28/06/2006
Esta é a arte para a capa. Só mais uns ajustes. Ilustrações de Marco Túlio. Direção de arte de nós dois.
26/06/2006
BARBADOS E BABADOS
Acabo de traduzir e formatar as legendas de mais um filme aqui. Às vezes é um pouco frustrante, porque por mais que você queira colocar exatamente o que foi dito, é obrigado a simplificar a linguagem para caber dentro do tempo da legenda. Precisa cortar pronomes, repetições, adjetivos. Ainda mais porque a quantidade de caracteres das legendas em português geralmente é menor do que as do inglês – e as palavras portuguesas são maiores.
A produtora para quem eu trabalho tem o ótimo padrão de não censurar as legendas. Palavrões são traduzidos. Isso geralmente não acontece nas produtoras que trabalham com filmes de circuito. "Shit" é traduzido como "droga". "Fuck you" como "dane-se". "Son of a bitch" como "Filho da mãe". Realmente não faz sentido. Se o filme original (geralmente americano) já tem a censura adequada para esse tipo de linguagem, por que as coisas tem de ser suavizadas por aqui?
Mas mesmo assim, muitas vezes eu tenho de cortar os palavrões, simplesmente para caber no tempo das legendas. Se fôssemos colocar exatamente tudo o que é dito, não daria tempo para ler.
Isso sem contar que muitas vezes os diálogos que vêm de fora não batem com os diálogos do filme e você tem de tirar muita coisa de ouvido, ou das legendas na tela, quando existem. Já fiz filmes inteiros tirando de ouvido, e não é nada fácil. Não é só questão de entender o idioma, algumas palavras são ditas muito baixo, se misturam com outros ruídos, há nomes próprios que você não sabe como se escreve.
Lembro de uma mostra do Godard que minha mãe traduziu e eu fiz as legendas. Sofri tanto com aquela verborragia. Tinha de ficar de ouvido atento e meter as legendas à velocidade da luz para conseguir passar tudo o que era dito. Acho que o povo do cinema não conseguia ler nem metade. Mas também, os produtores disseram que não eram filmes para serem compreendidos na íntegra, que valia mais pelo som do que pelo sentido...
De qualquer forma, traduzir é o trabalho que me dá mais prazer, depois da escrita literária. Não me considero um tradutor fodaço, já cometi grandes barbeiragens, mas é um desafio. Sinto que me desenvolvo, aprendo, melhoro cada vez mais. E é tão difícil isso num trabalho. Geralmente a gente faz coisas que só dão dor-de-cabeça, ou não apresentam nada de novo, não acrescentam porra nenhuma.
O livro que estou traduzindo agora, por exemplo, tem sido delicioso. Não é um livro muito difícil, a parte do inglês é tranqüila. Mas sinto uma conexão tão legal com a autora, parece que enxergo claramente os bastidores, o que ela está tentando fazer, como chegou a determinada passagem. Acho que isso faz parte tanto do amadurecimento como tradutor quanto de escritor...
E no meu livro novo preparei umas boas, uma boas para uma eventual tradução. Acho que os tradutores vão penar. Hehe. Confesso que algumas frases escrevi especialmente pensando em foder com quem fosse pegar para traduzir. Faz parte da gincana.
Ai, ok, mas esse papo deve estar chato pra você, né?
Semana passada foi das mais culturais – muito cinema, teatro, debates literários. Vi Marçal Aquino e João Carrascozqa debatendo na Rato de Livraria. Gosto muito das coisas que o Marçal fala. Os processos e as convicções dele são muito parecidos com os meus. E ele é ótimo. Só não digo que quero ser igual a ele quando crescer porque barba não faz meu tipo. Haha
E eu também vou participar de um debate lá, na Rato de Livraria, dia 5 de agosto, com o Daniel Galera. Mais pra frente dou o serviço direitinho.
Também fui a duas peças ótimas: "O que Você Foi Quando Era Criança" do Lourenço Mutarelli, encenada pela Cia da Mentira, e "De Profundis", do Oscar Wilde, em montagem do Satyros. Acho que as duas já saíram de cartaz, então tarde demais pra você, baby...
Mas você ainda pode ver os ótimos filmes que andei vendo: "A Profecia" (novo) e "Seres Rastejantes". Haha. Poesia fina. Vi também "Buenos Aires a 100km", mas não achei nada. Nada demais e nada de menos.
De livros, não tenho lido nada muito interessante. Mas acabei de escrever um conto longo, de umas trinta páginas, para uma antologia que sai em breve. Vou-me com um parágrafo dele:
Agora estou aqui, estudando as possibilidades, pacientemente, numa batida de maracujá. Vendo o mar ir e voltar, esperando você. Nós dois moramos no mesmo prédio, mas você nunca está em casa. Nós dois olhamos para a mesma praia, mas você faz parte dela. Nós dois queimamos sob o mesmo sol, mas você nem sente. Antigamente...
Ah, e ia esquecendo. Este blog saiu semana passada na Istoé Gente, tem fotinho de divulgação minha nova, novamente tirada pelo Sr. Luciancencov (que fez, entre outras, a capa do "Feriado"). Vai lá:
http://www.terra.com.br/istoegente/357/diversao_arte/internet.htm
Acabo de traduzir e formatar as legendas de mais um filme aqui. Às vezes é um pouco frustrante, porque por mais que você queira colocar exatamente o que foi dito, é obrigado a simplificar a linguagem para caber dentro do tempo da legenda. Precisa cortar pronomes, repetições, adjetivos. Ainda mais porque a quantidade de caracteres das legendas em português geralmente é menor do que as do inglês – e as palavras portuguesas são maiores.
A produtora para quem eu trabalho tem o ótimo padrão de não censurar as legendas. Palavrões são traduzidos. Isso geralmente não acontece nas produtoras que trabalham com filmes de circuito. "Shit" é traduzido como "droga". "Fuck you" como "dane-se". "Son of a bitch" como "Filho da mãe". Realmente não faz sentido. Se o filme original (geralmente americano) já tem a censura adequada para esse tipo de linguagem, por que as coisas tem de ser suavizadas por aqui?
Mas mesmo assim, muitas vezes eu tenho de cortar os palavrões, simplesmente para caber no tempo das legendas. Se fôssemos colocar exatamente tudo o que é dito, não daria tempo para ler.
