11/09/2007

EU NÃO NASCI. NEM ME ENTERRARAM. NÃO ME LEMBRO. QUEM SOU EU?

Assim se faz a nova literatura brasileira. (De trás para frente: Adriana Lisboa, João Paulo Cuenca, Verônica Stigger e Santiago Nazarian, flagrados por Daniel Mordzinski)






Sonhei que estava num avião que caiu.






Dormi num barco que naufragou.






Acordei num trem que descarrilou.






E voltei para este mesmo apartamento, onde nada, nada sai do lugar.



(Mas com um curativo no supercílio. Nos dias quentes a cicatriz ficará verde. Nos dias de frio, ficará roxa. Será meu galinho do tempo particular, para lembrar o que o tempo lá fora pode fazer comigo.)



Cansei.





Fiquei então, pensando, sonhando, imaginando, me indagando o que estava fazendo aqui.






O que estou fazendo aqui?






Deus me apontou o dedo e disse. "Estás cumprindo com sua obrigação em relação à espécie. Por mais que estejas abstêmico, por mais que tenha espirrado líquido seminal em vão, agora é tarde, e um único, um único de seus gametas solitário alcançou seu alvo - lá nos anos 90, sabe, na época do britpop - dando seqüência a gerações que podem se espalhar e se multiplicar exponencialmente, não apenas pela potência fértil de seus descendêntes, como também por suas mentalidades esquizofrênicas. Isso é uma tradição da sua genealogia!"






Eu só fechei a geladeira, fui lavar a couve, e respondi:"Hum, ok. Mas estava me perguntando sobre aqui em São Paulo. Neste apartamento. O que faço aqui, já que não tenho laços, namorado, namorada, filhos assumidos, nem família próxima, amigos cotidianos, cotidiano em si, nada disso, o que me prende aqui?"


Deus já estava em outra ligação.


Então piquei a couve e servi para o meu iguana.




Para dar um respiro ao meu equilíbrio-inércia-ócio-tédio-estabilidade, esta semana volto a Porto Alegre, para fazer legendas de uma mostra.


Semana que vem tem Bienal do Rio. E daqui a quinze dias Bienal de Recife. Depois aviso de novo, direito, espirrando gametas.


(Onde você quiser me levar. Onde você quiser que eu vá. Onde você quiser me empregar, me colocar, encaixadinho. Com uma janela aberta, eu vou.)

Ou pulo.

Ouvindo Grace:





E Grace:









E Grace:



NESTE SÁBADO!