22/09/2012

ROMANCE MATADOR



Nove universitários se reúnem no porão de uma casa para um pacto de suicídio. Cada um tem seus motivos para querer morrer, e cada um esconde segredos que trarão uma série de reviravoltas à trama. Essa é a premissa de Suicidas, belíssima estreia do carioca Raphael Montes.

Aos 21 anos de idade, Raphael lança um romanção policial de quase 500 páginas, com personagens muito bem construídos e uma trama complexa habilmente armada. É o que em inglês se chama de page turner, aqueles livros que você não consegue largar até chegar ao fim. O suspense é muito bem fermentado na estrutura não-linear do livro, que compreende piruetas metalinguísticas, como nas discussões entre as mães dos jovens mortos, que analisam a história narrada no diário de um deles.

"Gostaria de pedir às senhoras atenção redobrada durante este capítulo. Evitem qualquer tipo de comentário paralelo ou interrupção, sim? Na verdade, podemos dizer que este é o capítulo-chave de toda a nossa reunião. Então, por favor..." [Diálogo da delegada em reunião com as mães das vítimas.]

Há alguns detalhes duvidosos na trama, como os jovens passarem a noite inteira trancados num porão, bebendo e se drogando - mas sem acesso a um banheiro, e isso não ser questionado em nenhum momento do livro; ou mais grave, o protagonista estar escrevendo tudo o que acontece em tempo real (um volume de texto que jamais poderia ter sido escrito em algumas horas, com o autor ainda interagindo na ação). Mas isso pode ser desculpado pelo leitor ávido em saber o que de fato aconteceu e como a história vai terminar. Inclusive algumas inverossimilhanças e inconsistências do texto são questionadas pelas próprias mães-personagens da história, que acabam tendo quase que uma função de auto-oficina literária no romance.

O universo carioca zona-sul do livro também me incomoda um pouco, apenas por ser um universo que me incomoda de antemão. E a personalidade tangível, mas essencialmente mal-caráter de TODOS os personagens do livro prejudica um pouco seu carisma. De todo modo, o romance cumpre muito bem sua proposta, não é à toa que foi um dos finalistas do Prêmio Benvirá de Literatura (e sai agora pela série de suspense da editora - braço da Saraiva).    

Recebo tanto livro de estreia aqui em casa, tanta gente bacana, bem-intencionada (ou quase), mas que escreve "livrinho", coisa boba, coisa chata. Raphael Montes sem dúvida fez um "livrão, em todos os sentidos.  Sabe criar personagem, tem ótimos diálogos e tem história para contar. Suicidas mostra o fôlego de um novo autor que já sabe muito bem o que está fazendo - e que embora utilize de algumas ferramentas essencialmente literárias para contar sua história, poderia facilmente gerar um grande, grande filme.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...