Isso sem contar que muitas vezes os diálogos que vêm de fora não batem com os diálogos do filme e você tem de tirar muita coisa de ouvido, ou das legendas na tela, quando existem. Já fiz filmes inteiros tirando de ouvido, e não é nada fácil. Não é só questão de entender o idioma, algumas palavras são ditas muito baixo, se misturam com outros ruídos, há nomes próprios que você não sabe como se escreve.
Lembro de uma mostra do Godard que minha mãe traduziu e eu fiz as legendas. Sofri tanto com aquela verborragia. Tinha de ficar de ouvido atento e meter as legendas à velocidade da luz para conseguir passar tudo o que era dito. Acho que o povo do cinema não conseguia ler nem metade. Mas também, os produtores disseram que não eram filmes para serem compreendidos na íntegra, que valia mais pelo som do que pelo sentido...
De qualquer forma, traduzir é o trabalho que me dá mais prazer, depois da escrita literária. Não me considero um tradutor fodaço, já cometi grandes barbeiragens, mas é um desafio. Sinto que me desenvolvo, aprendo, melhoro cada vez mais. E é tão difícil isso num trabalho. Geralmente a gente faz coisas que só dão dor-de-cabeça, ou não apresentam nada de novo, não acrescentam porra nenhuma.
O livro que estou traduzindo agora, por exemplo, tem sido delicioso. Não é um livro muito difícil, a parte do inglês é tranqüila. Mas sinto uma conexão tão legal com a autora, parece que enxergo claramente os bastidores, o que ela está tentando fazer, como chegou a determinada passagem. Acho que isso faz parte tanto do amadurecimento como tradutor quanto de escritor...
E no meu livro novo preparei umas boas, uma boas para uma eventual tradução. Acho que os tradutores vão penar. Hehe. Confesso que algumas frases escrevi especialmente pensando em foder com quem fosse pegar para traduzir. Faz parte da gincana.
Ai, ok, mas esse papo deve estar chato pra você, né?
Semana passada foi das mais culturais – muito cinema, teatro, debates literários. Vi Marçal Aquino e João Carrascozqa debatendo na Rato de Livraria. Gosto muito das coisas que o Marçal fala. Os processos e as convicções dele são muito parecidos com os meus. E ele é ótimo. Só não digo que quero ser igual a ele quando crescer porque barba não faz meu tipo. Haha
E eu também vou participar de um debate lá, na Rato de Livraria, dia 5 de agosto, com o Daniel Galera. Mais pra frente dou o serviço direitinho.
Também fui a duas peças ótimas: "O que Você Foi Quando Era Criança" do Lourenço Mutarelli, encenada pela Cia da Mentira, e "De Profundis", do Oscar Wilde, em montagem do Satyros. Acho que as duas já saíram de cartaz, então tarde demais pra você, baby...
Mas você ainda pode ver os ótimos filmes que andei vendo: "A Profecia" (novo) e "Seres Rastejantes". Haha. Poesia fina. Vi também "Buenos Aires a 100km", mas não achei nada. Nada demais e nada de menos.
De livros, não tenho lido nada muito interessante. Mas acabei de escrever um conto longo, de umas trinta páginas, para uma antologia que sai em breve. Vou-me com um parágrafo dele:
Agora estou aqui, estudando as possibilidades, pacientemente, numa batida de maracujá. Vendo o mar ir e voltar, esperando você. Nós dois moramos no mesmo prédio, mas você nunca está em casa. Nós dois olhamos para a mesma praia, mas você faz parte dela. Nós dois queimamos sob o mesmo sol, mas você nem sente. Antigamente...
Ah, e ia esquecendo. Este blog saiu semana passada na Istoé Gente, tem fotinho de divulgação minha nova, novamente tirada pelo Sr. Luciancencov (que fez, entre outras, a capa do "Feriado"). Vai lá:
http://www.terra.com.br/istoegente/357/diversao_arte/internet.htm
21/06/2006
PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FRUTAS
Eu não gosto de futebol. Não vejo graça nenhuma na Copa do Mundo. Não sinto emoção quando o Brasil faz um gol, nem mesmo assisto aos jogos. Mas não condeno todo esse fascínio, nem acho que é "pão e circo", "ópio do povo" e blablablá. Afinal, todo mundo tem suas fugas e alienações. Há quem condene o futebol, mas recorra ao ópio de fato. Então, cada um no seu gramado.
E entendo muito bem que as pessoas possam se identificar, considerar as vitórias de um time como as vitórias de um país. Com o futebol, isso é possível. Qualquer piá mal aprende a caminhar já colocam uma bola nos seus pés. Quando você é menino, a primeira coisa que outros meninos te perguntam é "para que time você torce". Você cresce cercado de futebol. Se torna-se jogador, foi o país inteiro que conspirou a favor. O país inteiro te treinou. Se você faz um gol, ainda mais na seleção, deve ao país inteiro, o país inteiro está com você.
Agora, fico pensando no que pensa a Daiane dos Santos. No que pensava Guga, o tenista? O país todo conspirando contra. Seus pais tirando do bolso pra você praticar. Aquele sofrimento para conseguir patrocínio. Ninguém acompanhando suas pequenas vitórias. Todo mundo só falando em futebol. Ah, não, nessa não, né, mané? Se eu ganhasse uma medalha na esgrima diria "É só minha. É só minha e ninguém tasca. Que mané ouro pro Brasil?! Esse ouro é meu!"
Mas agora só se fala em futebol. Interesse generalizado. Os meios de comunicação voltam a ser de massa. Não me interessa. O que satisfaz a todos não satisfaz a ninguém específico. Nunca gostei de futebol. Quando eu era criança, sofria por ter de jogar. Agora, não me obriguem a assistir.
E nem me obriguem a comentar. Não me obriguem a falar sobre isso. Há escritores muito profissionais que adoram o desafio de dar "um olhar próprio" a um tema que todos comentam. Eu prefiro dar meu olhar próprio comentando o que ninguém conhece. Ou quase ninguém. Afinal, literatura para mim é isso, novos universos. Quando se fala em Meios de Comunicação de Massa, a literatura não está inserida – a não ser que seja algo como Dan Brown. Quando se fala de Internet, também não. Internet é isso, escolhas individuais, mídia segmentada, interesses específicos e público pontual. É isso o que tenho a oferecer.
Oh, será que é por isso que não sou bestseller? Haha. E é por isso que não escrevo fixo em nenhum meio de comunicação de massa? Pelo menos a petizada perdida pode me encontrar por aqui. Esse é o povo que eu quero que venha até mim. Essa é a democracia dos blogs...
