Ganhei essa linda planta no meu aniversário de namoro ano
passado, há quase um ano. O namoro acabou há uns meses.
A planta resistiu bem – murcharam as flores, nasceram novas
flores, ramos secaram, brotaram outros ramos -, até que, no saldo, foi mais
morrendo do que vivendo, cada vez mais seca, como tudo por aqui...
Mas eu resisti. Sem namoro nem coelho, a planta era o que
sobrava pra cuidar diariamente. “Vamos tomar um sol”, levava ela pra área de
serviço. “Tá com sede?” colocava água. Ela nunca respondeu. Mas eu ainda tomava
como uma analogia (ainda que batida) da minha vida. Quando melhorarem as
coisas, ela vai melhorar. Quando ela melhorar, é sinal de que as coisas estão
melhorando...
Agora parece que morreu. (“Não tava muito bom, tava meio
ruim, agora parece que piorou”, como diz o poeta.) Uma mulher zelosa me diria
para desistir. Mas fui pegar o vaso para jogar fora e senti meio quente, meio
pulsante, pensei em todos os microrganismos que ainda podem estar aqui.
Talvez a planta ainda rebrote no tempo certo? Talvez os
microrganismos tenham algo a me dizer. Eu posso continuar regando e esperando. Se
música clássica não salvou minha planta, talvez haja esperança com Raça Negra?