27/02/2021

GANHE 5 MIL SEM SAIR DE CASA!

Devidamente trajado para conversar de casa com meu editor...


Fiquei pensando que vocês estão todos há quase um ano trabalhando de casa...

E eu que trabalho há quase vinte ainda não compartilhei com vocês dicas essenciais, conselhos preciosos, táticas infalíveis para sobreviver trabalhando direto do sofá...

Então estou lançando meu curso de “frila por quilo” nas principais plataformas digitais...


Mentira.


 Eu não sei ganhar dinheiro, senão lançaria...


 Eu trabalho em casa, sim, desde 2002, com alguns breves períodos em que fiz uns frilas in-loco. Antes disso, trabalhei em agência de publicidade por quatro anos, em livraria por alguns meses. Mas quase toda minha vida profissional foi mesmo moldada em casa.

 Eu costumava dizer que é preciso ter temperamento para isso, eu tenho, gosto de trabalhar sozinho; mas hoje em dia isso não faz muita diferença, não é? Já ouvi tanta gente dizendo que nunca conseguiria trabalhar de casa, porque ficaria enrolando o dia todo. Bem, imagino que muitas dessas pessoas tiveram de aprender.

 Eu sentia bem o contrário – quando trabalhava em agência de publicidade (ou quando trabalhei no marketing da Abril) sentia que ter de cumprir horário era um grande desperdício de tempo. Eu passava HORAS sem fazer nada, na internet, como um plantão infinito, e às vezes quando estava prestes a ir embora no final do dia, chegava um “job” urgente que me deixava até tarde da noite.

Trabalhar em casa propicia esse luxo de fazer seus horários, desde que você cumpra prazos (e eu NUNCA, JAMAIS, furo um prazo, tenho orgulho de dizer sempre isso), mas também apresenta questões bem problemáticas:

Se você tem um fluxo-fila constante de trabalho, é tentador trabalhar demais, porque diferentemente de um trabalho fixo, quanto mais você trabalha, mais você recebe. Daí tem o perigo não apenas de minar sua vida pessoal, mas de comprometer a qualidade do seu serviço. Como tradutor, recebo tantos prazos indecorosos de tradução: “300 páginas num mês” – e se eu traduzir 300 páginas num mês obviamente vou receber mais nesse mês do que se traduzir 200, 150, mas qual será a qualidade do trabalho? E se estabeleci que faço 200 páginas por mês, mas minha filha de oito anos precisa de aparelho nos dentes?

(Se quer saber, 300 laudas por mês de tradução literária dá por volta de 10 mil reais – é o dobro de 5 mil reais sem sair de casa, mas também sem ter muita vida. E é impossível que você traduza isso com qualidade ou mantenha esse ritmo todos os meses do ano.)

(Felizmente não tenho uma filha. Ainda mais precisando de aparelho.)

O problema mais normal é que você, como frila (e ainda mais como frila em literatura como eu) não consegue um fluxo tão constante de trabalho assim. Há momentos em que TODOS se lembram de você (para mim, parece sempre que é entre julho e novembro)  e momentos em que nada aparece. Então o que você ganha num mês tem de ser diluído em vários. Tem muitas editoras bacanas que te passam livros sempre, mas de repente elas fazem um intervalo de um, dois meses, até te mandar o próximo, coisa normal, então são DOIS MESES que você não recebeu nada, se não conseguiu manobrar com outras editoras ou outros frilas. (Nem sempre é fácil manobrar. Muita editora quer o trabalho para ontem – então se você já está com algo, perde o job; e tem editora que se você recusa uma vez te coloca na geladeira por meeeeeses.)

Daí tem os pagamentos....

Porque por mais que a gente trabalhe mês inteiro naquele job-livro-tradução, parece que o pagamento é um favor. A data é flutuável (eu, por exemplo, estava esperando um pagamento grande que atrasou mais de uma semana,  e ouvi que atrasou “por causa do feriado bancário do carnaval” – “Oi, vou atrasar meu aluguel este mês, sem multa, por causa do carnaval, tá?”)

Eu sempre tenho essa sensação, de que o pessoal que nos paga nas empresas, que tem de enfrentar o duro dia-a-dia corporativo, acha que a gente que faz frilas pra eles, de casa, está sempre recebendo um extra. Não parece que eles estão pagando por algo que a gente ficou um mês inteiro (ou mais) fazendo – TODOS OS DIAS.

E essa é outra merda de ser frila, claro, ter de cobrar, conferir, mandar nota, o dinheiro nunca cai naturalmente. É sempre um parto...