O que eu queria era que as pessoas praticassem mais isso. Fizessem suas próprias escolhas. Nada de leituras obrigatórias. Nada de assunto único. É como eu sempre digo: "o que você não sabe também faz parte do que você é". Então, se você não tiver o tijolinho "Machado de Assis" na sua construção vai fazer falta. Se tiver esse tijolinho e muitos outros, vai ser um cara mais completo. Agora, só vai ser um escritor único realmente se ao invés desse tijolo tiver outro, de mesmo calibre, que não se encontre tão fácil no mercado. E é isso o que eu estou procurando.
Infelizmente, como todos os outros, minhas fundações já estão comprometidas...
Porque os idiotas que inventaram esses "tijolos obrigatórios" já contaminaram todos os outros. Então você nunca vai conseguir encontrar um escritor depois do Machado que não tenha sido contaminado por ele, ainda que indiretamente: que não tenha sido contaminado por quem foi contaminado por ele. Assim como você nunca vai poder ouvir rock britânico sem contaminar-se com Beatles. Rock brasileiro sem Mutantes... MPB sem Caetano...
Por isso escuto Dussek, pra esquecer.
Quanto à parada: nada.
E, de qualquer forma, o Kaká é um pitelzinho...
Eu não gosto de futebol. Não vejo graça nenhuma na Copa do Mundo. Não sinto emoção quando o Brasil faz um gol, nem mesmo assisto aos jogos. Mas não condeno todo esse fascínio, nem acho que é "pão e circo", "ópio do povo" e blablablá. Afinal, todo mundo tem suas fugas e alienações. Há quem condene o futebol, mas recorra ao ópio de fato. Então, cada um no seu gramado.
E entendo muito bem que as pessoas possam se identificar, considerar as vitórias de um time como as vitórias de um país. Com o futebol, isso é possível. Qualquer piá mal aprende a caminhar já colocam uma bola nos seus pés. Quando você é menino, a primeira coisa que outros meninos te perguntam é "para que time você torce". Você cresce cercado de futebol. Se torna-se jogador, foi o país inteiro que conspirou a favor. O país inteiro te treinou. Se você faz um gol, ainda mais na seleção, deve ao país inteiro, o país inteiro está com você.
Agora, fico pensando no que pensa a Daiane dos Santos. No que pensava Guga, o tenista? O país todo conspirando contra. Seus pais tirando do bolso pra você praticar. Aquele sofrimento para conseguir patrocínio. Ninguém acompanhando suas pequenas vitórias. Todo mundo só falando em futebol. Ah, não, nessa não, né, mané? Se eu ganhasse uma medalha na esgrima diria "É só minha. É só minha e ninguém tasca. Que mané ouro pro Brasil?! Esse ouro é meu!"
Mas agora só se fala em futebol. Interesse generalizado. Os meios de comunicação voltam a ser de massa. Não me interessa. O que satisfaz a todos não satisfaz a ninguém específico. Nunca gostei de futebol. Quando eu era criança, sofria por ter de jogar. Agora, não me obriguem a assistir.
E nem me obriguem a comentar. Não me obriguem a falar sobre isso. Há escritores muito profissionais que adoram o desafio de dar "um olhar próprio" a um tema que todos comentam. Eu prefiro dar meu olhar próprio comentando o que ninguém conhece. Ou quase ninguém. Afinal, literatura para mim é isso, novos universos. Quando se fala em Meios de Comunicação de Massa, a literatura não está inserida – a não ser que seja algo como Dan Brown. Quando se fala de Internet, também não. Internet é isso, escolhas individuais, mídia segmentada, interesses específicos e público pontual. É isso o que tenho a oferecer.
Oh, será que é por isso que não sou bestseller? Haha. E é por isso que não escrevo fixo em nenhum meio de comunicação de massa? Pelo menos a petizada perdida pode me encontrar por aqui. Esse é o povo que eu quero que venha até mim. Essa é a democracia dos blogs...
O que eu queria era que as pessoas praticassem mais isso. Fizessem suas próprias escolhas. Nada de leituras obrigatórias. Nada de assunto único. É como eu sempre digo: "o que você não sabe também faz parte do que você é". Então, se você não tiver o tijolinho "Machado de Assis" na sua construção vai fazer falta. Se tiver esse tijolinho e muitos outros, vai ser um cara mais completo. Agora, só vai ser um escritor único realmente se ao invés desse tijolo tiver outro, de mesmo calibre, que não se encontre tão fácil no mercado. E é isso o que eu estou procurando.
Infelizmente, como todos os outros, minhas fundações já estão comprometidas...
Porque os idiotas que inventaram esses "tijolos obrigatórios" já contaminaram todos os outros. Então você nunca vai conseguir encontrar um escritor depois do Machado que não tenha sido contaminado por ele, ainda que indiretamente: que não tenha sido contaminado por quem foi contaminado por ele. Assim como você nunca vai poder ouvir rock britânico sem contaminar-se com Beatles. Rock brasileiro sem Mutantes... MPB sem Caetano...
Por isso escuto Dussek, pra esquecer.
Quanto à parada: nada.
E, de qualquer forma, o Kaká é um pitelzinho...
14/06/2006
A MALDIÇÃO DAS PRATELEIRAS
Uma das grandes alegrias e maldições de ser escritor é receber livros de presentes. Alegria por motivos óbvios, maldição pela quantidade de coisas toscas que chegam, gente ansiosa pedindo opinião...
Mas até que este ano está uma quantidade razoável, eu recebia mais livros ano passado, talvez porque estava escrevendo mais na Folha, ou talvez porque estava mais na mídia, com a turnê do "Feriado".
Só que hoje chegou uma caixa com quarenta... 40 livros de uma vez! E todos dos melhores! É a Nova Fronteira, minha atual editora, que comemora 40 anos reeditando alguns de seus maiores clássicos com apresentações de escritores e celebridades. Tem coisas como: "Flores do Mal" do Baudelaire com apresentação do Marcelo Jacques, "Sargento Getúlio" do João Ubaldo com apresentação do Moacyr Scliar, "Razão e Sentimento" da Jane Austen com apresentação da Lygia Faundes Telles, "Mrs. Dalloway" da Virgína Woolf com apresentação da Marília Gabriela, além de "O Senhor das Moscas" do William Golding com a minha apresentação. As edições também são bem bonitinhas, algo um pouco mais requintado do que um pocket. Vai incrementar bem minha biblioteca.
