26/08/2013

RETIRO LITERÁRIO


Passei semana passada no campo, Solar dos Nazarian (aka "Casa da Mãe", enquanto ela estava fora), escrevendo, comendo, escrever um pouco mais, bebendo. Ia dormir de madrugada, acordava razoavelmente cedo, escrevia, escrevia escrevia...

Minha meta era fazer vinte páginas nessa semana. Fiz vinte e cinco. Acho bastante coisa (até porque, infelizmente, não pude me dedicar exclusivamente ao livro. Ainda tinha traduções, outras leituras, contas a pagar...). Agora estou perto do fim do meu novo livro, mas não sei se quero quer acabe. O processo é sempre mais prazeroso do que o resultado. Acho que é assim que tem de ser.

Como escrevi há algumas semanas aqui, tem sido um novo método. Apesar de ser o... OITAVO livro (nossa, até eu já me perco), cada um é um novo trabalho, cada um pede um novo Santiago. Ou o velho reciclado.

Apesar de ser mais um romance bastante linear, com uma estrutura de novela (talvez próximo de Feriado de Mim Mesmo, porém dez vezes mais insano), está sendo escrito todo fora de ordem. Agora, quase no fim, estou criando um novo primeiro capítulo. O livro inteiro foi escrito indo e voltando fora de ordem, recheando capítulos do começo, enquanto começava com capítulos do fim. Vou precisar fazer uma boa revisão de continuidade, e de ritmo, mas achei uma ótima forma de se trabalhar. Dá ao livro uma maior unidade. Os capítulos conversam mais uns com os outros se você volta ao começo quando está escrevendo o fim.

Entrego em algumas semanas para a editora, para sair no começo de 2014. Fico feliz que tenha saído algo tão insano, pesado, ainda que carregado do humor mais retinto que pode haver. Receio o espaço (e a repercussão) que algo dessa natureza possa ter. Mas eu nunca quis fazer literatura coxinha-chapa-branca. E acho que esse poderia gerar um belo, belo thriller de cinema... se o Brasil soubesse fazer.

O mais importante - mesmo - é o alívio de sentir que fiz o melhor que pude fazer, estar satisfeito com isso, independentemente do resultado, principalmente por ter passado por um longo período em que achei que não tinha mais nada a dizer, nenhum prazer em escrever, que acreditei mesmo que o melhor que tinha a oferecer já estava lá atrás.

O melhor que tenho a oferecer está quase terminando. Depois disso sim, é que poderei me suicidar em grande estilo.


Aproveitando, para finalizar, a casa onde estava escrevendo (e que inspirou muito o cenário do romance), está ameaçada, assim como toda a região ao redor, com a construção de um aeroporto que vai contra diversas leis ambientais. Minha mãe tem se mobilizado para conseguir assinaturas de uma petição.

Dê uma olhada:

Nas colinas de Mairinque, São Paulo, ainda há muita vida silvestre de rara importância, especialmente, se considerarmos sua proximidade com a metrópole paulista.
Ali, entre chácaras e sítios, em um equilíbrio difícil de se ver, habitam ou utilizam daquele ambiente como corredor, a Onça-parda, o Lobo-guará, o Tamanduá-bandeira, o Veado-catingueiro, Pacas, Iraras, Quatis, Jaguatiricas, Gatos-do-mato-pequeno e a rara – e ameaçada de extinção - Cuíca-de-três-listras, entre outros mamíferos. Há Saíras, como a rara Saíra-sapucaia ou a Tesourinha-da-mata, o Tucano, vários tipos de Gaviões, o Jacuaçu, entre as, aproximadamente 350 espécies de aves existentes no local.
A preservação da flora e a abundância de recursos hídricos superficiais permite a existência dessa exuberante fauna.
Pois é justamente neste local que a empresa JHSF pretende – e vem tocando os procedimentos legais “a toque de caixa” – instalar um mega empreendimento, cuja parte que mais preocupa do ponto de vista dos impactos ambientais é um aeroporto executivo com pistas maiores (2.400m) do que as do aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
O local escolhido, do ponto de vista ambiental, é péssimo! Basta perguntar:
Como reagirão as espécies animais silvestres existentes aos intensos ruídos das turbinas, nas operações de pousos e decolagens previstas para ocorrerem ininterruptamente 24h por dia?
Que tipo de contaminação os resíduos gasosos - quase 500T anuais de óxidos de nitrogênio e mais 17T de óxidos de enxofre, entre outros gases, provenientes da queima de combustível irá provocar na vegetação e nos recursos hídricos?
Levou-se em conta, para a escolha do local, as questões logísticas (proximidade com a capital e vizinhança com a rodovia Castello Branco) e o fato da propriedade pertencer aos empreendedores. Os aspectos ambientais? Obviamente ficaram em outro plano de menor relevância. 
Pior! Tudo caminha de forma extremamente célere - a Copa do Mundo e as Olimpíadas “estão aí”! - e com pouca oportunidade de participação da população direta ou indiretamente impactada e com um aparente desinteresse da mídia no que diz respeito aos evidentes impactos socioambientais.
E assim, pretende-se que fauna e flora paguem pela histórica falta de investimento em infraestrutura, notadamente, na construção de aeroportos.
No dia, 21 de agosto de 2013, aconteceu uma reunião no Conselho Estadual do Meio Ambiente, convocada de forma extraordinária, desrespeitando, inclusive, normas internas, para analisar um parecer técnico da Cetesb falho e baseado em um Estudo de Impacto Ambiental também eivado de falhas.
Entretanto, comportando-se como um cartório do governo do Estado, o Conselho fez ouvidos moucos a todas as fundadas críticas e aprovou o parecer possibilitando o Licenciamento Prévio.
O jogo é menos técnico e mais político, por esse motivo, precisamos que a sociedade se mobilize para que se evite este crime socioambiental.
Ela pode possibilitar que não se chegue ao Licenciamento de Instalação – que é o próximo passo.