Ah, e tem ainda outra merda: você trabalha meses, anos, com um contato (editora, assistente) numa empresa. Ele é demitido. Você também é, sem aviso prévio nem nada. Claro, a empresa pode continuar usando seus serviços, mas o mais natural é que a nova pessoa que ocupe o cargo use seus próprios contatos.

Mas se você já está nessa merd... nessa vida, digo, devido à pandemia, a vida de frila também em suas benesses.  Você faz seus horários, suas férias, acorda a hora que quer, pode trabalhar ouvindo sua música; e só de não ter um patrão a quem responder já faz toda a diferença. Precisa ter certo temperamento, sim, precisa ser caxias. Eu costumo dizer que “quem tem a si mesmo como patrão, tem como empregado um escravo.” Sou bem rígido com meus prazos, procuro sempre me antecipar. Tem vários dias que estou sem pique, cansado, de ressaca, com problemas pessoais, e me obrigo a cumprir a cota diária de laudas. No final, acabo sempre entregando antes do prazo. Mas acho que isso é o mínimo que a gente tem de fazer se quiser sobreviver num mercado tão difícil. (como na tradução literária).

Então vão aí dicas rápidas para quem quer trabalhar em casa...


... não, primeiro vou desmistificar mitos:

 

- Não pode trabalhar de pijama:

Acho bobagem, essa coisa de ritual de que “tem de se vestir pro trabalho para fazer ‘home office’. Tem é de se sentir à vontade. Eu trabalho de regata e bermuda todos os dias. Claro, se tiver reuniões por vídeo, melhor se ajeitar um pouquinho.

 

- Desligue as redes sociais:

Também acho bobagem. Redes sociais para mim é como o colega trabalhando na baia do lado. Te distrai um pouco, e faz parte para você não se sentir tão sozinho. E é uma forma de se manter antenado no que está acontecendo no mundo - isso é importante de manter, se está trabalhando sozinho. Eu acho que se você deixa as redes sociais ligadas TODOS os dias, você não tem necessidade de ficar olhando TODA a hora. 

 

- Monte uma super área de trabalho:

Depende da sua área de atuação. Se você trabalha com texto, como eu, não precisa de um super investimento-computador-área. Dá para se virar com o que você tem. Mas é importante ter uma área separada (já explico nas dicas).

 

- Acorde cedo para trabalhar:

O melhor de trabalhar em casa é poder acordar quando quiser. Não se obrigue a acordar cedo (a não ser que haja outros compromissos pessoais que te obriguem a isso), desde que você consiga cumprir as horas diárias para realizar suas tarefas. Eu passei anos acordando perto da hora do almoço. Nos últimos anos, tenho acordado cedo, por volta das 7h, mas geralmente vou malhar, cuido das coisas da casa, e só começo a trabalhar lá pelas 11h.

 

Então vamos ao que você DEVE fazer:

 

- Seja solitário:

Trabalhar em casa é ideal para quem não tem vida, não tem família, não tem ninguém no mundo como eu... Sofrências à parte, muitas das dicas que dou aqui ficam mesmo prejudicadas para quem mora com marido e filhos. Porém o ESSENCIAL para trabalhar em casa é ter um espaço reservado, em que você possa ficar sozinho, fechar a porta. (Ou se mora com alguém, que esse alguém passe o dia todo fora). Já tive períodos com namorado aqui em casa (como os dois meses do Tadzio aqui no final do ano) e é muito complicado, porque meu escritório é na sala. Ter um ser vivo circulando pela casa desconcentra muito mais do que as redes sociais, te digo. (Especialmente se o ser circula só de cueca...)

- Não beba:

Não ter horários, não ter patrão, para muitos é um convite ao alcoolismo. Para algumas atividades criativas (como escrever livros) a bebida até pode ajudar. Mas torna-se insustentável como prática diária. Então se está trabalhando em casa, não pode pegar nem aquela cervejinha. Deixe para o dia da folga. E tenha dia da folga. 

- Não viaje:

E não estou falando de dorgas  - isso entraria na mesma categoria do “não beba.” Se você quer trabalhar de casa, esteja em casa. Tem essa ideia de que “quem trabalha de casa pode trabalhar de qualquer lugar”, e é verdade, mas não no ritmo e comprometimento que é exigido. Se você está sempre viajando, conhecendo lugares novos, não vai ter tanto tempo para dedicar à sua rotina de trabalho – a não ser que seu trabalho envolva turismo/viajar. Eu já passei períodos trabalhando de outros lugares, em Florianópolis, na Finlândia, Maresias, mas foram períodos de meses em que aluguei uma casa, criei uma rotina, e isso sempre envolve um tempo de adaptação. Se você quer VIVER viajando, é bom que tenha um trabalho que envolva isso; e se vai só tirar férias, tire férias, esqueça o trabalho, por mais que dê para fazer no laptop.