Até eu ir morar sozinho, aos 22 anos, eu não comprava muita livro. Minha mãe tem uma biblioteca imensa e sempre que eu queria alguma coisa de Oscar Wilde estava lá. Procurando com cuidado encontrava um Caio Fernando Abreu, Herman Hesse, William Peter Blatty e todos esses clássicos da minha adolescência. Depois tive de formar minha própria biblioteca, com generosas doações da minha mãe, é claro.
Também recebi muitos autores americanos de um professor que conheci pela net. Escrevi a resenha de um livro na Amazon, ele leu, comprou o livro e achou uma merda. Haha. Resolveu me educar na boa literatura americana contemporânea e começou a me enviar coisas, Spanbauer, Swanson, Hollinghurst, isso lá pelo final dos anos 90. Ano passado ele retornou das trevas e me mandou mais alguns, inclusive um "Budapeste" do Chico Buarque, em inglês! (isso eu não entendi...)
Queria ter mais dinheiro para comprar livros de foto/arte. Tenho alguns, mas ainda numa prateleira só: Sally Mann, Pierre et Gilles, Giger, Warhol, Peter Witkin. (Não me falem de La Chapelle, que é bobagem... e sim, eu tenho livro dele, já fui adolescente viadinho... ) Em Paris as livrarias tinham coisas tão incríveis, mas eu não tinha grana, viajava só com uma mochila, e livro pesa...
Enfim, biblioteca a gente vai construindo aos poucos. E já tenho uma incrementada para receber de herança... Haha. Desculpe, mamãe...
Uma das grandes alegrias e maldições de ser escritor é receber livros de presentes. Alegria por motivos óbvios, maldição pela quantidade de coisas toscas que chegam, gente ansiosa pedindo opinião...
Mas até que este ano está uma quantidade razoável, eu recebia mais livros ano passado, talvez porque estava escrevendo mais na Folha, ou talvez porque estava mais na mídia, com a turnê do "Feriado".
Só que hoje chegou uma caixa com quarenta... 40 livros de uma vez! E todos dos melhores! É a Nova Fronteira, minha atual editora, que comemora 40 anos reeditando alguns de seus maiores clássicos com apresentações de escritores e celebridades. Tem coisas como: "Flores do Mal" do Baudelaire com apresentação do Marcelo Jacques, "Sargento Getúlio" do João Ubaldo com apresentação do Moacyr Scliar, "Razão e Sentimento" da Jane Austen com apresentação da Lygia Faundes Telles, "Mrs. Dalloway" da Virgína Woolf com apresentação da Marília Gabriela, além de "O Senhor das Moscas" do William Golding com a minha apresentação. As edições também são bem bonitinhas, algo um pouco mais requintado do que um pocket. Vai incrementar bem minha biblioteca.
Até eu ir morar sozinho, aos 22 anos, eu não comprava muita livro. Minha mãe tem uma biblioteca imensa e sempre que eu queria alguma coisa de Oscar Wilde estava lá. Procurando com cuidado encontrava um Caio Fernando Abreu, Herman Hesse, William Peter Blatty e todos esses clássicos da minha adolescência. Depois tive de formar minha própria biblioteca, com generosas doações da minha mãe, é claro.
Também recebi muitos autores americanos de um professor que conheci pela net. Escrevi a resenha de um livro na Amazon, ele leu, comprou o livro e achou uma merda. Haha. Resolveu me educar na boa literatura americana contemporânea e começou a me enviar coisas, Spanbauer, Swanson, Hollinghurst, isso lá pelo final dos anos 90. Ano passado ele retornou das trevas e me mandou mais alguns, inclusive um "Budapeste" do Chico Buarque, em inglês! (isso eu não entendi...)
Queria ter mais dinheiro para comprar livros de foto/arte. Tenho alguns, mas ainda numa prateleira só: Sally Mann, Pierre et Gilles, Giger, Warhol, Peter Witkin. (Não me falem de La Chapelle, que é bobagem... e sim, eu tenho livro dele, já fui adolescente viadinho... ) Em Paris as livrarias tinham coisas tão incríveis, mas eu não tinha grana, viajava só com uma mochila, e livro pesa...
Enfim, biblioteca a gente vai construindo aos poucos. E já tenho uma incrementada para receber de herança... Haha. Desculpe, mamãe...
12/06/2006
OLHOS PUXADOS E LÍNGUA AFIADA
Finalmente o pessoal das mostras de cinema está descobrindo que nem tudo é Truffaut e Fellini. Agora descobriram Takashi Miike e pipocam filmes dele aqui e acolá, já que nunca nenhum entrou oficialmente em cartaz.
Só esta semana eu vi dois, em duas mostras distintas. Um na sessão Comodoro - organizada pelo Carlão Reichenbach no Cinesesc, toda primeira quarta-feira do mês - e outro no Cine Olido, na mostra "Oriente Extremo".
O primeiro se chama "Visitante Q" e é uma espécie de pornochanchada escatológica surrealista, com direito a incesto, necrofilia e lactofilia (se é que esse termo existe). Divertido, mas nada que se compare ao clássico máximo dele, "Audition" (que vai passar novamente mês que vem, no CCBB – e provavelmente eu vou fazer as legendas).
O segundo é "Ichi, the Killer", certamente o filme que mais inspirou Tarantino a fazer Kill Bill. É uma seqüência interminável de jugulares esguichando, línguas cortadas, corpos partidos no meio. Também é divertido, mas comprido demaaaaaaaais. E eu não sou muito fã desses filmes de máfia e vingança. Se é para ver sangue, que seja com monstros e psicopatas do inferno.
Entretanto, no mesmo Cine Olido, pude ver na sexta passada o "Battle Royale", de outro diretor, Kinji Fukasaku, esse sim um puta filme, ainda que de entretenimento.
Num futuro próximo, no Japão, os adolescentes se tornaram vândalos alucinados e não conseguem mais ser controlados nas escolas. Por causa disso, o governo aprova um programa de raptar e mandar jovens para uma ilha deserta, onde eles têm de disputar o "Battle Royale", jogo onde têm até três dias para um matar o outro. Obviamente, vence o único que sobreviver.