Assine a petição aqui: http://www.avaaz.org/en/petition/Nao_ao_aeroporto_de_Sao_Roque_SP/?copy


18/08/2013

VELHOS ESQUELETOS

Crítica assinada por mim, na Folha de ontem:

O norte-americano William Kenney - que esteve na Flip em 2010 - é conhecido principalmente por seu “Ciclo de Albany”, conjunto de romances do qual a obra mais famosa é “Ironweed”, que lhe rendeu o Prêmio Pulitzer e foi adaptado ao cinema por Hector Babenco. No quinto volume desse ciclo, “Velhos Esqueletos”, acompanhamos Orson Purcell, um escritor de meia idade que depois de uma crise psicótica volta de seu serviço no exército, na Alemanha, para morar com o pai em Albany, na década de 1950. Seu pai, Peter (irmão do protagonista de “Ironweed” Francis Phelan, interpretado no cinema por Jack Nicholson) é um pintor em ascensão que não o reconhece como filho e vive para sua obra.

Mergulhando nos quadros do pai, Orson desdobrará uma série de crônicas familiares de quatro gerações, enquanto busca seu próprio papel na história. A linda passagem em que Peter resolve trocar às pressas a iluminação a gás por luz elétrica na casa da família, para iluminar o velório da mãe. O surto de seu tio-avô, Malachi, que acredita que a esposa está possuída pelo demônio. O tio infatiloide que anda pelas ruas imitando Charlie Chaplin. São todas imagens afetivas dos Estados Unidos pós-guerra, 
descritas com virilidade por Kennedy. “Estou sugerindo que toda sua obra, e portanto toda a sua vida, é uma paródia do subconsciente que você tanto reverencia. Estou sugerindo que você não consegue levar a sério nem mesmo a parte mais profunda de si, que você tem problemas para admitir sua condição de ser humano, bem como a condição do seu filho, que você trata como uma das suas obras de arte, recusando qualquer responsabilidade por ele,” observa Orson. Tudo culminará com a leitura de um 
testamento, que sedimentará a estrutura familiar e assegurará o legado dos Phelan. 

A estrutura intrincada e fragmentada do romance torna por vezes difícil ao leitor não familiarizado com os personagens seguir o épico familiar, talvez por isso tenha se impresso uma árvore genealógica no início do livro. Independentemente disso, a obra pode ser apreciada por suas crônicas isoladas, que equilibram lirismo, violência e humor. 

(Avaliação: bom) 

15/08/2013

DA ELEGÂNCIA DA DECADÊNCIA

Peter Murphy - o gótico mor na terceira idade. 

Acabo de voltar do show do Peter Murphy no Carioca Club. Peter Murphy é o ex-vocalista do Bauhaus, cruza de David Bowie com o Dito Cujo, um dos nomes mais influentes do rock gótico mundial. Carioca Club eu não conhecia; é uma casa no Largo da Batata, que abriga de shows de pagode a metal melódico, bem cafona e com um som mais ou menos, mas um bom tamanho, boa organização e bom preço nas bebidas.

Tio Pita no palco. 

