30/07/2006

O ERRO DOS DINOSSAUROS FOI QUERER APARECER DEMAIS

Acabou mais uma mostra – "Alta Tensão"- de filmes de terror e suspense. Apesar do nome, não foi nem um pouco tensa, mostra tranqüila, cheia de filminhos interessantes. Eu legendei mais da metade das sessões. É gostoso, um clima meio de escolinha, as mesmas pessoas todos os dias, mas sem notas e professores apurrinhadores (bem, sempre aparece um cinéfilo caga-regra).

Dos filmes que eu traduzi, o que mais gostei foi "Following", filme de estréia do Christopher Nolan, com uma construção parecida com o "Amnésia" (Memento), e um clima mais noir. Modéstia à parte, foi minha melhor tradução de filme. Ontem operei as legendas e não teve uma vírgula que o personagem disse que não traduzi e coloquei na tela.

Bem... bem... mas isso é normal. Trabalho de tradução e legendagem é assim. Quando está tudo perfeito, ninguém nota, quando há um pequeno erro...

Ontem fiz três sessões, depois ainda fui ver uma pré-estréia (que detestei). Hoje fiz mais três. E amanhã ainda faço mais uma, de outra mostra. Enfim, é trabalho, e um trabalho gostoso....

E nesse clima "vida de trabalhador", hoje, entre sessões, fui almoçar num daqueles rodízios da Praça da República, no meio dos cinemas pornôs. Sabe-se lá por onde passou a salsicha. haha. Custa 8 e noventa com picanha à vontade. Assim é bom, você pode comer pouquinho porque está pagando pouco e não se sente culpado de não aproveitar ao máximo. Haha. Quando vou nesses lugares sempre fico com pena do cara que serve o "tender com abacaxi" ou algo assim. Coitado, rejeitado. Só ouve "não" o dia todo. Deve ser o aprendiz, o cara que está começando: "Olha só meu filho, vai servindo esse tender com abacaxi, que se der pra coisa vai subindo. Quem sabe daqui a uns dois anos não chega na picanha?" Haha. Ah, eu gosto de tender com abacaxi... e prefiro ser servido pelos aprendizes...

Hoje também comprei umas roupas na Renner...

Ai, ai, ok, é verdade, mas chega dessa narrativa "pão-com-ovo". Logo agora, que estava respondendo uma entrevista sobre "o glamur na literatura", ahaha. Vamos falar de pérolas, pérolas às ostras!

(Hum, até almoçar na Praça da República parece mais glamurozo com o friozinho que está fazendo hoje....)

Bem, saiu no caderno da Bravo, especial da Flip, uma crítica que fiz ao livro da Ali Smith – "Por Acaso". Vai um trecho (da crítica):

"A cada começo de capítulo, temos a impressão de entrar num quarto escuro. Pouco a pouco, a autora dilata nossas pupilas e passamos a reconhecer o espaço, um rastro de luz aqui, outro ali. Ainda assim, a visão não é clara, há novos enigmas para decifrar. Seria interessante se pudéssemos tatear, reconhecer o espaço através de outros sentidos, mas a autora faz questão de bagunçar tudo, colocar o interruptor do lado de fora. E é apenas um quarto."

Minha conclusão final é essa: "muita mobília para pouco espaço". Quero dizer, uma escritora que não sabe administrar seu grande talento, acaba exagerando no virtuosismo. Mas enfim, é apenas um opinião.

Também deve estar saindo na Revista da MTV de agosto um artigo que escrevi sobre o Aldous Huxley (aquele, do "Admirável Mundo Novo"). Outro trabalhinho de encomenda.

Mas acha que esqueci da minha doença? Acha que esqueci da minha doença? Hoje vem Brás, o fiel e faminto cão de "Mastigando Humanos". Ilustração, como sempre, de Marco Túlio:

27/07/2006

JACAREZINHOS DE PAREDE, LAGARTIXINHAS DE CHÃO.



Ei, essa não é ilustração do livro não. É meu filho Araki, em foto de Luciancencov.