O filme é uma espécie de "Lost" com "X-men". Cada jovem recebe uma mochila com mantimentos e uma arma – que pode ser desde um binóculo até uma metralhadora, depende da sorte de cada um. O mais interessante é que as reações dos adolescentes são as mais diversas e mais reais possíveis. Alguns se recusam a entrar no jogo, mas não podem fazer nada se outros estão metralhando os colegas feito loucos, apenas fugir. Têm os valentões, os nerds, as putinhas, as richas pessoais de escola, tudo levado a uma outra dimensão, quando adolescentes têm de lutar por suas vidas. Muito bom.
E continuando no cinema oriental, no final do mês o Cine Olido vai fazer uma retrospectiva do Wong Kar Wai. Uma pena que só vão passar os filmes dele que já entraram em cartaz ("Amores Expressos", "Anjos Caídos", "Felizes Juntos", "Amor à Flor da Pele" e "2046"). Afinal, Wong Kar Wai também já está ficando carne de vaca, tinham de se puxar mais e trazer algo novo dele.
Este final de semana recebi novos filminhos aqui para traduzir, tudo de terror, eba! Um deles que acabei de ver é uma mistura de "Bruxa de Blair" com "Alien – O Oitavo Passageiro", mas ainda não vou dizer o nome. Quando for passar eu dou todo o serviço direitinho.
Além das traduções, estou trabalhando em outros projetinhos para cinema que podem render coisas legais... Não, o filme de "Feriado de Mim Mesmo" está estacionado e talvez seja guinchado e mandado para o ferro-velho. Mas se algum diretor tiver alguma proposta... o roteiro está pronto. É baratinho, uma locação só, um ator só... (e que não seja o onipresente Matheus Nachtergaele! Haha). Vamos lá, pessoal, nem todo filme brasileiro tem de ser bege.
Dos livros hoje não vou dizer nada.
Finalmente o pessoal das mostras de cinema está descobrindo que nem tudo é Truffaut e Fellini. Agora descobriram Takashi Miike e pipocam filmes dele aqui e acolá, já que nunca nenhum entrou oficialmente em cartaz.
Só esta semana eu vi dois, em duas mostras distintas. Um na sessão Comodoro - organizada pelo Carlão Reichenbach no Cinesesc, toda primeira quarta-feira do mês - e outro no Cine Olido, na mostra "Oriente Extremo".
O primeiro se chama "Visitante Q" e é uma espécie de pornochanchada escatológica surrealista, com direito a incesto, necrofilia e lactofilia (se é que esse termo existe). Divertido, mas nada que se compare ao clássico máximo dele, "Audition" (que vai passar novamente mês que vem, no CCBB – e provavelmente eu vou fazer as legendas).
O segundo é "Ichi, the Killer", certamente o filme que mais inspirou Tarantino a fazer Kill Bill. É uma seqüência interminável de jugulares esguichando, línguas cortadas, corpos partidos no meio. Também é divertido, mas comprido demaaaaaaaais. E eu não sou muito fã desses filmes de máfia e vingança. Se é para ver sangue, que seja com monstros e psicopatas do inferno.
Entretanto, no mesmo Cine Olido, pude ver na sexta passada o "Battle Royale", de outro diretor, Kinji Fukasaku, esse sim um puta filme, ainda que de entretenimento.
Num futuro próximo, no Japão, os adolescentes se tornaram vândalos alucinados e não conseguem mais ser controlados nas escolas. Por causa disso, o governo aprova um programa de raptar e mandar jovens para uma ilha deserta, onde eles têm de disputar o "Battle Royale", jogo onde têm até três dias para um matar o outro. Obviamente, vence o único que sobreviver.
O filme é uma espécie de "Lost" com "X-men". Cada jovem recebe uma mochila com mantimentos e uma arma – que pode ser desde um binóculo até uma metralhadora, depende da sorte de cada um. O mais interessante é que as reações dos adolescentes são as mais diversas e mais reais possíveis. Alguns se recusam a entrar no jogo, mas não podem fazer nada se outros estão metralhando os colegas feito loucos, apenas fugir. Têm os valentões, os nerds, as putinhas, as richas pessoais de escola, tudo levado a uma outra dimensão, quando adolescentes têm de lutar por suas vidas. Muito bom.
E continuando no cinema oriental, no final do mês o Cine Olido vai fazer uma retrospectiva do Wong Kar Wai. Uma pena que só vão passar os filmes dele que já entraram em cartaz ("Amores Expressos", "Anjos Caídos", "Felizes Juntos", "Amor à Flor da Pele" e "2046"). Afinal, Wong Kar Wai também já está ficando carne de vaca, tinham de se puxar mais e trazer algo novo dele.
Este final de semana recebi novos filminhos aqui para traduzir, tudo de terror, eba! Um deles que acabei de ver é uma mistura de "Bruxa de Blair" com "Alien – O Oitavo Passageiro", mas ainda não vou dizer o nome. Quando for passar eu dou todo o serviço direitinho.
Além das traduções, estou trabalhando em outros projetinhos para cinema que podem render coisas legais... Não, o filme de "Feriado de Mim Mesmo" está estacionado e talvez seja guinchado e mandado para o ferro-velho. Mas se algum diretor tiver alguma proposta... o roteiro está pronto. É baratinho, uma locação só, um ator só... (e que não seja o onipresente Matheus Nachtergaele! Haha). Vamos lá, pessoal, nem todo filme brasileiro tem de ser bege.
Dos livros hoje não vou dizer nada.
09/06/2006
CALUDA, TAMBORINS, CALUDA
"Mais uma noite em companhia dos fantasmas. Mais uma noite iluminado por eles. Fantasmas da televisão iluminando meu rosto, queimando minha noite, refletindo nas paredes, gritando no meu ouvido que eu estava sozinho. Eu estava sozinho. Mas os fantasmas da televisão multiplicavam minha falta de companhia. Fantasmas na televisão multiplicavam a ausência que eu buscava; tudo o que eu tinha. Se eu estava sozinho, ao menos tinha de me esforçar para enxergar..."
Bobagem, só literatura. Só algo que estou escrevendo. Estou escrevendo tantas coisas aqui em casa que tenho medo da tendinite e do LER. De uns dias pra cá as coisas se intensificaram bastante. Novas propostas, novas possibilidades de ação. Textos que não são meus conduzindo a minha escrita, traduções, roteiros. Vamos ver o que disso se torna realmente concreto. Nunca acredito nos outros. Só acredito mesmo nos meus projetos. Esse é o bom da literatura, minhas crianças, você só depende de si mesmo. E, até hoje, consegui publicar tudo no que acreditava.