Já tinha visto o Peter Murphy em São Paulo em 2009 (Via Funchal), foi um show competente, mas morno, carente de hits e com uma casa grande demais para o público. Agora ele veio só tocar hits do Bauhaus, e o Carioca Club conseguiu lotar, principalmente de goticões da velha guarda.

Adorei. Ele tocou todos os hits do Bauhaus - "Bela Lugosi's Dead", "Kick in the Eye", "She's in Parties", "The Passion of Lovers", "Dark Entries" (minha favorita) - e ainda acrescentou uma ou outra da carreira solo, como "Subway", que eu amo e fechou a noite.

O show teve ainda participação especial do Wayne Hussey, do Mission (que aparentemente está morando em São Paulo); ele cantou nas covers do bis, em "Telegram Sam" e "Ziggy Stardust." Um espetáculo para gótico da velha guarda nenhum botar defeito.

E para além do gótico, como é bacana ver o show de uma banda de verdade, que improvisa, faz jams, altera o setlist. Peter improvisava pedindo para os músicos estenderem a música; tocou escaleta, violão, guitarra, percussão. É isso o que faz de cada apresentação ao vivo única - para mim, muito mais interessante do que ver cantoras pop que reproduzem coreografias e videoclipes em grandes palcos.

Ele está cantando sucessos do passado. Ok, mas são sucessos que ele compôs. Está cantando no "Carioca Club", mas ok, está viajando pelo mundo, vivendo disso. Não acho mesmo que a fortuna deva ser a meta. Eu prefiro pagar as contas com integridade e sossego do que fazer fortuna com sofrimento.

Ele está com a voz em cima e estava na dose perfeita do gótico posudo, mas interagindo com a plateia, conversando com os fãs, fazendo perguntas e estimulando o povo a cantar. Foi lindo ver todo mundo gritando "Dark Entries!" Mas em alguns momentos escutava-se melhor o público do que a voz do cantor, pela má equalização do som. 


Das músicas mais recentes dele. Para ver como o vocal dele está foda. 

São esses exemplos que ficam - que você pode ser uma lenda... e ainda estar cantando no largo da batata... e ainda fazer a diferença. É tudo relativo, a lenda, o largo, a diferença. 

Eu gostei bem. E sempre me inspiro, me estimulo, me espelho em pessoas assim. Envelhecer é sempre cruel. Envelhecer como artista pode ser fatal - e eu ainda acho que o escritor é um artista, embora ele seja mais visto como um acadêmico, professor, senhor, coxinha. De certa forma, isso faz com que a velhice atue a favor do escritor, mas eu prefiro ter a elegante decadência de senhores como Peter Murphy (e Brett Anderson, e David Bowie) do que a bonachice institucionalizada dos nossos autores jabutados. Não há bons modelos de escritores que envelheceram ainda representando sua obra no Brasil. Na verdade, não há bons modelos de artistas velhos em geral. O Brasil não é um bom país para se envelhecer. 

Assim como eu acho que você não pode cantar hinos góticos parecendo um vovozinho, não acho que você possa escrever (e falar) sobre a crueldade humana parecendo um tiozinho. O artista tem não só de vestir, mas ser seu personagem. É o que eu sempre acreditei. 

Em Peter Murphy, eu acredito.




Peter. Nos áureos. 


Setlist: 


King Volcano
Kingdom's Coming
Double Dare
In the Flat Field
God in an Alcove
Boys
Silent Hedges
Endless Summer of the Damned
Spy in the Cab
A Strange Kind of Love
Bela Lugosi's Dead
Kick in the Eye
The Passion of Lovers
Stigmata Martyr
Dark Entries

Hollow Hills
She's in Parties
Telegram Sam
Ziggy Stardust
Subway

09/08/2013
























Quanto mais escrevo, quanto mais leio, quanto mais vejo debates entre escritores, percebo que não existe uma forma-fórmula para escrever. Eu mesmo já escrevi livros em 20 dias, em 4 anos, com a história inteira já rascunhada, com a história surgindo conforme eu ia escrevendo. Acho que cada autor deve buscar seu método e por isso eu sempre sinto dificuldade ou me sinto meio fraude em fazer oficinas literárias. Ministrei só duas - uma na Venezuela, com duração de 5 dias, que foi meio um teste (e não foi um bom teste) - outra foi no Sesc Campinas, que foi bacana, mas foi só uma conversa de 4 horas numa tarde, discutindo como funcionava o mercado literário na prática.

Ando pensando em organizar uma oficina de tradução - porque apenas de eu ter um método próprio, já traduzi mais de 40 livros (a maioria péssimos) e poderia dividir técnicas, formas, maneiras como eu resolvi diversas passagens - diversas traduções possíveis, comparar traduções de outros autores, etc.

