27/11/2020

OS MELHORES LIVROS DE 2020

 

(Se eu não ponho, ninguém põe..)


Tá, não é bem uma lista de melhores livros. 


Eu nunca faço essa lista, primeiro porque não acho muito justo - a gente não consegue ler milhares de coisas que são lançadas -, depois por causa do teto de vidro. Se você esquece de um amigo, de um colega, ou mesmo se não gostou / não leu, cria uma mágoa para a vida toda. Eu mesmo magoo... não pra vida toda... só até o próximo livro. 

Bem ou mal, as listas mais confiáveis de melhores do ano acabam sendo mesmo as listas de finalistas dos prêmios, no ano seguinte. Ao menos teve gente que foi PAGA e teve tempo de ler em peso. Muita gente só vai ler os livros quando aparecem nessas listas.  Mas nessas eu mesmo nunca entro, nunca sou bom o suficiente, ou ao menos nunca escrevo conteúdo "premiável". É seguir tentando fazer trabalho de formiguinha, levando o livro a quem posso, nesse trabalho de "escritor independente de editora grande", porque estou longe de ser o mais prestigiado-promovido da Companhia. Eles têm escolhas melhores...

Mas nas últimas semanas consegui tirar um atraso e li ótimos lançamentos de autores nacionais. Vamos lá.


SOLUÇÃO DE DOIS ESTADOS - MICHEL LAUB (Companhia das Letras)


Esse é do primeiro escalão da Companhia, e faz demais por merecer. Através dos depoimentos de dois irmãos "asquerosos" em conflito, dois extremos do Brasil atual (extrema-esquerda e extrema-direita), acompanhamos as últimas décadas de desenvolvimento (ou decadência) econômico-social do país.  Dos melhores dele. 


CÃO MAIOR - ALESSANDRO THOMÉ (Telucazu)

Um romance de formação focado em dois personagens - um garoto que teve de abandonar a vida no interior para se perder na cidade grande e uma prostituta mirim explorada pelo pai. O amor pelo rio, pelos peixes é o que une os dois e gera uma história de amor nada convencional ou suave. O universo que Thomé cria é originalíssimo e fascinante, e o lirismo da escrita (que às vezes resvala deliciosamente no kitsch) é poderoso. Dos melhores que li em muito tempo... apesar da capa medonha. 

A capa não dá, Thomé...


SEGURE MINHA MÃO - GUILLE THOMAZZI (Patuá)

Bela capa. 


Guillle é um catarinense que sabe criar histórias e universos como ninguém. Aqui ele foca um herói atípico, Olek, gago e epilético, em busca da esposa perdida num leste-europeu em guerra, no começo do século XX. Tem cenas lindíssimas, como a loba que é mantida para amamentar um bebê, e um flerte com fábulas e romances históricos.


BELHELL - EDYR AUGUSTO (Boitempo)

Uma passagem terna num livro violento. 

Acho que todos os livros de que mais gosto (este ano e sempre) têm o mérito principal de criar um universo próprio, e com Edyr Augusto não é diferente. Aqui ele retrata uma Belém dos Infernos (como aponta o título), de ladrões, prostitutas, anãs, mafiosos. A escrita telegráfica, veloz, dá um ritmo único e cinematográfico (e por vezes lembra o universo bruto de Ana Paula Maia). 


O SENTIDO E O FIM - MIKE SULLIVAN - (Reformatório)

Começa assim...

Um livro de contos sobre ódio, vingança, superação e morte, com um lirismo gay que vai fazer escola. Sullivan nunca decepciona, e precisa ser mais descoberto. 


O FANTASMA DA MÃE - GUSTAVO BERNARDO (Globo)

Narrado por uma psicanalista, descreve a vida de um solteirão que é assombrado pela mãe (primeiro com ela ainda em vida, depois ela se tornando de fato o fantasma). Essa escolha não poderia ser mais protocolar, e o livro tem mesmo um universo e uma estrutura bem mais convencionais do que os outros que citei. Mas se você quer ler um livro sobre "o fantasma da mãe" (e eu queria, comprei pelo título - porque não conheço o autor, e a capa também é medonha), esse é um livro sobre o "fantasma da mãe." Alguém precisava transformar esse complexo em narrativa, e Gustavo Bernardo não faz feio. 


Também já tinha colocado aqui no blog outras ótimas leituras que fiz este ano. Só os Diamantes São Eternos, do Taylor Diniz (Folhas de Relva), que narra um acerto de contas que vai da ditadura aos tempos atuais; "Nunca Mais Voltei" do Alexandre Willer (também da Folhas de Relva), com contos LGBTQ delicadíssimos e afetivos;  e "Aranhas", do Carlos Henrique Schroeder (Record), livro de contos envolventes como uma teia. 