Falando "nos outros", engraçado as comunicações que se faz na leitura, principalmente quando você também escreve. Hoje estava traduzindo uma passagem que me pareceu um pouco falsa, e a autora, como personagem, encerrava falando que não era assim que ele se sentia realmente. A questão é que eu não sabia se um cara naquela situação se sentiria realmente daquela maneira, provavelmente nem a autora. E talvez por isso ela tenha colocado o próprio personagem em dúvida: sentia-se realmente assim ou estava apenas projetando sentimentos ideais? Entende? Isso é um grau de profundidade na leitura muito prazeroso e fiquei satisfeito por sentir naquele momento que eu sabia exatamente o que a autora estava fazendo. E ela também, ela também sabia. Ao menos sabia como resolver aquela limitação.
Ai, pára, pára, pára com isso, não me encha o saco, saia daqui, saia daqui!
Caluda, tamborins, caluda...
Também tenho feito uma série de entrevistas para um artigo que estou escrevendo sobre "noite". "Vida noturna nos dias de hoje", seria mais fácil dizer. É gostoso fazer entrevistas, né? Você só solta o novelo e vê os gatos brincando, puxa para um lado e vê o que eles fazem, se eles ficam quietinhos você agita mais um pouquinho. E na verdade as perguntas são em cima de muita coisa que você acredita, mas na verdade as pessoas não confirmam nada, levam para outra direção, ou contradizem. É como uma conversa silenciosa. Ou como uma conversa disposta a ouvir o outro. Afinal, quem está disposto a ouvir o outro? Eu não tinha esse costume, agora estou tendo. E estou gostando.
Aaaaaaaai..
E hoje estava vendo uma menina, a Luara, tão plena e radiante, com seu sorriso de verão. Tão cheia de vida. Fiquei feliz só dela estar feliz...
Haha. Vai se foder...
Hoje coloquei uma frase no meu caminhão: "Tanto no sexo quanto na vida, quem tem posição definida não tem imaginação."
Isso não está dando certo. Depois eu volto. Estou ouvindo aqui:
But I don’t have the right to be with you tonight, so please leave me alone with no saviour inside. I’ll sleep safe and sound with nobody around me. - Catatonia
"Mais uma noite em companhia dos fantasmas. Mais uma noite iluminado por eles. Fantasmas da televisão iluminando meu rosto, queimando minha noite, refletindo nas paredes, gritando no meu ouvido que eu estava sozinho. Eu estava sozinho. Mas os fantasmas da televisão multiplicavam minha falta de companhia. Fantasmas na televisão multiplicavam a ausência que eu buscava; tudo o que eu tinha. Se eu estava sozinho, ao menos tinha de me esforçar para enxergar..."
Bobagem, só literatura. Só algo que estou escrevendo. Estou escrevendo tantas coisas aqui em casa que tenho medo da tendinite e do LER. De uns dias pra cá as coisas se intensificaram bastante. Novas propostas, novas possibilidades de ação. Textos que não são meus conduzindo a minha escrita, traduções, roteiros. Vamos ver o que disso se torna realmente concreto. Nunca acredito nos outros. Só acredito mesmo nos meus projetos. Esse é o bom da literatura, minhas crianças, você só depende de si mesmo. E, até hoje, consegui publicar tudo no que acreditava.
Falando "nos outros", engraçado as comunicações que se faz na leitura, principalmente quando você também escreve. Hoje estava traduzindo uma passagem que me pareceu um pouco falsa, e a autora, como personagem, encerrava falando que não era assim que ele se sentia realmente. A questão é que eu não sabia se um cara naquela situação se sentiria realmente daquela maneira, provavelmente nem a autora. E talvez por isso ela tenha colocado o próprio personagem em dúvida: sentia-se realmente assim ou estava apenas projetando sentimentos ideais? Entende? Isso é um grau de profundidade na leitura muito prazeroso e fiquei satisfeito por sentir naquele momento que eu sabia exatamente o que a autora estava fazendo. E ela também, ela também sabia. Ao menos sabia como resolver aquela limitação.
Ai, pára, pára, pára com isso, não me encha o saco, saia daqui, saia daqui!
Caluda, tamborins, caluda...
Também tenho feito uma série de entrevistas para um artigo que estou escrevendo sobre "noite". "Vida noturna nos dias de hoje", seria mais fácil dizer. É gostoso fazer entrevistas, né? Você só solta o novelo e vê os gatos brincando, puxa para um lado e vê o que eles fazem, se eles ficam quietinhos você agita mais um pouquinho. E na verdade as perguntas são em cima de muita coisa que você acredita, mas na verdade as pessoas não confirmam nada, levam para outra direção, ou contradizem. É como uma conversa silenciosa. Ou como uma conversa disposta a ouvir o outro. Afinal, quem está disposto a ouvir o outro? Eu não tinha esse costume, agora estou tendo. E estou gostando.
Aaaaaaaai..
E hoje estava vendo uma menina, a Luara, tão plena e radiante, com seu sorriso de verão. Tão cheia de vida. Fiquei feliz só dela estar feliz...
Haha. Vai se foder...
Hoje coloquei uma frase no meu caminhão: "Tanto no sexo quanto na vida, quem tem posição definida não tem imaginação."
Isso não está dando certo. Depois eu volto. Estou ouvindo aqui:
But I don’t have the right to be with you tonight, so please leave me alone with no saviour inside. I’ll sleep safe and sound with nobody around me. - Catatonia
05/06/2006
FILME OFÍDICO
Começou uma mostra de filmes orientais no Cine Olido, aqui em SP – Oriente Extremo – com obras violentas, toscas e gory. O primeiro ciclo é com filmes dos anos 60/70, depois começam os filmes mais recentes, e mais interessantes.
Falando nisso, eu estava todo faceiro porque tinha recebido "Audition", do Takashi Miike para traduzir (a partir das legendas em inglês, claro), mas parece que a produtora descobriu alguém que já tinha as legendas em português e o trabalho miou. Pena. Esse é um dos meus filmes de terror favoritos, com certeza "cinema extremo". De qualquer forma, devo legendar (quero dizer, colocar as legendas) nesse filme para uma outra mostra que vai rolar mês que vem, porque a produtora é moça delicada que não quer se lambuzar com essa sanguinolência...
