Ontem acordei com a notícia de que a filha de oito
anos de conhecidos havia morrido de gripe. O pai dela postou no Facebook,
ao que se seguiu centenas de comentários solidários, de pêsames, emoticons de
tristeza, alguns polegares positivos...
Não conhecia a menina, mal conheço os pais, achei
melhor não mandar recado algum. Dificilmente terei filhos, nunca tive uma perda
pesada dessas, não sei o que dizer, nem sei o que sentir. Ainda assim, não tinha como não me colocar no lugar do pai, do
outro lado da tela. Ele abria a timeline para postar sobre a morte da filha e
via a foto do café da manhã de um amigo, outro postando um meme sobre o pato da
FIESP, escritores aproveitando uma viagem a Paris. Sua filha morre e o mundo
continua sorrindo.
Passei o dia com uma sensação incômoda. Apenas uma sensação incômoda. Não
consegui postar sobre uma estreia teatral, o lançamento do livro de um amigo, cada
postagem que surgia na minha timeline parecia um desrespeito com o sofrimento
daquela família.
Pessoas morrem todos os dias. E o mundo continua rindo.
Tenho cinco mil amigos no Facebook. Sabe-se lá
quais estão perdendo diariamente entes queridos, quais morrem eles mesmos,
enquanto escrevo este post, enquanto compartilho uma crítica ao meu livro.
Outra
conhecida compartilhou a notícia da morte. Com uma legenda que até agora não
entendi o sentido:
“Quantos mais irão morrer?” ela perguntava. Não entendi.
Sem
querer ser sarcástico, tive de responder com obviedade:
“Todos.”