Como tradutor, o que eu mais gosto de fazer é tornar o texto o mais coloquial e natural possível, e acho que é isso o que faço melhor.

Voltando à escrita do romance. Tenho visualizado minha escrita atual como leves pinceladas pela história toda, depois vou voltando e adensando as tintas em passagens específicas, até ter o quadro todo preenchido. Essa imagem estava há dias na minha cabeça e resolvi tentar materializá-la num esqueminha ilustrado.

Postei no Facebook e o povo levou meio na brincadeira - em parte era. Mas acho uma ótima forma de visualizar três formas possíveis da escrita de um romance:

Método 1: Escrever linearmente, dando o melhor acabamento a cada frase/ parágrafo/ capítulo até seguir para o próximo. (Provavelmente esse era o método mais praticável antes que o uso dos editores de texto em computadores se tornou comum. Com a escrita à mão ou à máquina, é mais complicado voltar e alterar o texto já escrito.)

Método 2: Dar uma pincelada geral por toda a história, e ir aos poucos tornando-a mais densa.

Método 3: Dar uma pincelada geral por toda a história e ir se aprofundando em diferentes passagens/capítulos, fora de ordem. É o método que estou utilizando atualmente. É prático porque você deixa vários capítulos inacabados e se concentra mais nos que desejar, que estiverem mais vivos na sua mente ou que já tenha as melhores ideias. Porém tenho um pouco de receio do ritmo que o romance pode ter, já que você não está trabalhando linearmente, numa crescente. Também é preciso ficar atento com a continuidade. Dia desses eu me peguei fazendo o personagem pensar numa cena que ainda não havia acontecido (porque já tinha trabalhado bem nela mais pra frente).

Enfim, achei esses esqueminhas divertidos (é, fiz no giz de cera + foto + paint. Estou longe de ter as manhas básicas de direção de arte e design). Refiz hoje o 2 e o 3 (que tinham sido feitos anteriormente com linhas verticais, o que não é exatamente a imagem).

Gostou da oficina express? Deposita R$200 na minha conta que tá tudo certo.


08/08/2013

O GIGANTE INSONE

A mídia impressa está em crise há tempos, revistas são fechadas, não se paga mais por informação e a informação não é mais centralizada. Tenho observado tudo isso com muita curiosidade - obviamente um certo receio, e menos capacidade de tirar conclusões. O que pode ser positivo.

"Pobre dessa geração de hoje," comentou um amigo meu há algumas semanas, "que se informa por posts de Facebook e vídeos do Youtube."

Tive de discordar. Talvez fosse mais pobre a geração que recebia a informação "profissional" centralizada num grande irmão. Claro, eu tenho mais de 3 mil "amigos" no FB - e muitos são escritores, jornalistas, ou gente que me adicionou por gostar de ler e de escrever. Isso talvez já gere uma "qualidade de mural" acima da média, em termos de informação. Abrindo o Facebook todas as manhãs, tenho uma enxurrada de visões alternativas e links para as notícias do dia - algumas aprofundando pontos de vista, outras abrindo para o debate, muitas resvalando na teoria da conspiração.

O caso mais recente talvez tenha sido o da família de PMs morta esta semana em São Paulo, supostamente pelo filho de 13 anos. Em outros tempos, levantaria-se uma leve desconfiança que se sufocaria pela grande mídia e ação da polícia. Hoje, é possível ler posts e mais posts contra-argumentando como é praticamente impossível que o crime tenha acontecido da forma descrita oficialmente.

Posts de ateus contestando a verdadeira laicidade do estado também aparecem diariamente. E a cobertura individual de cada participante das manifestações atuais de rua (minha inclusive), com textos e vídeos multiplicam exponencialmente os pontos de vista e impedem a conivência com a ação violenta da polícia.

Discutiu-se muito tudo isso esta semana, com a entrevista do grupo Mídia Ninja no Programa Roda Viva. Ao meu ver, uma das colocações mais interessantes dos entrevistados - Pablo Capilé e Bruno Torturra - foi da hipocrisia das grandes (ou velhas?) mídias em se assumirem imparciais. Há anos escuto esse questionamento, de que todo jornalismo é parcial e que deveria ser assumido assim - e agora isso ganha força nesse neo-jornalismo feito de múltiplas visões simultâneas.

É um fenômeno tão curioso, que ao mesmo tempo que via os nobres combatentes Ninjas - defendidos por vários amigos meus - enfrentando os dinossauros, lia queixas de outros amigos sobre a falta de transparência na captação de recursos, desvio de verbas e falta de pagamentos do coletivo Fora do Eixo (do qual o Mídia Ninja faz parte e Capillé é um dos fundadores). Ninguém escapa ileso da vigilância atual?