E o trabalho com filmes não tem se limitado às traduções. Terminei recentemente o roteiro do curta "Pó de Vidro e Veneno de Cobra" que deve ser dirigido pelo Nicolas Graves. Começamos a produção esta semana e se tudo der certo conseguiremos fazer uma exibição na noite de lançamento de "Mastigando Humanos", em setembro, aqui em São Paulo.
E falando no "Mastigando", hoje demos o toque final na capa, com os desenhos do Marco Túlio. Maravilha. Coisa totalmente pop, sim, como nenhum outro livro meu. Quem imaginaria que eu teria a Torre Eiffel, uma caveira, uma cascavel, um homem sem cabeça, camisinhas usadas e uma espinha de peixe na mesma capa? Afinal, este é um romance psicodélico. Aguardem. Aguardem. Ficou bonitinho, não se preocupem.
Também estou trabalhando num projetinho internacional. Sim, sim, já tenho obras em Portugal e Itália, agora me preparo para a Inglaterra. Nada muito certo ainda, mas recebi a proposta de lançar um livro pequeno, reunindo três contos longos (ou três novelas curtas) que já saíram aqui no Brasil. É coisa para exportação mesmo, meus três contos mais "brasileiros", ainda que sinistros. O nome planejado é "BY THE DEEP, DARK SEA". E dou mais detalhes quando (e se) for tudo confirmado.
De trabalho meeeeeesmo, a tradução de mais um livro – "This Book will Save Your Life" – de A. M. Homes. O nome vem bem a calhar, no meu atual estágio de falência financeira.
E já chorei aqui a morte de Rocío Jurado?
Amanhã é dia 666, se os cenobitas me pouparem, Demian virá me buscar...
Começou uma mostra de filmes orientais no Cine Olido, aqui em SP – Oriente Extremo – com obras violentas, toscas e gory. O primeiro ciclo é com filmes dos anos 60/70, depois começam os filmes mais recentes, e mais interessantes.
Falando nisso, eu estava todo faceiro porque tinha recebido "Audition", do Takashi Miike para traduzir (a partir das legendas em inglês, claro), mas parece que a produtora descobriu alguém que já tinha as legendas em português e o trabalho miou. Pena. Esse é um dos meus filmes de terror favoritos, com certeza "cinema extremo". De qualquer forma, devo legendar (quero dizer, colocar as legendas) nesse filme para uma outra mostra que vai rolar mês que vem, porque a produtora é moça delicada que não quer se lambuzar com essa sanguinolência...
E o trabalho com filmes não tem se limitado às traduções. Terminei recentemente o roteiro do curta "Pó de Vidro e Veneno de Cobra" que deve ser dirigido pelo Nicolas Graves. Começamos a produção esta semana e se tudo der certo conseguiremos fazer uma exibição na noite de lançamento de "Mastigando Humanos", em setembro, aqui em São Paulo.
E falando no "Mastigando", hoje demos o toque final na capa, com os desenhos do Marco Túlio. Maravilha. Coisa totalmente pop, sim, como nenhum outro livro meu. Quem imaginaria que eu teria a Torre Eiffel, uma caveira, uma cascavel, um homem sem cabeça, camisinhas usadas e uma espinha de peixe na mesma capa? Afinal, este é um romance psicodélico. Aguardem. Aguardem. Ficou bonitinho, não se preocupem.
Também estou trabalhando num projetinho internacional. Sim, sim, já tenho obras em Portugal e Itália, agora me preparo para a Inglaterra. Nada muito certo ainda, mas recebi a proposta de lançar um livro pequeno, reunindo três contos longos (ou três novelas curtas) que já saíram aqui no Brasil. É coisa para exportação mesmo, meus três contos mais "brasileiros", ainda que sinistros. O nome planejado é "BY THE DEEP, DARK SEA". E dou mais detalhes quando (e se) for tudo confirmado.
De trabalho meeeeeesmo, a tradução de mais um livro – "This Book will Save Your Life" – de A. M. Homes. O nome vem bem a calhar, no meu atual estágio de falência financeira.
E já chorei aqui a morte de Rocío Jurado?
Amanhã é dia 666, se os cenobitas me pouparem, Demian virá me buscar...
01/06/2006
NA SARJETA, OLHANDO O STARFIX
Continuou examinando entre os tacos e encontrou uma porção de coisas. Lá já havia pedaços de unha; lá já estavam fios de cabelos. De quem eram, ele examinava, e nunca encontraria as respostas. Os fios eram apenas fios, podiam ser seus ou de qualquer outro, castanhos curtos, loiros compridos, ruivos tingidos, trazidos pelo vento, pelas roupas, por antigos moradores. Faziam a memória orgânica do apartamento. Os restos humanos da casa. Quem sabe o que viveram aqueles que derramaram? Quem sabe quais eram suas histórias?
Uma grande paixão que terminava, beijos ardentes e mãos no cabelo. Um garoto indo pra escola, sua mãe escovando-o na frente do espelho. Um tiro, uma morte. Um tapa no rosto e um golpe de sorte. Ele examinava aqueles restos no chão e nem podia dizer quais não eram seus. Nem podia dizer quais não eram apenas ele mesmo. – de Feriado de Mim Mesmo
Eu que o diga! Estou aqui, jogado em casa, examinando os restos do meu próprio apartamento, Sr Schimidt! Meu chão também é de tacos e eles também não se encaixam muito bem, nada se encaixa, eu fico recolhendo os restos de vidas anteriores que não completam o quebra-cabeças...
Mas esse quebra-cabeças hoje está mais para Poltergeist do que Hellraiser. Na janela do meu quarto, pregada como adesivo, está Nossa Senhora e a frase: "Rainha da Paz, rogai por nós". É apenas para me fazer sentir culpado por todos os pecados que derramo no quarto. As manchas no colchão. As marcas na parede. Contarão as histórias de todos por quem derramei...
Mas Nossa Senhora não é nada, não é nada comparada a outras assombrações que encontro pelo quarto. Há alguns dias que reparei que, quando ligo a lâmpada de radiação reptílica, a televisão liga e desliga sozinha. Muda canais. Algo bem Poltergeist. É compreensível, a radiação deve funcionar como uma espécie de controle remoto, tudo bem...
Só que ontem eu vi algo assustador... a cama no meio do quarto... uma garotinha deitada nela, olhando para o teto, estrelas brilhando sobre a sua cabeça.
Não exatamente um fantasma, não, apenas um rastro do que poderia ter sido. Quero dizer, as estrelas estavam lá, como aqueles adesivos que brilham no escuro, e imaginei quem as havia colado no teto, naquele canto do quarto, onde a cama devia ficar anteriormente...
