosa - para mim, um ser adulto, inteligente, instruído acreditar em Deus e Jesus, Céu e Inferno é a mesma coisa que... acreditar em Papai Noel, coelhinho da páscoa, mula sem-cabeça, sei lá.

É fácil achar que é tudo cinismo mesmo, visto o tanto de deputado evangélico metido em falcatrua, pastor pecando em praça pública. Fácil achar que ninguém pode DE FATO acreditar nessas interpretações da Bíblia. Mas é só lembrar historicamente quantas atrocidades já foram feitas em nome da religião, tudo desculpado de uma forma torta de acordo com os valores da época. Foge mesmo da lógica, da razão; faz parte de uma lavagem cerebral.

Os evangélicos talvez sejam o grupo mais flagrante (e atuante politicamente) desse neo-conservadorismo, mas dá para ver que eles não são os únicos. Em qualquer espaço aberto para comentários na Internet você vê  o discurso homofóbico, machista e limitado da molecada. Muita gente hoje tem orgulho de sua caretice.

Felizmente junto a isso acho que há sim uma maior consciência política atual. Você vê o tanto de mensagens repassadas no Facebook, Twitter, sobre os incêndios nas favelas, sobre Belo Monte, sobre censuras e falcatruas. Claro, é fácil repassar mensagens na Internet, sem sair de casa, mas quem disse que tem de ser difícil? E se você sai de casa, vê diariamente protestos na Avenida Paulista, no vão do MASP, contra o machismo, a favor do vegetarianismo, por um novo código florestal. É uma geração engajada de forma diferente - não precisamos pegar em armas, por enquanto - mas engajada como nunca.

Por isso que minha guerra continua sendo pessoal, íntima, subjetiva, pelas minorias das minorias. Veja só, o orgulho do amor livre, dos anos 70, hoje é tachado pejorativamente de promiscuidade. Os gays lutam para casar, adotar, fazer sexo papai-e-papai. São todos masculinos, barbudinhos, bombadinhos. E os escritores? Todos acadêmicos, dentro da casinha, tementes às instituições. A classe artística brasileira é inquestionavelmente coxinha.

Acho uma posição política, a minha posição política fazer diferente, escrever diferente, não falar do que todo mundo está falando. Acho que as pessoas deviam buscar mais seus próprios temas, não terem medo de ser quem elas são, terem orgulho da diferença.

Para mim é inquestionável que as coisas precisam mudar. Muitas coisas. Então é isso, por tudo isso, eu voto na Soninha.


22/09/2012

ROMANCE MATADOR



Nove universitários se reúnem no porão de uma casa para um pacto de suicídio. Cada um tem seus motivos para querer morrer, e cada um esconde segredos que trarão uma série de reviravoltas à trama. Essa é a premissa de Suicidas, belíssima estreia do carioca Raphael Montes.

Aos 21 anos de idade, Raphael lança um romanção policial de quase 500 páginas, com personagens muito bem construídos e uma trama complexa habilmente armada. É o que em inglês se chama de page turner, aqueles livros que você não consegue largar até chegar ao fim. O suspense é muito bem fermentado na estrutura não-linear do livro, que compreende piruetas metalinguísticas, como nas discussões entre as mães dos jovens mortos, que analisam a história narrada no diário de um deles.

"Gostaria de pedir às senhoras atenção redobrada durante este capítulo. Evitem qualquer tipo de comentário paralelo ou interrupção, sim? Na verdade, podemos dizer que este é o capítulo-chave de toda a nossa reunião. Então, por favor..." [Diálogo da delegada em reunião com as mães das vítimas.]

Há alguns detalhes duvidosos na trama, como os jovens passarem a noite inteira trancados num porão, bebendo e se drogando - mas sem acesso a um banheiro, e isso não ser questionado em nenhum momento do livro; ou mais grave, o protagonista estar escrevendo tudo o que acontece em tempo real (um volume de texto que jamais poderia ter sido escrito em algumas horas, com o autor ainda interagindo na ação). Mas isso pode ser desculpado pelo leitor ávido em saber o que de fato aconteceu e como a história vai terminar. Inclusive algumas inverossimilhanças e inconsistências do texto são questionadas pelas próprias mães-personagens da história, que acabam tendo quase que uma função de auto-oficina literária no romance.

O universo carioca zona-sul do livro também me incomoda um pouco, apenas por ser um universo que me incomoda de antemão. E a personalidade tangível, mas essencialmente mal-caráter de TODOS os personagens do livro prejudica um pouco seu carisma. De todo modo, o romance cumpre muito bem sua proposta, não é à toa que foi um dos finalistas do Prêmio Benvirá de Literatura (e sai agora pela série de suspense da editora - braço da Saraiva).    

