30/09/2022

ELEIÇÕES 2022



Deputado Federal: Augusto De Arruda Botelho 4004
Deputada Estadual: Chirley Pankará 50522
Senador: Márcio França 400
Governador: Fernando Haddad 13
Presidente: Lula 13


(Em 2018 votei no Ciro, no primeiro turno. Não me arrependo, pelo contrário - acho que deve ter se arrependido quem votou no PT. Não tinha o menor ambiente pro PT. Se Hadad ganhasse, com o fervor bolsonarista, seria um caos...)

(Agora o ambiente é bem diferente.)

(Não tem essa de "Ai, prefiro o Ciro", Ciro não vai pro segundo turno.)

(Então é concentrar pro Lula ganhar no primeiro, pra não deixar o Coiso se armar, pra não dar chance pro golpe, pra deixar claro o recado.)

(INOCENTE ninguém é. Mas o nível de canalhice, desonestidade, maldade, analfabetismo de quem está no poder é OUTRO.)

20/09/2022

AUTOFICTION

 


No fim de semana saiu o novo (nono) álbum do Suede, minha banda favorita de todos os tempos, que acompanho desde a adolescência, já vi vários shows, conheci os integrantes, etc, etc.

Eles descrevem "Autofiction" como o disco "punk" da banda, com canções curtas, diretas e barulhentas. Na verdade, soa mais como pós-punk, um baixo em primeiro plano, guitarras sombrias e vocais esganiçados - Suede sempre teve um pé no gótico.

Eu gosto. Achei o álbum melhor do que eu esperava, porque os primeiros singles ("She Still Leads Me On" e "15 Again") são bem fracos. Mas ouvindo o disco inteiro, dá para entender algumas escolhas questionáveis, como os falsetes desafinados de Brett Anderson no meio de uma palavra e as guitarras em segundo plano, sem grandes solos. O destaque fica para o baixo de Matt Osman, que soa bem diferente e mais proeminente do que nunca. É um disco para ouvir alto... e acabar rápido. 

Achei corajoso, diferente do que eles vinham fazendo, e traz um frescor em plena meia idade da banda. Minhas favoritas são "The Only Way I Can Love You", "What Am I Without You" e "Personality Disorder". Algumas começam muito bem (como "Black Ice" e "Turn Your Brain and Yell"), mas ficam uma zona no refrão, com essa mescla de falsetes. 

Enfim, 2022 tem sido um bom ano pros meus artistas favoritos (e Röyksopp continua lançando). 

Vai aí meu ranking atual (do melhor pro pior), de todos os discos do Suede: 

- Suede

- Dog Man Star

- Coming Up

- Night Thoughts

- A New Morning 

- Head Music

- Autofiction

- Bloodsports

- The Blue Hour





18/09/2022

NA ESTRADA


Acabo de voltar de uma turnezinha do Sesc, por 3 cidades do Paraná. 

Apucarana. 

Sesc é o nosso Ministério da Cultura restante; o do Paraná tem uma tradição literária forte, e sempre me prestigia. Já estive algumas vezes rodando por lá. Mas agora teve um sabor especial, depois de tanto tempo com os eventos parados, os debates online tomando conta. Sempre digo que é fundamental para o escritor circular, não só pelos encontros, as conversas oficiais e de bastidores, mas o próprio ato de arejar, ver novas paisagens, passar alguns perrengues...

Apucarana

A escrita é uma atividade solitária e muito masturbatória.  

Em Londrina

Agora estive em Jacarezinho na quinta (15), Apucarana na sexta (16) e Londrina no sábado e domingo. Os diferentes públicos e mediações geraram papos totalmente diferentes, o que é mais estimulante. O pessoal de Jacarezinho era um público mais cru, de EJA - Ensino de Jovens e Adultos; em Apucarana eu conversei com uma sala lotada de alunos de Letras, o que gerou a melhor mesa, divertida e com ótimas perguntas. Em Londrina eu dividi a mesa com o Oscar Nakasato, mediados pelo Ricardo Dalai. A conversa entre nós foi ótima, mas era um público bem disperso, com uma feira de livros acontecendo, crianças correndo, gente gritando, carros passando...


Os alunos de Apucarana. 


Deu também para fazer um turismo básico, encontrar leitores queridos como a Mariene Boldiere, sair para beber com os colegas e caminhadas bucólicas pelas manhãs. Não teve jacarés, mas deu para ver capivaras. 

Com Ricardo Dalai, Luigi Ricciardi e o Rafael Silvaro, em Londrina. 

