Todos os sábados de março, das 10h às 12h, estarei com um curso online na Balada Literária. Não costumo dar cursos ou oficinas, porque não me sinto apto a ensinar ninguém a escrever, nem gosto de ficar alimentando as ilusões alheias; então, quando o querido Marcelino Freire me convidou, pensei num formato que tratasse disso, em que eu me sentisse mais à vontade.
Não é uma oficina de escrita, serão conversas sobre como funciona o mercado literário, para quem está pensando em publicar ou já está começando a carreira. Falaremos desde o processo da preparação do livro, a busca da editora, publicação, divulgação, vendas de direitos para audiovisual e exterior, prêmios, e todos os processos pelos quais passa um escritor profissional.
Na bagagem, trago vinte anos de experiência como autor - com doze livros publicados, dezenas de traduções, direitos vendidos para teatro, cinema e exterior; além de todo o conhecimento da experiência de colegas e amigos. A conversa terá minha sinceridade costumeira, dando a realidade, valores e tudo mais.
O valor do curso em si é R$600, e a inscrição pode ser feita no site da Balada Literária. Corra, que as vagas são limitadas e já estão acabando! (Mentira; na verdade não faço ideia se está acabando ou se ainda ninguém se inscreveu. Quem cuida disso é o pessoal da Balada.)
Estou saindo (espero) de uma fase muito complicada - que começou quando minha coelha morreu, em novembro. Não bastasse o luto, teve o rombo que o veterinário me deixou, daí teve a frustração dos prêmios que fiquei de finalista e não levei, em dezembro tive cartão clonado, os jobs pararam todos. Entrei numa dívida e numa deprê difíceis de contornar.
A falta de trabalho mexe não só no lado financeiro, mas muito na autoestima - ficar esmolando trabalho, escrevendo para editor que não responde, cobrando quem te deve. Parece que ninguém te quer, que você (e seu trabalho) não vale nada.
A única coisa que dá para fazer é chorar. Mas chorar quietinho em casa não adianta nada. É uma merda ter que expor nossas penúrias e fraquezas - muita gente só vende sempre a imagem de sucesso -; muita gente também diz que eu só reclamo, mas já aprendi que é só quando reclamo é que as coisas acontecem.
Muitos amigos nas redes vieram dar força com o costumeiro "vai melhorar" (vai, e vai piorar de novo, talvez bem mais), e alguns realmente me ajudaram me indicando frilas, jobs, o próprio Marcelino que me convidou para esse curso,
O foda é que os amigos das letras são tudo fodido também - então os jobs nunca pagam tão bem, os projetos são sempre de risco; um amigo querido me indicou uma editora para tradução, fiz um teste com eles, fui aprovado, daí me informaram que pagavam DEZ REAIS a página de tradução (a última tradução que fiz, pagava 40). Imagina você passar três meses para traduzir um livro de 400 páginas (um ritmo puxado) e receber 4 mil reais?
(Povo acha que sou de família rica, mas é uma família falida, não tenho renda nem ninguém a quem pedir ajuda.)
Teve também editora amiga que veio com: "Tinha um tradução para te dar, mas acabei passando pra outro." (Falei pra ela: "Tinha um brigadeiro pra te dar. Mas comi.")
Felizmente, surgiram outros trabalhos que já estão pagando; recebi enfim os direitos de uma venda para cinema (que eu estava negociando há aaaaanos) e agora as contas estão sob controle... a cabeça mais ou menos.
A má notícia é que nessa angústia toda, avancei num livro novo, novo romance (ou mais para uma novela) que, se tudo der certo, sai ano que vem. É um tema espinhoso, arriscado, e um formato totalmente diferente de tudo o que já publiquei. Mas ainda pode ser enquadrado como "existencialismo bizarro" (ou seja, outro fracasso...).
Tinha também outro infantil para sair - que foi vendido, pago, tinha até já sido preparado, mas a editora mudou de editor e acharam muito violento. Infanto-juvenil tem de ser tudo assim: fofinho e adotável. (Um milagre eu ter conseguido publicar um livro tão cínico como "A Festa do Dragão Morto", pela Melhoramentos).
Enfim, as coisas voltaram a andar, vamos ver até quando.