Recebo tanto livro de estreia aqui em casa, tanta gente bacana, bem-intencionada (ou quase), mas que escreve "livrinho", coisa boba, coisa chata. Raphael Montes sem dúvida fez um "livrão, em todos os sentidos.  Sabe criar personagem, tem ótimos diálogos e tem história para contar. Suicidas mostra o fôlego de um novo autor que já sabe muito bem o que está fazendo - e que embora utilize de algumas ferramentas essencialmente literárias para contar sua história, poderia facilmente gerar um grande, grande filme.

15/09/2012

LANÇAMENTO DO DIA

Debate com Anderson Pires. (Foto: Lique Gávio)


Estou em Juiz de Fora. Participei do projeto "Ave, Palavra", organizado pela livraria Terceira Margem, um debate com o escritor Anderson Pires e lançamento do Garotos Malditos. 


Com Izaura, Carolina e Anderson. 


Estava cheio, o povo foi bem querido e deu para falar bem da minha obra como um todo, processo de escrita de vários dos meus livros, etc. Tenho muito orgulho desses sete livros já lançados, dez anos de carreira; acumulei muita experiência já, são livros muito diferentes, escritos de maneiras diferentes, então sempre tenho muito o que dizer. E acho que tenho minha marca, meu lugar e meu público, embora ainda seja um público restrito...
Carlos e Izaura, donos da livraria que me receberam como um príncipe. 

Atingir o público adolescente do Garotos Malditos ainda é um desafio. Mas foi lindo depois do debate virem várias senhoras com o livro para eu autografar "para o Luca", "para a Júlia", "para o Pedro", adolescentes filhos delas que obviamente não quiseram ver um debate literário. Muita gente comprou os outros livros também, Pornofantasma, O Prédio, o Tédio e o Menino Cego. Enfim, foi um lançamento de fato, acho que o melhor desse livro até agora.


Autografando os livros do Mauro, querido curador do evento. 


Nas últimas semanas dei algumas entrevistas sobre o livro, sobre a carreira em geral e li algumas críticas bacanas.

A Tribuna de Minas fez uma longa entrevista comigo, e foi condensada no jornal, mas dá para ler os highlights aqui:

http://www.tribunademinas.com.br/cultura/entrevista-santiago-nazarian-escritor-1.1155454

O blog meia palavra fez uma crítica bem sincera e positiva. Eu só não recomendo que leia quem ainda não leu o livro, porque tiveram a pachorra de contar a história INTEIRA, inclusive o final:

http://blog.meiapalavra.com.br/2012/09/06/garotos-malditos-santiago-nazarian/


Ney Anderson, do Angústia Criadora, também fez uma crítica bem bacana e uma longa entrevista,, aqui:

http://angustiacriadora.blogspot.com.br/2012/09/os-jovens-em-sua-melhor-fase.html


Ainda dei entrevista para alguns jornais do Paraná, por onde passei, Minas e Bahia. Coloco abaixo algumas das perguntas/respostas que acho mais interessantes:

- Eu li que você classifica o seu trabalho como existencialismo bizarro. Como é isso? Pode falar um pouco sobre isso para mim? (Tribuna de Minas) 


São questões existenciais apresentadas em contextos e alegorias bizarras. O jacaré de esgoto que procura seu lugar no mundo; o adolescente que se apaixona pela professora infanticida; o pai que enxerga o filho morto num ator pornô... 

– Um dos seus grandes amigos é o Marcelino Freire, um oficineiro nato. Por que não acredita em oficinas literárias? (Angústia Criadora)

Porque não acho que todo mundo pode ser escritor. E a oficina meio que promete isso: VOCÊ TAMBÉM PODE SER ESCRITOR! Acho que algumas coisas podem ser aprendidas, mas é preciso nascer (ou ser criado) com uma inclinação específica. E acho desonesto você ficar incentivando pessoas que você vê claramente que não têm vocação. 


- Recentemente, o Muniz Sodré comentou numa palestra aqui na cidade [Juiz de Fora] que um dos traços marcantes da literatura contemporânea é a individualidade, é a busca por um ensimesmamento, ou seja, ela é afastada do coletivo. Coincidentemente, vi uma declaração sua em que você disse que um dos seus traços é a individualidade. Você não acha que esta característica te aproxima da grande maioria dos escritores contemporâneos? (Tribuna de Minas)

Isso é uma grande bobagem. Essa individualidade não é traço contemporâneo – veja os grandes clássicos da literatura, em sua grande maioria tratam de questões íntimas, pessoais.  Literatura É a arte do indivíduo. Aliás, provavelmente a arte mais solitária, junto às artes plásticas. Natural e importante que trate de questões da individualidade e da subjetividade. A forma como cada escritor faz isso é que difere. 