- Respeite a semana:

Não é porque você está trabalhando de casa que a semana deixou de existir. Tente respeitar o ritmo de segunda a sexta, porque isso fará sentido para seus contatos, seus pagamentos, seu banco. Isso também te deixará mais em sintonia com o mundo. Eu geralmente trabalho de segunda a sexta, avançando quase sempre na manhã, às vezes tarde do sábado (domingo praticamente nunca). Infelizmente eu não consigo nunca respeitar feriados (trabalho nos feriados da semana, mas eventualmente me permito me fazer um “feriado de mim mesmo” numa brecha de trabalho).  E nesse respeite a semana: Não é porque você está trabalhando no FDS que deve mandar emails de trabalho aos outros (ou de cobrança). Deixe para a fatídica manhã de segunda. (Anote isso, dona Elisa Nazarian).

Por fim, e mais importante:

- Não deixe a coelha roer os fios do seu computador.


(Para quem gostou do curso, pode depositar por pix: santiagonazarian@gmail.com )


19/02/2021

MEUS 100 ANOS NA FOLHA

Para sempre lembrar...


A Folha de São Paulo faz 100 anos hoje. Vi tantos amigos comemorando, contando suas experiências, que não pude deixar de compartilhar minha experiência e expressar minha gratidão.


2017

Foi o jornal que mais me deu espaço, sempre, não apenas resenhando meus livros (positivamente, negativamente...), dando notas sobre os lançamentos, mas me convidando para contribuir. Colaboro com mais ou menos assiduidade desde... 2005? Foram dezenas de resenhas, artigos, sempre em torno de literatura, com total liberdade. A única limitação que sempre recebi foi de espaço (e triste ir vendo que o espaço para literatura foi ficando cada vez menor). 

Ano passado eles publicaram uma página inteira com um capítulo do meu Fé no Inferno.

Como colaborador, nunca frequentei a redação (acho que nunca nem fui lá dentro!); muitos dos editores que me pediram texto eu só conheço pelas redes sociais (ou email), então nunca tive esse dia-a-dia do jornal. Também nem sou jornalista. Contribuí e contribuo como escritor que está há um bom tempo nesse meio, que circula bem (que tem o blog de literatura mais antigo do Brasil...), e que conseguiu construir certo nome... acho... certo nome amaldiçoado. 

Confesso que não guardei NADA - quer dizer, nada do que eu publiquei lá; do que publicaram sobre meus livros eu tento guardar, ou tentava. Hoje em dia estou mais relaxado... Mas dos artigos e resenhas que escrevi, não guardei praticamente nada impresso.

Então tive de puxar pela memória (e pelo Google) para tentar lembrar dos textos que mais gostei de escrever, que a Folha publicou. A grande maioria foi encomenda deles (e teve algumas encomendas ainda que me fizeram que não aceitei, simplesmente porque não me achei capaz). Mas vamos lá, links com bastidores: 


"SAI DAQUI COM TEU CURUPIRA."

Um dos textos mais "polêmicos" que publiquei na Folha, foi aquele em que avaliei como a literatura fantástica (e o "fantástico em geral") não decolava no Brasil (em 2019). Os nerd tudo pirou, me xingaram de tudo quanto é nome, como se eu estivesse torcendo contra. Veio muito autorzinho novo no twitter dizer que seu livro tava vendendo, mas passado um ano e meio, não discordo de nada do que escrevi. 

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/09/eterna-promessa-literatura-fantastica-brasileira-nunca-decola.shtml

"QUEM NÃO LACRA NÃO LUCRA."

Um pouco antes eu havia publicado outro texto, que não deu tanta repercussão, que falava da necessidade do autor hoje ter uma ligação com a situação atual, ter um lado militante além da ficção pura. Entrevistei gente bacana e consegui bons depoimentos. E ainda acho que é uma discussão pertinente: 

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/07/em-meio-a-crise-autores-e-editores-buscam-meios-de-renovar-a-ficcao.shtml

NOVINHOS

Uma das coisas mais bacanas do espaço que a Folha me propiciou foi apresentar novos autores. A maioria das resenhas é o jornal que me propôs, e teve uma ou outra que propus que não aceitaram. Mas adorei fazer a do Tobias Carvalho (que já tinha ganho o prêmio Sesc) e, principalmente, do Fernando Abreu de Barreto, que lançou um belo livro de terror, por uma editora pequena, e consegui emplacar na Folha. 