E como eu nunca havia visto as estrelas antes, você me pergunta? Acontece que o teto foi pintado. E pintaram POR CIMA das estrelas. Uma grossa camada de tinta cobrindo o starfix. Os pintores nem se deram ao trabalho de remover os adesivos. E ontem, como a lâmpada de radiação ficou ligada a noite toda, os raios PENETRARAM na tinta e ressuscitaram as estrelas. Acredite se quiser, o starfix brilhava POR BAIXO da tinta e era perfeitamente visível. Assustador. Imagina você descobrir que há uma constelação no seu teto, onde antes não havia nada.
Não vou citar Wilde novamente. Prefiro confeitar o post com Suede, que também tem a ver com o caso:
Could have had a car, could have had it all, could have walked in the sky but we stare at the wall.
Por falar em comprar um carro, encontrei uma passagem bem bonitinha no final do livro do Fante:
"O telegrama dizia: seu livro aceito enviando contrato hoje. Era tudo. Deixei o papel flutuar até o tapete. Fiquei sentado ali. Então abaixei-me até o chão e comecei a beijar o telegrama. Rastejei para baixo da cama e simplesmente fiquei ali. Não precisava mais da luz do sol. Nem da terra, nem do céu. Simplesmente fiquei ali, feliz de morrer. Nada mais podia acontecer a mim. Minha vida havia terminado." - de Pergunte ao Pó
Haha. Então, Bandini, o personagem, com o dinheiro do adiantamento do seu primeiro livro fica rico, compra várias roupas e até um carro! hahaha. Tristeza. Se um jovem escritor aqui no Brasil ganha ALGUM adiantamento com seu primeiro livro já é de se comemorar. Quer dizer então que Bandini passa fome, se sacrifica por sua arte porque há uma esperança, há possibilidade de ser salvo por ela... Já hoje e aqui...
Ora, ora, mas eu que já estou no quarto romance, estou montado na bufunfa. Tchau, ralé.
Continuou examinando entre os tacos e encontrou uma porção de coisas. Lá já havia pedaços de unha; lá já estavam fios de cabelos. De quem eram, ele examinava, e nunca encontraria as respostas. Os fios eram apenas fios, podiam ser seus ou de qualquer outro, castanhos curtos, loiros compridos, ruivos tingidos, trazidos pelo vento, pelas roupas, por antigos moradores. Faziam a memória orgânica do apartamento. Os restos humanos da casa. Quem sabe o que viveram aqueles que derramaram? Quem sabe quais eram suas histórias?
Uma grande paixão que terminava, beijos ardentes e mãos no cabelo. Um garoto indo pra escola, sua mãe escovando-o na frente do espelho. Um tiro, uma morte. Um tapa no rosto e um golpe de sorte. Ele examinava aqueles restos no chão e nem podia dizer quais não eram seus. Nem podia dizer quais não eram apenas ele mesmo. – de Feriado de Mim Mesmo
Eu que o diga! Estou aqui, jogado em casa, examinando os restos do meu próprio apartamento, Sr Schimidt! Meu chão também é de tacos e eles também não se encaixam muito bem, nada se encaixa, eu fico recolhendo os restos de vidas anteriores que não completam o quebra-cabeças...
Mas esse quebra-cabeças hoje está mais para Poltergeist do que Hellraiser. Na janela do meu quarto, pregada como adesivo, está Nossa Senhora e a frase: "Rainha da Paz, rogai por nós". É apenas para me fazer sentir culpado por todos os pecados que derramo no quarto. As manchas no colchão. As marcas na parede. Contarão as histórias de todos por quem derramei...
Mas Nossa Senhora não é nada, não é nada comparada a outras assombrações que encontro pelo quarto. Há alguns dias que reparei que, quando ligo a lâmpada de radiação reptílica, a televisão liga e desliga sozinha. Muda canais. Algo bem Poltergeist. É compreensível, a radiação deve funcionar como uma espécie de controle remoto, tudo bem...
Só que ontem eu vi algo assustador... a cama no meio do quarto... uma garotinha deitada nela, olhando para o teto, estrelas brilhando sobre a sua cabeça.
Não exatamente um fantasma, não, apenas um rastro do que poderia ter sido. Quero dizer, as estrelas estavam lá, como aqueles adesivos que brilham no escuro, e imaginei quem as havia colado no teto, naquele canto do quarto, onde a cama devia ficar anteriormente...
E como eu nunca havia visto as estrelas antes, você me pergunta? Acontece que o teto foi pintado. E pintaram POR CIMA das estrelas. Uma grossa camada de tinta cobrindo o starfix. Os pintores nem se deram ao trabalho de remover os adesivos. E ontem, como a lâmpada de radiação ficou ligada a noite toda, os raios PENETRARAM na tinta e ressuscitaram as estrelas. Acredite se quiser, o starfix brilhava POR BAIXO da tinta e era perfeitamente visível. Assustador. Imagina você descobrir que há uma constelação no seu teto, onde antes não havia nada.
Não vou citar Wilde novamente. Prefiro confeitar o post com Suede, que também tem a ver com o caso:
Could have had a car, could have had it all, could have walked in the sky but we stare at the wall.
Por falar em comprar um carro, encontrei uma passagem bem bonitinha no final do livro do Fante:
"O telegrama dizia: seu livro aceito enviando contrato hoje. Era tudo. Deixei o papel flutuar até o tapete. Fiquei sentado ali. Então abaixei-me até o chão e comecei a beijar o telegrama. Rastejei para baixo da cama e simplesmente fiquei ali. Não precisava mais da luz do sol. Nem da terra, nem do céu. Simplesmente fiquei ali, feliz de morrer. Nada mais podia acontecer a mim. Minha vida havia terminado." - de Pergunte ao Pó
Haha. Então, Bandini, o personagem, com o dinheiro do adiantamento do seu primeiro livro fica rico, compra várias roupas e até um carro! hahaha. Tristeza. Se um jovem escritor aqui no Brasil ganha ALGUM adiantamento com seu primeiro livro já é de se comemorar. Quer dizer então que Bandini passa fome, se sacrifica por sua arte porque há uma esperança, há possibilidade de ser salvo por ela... Já hoje e aqui...
Ora, ora, mas eu que já estou no quarto romance, estou montado na bufunfa. Tchau, ralé.
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