21/06/2006

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FRUTAS

Eu não gosto de futebol. Não vejo graça nenhuma na Copa do Mundo. Não sinto emoção quando o Brasil faz um gol, nem mesmo assisto aos jogos. Mas não condeno todo esse fascínio, nem acho que é "pão e circo", "ópio do povo" e blablablá. Afinal, todo mundo tem suas fugas e alienações. Há quem condene o futebol, mas recorra ao ópio de fato. Então, cada um no seu gramado.

E entendo muito bem que as pessoas possam se identificar, considerar as vitórias de um time como as vitórias de um país. Com o futebol, isso é possível. Qualquer piá mal aprende a caminhar já colocam uma bola nos seus pés. Quando você é menino, a primeira coisa que outros meninos te perguntam é "para que time você torce". Você cresce cercado de futebol. Se torna-se jogador, foi o país inteiro que conspirou a favor. O país inteiro te treinou. Se você faz um gol, ainda mais na seleção, deve ao país inteiro, o país inteiro está com você.

Agora, fico pensando no que pensa a Daiane dos Santos. No que pensava Guga, o tenista? O país todo conspirando contra. Seus pais tirando do bolso pra você praticar. Aquele sofrimento para conseguir patrocínio. Ninguém acompanhando suas pequenas vitórias. Todo mundo só falando em futebol. Ah, não, nessa não, né, mané? Se eu ganhasse uma medalha na esgrima diria "É só minha. É só minha e ninguém tasca. Que mané ouro pro Brasil?! Esse ouro é meu!"

Mas agora só se fala em futebol. Interesse generalizado. Os meios de comunicação voltam a ser de massa. Não me interessa. O que satisfaz a todos não satisfaz a ninguém específico. Nunca gostei de futebol. Quando eu era criança, sofria por ter de jogar. Agora, não me obriguem a assistir.

E nem me obriguem a comentar. Não me obriguem a falar sobre isso. Há escritores muito profissionais que adoram o desafio de dar "um olhar próprio" a um tema que todos comentam. Eu prefiro dar meu olhar próprio comentando o que ninguém conhece. Ou quase ninguém. Afinal, literatura para mim é isso, novos universos. Quando se fala em Meios de Comunicação de Massa, a literatura não está inserida – a não ser que seja algo como Dan Brown. Quando se fala de Internet, também não. Internet é isso, escolhas individuais, mídia segmentada, interesses específicos e público pontual. É isso o que tenho a oferecer.

Oh, será que é por isso que não sou bestseller? Haha. E é por isso que não escrevo fixo em nenhum meio de comunicação de massa? Pelo menos a petizada perdida pode me encontrar por aqui. Esse é o povo que eu quero que venha até mim. Essa é a democracia dos blogs...

O que eu queria era que as pessoas praticassem mais isso. Fizessem suas próprias escolhas. Nada de leituras obrigatórias. Nada de assunto único. É como eu sempre digo: "o que você não sabe também faz parte do que você é". Então, se você não tiver o tijolinho "Machado de Assis" na sua construção vai fazer falta. Se tiver esse tijolinho e muitos outros, vai ser um cara mais completo. Agora, só vai ser um escritor único realmente se ao invés desse tijolo tiver outro, de mesmo calibre, que não se encontre tão fácil no mercado. E é isso o que eu estou procurando.

Infelizmente, como todos os outros, minhas fundações já estão comprometidas...

Porque os idiotas que inventaram esses "tijolos obrigatórios" já contaminaram todos os outros. Então você nunca vai conseguir encontrar um escritor depois do Machado que não tenha sido contaminado por ele, ainda que indiretamente: que não tenha sido contaminado por quem foi contaminado por ele. Assim como você nunca vai poder ouvir rock britânico sem contaminar-se com Beatles. Rock brasileiro sem Mutantes... MPB sem Caetano...

Por isso escuto Dussek, pra esquecer.

Quanto à parada: nada.

E, de qualquer forma, o Kaká é um pitelzinho...

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...