Do Alexandre Willer. 


Com tudo isso, como posso esperar estar entre os melhores? 

17/11/2020

A NATUREZA ME MASTURBA

Galheta. 

 Sempre falo isso, quem não me conhece acha que sou o mais urbano dos animais - e na verdade sou; não fui criança de apartamento, porque sempre morei em casa, mas fui criança total paulistana trancada na frente da tv-videogame, brincando com bonequinhos (ou "action figures", as bonecas dos meninos), nunca tive isso de brincar na rua, nunca quis, na real, fui uma criança terrivelmente asfaltada...

Lagoa da Conceição. 

Talvez seja por isso que hoje tenho essa fascinação pela natureza, a vida em cidade pequena, o contato com o mato. A cidade já vive em mim. Para mim, de férias, praia, trilha, bicicleta, pé descalço é sempre muito mais interessante do que metrópole-museu-compras-cultura.

Um bicho mimoso que vi nesse domingo. 

E por isso que Florianópolis é meu lugar favorito no mundo.

Chegando à Barra da Lagoa. 

Dia desses via um amigo postando fotos nas Ilhas Maldivas, aquele "paraíso" de águas cristalinas, mar azulejado, um cenário absurdamente imaculado.  Achei lindo. Mas ao voltar a Florianópolis percebi bem a diferença, como me sinto muito mais em casa num cenário bruto... Acho que preciso colocar fotos para explicar: 

Isso é Maldivas (numa foto que achei no Google)


Isso é a Barra da Lagoa, onde já morei, numa foto que tirei agora. 



Olhando as duas, para mim não há dúvida em que lugar eu preferia morar-morrer, e eu tentei (viver, digo). Infelizmente não tinha como eu ser produtivo em Florianópolis, mas ainda sinto como minha segunda casa. E acho que muito disso de "lugar favorito no mundo" passa por aí, um lugar não só que você gosta muito, mas que se sente em casa, e para isso é preciso ser um lugar que dê para voltar sempre (que fale a mesma língua...), que te aceite...

No Canal da Barra. 



Eu morei na Barra da Lagoa há dez anos, durante um ano, mas já frequentava havia muito anos, e continuei muito depois. E se agora fiquei um bom tempo sem voltar por causa da pandemia-crise-casamento-separação, sempre é lindo voltar e ver que pouco mudou... pelo menos o que há de bom. 

Ida e sua filha Trishya. 


Ainda arrumei tempo para ficar de babá do Igor (neto da Ida), na piscina.

Formei uma família lá na Pousada Marujo, da Ida Andersen, mulher negra-dinamarquesa (isso existe), que renderia uma baita biografia, e sempre me recebe como (mais) um filho (desgarrado). Na verdade me recebe bem até demais - e sempre tenho de dar um jeito de fugir no almoço e jantar, para conseguir também comer da culinária local. O turismo gastronômico faz parte. Desta vez comi muito bem, bebi muito bem (fim de semana poooode); sou taurino, todos os prazeres são orais...

Ida me recebeu com um jantar manézinho-oriental de primeira. 

Moqueca de Lagosta. 

Comidinha de praia (lula). 


E a sequência de camarão foi de primeira.

Para queimar, muita trilha, longas pedaladas pelo Parque Florestal do Rio Vermelho, caminhadas pela praia, Barra, Mole, Galheta... que é uma praia de naturismo opcional. Não tenho mais pudor em nadar pelado, o problema é que não dá para deixar minha bunda pálida exposta ao sol, ou nunca mais consigo sentar...

Galheta

Mesmo com muito protetor deu para queimar. 

Não estou na mesma forma de quando morava na Ilha, é claro, mas estou bem melhor do que um ano atrás. Então foi ótimo ver que ainda aguento o tranco de atividade intensa sem problemas. Ainda tenho uns quilinhos para perder do final de quarentena, mas sem neuras. Tá dando bem para ser feliz...

E pensar que subia essa lomba todo dia quando morava aqui...

Foram só 4 dias, mas o suficiente para um belo respiro dessa vida enclausurada, deu até para viver um amor de (pré)verão. Espero poder voltar logo. Espero que voltemos todos a viver. Ainda não sei o que será da minha virada (de ano), ainda não sei se sobreviverei a 2020, mas já dá para morrer feliz..


Delicinha. 



ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...