O GIGANTE INSONE
A mídia impressa está em crise há tempos, revistas são fechadas, não se paga mais por informação e a informação não é mais centralizada. Tenho observado tudo isso com muita curiosidade - obviamente um certo receio, e menos capacidade de tirar conclusões. O que pode ser positivo.
"Pobre dessa geração de hoje," comentou um amigo meu há algumas semanas, "que se informa por posts de Facebook e vídeos do Youtube."
Tive de discordar. Talvez fosse mais pobre a geração que recebia a informação "profissional" centralizada num grande irmão. Claro, eu tenho mais de 3 mil "amigos" no FB - e muitos são escritores, jornalistas, ou gente que me adicionou por gostar de ler e de escrever. Isso talvez já gere uma "qualidade de mural" acima da média, em termos de informação. Abrindo o Facebook todas as manhãs, tenho uma enxurrada de visões alternativas e links para as notícias do dia - algumas aprofundando pontos de vista, outras abrindo para o debate, muitas resvalando na teoria da conspiração.
O caso mais recente talvez tenha sido o da família de PMs morta esta semana em São Paulo, supostamente pelo filho de 13 anos. Em outros tempos, levantaria-se uma leve desconfiança que se sufocaria pela grande mídia e ação da polícia. Hoje, é possível ler posts e mais posts contra-argumentando como é praticamente impossível que o crime tenha acontecido da forma descrita oficialmente.
Posts de ateus contestando a verdadeira laicidade do estado também aparecem diariamente. E a cobertura individual de cada participante das manifestações atuais de rua (minha inclusive), com textos e vídeos multiplicam exponencialmente os pontos de vista e impedem a conivência com a ação violenta da polícia.
Discutiu-se muito tudo isso esta semana, com a entrevista do grupo Mídia Ninja no Programa Roda Viva. Ao meu ver, uma das colocações mais interessantes dos entrevistados - Pablo Capilé e Bruno Torturra - foi da hipocrisia das grandes (ou velhas?) mídias em se assumirem imparciais. Há anos escuto esse questionamento, de que todo jornalismo é parcial e que deveria ser assumido assim - e agora isso ganha força nesse neo-jornalismo feito de múltiplas visões simultâneas.
É um fenômeno tão curioso, que ao mesmo tempo que via os nobres combatentes Ninjas - defendidos por vários amigos meus - enfrentando os dinossauros, lia queixas de outros amigos sobre a falta de transparência na captação de recursos, desvio de verbas e falta de pagamentos do coletivo Fora do Eixo (do qual o Mídia Ninja faz parte e Capillé é um dos fundadores). Ninguém escapa ileso da vigilância atual?
Verdade que essa "vigilância" e essa contestação muitas vezes se torna uma patrulha pentelha - como um bando de marmanjos que se pôs a malhar a menina de 20 anos que tentou dar uma carteirada numa boate e postou no FB - ou então uma paranoia conspiratória: Dia desses um amigo questionava o vídeo de segurança que mostrava o salvamento da menina que foi atacada por um tubarão no Recife: "Repare no vídeo. Por que o salva-vidas pega primeiro uma outra pessoa e só depois vai atrás da menina atacada? Isso está estranho..."
Eu, como bom relativista, acho que, mais do que nos aproximar da verdade, essa nova era veio para deixar claro que a verdade não existe. E talvez fôssemos mais felizes quando aceitávamos uma verdade oficial. Mas eu também nunca fiz apologia à felicidade...
A presença massiva do brasileiro nas redes sociais o está tornando um povo mais questionador, contestador e inconformista. Resta saber se há motivos para comemorar.
A mídia impressa está em crise há tempos, revistas são fechadas, não se paga mais por informação e a informação não é mais centralizada. Tenho observado tudo isso com muita curiosidade - obviamente um certo receio, e menos capacidade de tirar conclusões. O que pode ser positivo.
"Pobre dessa geração de hoje," comentou um amigo meu há algumas semanas, "que se informa por posts de Facebook e vídeos do Youtube."
Tive de discordar. Talvez fosse mais pobre a geração que recebia a informação "profissional" centralizada num grande irmão. Claro, eu tenho mais de 3 mil "amigos" no FB - e muitos são escritores, jornalistas, ou gente que me adicionou por gostar de ler e de escrever. Isso talvez já gere uma "qualidade de mural" acima da média, em termos de informação. Abrindo o Facebook todas as manhãs, tenho uma enxurrada de visões alternativas e links para as notícias do dia - algumas aprofundando pontos de vista, outras abrindo para o debate, muitas resvalando na teoria da conspiração.
O caso mais recente talvez tenha sido o da família de PMs morta esta semana em São Paulo, supostamente pelo filho de 13 anos. Em outros tempos, levantaria-se uma leve desconfiança que se sufocaria pela grande mídia e ação da polícia. Hoje, é possível ler posts e mais posts contra-argumentando como é praticamente impossível que o crime tenha acontecido da forma descrita oficialmente.
Posts de ateus contestando a verdadeira laicidade do estado também aparecem diariamente. E a cobertura individual de cada participante das manifestações atuais de rua (minha inclusive), com textos e vídeos multiplicam exponencialmente os pontos de vista e impedem a conivência com a ação violenta da polícia.
Discutiu-se muito tudo isso esta semana, com a entrevista do grupo Mídia Ninja no Programa Roda Viva. Ao meu ver, uma das colocações mais interessantes dos entrevistados - Pablo Capilé e Bruno Torturra - foi da hipocrisia das grandes (ou velhas?) mídias em se assumirem imparciais. Há anos escuto esse questionamento, de que todo jornalismo é parcial e que deveria ser assumido assim - e agora isso ganha força nesse neo-jornalismo feito de múltiplas visões simultâneas.
É um fenômeno tão curioso, que ao mesmo tempo que via os nobres combatentes Ninjas - defendidos por vários amigos meus - enfrentando os dinossauros, lia queixas de outros amigos sobre a falta de transparência na captação de recursos, desvio de verbas e falta de pagamentos do coletivo Fora do Eixo (do qual o Mídia Ninja faz parte e Capillé é um dos fundadores). Ninguém escapa ileso da vigilância atual?
Verdade que essa "vigilância" e essa contestação muitas vezes se torna uma patrulha pentelha - como um bando de marmanjos que se pôs a malhar a menina de 20 anos que tentou dar uma carteirada numa boate e postou no FB - ou então uma paranoia conspiratória: Dia desses um amigo questionava o vídeo de segurança que mostrava o salvamento da menina que foi atacada por um tubarão no Recife: "Repare no vídeo. Por que o salva-vidas pega primeiro uma outra pessoa e só depois vai atrás da menina atacada? Isso está estranho..."
Eu, como bom relativista, acho que, mais do que nos aproximar da verdade, essa nova era veio para deixar claro que a verdade não existe. E talvez fôssemos mais felizes quando aceitávamos uma verdade oficial. Mas eu também nunca fiz apologia à felicidade...
A presença massiva do brasileiro nas redes sociais o está tornando um povo mais questionador, contestador e inconformista. Resta saber se há motivos para comemorar.