RETIRO LITERÁRIO
Passei semana passada no campo, Solar dos Nazarian (aka "Casa da Mãe", enquanto ela estava fora), escrevendo, comendo, escrever um pouco mais, bebendo. Ia dormir de madrugada, acordava razoavelmente cedo, escrevia, escrevia escrevia...
Minha meta era fazer vinte páginas nessa semana. Fiz vinte e cinco. Acho bastante coisa (até porque, infelizmente, não pude me dedicar exclusivamente ao livro. Ainda tinha traduções, outras leituras, contas a pagar...). Agora estou perto do fim do meu novo livro, mas não sei se quero quer acabe. O processo é sempre mais prazeroso do que o resultado. Acho que é assim que tem de ser.
Como escrevi há algumas semanas aqui, tem sido um novo método. Apesar de ser o... OITAVO livro (nossa, até eu já me perco), cada um é um novo trabalho, cada um pede um novo Santiago. Ou o velho reciclado.
Apesar de ser mais um romance bastante linear, com uma estrutura de novela (talvez próximo de Feriado de Mim Mesmo, porém dez vezes mais insano), está sendo escrito todo fora de ordem. Agora, quase no fim, estou criando um novo primeiro capítulo. O livro inteiro foi escrito indo e voltando fora de ordem, recheando capítulos do começo, enquanto começava com capítulos do fim. Vou precisar fazer uma boa revisão de continuidade, e de ritmo, mas achei uma ótima forma de se trabalhar. Dá ao livro uma maior unidade. Os capítulos conversam mais uns com os outros se você volta ao começo quando está escrevendo o fim.
Entrego em algumas semanas para a editora, para sair no começo de 2014. Fico feliz que tenha saído algo tão insano, pesado, ainda que carregado do humor mais retinto que pode haver. Receio o espaço (e a repercussão) que algo dessa natureza possa ter. Mas eu nunca quis fazer literatura coxinha-chapa-branca. E acho que esse poderia gerar um belo, belo thriller de cinema... se o Brasil soubesse fazer.
O mais importante - mesmo - é o alívio de sentir que fiz o melhor que pude fazer, estar satisfeito com isso, independentemente do resultado, principalmente por ter passado por um longo período em que achei que não tinha mais nada a dizer, nenhum prazer em escrever, que acreditei mesmo que o melhor que tinha a oferecer já estava lá atrás.
O melhor que tenho a oferecer está quase terminando. Depois disso sim, é que poderei me suicidar em grande estilo.
Aproveitando, para finalizar, a casa onde estava escrevendo (e que inspirou muito o cenário do romance), está ameaçada, assim como toda a região ao redor, com a construção de um aeroporto que vai contra diversas leis ambientais. Minha mãe tem se mobilizado para conseguir assinaturas de uma petição.
Dê uma olhada:
Nas colinas de Mairinque, São Paulo, ainda há muita vida silvestre de rara importância, especialmente, se considerarmos sua proximidade com a metrópole paulista.
Ali, entre chácaras e sítios, em um equilíbrio difícil de se ver, habitam ou utilizam daquele ambiente como corredor, a Onça-parda, o Lobo-guará, o Tamanduá-bandeira, o Veado-catingueiro, Pacas, Iraras, Quatis, Jaguatiricas, Gatos-do-mato-pequeno e a rara – e ameaçada de extinção - Cuíca-de-três-listras, entre outros mamíferos. Há Saíras, como a rara Saíra-sapucaia ou a Tesourinha-da-mata, o Tucano, vários tipos de Gaviões, o Jacuaçu, entre as, aproximadamente 350 espécies de aves existentes no local.
A preservação da flora e a abundância de recursos hídricos superficiais permite a existência dessa exuberante fauna.
Pois é justamente neste local que a empresa JHSF pretende – e vem tocando os procedimentos legais “a toque de caixa” – instalar um mega empreendimento, cuja parte que mais preocupa do ponto de vista dos impactos ambientais é um aeroporto executivo com pistas maiores (2.400m) do que as do aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
O local escolhido, do ponto de vista ambiental, é péssimo! Basta perguntar:
Como reagirão as espécies animais silvestres existentes aos intensos ruídos das turbinas, nas operações de pousos e decolagens previstas para ocorrerem ininterruptamente 24h por dia?
Que tipo de contaminação os resíduos gasosos - quase 500T anuais de óxidos de nitrogênio e mais 17T de óxidos de enxofre, entre outros gases, provenientes da queima de combustível irá provocar na vegetação e nos recursos hídricos?
Levou-se em conta, para a escolha do local, as questões logísticas (proximidade com a capital e vizinhança com a rodovia Castello Branco) e o fato da propriedade pertencer aos empreendedores. Os aspectos ambientais? Obviamente ficaram em outro plano de menor relevância.
Pior! Tudo caminha de forma extremamente célere - a Copa do Mundo e as Olimpíadas “estão aí”! - e com pouca oportunidade de participação da população direta ou indiretamente impactada e com um aparente desinteresse da mídia no que diz respeito aos evidentes impactos socioambientais.
E assim, pretende-se que fauna e flora paguem pela histórica falta de investimento em infraestrutura, notadamente, na construção de aeroportos.
No dia, 21 de agosto de 2013, aconteceu uma reunião no Conselho Estadual do Meio Ambiente, convocada de forma extraordinária, desrespeitando, inclusive, normas internas, para analisar um parecer técnico da Cetesb falho e baseado em um Estudo de Impacto Ambiental também eivado de falhas.
Entretanto, comportando-se como um cartório do governo do Estado, o Conselho fez ouvidos moucos a todas as fundadas críticas e aprovou o parecer possibilitando o Licenciamento Prévio.
O jogo é menos técnico e mais político, por esse motivo, precisamos que a sociedade se mobilize para que se evite este crime socioambiental.
Ela pode possibilitar que não se chegue ao Licenciamento de Instalação – que é o próximo passo.
Assine a petição aqui: http://www.avaaz.org/en/petition/Nao_ao_aeroporto_de_Sao_Roque_SP/?copy