Continuo preso neste apartamento. Me sinto num filme do Tsai Ming-Liang - ou em "Jogos Mortais", dependendo do seu repertório. Os vazamentos continuam. Meu banheiro está todo quebrado e a água já se infiltrou na caixa de telefone, e minha linha está afogada, e os vizinhos do apartamento debaixo reclamam. Culpa do proprietário que não arruma direito. Me deixem sair daqui. Se conseguisse fechar o aluguel de um apartamento novo, eles que quebrassem tudo deste. Por isso mesmo, para mim faz muito mais sentido alugar. Não quero ter de me comprometer agora, escolher o cenário no qual vou passar o resto da vida. Vocês conseguem? Como eu poderia antes dos trinta anos decidir uma coisa dessas? Queria eu poder mudar todos os anos, mas sem stress de procuras e fiadores...

Quem parece que já está bem aclimatado aqui é o Araki, principalmente por toda a umidade.

As feministas que cuspam em mim, mas acho que um homem não sobrevive muito tempo morando sem uma mulher. A louça vai se acumulando no escorredor, o chão sempre está sujo, a roupa que a gente precisa nunca está limpa quando a gente precisa. Ah, acham que preciso de uma empregada? Mas ela não daria conta também de jogar fora as meias furadas, comprar cuecas novas, comprar o shampoo certo para o meu cabelo. Haha. Bem, bem, também precisaria de um homem para dar um jeito nesse encanamento, para trocar a luz do meu quarto, o chuveiro que queima. Só agora, depois de anos e anos morando sozinho, é que percebi que não dou conta...

Saindo um pouco de casa, hoje tem mais uma sessão de "Audition" no CCBB (SP), 19h. Eu que vou estar legendando (mas a tradução não é minha). Aproveitem, porque o filme é raro e provavelmente nunca mais vai passar em película.

E na coluna da Chris Mello, no Estadão, saiu uma pequena entrevista comigo, feita pela Ana Fialho. Eles dão um pequeno teaser do livro novo:

Em setembro ele tira do forno seu quarto romance, Mastigando Humanos, em que trata da adolescência usando animais como alegoria. Tem o rato autoritário, o sapo boêmio o corvo que ama Doris Day e o jacaré que sempre tenta comer alguém.

Tem uma caricatura interessante. E eles ainda apontam como minhas influências Moacyr Scliar, Dennis Cooper e Condessa de Ségur, ehehe. Não nego.

23/07/2006

SE EU TIVESSE ASAS, NÃO ME PRENDERIA A DETALHES...



Brixton, o corvo filhote de Poe, astro de Hitchcock e fã de Doris Day. Ilustração de Marco Túlio para "Mastigando Humanos".

19/07/2006

SENTADA NA CALÇADA DE CANUDO E CANEQUINHA.

Esta semana vi mais um filme que entrou para os meus favoritos de todos os tempos: "Bubble" do Steven Soderbergh. Eu não sou muito especialista nesse diretor, só tinha visto mesmo o curta dele em "Eros", passei longe de blockbusters que ele dirigiu com a Julia Roberts e o escambau, mas "Bubbles" é outra coisa, coisa fina.

Gosto muito da dinâmica dele com os diálogos, aparentemente banais. Os atores-amadores também estão ótimos, em especial a protagonista "bolha". E "Bubble" acaba sendo um filme extremamente simples e bem realizado, para dar chupão em Hollywood e em todo o cenário do cinema independente. Cinema brasileiro é diferente, mais do que dependente (ou "com o rabo preso", eu diria), talvez por isso não tenhamos filmes como esse por aqui...

E meu trabalho com o cinema prossegue, além de colaborar com um roteiro, terminei traduções de 3 filmes e estou legendando algumas sessões de uma mostra que começa hoje, no CCBB-SP.

Chama-se "Alta Tensão", de filmes de terror e suspense. Quem quiser saber a programação completa, veja aqui:
http://www.bb.com.br/appbb/portal/bb/ctr/sp/evt/EvtDet.jsp?Evento.codigo=26730&titulo=Cinema%20e%20V%EDdeo

Recomendo especialmente "Something to Remind Me", "Wendigo", "Soft for Digging" e "Audition", claro. (E não traduzi nenhum desses quatro)

Aqui, ouvindo "Gloomy Sunday" na versão do Associates.