Verdade que essa "vigilância" e essa contestação muitas vezes se torna uma patrulha pentelha - como um bando de marmanjos que se pôs a malhar a menina de 20 anos que tentou dar uma carteirada numa boate e postou no FB - ou então uma paranoia conspiratória: Dia desses um amigo questionava o vídeo de segurança que mostrava o salvamento da menina que foi atacada por um tubarão no Recife: "Repare no vídeo. Por que o salva-vidas pega primeiro uma outra pessoa e só depois vai atrás da menina atacada? Isso está estranho..."

Eu, como bom relativista, acho que, mais do que nos aproximar da verdade, essa nova era veio para deixar claro que a verdade não existe. E talvez fôssemos mais felizes quando aceitávamos uma verdade oficial. Mas eu também nunca fiz apologia à felicidade...

 A presença massiva do brasileiro nas redes sociais o está tornando um povo mais questionador, contestador e inconformista. Resta saber se há motivos para comemorar.

02/08/2013

A NOVA EDIÇÃO

Capa do Alexandre Matos. 


Cuidado. Este livro quer te comer. O suculento naco que você tem agora em mãos (ou já sobre o prato?), traz os dentes afiados e a mais tenra fome temperada com fartas doses de apetite e gula. Mordisque algumas páginas, galerias e câmaras, e seu estômago é que gritará para devorá-lo! Porque são tantas as fomes salivando entre si, famélicas umas das outras que, seja abocanhando, seja engolido, ao fim estaremos saciados. O que difere então uma isca do prato principal? Banquete e junkie food? Humano, animal, mente, corpo, civilização, barbárie, sol, luz fluorescente, desejo, moral...? “Preencher as frestas em silêncio” ou parafraseando o jacaré narrador desta história, a vida é apenas o intervalo entre o que nos alimenta de verdade – e só a variedade alimenta. Por isso você lamberá os dedos para mudar essas páginas. Por isso regurgitar a digestão e vice-versa. Como bem disse Sebastian Salto: “minha fome é maior do que eu mesmo”. O mundo é definitivamente um grande estômago – e é preciso tê-lo para sobreviver engolindo sapos ou comendo moscas. Existe luz no fim do esgoto, ou melhor, dentro dele, melhor ainda: existe humor gourmet in natura. Enfim, você está lendo uma ORELHA, percebe? Feche com muito cuidado este livro (e sua boca) se não quiser tornar-se um suculento naco entre as patas do próximo leitor...

Michel Melamed

E está no prelo a nova edição de Mastigando Humanos, agora pela Editora Record, com texto revisto e levemente alterado por mim. Sai até setembro. 

Adoro a capa da edição anterior, mas uma nova edição pedia uma nova capa. Convidei o Alê Matos, grande amigo com quem já fiz vários trabalhos, e ele me mandou algumas propostas. Essa eu gostei de cara, mas fique olhando, olhando e tive de escrever pra ele: "Alê, sem querer ser chato, mas acho que isso não é um jacaré, é um crocodilo." E eu estava certo. Alteramos o bicho, pedi outros pequenos ajustes e - voilá - chegamos nessa capa. 

Para a orelha, queria alguém que tivesse o tom pop e insano do livro. E ninguém seria mais perfeito do que o Michel Melamed. 

Como eu já disse, não seria capaz de alterar substancialmente o texto  - só corrigi uns vícios de linguagem e reforcei algumas brincadeiras. Um exemplo: 

Com esse calor, a janela aberta, um corvo vem voando e
pousa sobre meu mancebo — estou falando daquela haste com braços, não daquele garoto cara-de-pau com braços tatuados.

Virou: 

Com esse calor, a janela aberta, um corvo vem voando e
pousa sobre meu mancebo — estou falando daquela haste de madeira com braços, não daquele traste cara-de-pau com braços tatuados.

Coisinhas assim, apenas, por todo o texto. 

O livro está há algum tempo esgotado - porém ainda é das leituras obrigatórias do vestibular da Universidade Estadual da Paraíba, deste ano. Tenho recebi emails desesperados de alunos que não encontram o livro - outros que recorreram às bibliotecas, PDFs e estoques antigos de livrarias. Para quem ainda não achou, aguenta mais um pouquinho que esta edição está bem melhor ;)

E continuo trabalhando no novo romance, que deve sair no primeiro semestre de 2014. Sim, ainda tenho apetite para mais. 




NESTE SÁBADO!