- O que você acha da afirmativa de que a literatura contemporânea não tem uma preocupação com o coletivo, que ela é muito narcisista? (Tribuna de Minas) 

 Acho que já respondi um pouco acima. Acho IMPORTANTE a preocupação com o indivíduo, com a subjetividade. O individualismo geralmente é visto com olhar negativo, mas também tem sua importância política. O individualismo vai contra a massificação, a pasteurização, a mecanização do homem. O individualismo é o triunfo do indivíduo, da personalidade própria, da opinião e da consciência. Ao meu ver, isso é o que mais falta no mundo. Vejo tanto essa retórica evangélica de “Proteção à Família.” Que proteção à família?! Família não precisa ser protegida, família tem uns aos outros. O INDIVÍDUO é que precisa ser protegido, como o homossexual que é expulso de casa, ou o idoso que mora sozinho e não pode cuidar de si mesmo. Família não é o lado mais frágil e carente da sociedade. 



- Além de ser o seu primeiro no gênero infanto-juvenil, foi, como você mesmo conta em seu blog, Jardim Bizarro, uma obra quase que por encomenda, tanto pelo compromisso com a editora Record quanto com o Petrobral Cultural. Em que medida isso acabou influenciando o processo de criação do livro? (A Tarde) 

Isso só me obrigou a concretizar o livro, mas não houve nenhuma interferência ou censura externa. A Petrobrás não interfere no conteúdo do livro e a Record é bem liberal no que permite num juvenil – eu já havia traduzido alguns juvenis para eles então sabia até onde podia ir. De qualquer forma, minha intenção nunca foi chocar ou corromper os adolescentes, haha, era que eles se identificassem. Queria criar um personagem que pensasse como eles, então é obviamente um moleque que pensa muito em sexo, que tem um bom grau de incorreção política. E era importante para mim passar algumas mensagens, a visão positiva do sexo, o uso da camisinha, a aceitação das diferenças, à crítica ao marketing da religião. 


– Você falou recentemente que esse livro não é literatura, é entretenimento, quais as diferenças básicas entre as duas coisas na sua concepção? (Angústia Criadora)

Literatura é arte. Tem uma preocupação formal e conceitual profunda. Um livro de literatura trabalha a linguagem e a reflexão em densidade. Esse livro não; ele tem sua inteligência, traz questionamento e reflexões, mas são pertinentes a uma idade e são questões pontuais. E a linguagem é totalmente objetiva e coloquial. 


- Mudou alguma coisa em sua forma de pensar e trabalhar desde o lançamento de “Olívio”? (Tribuna de Minas) 

No trabalho, hoje eu vivo apenas de literatura – não só da minha, mas traduções, roteiros, crônicas; tudo relacionado a escrever, que acaba me acrescentando muito. Na minha obra, acho que solidificou-se um estilo mais próprio – eu não renego Olívio, mas acho um livro bastante genérico, que poderia ter sido escrito por qualquer um. O triste é que não tenho mais a empolgação ou a ilusão de que minha literatura vai mudar o mundo, ou mesmo o cenário brasileiro. Cada vez mais eu acho que quem faz diferente não faz a menor diferença.


10/09/2012

JUIZ DE FORA



É sábado agora, 15h. 

Além de debater com o Anderson Pires, vou autografar Garotos Malditos e os livros mais recentes. Será minha primeira visita à Juiz de Fora. Prestigiem. Passo o final de semana lá.

Enquanto isso, em São Paulo estará acontecendo a Fantasticon - evento centrado na literatura fantástica. Já participei em 2009; adorei o evento e queria poder ter aceitado o convite para o deste ano (pena que já tinha a mesa marcada em MG). Mas para quem fica, a programação completa está aqui:

http://fantasticon.com.br/

03/09/2012

SOBREVIVENDO SOZINHO

Com Nicolas e Daniel. Amo esses meninos.

Estou solteiro há um bom, bom tempo, e há um bom tempo que não tenho aprontado. Aproveitado eu tenho, com os amigos. Depois de tantas temporadas em cidades distantes, países estranhos, é bom poder estar próximo de tanta gente que amo tanto, que faz parte da minha história e compartilha dos meus gostos e ideais, como esses dois trintões bonitões aí em cima.


E os amigos das letras... (Marcelino, Adilson, Ivan)

No meio literário, não tenho lá muitos amigos. Não tenho grandes inimizades, mas não sou exatamente integrado - e quem é? Por isso é sempre bacana os almoços que a Ivana organiza, onde posso encontrar gente com quem simpatizo tanto, mas não vejo muito. No deste domingo deixaram de vir o Bressane, Xico Sá, Joca Terron, mas deu para matar a saudades do Marcelino e ter uma ótima conversa com a Del Fuego, com quem já curti umas boas baladas nesta vida.

Com Ivana. (Eu não tirei o óculos porque estava na ressaca de domingo)


Andrea está mais do que premiada, com um filhinho desses e o marido André. 

A legenda é: primeira e terceira divisão da literatura nacional. Ah-ha! (Mas esperem só, voltarei com minha vingança...)


Marcelino eu via mais quando morava em Floripa...


E além dos amigos... A família. Neste final de semana fui visitar minha sobrinha Valentina, que está linda linda. Eu já recebi a alcunha de "Tio Vampiro"... e dá vontade mesmo de morder.



Com o macacãozinho de muumi eu que trouxe de Helsinki. 


NESTE SÁBADO!