“Jardim Bizarro”, o drinque (não vou dar a receita por questões de patente).
Depois que fiz um drinque, um romance e um filme pornô baseado na história da casa que jorrava sangue, no Jardim Bizarro (Jundiaí), descubro uma notinha dizendo que tudo não passou de sangue das... VARIZES de uma aposentada!!! Sacanagem!!! Como vou beber meu drinque agora? Quem vai se excitar por um pornô com esse tema? Acho que só o romance sobrevive, bizarrice por bizarrice...
O brinde (eu, Guima e Fábio)
A notícia:
O titular do 6º Distrito Policial, Marco Antonio Ferreira Lopes, afirmou que o sangue encontrado no chão de uma casa em Jundiaí era uma hemorragia proveniente das varizes da moradora. Ela e o marido de 71 anos, também aposentado, perceberam o "fenômeno" no fim da tarde dos dias 15 e 16 de junho.O resultado dos exames de tipagem e DNA comprova que o sangue era da aposentada. O Instituto de Criminalística se baseou nas amostras colhidas no chão da casa e as retiradas dos moradores."Ela não sentia dor e não percebeu que perdeu uma certa quantidade de sangue", disse Lopes, acrescentando que a senhora tem diabetes, o que contribuiu para a perda excessiva de sangue. A hemorragia aconteceu em duas ocasiões, após o banho. "Ela já começou um tratamento médico", comentou o delegado. O delegado havia arquivado o caso por concluir, a princípio que se tratava de tinta vermelha. Porém, um inquérito foi aberto na manhã seguinte, após um teste preliminar realizado pelo IC de Jundiaí comprovar que o líquido era sangue humano.Lopes disse que o caso foi encerrado. "Não houve dolo e nem ganho de vantagens das partes", concluiu. - Redação Terra
Devo dizer que foi muito mais difícil achar essa conclusão do que as matérias sensacionalistas que anunciaram o caso. Depois que atiçaram nossa (minha) curiosidade mórbida contando da casa que jorrava sangue, os jornalistas ficaram bem quietinhos e quase nenhum lugar deu o desfecho.
A matéria mais bizarra sobre o caso eu vi na Folha Online – haha – olha só:
Fenômeno pode explicar sangue em casa de Jundiaí (SP) – Adriana Alves, do Agora.
Ainda sem explicação, o aparecimento de poças de sangue humano no piso de uma casa em Jundiaí (58 km de SP) pode ter sido provocado, inconscientemente, pelos próprios moradores. É o que afirma Fátima Regina Machado, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e especialista nos chamados fenômenos Poltergeist (episódios falsamente sobrenaturais).
Supostamente vertidas do solo, as poças apareceram na rua Antonio Bizarro, no bairro Jardim Bizarro, no início da semana passada.
De acordo com a professora Fátima, é provável que o sangue seja uma espécie de expressão inconsciente de problemas emocionais vividos pela família. "É o que chamamos de psicocinesia recorrente espontânea, popularmente conhecida como fenômenos Poltergeist." Em alemão, diz a especialista, a expressão significa "espírito brincalhão".
"As pessoas tendem a encarar esses fatos como sobrenaturais, mas na verdade é uma espécie de válvula de escape do próprio inconsciente humano", afirma a especialista.
O parapsicólogo Oscar Gonzalez Quevedo, o padre Quevedo, também acredita que o fenômeno tenha sido provocado pelos moradores ou por alguém próximo a eles. "Nada mais é do que uma descarga emocional, um ato movido pelo inconsciente. Não há nada de paranormal ou sobrenatural nisso."
Essa última frase é a melhor. Tudo explicado!
E o romance:
Minhas cicatrizes contam uma história, mais bonita quando a luz está apagada. Acendo o cigarro para conter o choro. Não quero que Miguel me veja desabar assim. Depois do sexo eu lamento. Depois do sexo eu me arrependo. Depois do sexo eu penso.
Nem duvidaria que estava em meu quarto. Mas o ar rarefeito me fazia sentir diferente. E o calor ao meu lado me fazia querer chorar, Miguel. Mais uma vez.
Seu sexo é áspero e afiado. O meu é liso e macio. Rasgamos lençóis, abrimos fendas, derramamos sangue. E suor. E esperma. E lágrimas. Eu engulo. O choro derrama. A noite escorre. Miguel pega um pano para enxugar.
