10/02/2022

NOVOS VENTOS

 


Todos os sábados de março, das 10h às 12h, estarei com um curso online na Balada Literária. Não costumo dar cursos ou oficinas, porque não me sinto apto a ensinar ninguém a escrever, nem gosto de ficar alimentando as ilusões alheias; então, quando o querido Marcelino Freire me convidou, pensei num formato que tratasse disso, em que eu me sentisse mais à vontade.

Não é uma oficina de escrita, serão conversas sobre como funciona o mercado literário, para quem está pensando em publicar ou já está começando a carreira. Falaremos desde o processo da preparação do livro, a busca da editora, publicação, divulgação, vendas de direitos para audiovisual e exterior, prêmios, e todos os processos pelos quais passa um escritor profissional. 

Na bagagem, trago vinte anos de experiência como autor - com doze livros publicados, dezenas de traduções, direitos vendidos para teatro, cinema e exterior; além de todo o conhecimento da experiência de colegas e amigos. A conversa terá minha sinceridade costumeira, dando a realidade, valores e tudo mais. 

O valor do curso em si é R$600, e a inscrição pode ser feita no site da Balada Literária. Corra, que as vagas são limitadas e já estão acabando! (Mentira; na verdade não faço ideia se está acabando ou se ainda ninguém se inscreveu. Quem cuida disso é o pessoal da Balada.)

https://baladaliteraria.com.br/loja/curso-conversas-sobre-o-mercado-literario-escrever-publicar-divulgar-e-sobreviver-com-santiago-nazarian/


Estou saindo (espero) de uma fase muito complicada - que começou quando minha coelha morreu, em novembro. Não bastasse o luto, teve o rombo que o veterinário me deixou, daí teve a frustração dos prêmios que fiquei de finalista e não levei, em dezembro tive cartão clonado, os jobs pararam todos. Entrei numa dívida e numa deprê difíceis de contornar. 

A falta de trabalho mexe não só no lado financeiro, mas muito na autoestima - ficar esmolando trabalho, escrevendo para editor que não responde, cobrando quem te deve. Parece que ninguém te quer, que você (e seu trabalho) não vale nada.

A única coisa que dá para fazer é chorar. Mas chorar quietinho em casa não adianta nada. É uma merda ter que expor nossas penúrias e fraquezas - muita gente só vende sempre a imagem de sucesso -; muita gente também diz que eu só reclamo, mas já aprendi que é só quando reclamo é que as coisas acontecem. 

Muitos amigos nas redes vieram dar força com o costumeiro "vai melhorar" (vai, e vai piorar de novo, talvez bem mais), e alguns realmente me ajudaram me indicando frilas, jobs, o próprio Marcelino que me convidou para esse curso,

O foda é que os amigos das letras são tudo fodido também - então os jobs nunca pagam tão bem, os projetos são sempre de risco; um amigo querido me indicou uma editora para tradução, fiz um teste com eles, fui aprovado, daí me informaram que pagavam DEZ REAIS a página de tradução (a última tradução que fiz, pagava 40). Imagina você passar três meses para traduzir um livro de 400 páginas (um ritmo puxado) e receber 4 mil reais?

(Povo acha que sou de família rica, mas é uma família falida, não tenho renda nem ninguém a quem pedir ajuda.)

Teve também editora amiga que veio com: "Tinha um tradução para te dar, mas acabei passando pra outro." (Falei pra ela: "Tinha um brigadeiro pra te dar. Mas comi.")

Felizmente, surgiram outros trabalhos que já estão pagando; recebi enfim os direitos de uma venda para cinema (que eu estava negociando há aaaaanos) e agora as contas estão sob controle... a cabeça mais ou menos. 

A má notícia é que nessa angústia toda, avancei num livro novo, novo romance (ou mais para uma novela) que, se tudo der certo, sai ano que vem. É um tema espinhoso, arriscado, e um formato totalmente diferente de tudo o que já publiquei. Mas ainda pode ser enquadrado como "existencialismo bizarro" (ou seja, outro fracasso...). 

Tinha também outro infantil para sair - que foi vendido, pago, tinha até já sido preparado, mas a editora mudou de editor e acharam muito violento. Infanto-juvenil tem de ser tudo assim: fofinho e adotável. (Um milagre eu ter conseguido publicar um livro tão cínico como "A Festa do Dragão Morto", pela Melhoramentos). 

Enfim, as coisas voltaram a andar, vamos ver até quando. 


ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...