12/08/2021

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE






Sempre me lembro desse trecho do livro do Mike Sullivan (“O Inferno É Logo Ali”). A diferença é que não tenho escrito nada...

A covid passou suave por mim, mas acho que deixará sequelas em toda a população. Alguns hábitos nunca mais voltarão, e nem todos eram maus hábitos...

O que será do cinema, do teatro, por exemplo? O povo já se acomodou tanto com streaming, o povo já se acostumou tanto a ficar em casa...

Esses dias fui o ver o (ótimo, eu achei) novo do Shyamalan (no cinema, vazio), de uma família que vai para uma praia deserta e começa a envelhecer a cada minuto. O filme começa com eles chegando ao hotel e me deu uma nostalgia... fiquei com uma vontade que o filme ficasse duas horas só naquilo, eles fazendo check-in, eles tomando café da manhã, eles na piscina... E isso porque viajei três vezes desde que começou a pandemia (a última há três meses, no meu aniversário, para um hotelzinho bem bacana em Juquehy).

Em maio, com Klauz no litoral norte, ainda havia sol...


Tive também essa nostalgia com o (excelente) “Paris Brest”, do meu amigo Alexandre Staut, (que tem alguns anos, mas só fui ler agora), as memórias dele no começo do milênio quando morou na França, trabalhou como cozinheiro, camelou, se fodeu, viveu... Saudades dessas viagens, das possibilidades, da juventude... (Mais ou menos na mesma época eu trabalhava como barman numa boate em Londres).

Do livro do Staut. 

E ainda com o novo do Galera, “O Deus das Avencas”, que é uma reunião de três novelas. A primeira é puro Galera – que eu sempre adorei, como escritor, como pessoa – sobre um casal prestes a dar à luz, às vésperas da fatídica eleição. Deu uma saudade dele, que não é um amigo próximo, mas a gente sempre se encontrava por aí nas viagens, nos festivais. Saudades de toda a classe, na verdade, dessa troca com os colegas...

O novo do Galera. 

Quando a gente envelhece nosso círculo de amizades se restringe muito a colegas de profissão, porque todo mundo tem família, todo mundo tem trabalho, e os encontros profissionais são mais importantes do que os sociais. Mas agora todo mundo trabalha de casa, ou “só” em casa (porque eu trabalho em casa desde 2003) e tem a melhor desculpa-justificativa para evitar encontros.

Não estou tão sozinho porque estou namorando há quase seis meses, um namoro tranquilo. E sempre me fecho muito no relacionamento, deixo tanta gente de lado. Mas o trabalho que foi intenso nos últimos... três anos, quase, agora deu uma parada. Temo pelo futuro... futuro próximo... próximos meses...


De um conto novo, a única coisa autoral fiz este ano. 

Não tenho escrito nada, ou quase. Dia desses fiz um continho para uma revista literária – uma espécie de sucessor espiritual de meu “Apocalipse Silencioso”, contemplando esses tempos de pandemia (não é o que todo mundo está fazendo?). Não tenho muito mais a dizer, na verdade. Parece que está todo mundo na obrigação de xingar o presidente, tirar sarro dos tanques, lamentar a morte do Tarcísio Meira – eu sinto como todo mundo, penso como tudo mundo. E se eu concordo com tudo, fico quieto, e passo por alienado; comento quando tenho algo diferente a dizer, e pago de polêmico...

“Mas eu amava seu diário da quarentena”, me disse meu amigo Clayton Brandão. Eu queria comentar sobre um ou outro livro, um ou outro filme , então ao menos resolvi fazer mais esse... Agora não tenho mais nada a dizer.


Cara de quarentena. 

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...