Quando éramos mais algodão e poliéster, quando éramos mais nylon e lycra, quando éramos pele à procura de pele, uma mão baixava o zíper, a outra pedia permissão. Uma boca continha os dentes, a outra um suspiro. Uma perna enrolava-se em outra, e outras se afastavam. Eu era o sorriso de quem não pode chorar. Ele era o beijo para quem não pode sorrir. Nós éramos todas as emoções derramadas numa cama. Com a segurança de uma boa lavanderia.
Mas era tudo mentira. Saindo da cabeça dele e entrando na minha. Saindo da minha e escorrendo pelos olhos. Escorrendo pela cama a ponto de não podermos mais esconder a verdade, nem apagando a luz, nem cobrindo com os lençóis.
As manchas contavam a verdadeira história, mais bonita em papel do que em lençol. E as cicatrizes não diziam nada, acendendo as luzes, terminando os parágrafos. O que será de mim longe de você? O que será de você sem mim? Miguel fechava os olhos e caía no sono. Ou eu fechava a boca ou caía no choro.
Não era hora de cair. Nem da janela, eu podia ver. Hora de contar histórias, com as sombras na parede, o ventilador no teto, um amor intenso totalmente derramado. Depois, o que sobra? Água, minerais e suco de laranja para repor. Trinta minutos de descanso e me amará novamente. O coração bombeará seu sangue para baixo, de mim, e virá para cima, em você. E erguerá seu corpo, sobre o meu. E entrará em você, para sair em mim. Seremos eu e você contra o mundo, um milhão, de hormônios, e leucócitos e hemácias e espermatozóides.
Dormindo, Miguel me fez levantar. Para o banheiro de um solteiro, até que estava arrumado. Sem vermes no ralo, sem sangue no piso, sem catarro no espelho, mas, oh!, fungos entre os azulejos. E pelos no chuveiro. Eu abria a torneira e escorria as lágrimas. O amor é sempre líquido, mesmo quando sólido. Fumaça em meu pulmão, suspiro no dele.
No espelho, uma tristeza e um desafio. Atrás, uma lâmina afiada. Muito previsível, senhor Miguel. Giletes atrás do espelho, cortes abaixo do pulso. No rosto, por engano, quando faz a barba. O que será de mim se não me enganar assim? Se você que faz todos os dias, ainda consegue se cortar, pobre mulher que sou, não tenho como escapar. A linha pontilhada é transversal. Prata sobre roxo, cinza sobre azul, tom sobre tom, vermelho sob a pele, vermelho sobre o branco, fungos entre os azulejos. Deixo a torneira aberta nem sei por que. Para escorrer toda a água quando estiver morta. E acabar com todo o amor, líqüido, quando eu não estiver mais aqui. Quando secar o meu sangue, e o meu suor, e os meus hormônios, você não mais me amará.
E só com o sangue derramado perceberá os fungos entre os azulejos. Sim, faço um favor a você. Escrevo no espelho, tá bom? “Favor olhar entre os azulejos.” Você é um homem solteiro, tem coisas que só a perícia dá jeito. A perícia de uma mulher. A perícia de uma mulher morta. Então chame a perícia, chame os peritos. A polícia que faz perguntas e esfrega o chão à minha procura.
Já terei escorrido pelas frestas, como os insetos, e como seus pelos, no box do chuveiro. Já terá secado meu amor, apenas uma dor-de-cabeça. Mas quando todos foram embora, tudo terá passado. E terá um banheiro limpo, desinfetado, livre de vermes, fungos e amores. E ainda será solteiro.
Minhas cicatrizes contarão uma história, mais bonita quando estiver seca. Colherão suspiros na minha boca aberta. Fecharão meus olhos para dormir em paz. Tomarão meu pulso para sentir seus corações, bombeando sangue, para fora de mim.
Um capítulo só, e estará livre de mim. Uma boa recordação, quando os fungos crescerem novamente. Entre os azulejos, atrás do espelho, dentro do ralo. Você terá mais história para contar. Por aqui passou um amor, e não deixou vestígios.
Quem dera todo o amor terminasse assim. Mas os homens insistem em dormir e as mulheres a concordar. E acordar no dia seguinte. As crianças insistem em nascer e as lavanderias a esfregar. Então chamem os peritos!
Sem outra alternativa, tivemos de renomear o pornô...
"Bala Perdida", de Cláudia "Clawdia" Crab.