E agora, por enquanto, neste ano não há mais nada. Estou nas prés do livro novo, sigo nas traduções, mas sempre receoso do que o amanhã me reserva - receoso de que não reservará mais nada. 

Em Jacarezinho.


07/09/2022

CONTEMPORANÍSSIMOS



Acabei há pouco uma avalanche de leituras como jurado do Prêmio Oceanos. Nessa primeira fase, cada jurado recebeu uma seleção aleatória de obras e tinha que dar nota. Tinha pouquíssima coisa que eu já tinha lido, pouca gente que eu conhecia, muita coisa ruim, mas algumas pérolas e boas surpresas. Fiquei feliz em ver que minhas maiores notas entraram na lista dos semifinalistas. Agora um outro júri escolhe os dez finalistas do ano. A lista completa está aqui: 

https://oceanos.icnetworks.org/oceanos/2022/semifinalistas

Pude então voltar para as leituras por prazer... que nem sempre... ou quase nunca são tão prazerosas... nem são tão por lazer assim... amigos, colegas, gente que me deu força, gente que prometi dar força...

Dos publicados este ano, alguns me chamaram especial atenção, começando com um romance que discute muito a própria situação da literatura brasileira atual.

O Homem que Escrevia para Ganhar Prêmios

Em "O Homem que Escrevia para Ganhar Prêmios", do brasiliense Lourenço Dutra (Arribaçã Editora) um escritor frustrado, homem-branco-cis-hétero-de-classe-média, tenta formatar o livro perfeito para ganhar um prêmio e mudar sua carreira. Poderia ser só autoficção ressentida, mas o romance estruturado quase só em diálogos se firma no humor para pintar a cena literária atual e dizer tudo aquilo que nós (escritores) já sabemos, mas que só poderíamos  dizer mesmo na ficção. Tem cenas hilárias, outras um pouco tolas (como criar uma espécie de Paulo Coelho chamado Pedro Lebre), mas a prosa ligeira é bem divertida de se ler e se identificar. Uma prova de que só o humor salva. 


Cristhiano

Discorrendo um pouco sobre essa história do exílio atual do escritor branco-hétero-cis-etc, me lembrei do badalado lançamento do Cristhiano Aguiar pela Alfaguara, "Gótico Nordestino". Ele alcançou o que muitos considerariam impossível: sucesso com um livro de contos de terror (de um autor branco-hétero-etc). O título em si é um achado, remete a um regionalismo contraditório, também com certo humor, mas que ilustra muito bem a proposta do livro, com narrativas calcadas no folclore nordestino. Talvez o que mais me incomode no livro seja um de seus maiores méritos: essa escrita limpa, "profissional", de quem estudou muito construção narrativa (e que se encaixou num molde respeitável). Falta um pouco de ousadia e espontaneidade, mas não deixa de sobrar talento. 


Uirapuru

Espontaneidade é o que não falta no primeiro romance do Febraro de Oliveira, de 23 anos, do Mato Grosso do Sul. Conheci ele na minha passagem pelo Pantanal, e fiquei curioso com seu "Uirapuru". 


Febraro

O livro é dos melhores exemplos do poder da juventude na literatura - algo que só poderia ser escrito muito jovem, por toda sua força lírica. Em prosa poética, o personagem discorre sobre suas relações familiares, com uma narrativa não tão traçável. (Me lembrou um pouco do meu "A Morte Sem Nome", que também escrevi aos 22, e não conseguiria escrever hoje). Eu sempre falo isso, da hipervalorização da "maturidade" na literatura, e como a juventude pode trazer um ímpeto tão necessário para ventilar nossas páginas. Febraro faz isso lindamente; um autor a se acompanhar (mas, vendo pela orelha que ele também é cria de oficinas literárias e se forma como professor, tenho medo do que o futuro pode fazer dele como "escritor profissional"). (RESISTA, FEBRARO!)


João Maria Matilde

E enfim consegui ler também o novo da Marcela Dantés, mineira finalista dos Prêmios Jabuti e São Paulo ano passado. "João Maria Matilde" (Autêntica) também é um romance sobre a busca da identidade através da família - no caso, a descoberta de um pai desconhecido em Portugal, que acaba de falecer. Dantés é muito delicada, e mordaz quando necessário, uma escritora talvez no equilíbrio ideal entre potência lírica e estrutura profissional. Fez o dever de casa, mas não deixa de sair da casinha. 

Marcela

NESTE SÁBADO!