E hoje mudei de academia e estou todo quebrado. Mas não quero massagem, obrigado. Tenho nojo.


"kirikirikiri". A japa from hell de "Audition". Calma, calma que logo coloco mais ilustrações de "Mastigando...".

17/07/2006

PREENCHENDO AS FRESTAS EM SILÊNCIO






Esse trem aí não tem nome, mas é mais uma ilustração do Marco Túlio para "Mastigando Humanos".

Não são apenas flores assassinas que crescem sobre meu apartamento. Mofo e teias de aranha também. Já estou aqui há três anos e sinto que o prazo de validade aspirou. Vocês conseguem morar tanto tempo no mesmo lugar? Aqui as coisas vão cansando, deteriorando, até que uma hora é inevitável a mudança. É a luz do quarto que não acende mais, vazamentos nas paredes do banheiro, as paredes todas que precisam de pintura, os insetos entre os tacos, lembranças de amores esquecidos em jatos manchados no quarto...

Agora estou na dura batalha para alugar outro. Alguém me ajuda? Você não tem um apartamentinho bacana aí para me alugar? A burocracia de comprovantes de renda e de fiador ferram tudo. Nem adianta as posses todas dos Nazarian, como fiança, nem adianta imposto de renda, sem comprovantes mensal e carteira assinada não me querem. Uma hora eu consigo.

Cuidado! Eu posso ser seu vizinho.

Ontem fui ver o espetáculo de dança da Companhia Borelli inspirado no livro "Carta ao Pai", do Kafka. Mas não sei porque eu estava com tanto sono que apaguei durante o espetáculo e acordei com o Freddy Krueger me enfiando as garras. Ai, isso que dá tentar sofisticar meu repertório...

13/07/2006

ESSA BOCA QUE RACHA SEMPRE QUE EU RIO...


Dr Goncourt, o jabuti acadêmico de "Mastigando Humanos". Ilustração de Marco Tulio.

11/07/2006

VIDEO KILLED THE RADIO STAR

Oh...

Aqui perto tem uma daquelas cada vez mais raras locadoras de bairro. Praticamente só VHS. E é lá que eu alugo a maioria dos vídeos que assisto. Não que eles sejam mais cults do que a 2001, mas certamente são mais cults do que a "Blockbuster", e ainda têm uma porção de podreiras, podreiras cults, que a 2001 não tem.
Agora eles não resistiram, estão fechando.

Fui lá no final de semana, alugar uma fita, e o rapazinho disse que todos os VHS estão à venda por 5 reais cada. Saí com "Palhaço Assassino", "O Chamado", "Ed Wood" e outros que não posso dizer... além de tristeza no coração.

Estava conversando sobre isso dia desses, com o Sr Luciancencov: quantas obras foram perdidas com a mudança de suportes? Quantos LPs sumiram por aí, nunca foram reeditados em cd? Eu ainda tenho uma coleçãozinha, com compactos do Blondie, Eurythmics, disquinhos infantis. Até pouco tempo ainda podia ouvir na casa da minha mãe. Agora ela também se livrou da vitrola...

O mesmo acontece com os VHS’s. As pessoas se desfazem dos vídeos-cassetes, as locadoras vendem as fitas e ninguém mais consegue assistir. E filmes obscuros lançados por distribuidoras pequenas dos anos 80 somem para sempre. Provavelmente será pior do que com o LP, porque eu não conheço ninguém que dê preferência ao VHS.

Ah, mas eu prefiro, prefiro muito mais aquela imagem tosca, a capa gordinha, o ritual de rebobinar a fita no final... haha

E não posso me separar das minhas antigas fitinhas gravadas. Ainda tenho desenhos do He-man, Doris Giese apresentando o Fantástico, o primeiro capítulo da novela Vamp, o clipe do Jordy...

Também faz muito mais sentido ter um filme como "O Chamado" em VHS. Aliás, ele foi filmado no limite (2002). Hoje em dia já parece um "filme de época", que nem menciona o DVD. (talvez por isso tenham abandonado a premissa da "fita amaldiçoada" no segundo filme da série. Eu já tinha dado minha sugestão de enredo: quem assistisse não conseguiria passar o filme para frente e escapar da maldição porque ninguém mais teria video-cassete)

Bem, bem, fica a minha boa sorte à dona Ivanira, proprietária da videolocadora. Ela sempre me recebia com um sorriso maternal, depois rodava – para tirar o mofo - as fitas que só eu alugava, comentando: "Viu que tem outro filme de palhaços assassinos aí?"

