Fazia tempo que não tinha dias tão gostosos.
Tirei 5 dias em Paraty, para comemorar meu aniversário. Fazia
dois anos que não ia para praia, que não viajava a lazer. Por indicação da
querida Adriane Hagedorn fiquei na Pousada do Príncipe, uma delicinha, perto de
tudo, não exatamente barata, mas valeu de presente pra mim mesmo.
Biscoitando na piscina. |
Paraty continua linda (apesar da energia pesada). Escolhi lá porque tinha lido sobre o tempo, frente fria e chuva, e achei que se não rolasse praia ao menos tinha a cidade para aproveitar, a vida cultural e gastronômica. Rolou de tudo (ou quase...).
A cidade continua linda. |
Fiz as coisas que eu mais gostava. Deu praia, piscina, fui ao teatro, fiz longas caminhadas, comi bem, bebi pouco. No dia do meu
aniversário, peguei uma escuna que parava em praias desertas e numa ilha cheia
de peixes, para mergulhar. (Já fiz até curso de mergulho com cilindro, e os
peixes do meu aniversário tavam uma beleza.)
O barco. |
(O que irrita muito em Paraty é a necessidade de colocarem
música constante, alta, de mau gosto, nas praias, nos barcos, não dá para
curtir um momento bucólico de silêncio. No barco, achei que podiam ao menos
cantar um “parabéns a você”; avisei bem aos guias que era meu aniversário –
queria saber o que daria na hora do “é-pique-é-pique-é-pique é-big-é-big-é-big”
com paulistas, fluminenses e estrangeiros misturados; queria passar pelo
constrangimento de estranhos me desejando felicidades, mas só ganhei um
drinque.)
Praia deserta. |
Toda a viagem-feriado-aniversário foi absolutamente sozinha, feriado de mim mesmo. Poderia ter sido melhor com uma companhia, mas também poderia ter sido BEM pior, então melhor assim.
Turismo gótico-bucólico |
Já tinha ficado quase um mês em Paraty, exatamente vinte anos atrás, nas preparações da primeira FLIP, onde fui um dos autores convidados. Depois, voltei uma vez num feriado com o amigo Marcelino, em 2010, e outra na Flip de 2014, a convite do Sesc. Acho FLIP sempre muito lotada, cara, carão, uma festa para a qual não fui (mais) convidado, então evito.
Sem FLIP, convidei meus próprios autores, que estavam
esperando há tempos aqui em casa. Tem sido difícil ler por prazer, porque
felizmente tenho feito muita leitura crítica, participado do júri de alguns
prêmios, daí tem os amigos que quero ler, os que não quero mas devo, os que quero,
mas não são amigos...
Consegui matar dois. O excelente Mike Sullivan lançou “Atire a Primeira Pedra”, sintomático para ler no dia das mães. A novela analisa um matricídio brutal através de dois personagens: o assassino e um psiquiatra forense que examina o caso. Tem muito a ver com meu próximo livro, e a escrita do Mike é sempre linda, poética e melancólica. Um dos meus autores preferidos em atividade.
Mike e eu na piscina. |
Outra boa surpresa que consegui ler foi meu aluno Túlio Dias
– que participou de duas oficinas minhas e lançou seu primeiro romance: “O
Almoço de Natal”. Com uma observação sagaz e ácida dos tempos atuais, Túlio faz
um romance-crônica sobre os fatídicos encontros de família no Natal, em tempos
bolsonaristas. Bem divertido.
Levei outras coisas que não consegui ler, e já tenho uma caralhada na fila, muito trabalho. (Cheguei em casa e tava me esperando na portaria o novo do grande Fabrício Corsaletti.) Também tenho trabalhado muito como ghost, o que tem me salvado as contas.
Adoro café da manhã de hotel. |
As coisas melhoraram bem – e alguns podem dizer: “Viu, e você só reclama, não adianta reclamar” – mas as coisas só melhoraram PORQUE eu reclamei. Trabalho sozinho, em casa, as redes são meu único contato de trabalho. A exposição de tempos difíceis foi o que fez amigos e colegas queridos me indicarem para Jobs que salvaram meus dias. Que continue assim...