Aproveitando a trend, a parada, o pride, vai minha lista. Tive de revirar as estantes, a cabeça e antigas listas que já fiz para lembrar de tudo. Ia fazer uma lista de 24, mas ficou pouco. Subi pra 30, muitos ficaram de fora. Decidi parar em 40, ou não parava nunca.
Obviamente só coloquei uma de cada autor (e alguns foi bem difícil de escolher...). A ordem é (quase) completamente aleatória.
(Se esqueci do seu, é porque você nunca me amou.)
1. O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde
A grande obra sobre o mito de narciso. Provavelmente o livro mais importante da minha vida.
2. Morte em Veneza – Thomas Mann
A novela disserta sobre beleza e platonismo (coisa que o filme deixa para o expectador, através apenas da idealização da figura de um menino).
3. Morangos Mofados – Caio Fernando Abreu:
Um clássico homoerótico dos anos 80, que ainda inspira muito do que se faz de literatura gay no Brasil.
4. Frisk – Dennis Cooper
Das coisas mais pesadas que se pode ler, disserta exatamente sobre isso: há coisas que só se pode fazer em livro... (Sem tradução no Brasil.)
5. O Quarto de Giovanni – James Baldwin
Neste clássico dos sebos, a homossexualidade é personificada pela fascinação com a beleza clássica do velho mundo europeu.
6. Sou Eu – João Gilberto Noll
Infantil do Noll (ilustrado por meu irmãozinho Alexandre Matos), tem muito da sua representação latente da homossexualidade através de dois meninos à beira da adolescência que vão nadar num rio.
7. Memórias de Adriano – Marguerite Yourcenar
Outro clássico dos sebos, uma autobiografia imaginária do Imperador Adriano, que revela muito da homossexualidade na antiguidade clássica.
8. Nossa Senhora das Flores – Jean Genet
Um clássico maldito, escrito em fluxo de pensamento, é uma viagem pelo underground de Paris nos anos 1940.
9. A Confissão de Lúcio – Mário de Sá Carneiro
Um triângulo amoroso com um “duplo feminino”, que termina em crime; revela muito da personalidade conturbada do jovem poeta (amigo de Fernando Pessoa) que se matou aos 25 anos.
10. Meu Irmão, Eu Mesmo – João Silvério Trevisan
Através da relação com o irmão, morto prematuramente nos anos 1990, Trevisan examina sua própria condição de soropositivo que sobreviveu à epidemia.
11. Solo te Quiero como Amigo – Dani Umpi
Romance de “sofrência gay” retratando a vida gay no Uruguai contemporâneo. (Sem tradução no Brasil.)
12. Lucas e Nicolas – Gabriel Spits
Romance juvenil inocente e fofinho, uma espécie de precursor de Heart Stopper, num Brasil interiorano pré-bozo.
13. O Tripé do Tripúdio e Outros Contos Hediondos – Glauco Mattoso
Das melhores amostras da obra do poeta maldito fetichista.
14. O Templo – Stephen Spender
Um jovem inglês que vai para a Alemanha no final dos anos 1920 e se deslumbra com a beleza, com os corpos, com "o templo" dos alemães. Anos depois, volta ao país e descobre que todo aquele culto à beleza assumiu uma conotação política perigosa, com o emergente partido nazista.
15. Ricardo e Vânia – Chico Felitti
Através de uma longa reportagem investigativa sobre o “Fofão da Augusta”, Felitti conta muito sobre o universo gay e trans das últimas décadas.
16. Três Porcos – Marcelo Labes
Romance lindamente escrito, de um personagem (ou um autor?) com uma sexualidade muito mal resolvida, fruto de experiências homossexuais na pré-adolescência.
17. Maldito Coração – JT. LeRoy
A falsa biografia de um michê juvenil, que passa por diversos abusos e situações insólita durante a infância e a adolescência. (A tradução brasileira é minha.)
18. Correndo com Tesouras – Augusten Burroughs
Esse aparentemente é uma autobiografia real, de um menino que também teve uma vida insólita e repleta de abusos na adolescência. Pesado e engraçado.