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/12/autor-estreante-remete-a-caio-fernando-abreu-mas-com-sentimentalismo-sutil.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/04/1614998-terror-lirico-indica-que-novo-autor-do-pais-pode-acrescentar-muito-ao-genero.shtml


ESCREVEU NÃO LEU

Em 2017 fiz outra matéria grande com um perfil de "quem lê literatura brasileira contemporânea". Foi meio polemicuzinho, um povo lacrador veio dizer que eu tinha uma visão parcial, mas foi legal para dar vozes a leitores, quase como uma homenagem. 

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1857595-quem-sao-os-leitores-da-ficcao-brasileira-contemporanea.shtml


BOWIE NA BRASA

Quando Bowie morreu, me pediram uma crônica. Não sei se ainda gosto (na verdade, nem tive coragem de reler), mas gostei de fazer. E acho que foi a única coisa que publiquei na Folha que não foi (diretamente) relacionada à literatura.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/01/1729901-quantas-vezes-um-anjo-cai.shtml


FICÇÃO CAFONA

Nem lembro direito do livro, mas revi o título dessa resenha e adorei: "Com 800 mil cópias vendidas, ficção cafona gira em círculos." Li muita ficção cafona pro jornal. (É preciso dizer que praticamente TODOS os títulos de matérias não foram dados por mim. Foi coisa da edição do jornal. No começo eu até me empenhava nos títulos, mas depois que vi que eles faziam os deles, comecei a mandar sem título mesmo. E muitas vezes fui xingado principalmente pela chamada...)

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/05/1623872-com-800-mil-copias-vendidas-ficcao-cafona-gira-em-circulos.shtml

"É ESCRITOR? MAS VIVE DO QUÊ?"

Uma matéria que foi ideia minha, e provavelmente a que mais me orgulha, foi a pesquisa para responder à velha pergunta: "Do que vive um escritor no Brasil?" Entrevistei 50 escritores, fiz minhas análises, e até hoje cito muito dessa matéria em entrevistas, embora a situação tenha mudado (deteriorado) muito de 2014 para cá, infelizmente. Também gerou polêmica. Escritorzinho-comercial-não-citado respondendo com texto na Folha que "vendo muito livro, ganho mais que meu pai". Faz parte... 

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/12/1567614-pesquisa-informal-mostra-que-poucos-escritores-se-sustentam-pela-venda-de-livros-no-brasil.shtml

NO MEIO DO MATO

Em 2014 também fiz uma análise do "êxodo urbano" na literatura brasileira. Como nós, urbaníssimos, estávamos buscando narrativas mais interioranas, rurais. Acho que ninguém se ofendeu. 

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/09/1522415-exodo-urbano-na-atual-escrita-brasileira.shtml


EPIDEMIA ZUMBI

Em 2009, em plena onda dos Vampiros (com a saga "Crepúsculo") eu fiz uma matéria antevendo os zumbis como a próxima onda. Estava certo, não?

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3112200917.htm


MARCADO COMO TATUAGEM

Não coloquei aqui dezenas de resenhas que fiz de literatura americana/inglesa contemporânea, a maioria de regular para negativa. Mas acho que a primeira foi essa de 2005 (eu é que não vou reler, tenho medo). E foi depois disso que a Nova Fronteira entrou em contato comigo para publicar meu livro ("Mastigando Humanos"). O resto é história...

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1009200519.htm

MIRA, ISOLA

MENTIRA! Porque acabei de descobrir que ANTES disso já tinha publicado resenha de um livro do... MIRISOLA! Me usaram de boi de piranha, porque falei mais ou menos bem e o cara logicamente me espinafrou, escreveu uma carta-resposta com impropérios que a Folha resolveu não publicar. Sei lá se eu estava certo - eu era jovem, e os jovens sempre estão certos. Também não tenho coragem de reler: 

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2304200520.html


NOS PRIMÓRDIOS...

E em.. 1998! Eu já tinha foto na Folha, no Festival Mix Brasil, nos curtas que fazia sobre body art. 

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq08059833.htm


Essa eu guardei...

(Quem não consegue acessar os links por causa do paywall, pode pagar e ajudar o jornal ou pesquisar como driblar, claro...)






NESTE SÁBADO!