LANÇAMENTO DO DIA
Debate com Anderson Pires. (Foto: Lique Gávio)
Estou em Juiz de Fora. Participei do projeto "Ave, Palavra", organizado pela livraria Terceira Margem, um debate com o escritor Anderson Pires e lançamento do
Garotos Malditos.
Com Izaura, Carolina e Anderson.
Estava cheio, o povo foi bem querido e deu para falar bem da minha obra como um todo, processo de escrita de vários dos meus livros, etc. Tenho muito orgulho desses sete livros já lançados, dez anos de carreira; acumulei muita experiência já, são livros muito diferentes, escritos de maneiras diferentes, então sempre tenho muito o que dizer. E acho que tenho minha marca, meu lugar e meu público, embora ainda seja um público restrito...
Carlos e Izaura, donos da livraria que me receberam como um príncipe.
Atingir o público adolescente do
Garotos Malditos ainda é um desafio. Mas foi lindo depois do debate virem várias senhoras com o livro para eu autografar "para o Luca", "para a Júlia", "para o Pedro", adolescentes filhos delas que obviamente não quiseram ver um debate literário. Muita gente comprou os outros livros também,
Pornofantasma,
O Prédio, o Tédio e o Menino Cego. Enfim, foi um
lançamento de fato, acho que o melhor desse livro até agora.
Autografando os livros do Mauro, querido curador do evento.
Nas últimas semanas dei algumas entrevistas sobre o livro, sobre a carreira em geral e li algumas críticas bacanas.
A Tribuna de Minas fez uma longa entrevista comigo, e foi condensada no jornal, mas dá para ler os highlights aqui:
http://www.tribunademinas.com.br/cultura/entrevista-santiago-nazarian-escritor-1.1155454
O blog meia palavra fez uma crítica bem sincera e positiva. Eu só não recomendo que leia quem ainda não leu o livro, porque tiveram a pachorra de contar a história INTEIRA, inclusive o final:
http://blog.meiapalavra.com.br/2012/09/06/garotos-malditos-santiago-nazarian/
Ney Anderson, do Angústia Criadora, também fez uma crítica bem bacana e uma longa entrevista,, aqui:
http://angustiacriadora.blogspot.com.br/2012/09/os-jovens-em-sua-melhor-fase.html
Ainda dei entrevista para alguns jornais do Paraná, por onde passei, Minas e Bahia. Coloco abaixo algumas das perguntas/respostas que acho mais interessantes:
- Eu li que você classifica o seu trabalho como
existencialismo bizarro. Como é isso? Pode falar um pouco sobre isso para mim? (Tribuna de Minas)
São questões existenciais apresentadas em contextos
e alegorias bizarras. O jacaré de esgoto que procura seu lugar no mundo; o
adolescente que se apaixona pela professora infanticida; o pai que enxerga o
filho morto num ator pornô...
– Um dos seus grandes amigos é o Marcelino Freire, um oficineiro nato. Por que não acredita em oficinas literárias? (Angústia Criadora)
Porque não acho que todo mundo pode ser escritor. E a oficina meio que promete isso: VOCÊ TAMBÉM PODE SER ESCRITOR! Acho que algumas coisas podem ser aprendidas, mas é preciso nascer (ou ser criado) com uma inclinação específica. E acho desonesto você ficar incentivando pessoas que você vê claramente que não têm vocação.
- Recentemente, o Muniz Sodré comentou numa palestra
aqui na cidade [Juiz de Fora] que um dos traços marcantes da literatura contemporânea é a
individualidade, é a busca por um ensimesmamento, ou seja, ela é afastada do
coletivo. Coincidentemente, vi uma declaração sua em que você disse que um dos
seus traços é a individualidade. Você não acha que esta característica te aproxima
da grande maioria dos escritores contemporâneos? (Tribuna de Minas)
Isso é uma grande bobagem. Essa individualidade não é traço
contemporâneo – veja os grandes clássicos da literatura, em sua grande maioria
tratam de questões íntimas, pessoais.
Literatura É a arte do indivíduo. Aliás, provavelmente a arte mais
solitária, junto às artes plásticas. Natural e importante que trate de questões
da individualidade e da subjetividade. A forma como cada escritor faz isso é
que difere.
- O que você acha da afirmativa de que a literatura
contemporânea não tem uma preocupação com o coletivo, que ela é muito
narcisista? (Tribuna de Minas)
Acho que já respondi um pouco acima. Acho IMPORTANTE a preocupação
com o indivíduo, com a subjetividade. O individualismo geralmente é visto com
olhar negativo, mas também tem sua importância política. O individualismo vai
contra a massificação, a pasteurização, a mecanização do homem. O
individualismo é o triunfo do indivíduo, da personalidade própria, da opinião e
da consciência. Ao meu ver, isso é o que mais falta no mundo. Vejo tanto essa
retórica evangélica de “Proteção à Família.” Que proteção à família?! Família
não precisa ser protegida, família tem uns aos outros. O INDIVÍDUO é que precisa
ser protegido, como o homossexual que é expulso de casa, ou o idoso que mora
sozinho e não pode cuidar de si mesmo. Família não é o lado mais frágil e carente da sociedade.
- Além de ser o seu
primeiro no gênero infanto-juvenil, foi, como você mesmo conta em seu blog,
Jardim Bizarro, uma obra quase que por encomenda, tanto pelo compromisso com a
editora Record quanto com o Petrobral Cultural. Em que medida isso acabou
influenciando o processo de criação do livro? (A Tarde)
Isso só me obrigou a
concretizar o livro, mas não houve nenhuma interferência ou censura externa. A
Petrobrás não interfere no conteúdo do livro e a Record é bem liberal no que
permite num juvenil – eu já havia traduzido alguns juvenis para eles então
sabia até onde podia ir. De qualquer forma, minha intenção nunca foi chocar ou
corromper os adolescentes, haha, era que eles se identificassem. Queria criar
um personagem que pensasse como eles, então é obviamente um moleque que pensa
muito em sexo, que tem um bom grau de incorreção política. E era importante
para mim passar algumas mensagens, a visão positiva do sexo, o uso da
camisinha, a aceitação das diferenças, à crítica ao marketing da religião.
– Você falou recentemente que esse livro não é literatura, é entretenimento, quais as diferenças básicas entre as duas coisas na sua concepção? (Angústia Criadora)
Literatura é arte. Tem uma preocupação formal e conceitual
profunda. Um livro de literatura trabalha a linguagem e a reflexão em
densidade. Esse livro não; ele tem sua inteligência, traz questionamento e
reflexões, mas são pertinentes a uma idade e são questões pontuais. E a
linguagem é totalmente objetiva e coloquial.
- Mudou alguma coisa em sua forma de pensar e trabalhar desde o lançamento
de “Olívio”? (Tribuna de Minas)
No trabalho, hoje eu vivo apenas de literatura –
não só da minha, mas traduções, roteiros, crônicas; tudo relacionado a
escrever, que acaba me acrescentando muito. Na minha obra, acho que
solidificou-se um estilo mais próprio – eu não renego Olívio, mas acho um livro bastante genérico, que poderia ter sido
escrito por qualquer um. O triste é que não tenho mais a empolgação ou a ilusão
de que minha literatura vai mudar o mundo, ou mesmo o cenário brasileiro. Cada
vez mais eu acho que quem faz diferente não faz a menor diferença.