Ontem foi dia de homenagear mais uma amiga querida que faleceu.
Vange Leonel morreu em 2014, outra vítima de câncer, ontem teria feito 60 anos, e os queridos Rodrigo de Araujo e Pedro Alexandre Sanches organizaram um ato solene em homenagem a ela na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Vange sempre foi uma militante política, ativista LGBTQIA+, natural que sua homenagem também passasse por isso.
Eu a conheci como a maioria, no início dos anos 90, início da minha adolescência, com a “Calada Noite Preta” trilha de novela da Globo. Era uma gótica que chegava ao poder, embora ela rejeitasse esse rótulo. (E até hoje, não houve nenhum hit gótico brasileiro maior do que esse). Depois a conheci pessoalmente como fã, nos tornamos amigos, colegas, quando eu comecei a publicar. Ela sempre foi uma querida.
Me chamaram para fazer um dos discursos de ontem, representando os escritores (acho que representei mais os góticos, mas tudo certo). Discorri um pouco sobre o papel dela, o papel de nós, artistas à margem – não por condições sociais, raciais, mas por escolhas estéticas, ideológicas próprias, talvez muito fruto da homossexualidade, sim, mas não só isso (porque o que não falta é artista-escritor-cantor gay integrado ao mainstream). Acho que é mais uma visão Lado B da vida, que nos amaldiçoa.
Comentei ontem como essa visão particular, alternativa, às vezes encontra confluência no mainstream – como foi a fase “Noite Preta” da Vange (como talvez tenha sido minha fase “Mastigando Humanos”, em que os emos estavam no poder) – mas que na maior parte do tempo estamos em paralelo, comendo pelas beiradas. E às vezes parece que tem que ser assim mesmo, e está tudo certo.
Como ontem, em que ficou claro o papel que a Vange teve e tem (não só como cantora, mas como ativista, escritora) e a porrada de gente bacana que ela tocou e influenciou. Estavam lá também os queridos Ivam Cabral, a Cilmara Bedaque, Bel Kowarick, Zé Pedro, Fernando Bonassi, Marisa Orth, Andre Fischer, Cris Naumovs e mais uma caralhada... Ou “bucetada”, como bem disse a Marisa.
Essas coisas é que me inspiram e me fazem continuar. Meus heróis tão particulares. Talvez os ventos mudem e a gente volte a estar na onda, talvez não. Mas o importante é continuar fazendo o que a gente acredita, continuar produzindo e continuar sendo uma alternativa.