19. Igor na Chuva – Hugo Guimarães
Romance de encontros fortuitos e sexo casual numa São Paulo apocalíptica, escrito num fluxo de consciência fascinante.
20. O Beijo da Mulher Aranha – Manuel Puig
Um longo diálogo (veja só), entre um prisoneiro político e um homossexual, presos na mesma cela.
21. Nunca Mais Voltei – Alexandre Willer
Contos afetivos e nostálgicos retratando muito dos dramas da homossexualidade contemporânea.
22. Mysterious Skin – Scott Heim
Dois meninos são abusados na infância. Dez anos depois, um deles transformou tudo numa fantasia de abdução e o outro idealizou a experiência. Não foi traduzido no Brasil, mas gerou um belo filme do Gregg Araki.
23. The Night Listener – Armistead Maupin
Um radialista se envolve com a história de um menino vítima de abuso, mas aos poucos vai percebendo que há algo mal contado. Também virou um belo filme com Robin Williams e Toni Collette.
24. Paris Brest – Alexandre Staut
Uma improvável bem sucedida mistura de romance, memórias e receitas, trazidas do período do autor trabalhando com o namorado como cozinheiro na França.
25. Babilônia de SP – Pedro Balciunas
Interessante livro reportagem sobre michês paulistanos.
26. The Man Who Fell in Love with the Moon – Tom Spanbauer
Um faroeste gay narrado por um michê indígena adolescente. (Sem tradução no Brasil.)
27. Confissões de uma Máscara – Yukio Mishima
Outro clássico dos sebos, traz muito da sexualidade conturbada do autor, num adolescente que se descobre gay no Japão da Segunda Guerra.
28. Ilusões Pesadas – Sacha Sperling
Publicado ainda na adolescência desse autor francês, é uma autoficção que retrata a vida louca dos parisienses bem-nascidos no início dos anos 2000.
29. Temporada de Caza para el León Negro – Tryno Maldonado
Uma declaração de amor em prosa poética para a um jovem artista cocainômano, anárquico e autista. (Também sem tradução no Brasil.)
30. E Se Eu Fosse Puta – Amara Moira
Um retrato autobiográfico da cena trans contemporânea, escrito com humor, poesia e acidez.
31. A Resistência dos Vagalumes – Vários Autores
Antologia brasileira contemporânea que tem no seu maior mérito o que poderia ser seu maior defeito: é um tanto quanto inchada. São 61 vozes, então acaba oferecendo um panorama bem amplo de toda a sigla LGBTQIAPN+; indispensável para quem estuda essa temática.
32. Uirapuru – Febraro de Oliveira
Prosa poética de um jovem autor sul-matogrossense; das vozes mais interessantes para se acompanhar atualmente.
33. Atire a Primeira Pedra – Mike Sullivan
Através de dois personagens, um réu e um psiquiatra encarregado de examiná-lo, o autor coloca em choque duas visões da homossexualidade: a doença que precisa ser curada e a possibilidade de se enquadrar num novo modelo de família. Dos melhores que li ano passado.
34. Outono de Carne Estranha – Airton Souza
O polêmico romance que balançou o Prêmio Sesc retrata relações gays no universo ultra masculino do garimpo da Serra Pelada.
35. Balé Ralé – Marcelino Freire
Dos melhores exemplos da prosa oral e musical do autor, uma visão lírica da homossexualidade contemporânea.
36. Sodomita – Alexandre Vidal Porto
Divertidíssimo romance histórico passado no Brasil colonial, baseado num personagem real condenado por sodomia.
37. Homens Elegantes – Samir Machado de Machado
Romance de capa-escapa gay, divertido e debochado.
38. Quarto Aberto – Tobias Carvalho:
Um retrato desse geração “poligâmica”, dos relacionamentos gays abertos, numa Porto Alegre pré-diluviana.
39. O Dia que Não Matei o Presidente – Celso Suarana
Recém lançado volume de contos sobre vingança, violência, amor e superação num Brasil dominado pela extrema-direita.
40. Veado Assassino – Santiago Nazarian
Um retrato da geração atual: tão fluída quanto indecisa, não binária e assexuada.