08/07/2006

TODOS OS PRAZERES SÃO ORAIS

Com vocês, Vergueiro, o sapo fumante de "Mastigando Humanos". Ilustração de Marco Túlio.

Aos poucos vou colocando outros...

07/07/2006

EM CACHORRO QUENTE NÃO SE OLHA OS DENTES

Ainda não será este ano que voltarei para Parati. Participei oficialmente da primeira Flip, em 2003, depois nunca mais. Sem ser autor convidado não tem tanta graça, nem para mim e nem para a editora, por isso mesmo decidimos já há alguns meses lançar o livro novo só em setembro.

Meu nome até chegou a aparecer na programação paralela, mas é alarme falto. Eu não vou, não vou de jeito nenhum. É capaz até que no mesmo período eu esteja em Porto Alegre, fazendo uma mostra de cinema.

Aliás, está fraco de eventos literários para o segundo semestre, hein? Até agora, confirmado mesmo, só o lançamento em São Paulo. Aquela coisa, não compensa eu fazer lançamento em lugar onde não conheço muita gente, é preciso aliar a um evento. Se souberem de alguma coisa, me avisem. Eu devo viajar bastante até - Porto Alegre, Curitiba, Salvador - para fazer outros trabalhinhos. Mas a "Mastigando Tour" está em aberto...

Agora estou em mais uma madrugada. Acabei de assistir outro filminho de terror que tenho de traduzir, estou escrevendo um artigo sobre "noite paulistana" e tenho de fechar uma resenha literária (inclusive de um autor que vem para a Flip). Trabalho ultimamente é o que não falta.

E, se tudo der certo, nas próximas semanas mudo de casa. Um apartamento lindo com vista para o cemitério! Sim, sim, torçam, torçam, minhas madrugadas serão muito mais assombradas.

Ai, post chato, nem imagem tem...

01/07/2006

TRILHAS TRAVESSAS

Enquanto o Brasil perdia da França, eu fazia as legendas de "Audition", que foram traduzidas à partir do roteiro e tinham grandes diferenças do que acontecia de fato na tela. Agora que vi o filme umas cinco vezes, gosto mais ainda. É muito bem construído, terror de verdade, inteligentíssimo e impactante. Talvez seja meu filme favorito, logo ao lado de "Adeus Minha Concubina" (que é ooooooooutro tipo de coisa) e "Adeus Dragon Inn". Muito bem: um filme japonês, outro chinês outro taiwanês. Mas claro que na minha lista há muito hollywood, principalmente as podreiras.

Voltando à Copa. Tive de tirar um sarro. Terminou o jogo e coloquei em último volume "Mandolino City", do Les Rita Mitsouko; música francesa com sonoras gargalhadas de Catherine Ringer. Esperei os xingamentos dos meus vizinhos, mas eles estavam preocupados com outra coisa...

Um cara no prédio ao lado ameaçava pular da janela. Quer pular, pule. Aproveitei a deixa e troquei a trilha. Coloquei uma do Pato Fu:

"Eu vou pular, eu vou pular, eu vou pular. Eu vou pular em cima de você e nem vou ligar se você se machucar e eu sangrar até morrer. Eu vou pular, sabe por quê? Porque é a Unimed é quem vai pagar. A Unimed é quem paga."

Haha. Mas ele não pulou. Chegou polícia, bombeiro, o escambau. E é a segunda vez que vejo alguém ameaçar pular daquele prédio. Que desperdício de dinheiro público.

Agora estou ouvindo Zizi Possi. "Perigo é ter você perto dos olhos mas longe do coração..." Lembra? Entrou na minha seleção "Le Kitsh C'est Chic" vol 2.

E já que abri precedentes, vamos postar imagens aqui. Os franceses kitsch do Les Rita Mitsouko comemorando a vitória...

NESTE SÁBADO!