29/10/2008

MAIS UMA MORDIDA



Montage, a dupla brasileira de elektro-punk, está gravando seu segundo cd. Eu colaboro com a letra de uma das faixas, chamada... MASTIGANDO HUMANOS.


Na verdade, tinha dado a letra pro (vocalista) Daniel (Peixoto - pra quem não sabe, o moço mais andrógino aí de cima) uma madrugada e tinha me esquecido. Esses dias começaram a ecoar posts por aí falando da música. Então vi que a coisa tinha rolado mesmo, e eles até já estão tocando nos shows.


Eu ainda não ouvi, mas minha letra é essa:


Engolindo o underground
de Artur Alvim a Ana Rosa
se a morte é inevitável
que então seja saborosa

Lipídios, glicídios, suicídios na minha janta
Mendigos, meninos, benvindos à garganta.

Mastigando Humanos
Mastigando, hermanos
Mastigando, manos
Mastigando

Se o crime é arriscado,
mesmo pra forrar despensa
Abra a boca e feche os olhos
no fim, o creme compensa

Já dizia titio Freud,
tudo é sexo, tudo é oral
Para um réptil como eu
rastejar não é tão mal

Lipídios, glicídios, suicídios na lancheira
Carpaccio, cachaça, canudos na carreira.

Mastigando Humanos
Mastigando, hermanos
Mastigando, manos
Mastigando



Montage é uma loucura. Lembro da primeira vez que os vi ao vivo, no extinto Atari. Me lembrou Andi Sex Gang, e Alien Sex Fiend, e várias outras coisas elektro-goth, elektro punk, mas com uma pitada de macumba brasileira, com uma atualização gigolô, sabe como é? Com Daniel Peixoto se esfregando de cuequinha nas caixas de som. Tem de ver ao vivo para entender. A versão mais atual do punk rock.


Ficamos amigos, fizemos fotos juntos, moramos na mesma rua. Daí surgiu essa pequena parceria. Acho que meu jacaré está na boca certa.

(Daniel e eu, em ensaio pra revista Júnior, ano passado)

Não é exatamente a primeira letra que eu faço. Além das bandas da adolescência, criei vários jingles quando eu morava em Porto Alegre - pra Telefônica Celular, Zero Hora, Leite Elegê- mas jingle conta?



Agora estou devendo (há meses, na verdade) uma letra pro querido Dan Nakagawa.



(Confiram a insanidade do Montage no: www.myspace.com/montagebr)

27/10/2008

MAIS UMA DE JACARÉ




Hum, posso dizer que em pleno final de semana da Mostra de Cinema, Satyrianas e Bienal do Vazio eu fui ver um novo filme de crocodilo assassino?





"Morte Súbita" é bacana. Não é ótimo, claro, mas é bacana. História de um grupo de turistas que fica preso numa ilhota num rio da Austrália, vigiados por um enorme crocodilo.

O filme foi dirigido por Greg McLean, que fez "Wolf Creek" (outro filme bacana, mas sem grandes novidades). Tem imagens bonitas da natureza, alguns crocodilos reais e uma tensão razoável. O crocodilo em si não aparece muito, mas aparece bem, bem desenhado em CG. Talvez o que falte no filme seja uma pegada mais trash - sabe como é, a gente não vai ver filme de crocodilo assassino esperando arte, quer ver é morte, sangria, o bicho em plena ação. E isso tem pouco. Morre pouca gente. E o filme se leva muito a sério.


Ao menos é melhor do que "Primitivo" (filme também recente de crocodilo assassino). Esse sim é uma imbecilidade, metido a thriller político, com um bicho que só aparece no escuro e na chuva.






O melhor mesmo continua sendo "Pânico do Lago", que se assume como diversão tosca, com um humor negro debochado e o melhor crocodilo já feito no cinema (hora em CG, hora em animatronic).


E tem o clássico dos anos 80 também, "Alligator", que é tosquíssimo, mas divertido. Filme da minha infância, da época em que ainda se usavam jacarés reais para filmes assim.



(Helmut Newton)

Quando lancei "Mastigando Humanos", tive de responder tantas vezes a "Mas por que um jacaré?" Então agora quando me perguntam por que gosto de jacarés, crocodilos e répteis em geral, eu posso simplesmente responder: "Porque escrevi um livro sobre isso."



"Morte Súbita" está em cartaz nos cinemas toscos por aí. Eu vi no Shopping Paulista, que é baratinho e tinha QUATRO pessoas em pleno sábado à noite. Assim que eu gosto.

23/10/2008

EXISTENCIALISMO INÚTIL





Fui ontem na estréia da peça “Artistas!”, no Teatro Fábrica. É ÓTIMA, divertidíssima, e um pouco perturbadora.

É um “drama pequeno-burguês” (embora caia na comédia) de três jovens artistas que dividem apartamento, nunca conseguem pagar as contas e vivem de “orgulho artístico”. Sonham em ser capa da Bravo, em sair no Caderno 2, mas não produzem muita coisa. É uma peça com muito de auto-crítica - auto-paródia – com a qual todo mundo que produz por aí (e espera ser reconhecido) pode se identificar.

(Como a personagem cantora, que caminha para os trinta e se revolta que ninguém acessa o Myspace dela, enquanto Malu Magalhães é descoberta aos quinze... Haha.)


Eu me identiquei bastante. Ainda que não divida apartamento com ninguém, ouvia essas discussões no café da manhã desde criança. TODOS na minha família próxima são artistas. Entre meus irmãos (que são cinco comigo) tem palhaço, ator, dançarina de can can, "artista indefinido". E meu pai é artista plástico. E minha mãe é escritora, de família rica, mas que fugiu de casa para casar com meu pai, e que sempre teve de ralar em empregos paralelos para sustentar os filhos, enquanto meu pai "sorvia o ar da arte".



Entendo bem...

"Arte de papai".

"Arte de mamãe". (Ei, isso é um livro)


A peça me fez lembrar aquele meu post de “mendigos culturais”, artistas que imploram por público, por ouvintes, leitores... Todo dia aqui recebo dezenas e dezenas de emails, cartas, convites de gente lançando livro, divulgando blog, esperando fisgar um público mínimo e conquistar algumas estrelas na Folha.

Essas são as coisas que mais me desmotivam. Dá uma preguiça de ser mais um, de pensar em lançamento, noite de autógrafo, ficar mandando email, convite, esperando que as pessoas deixem o conforto de casa, a novela das oito, para ir a uma livraria, pegar uma fila, comprar um livro que – a grande maioria – não tem a menor vontade de ler.

É por isso que adiei tanto o lançamento do meu livro novo...

Tá. Mentira. O livro foi adiado por questões editoriais. Mas ainda assim, quando o livro novo sair (e VAI sair) vou pensar bem se me atrevo a uma noite de autógrafos. Não quero mais fazer noite de autógrafo. Não acho que ninguém goste de ir. Eu não gosto de ir. Não gosto de ser convidado. Não gosto nem de ir em aniversário de amigos (verdade que, quando eu vou, às vezes me divirto). Mas talvez seja importante para divulgação do livro - para a editora ficar feliz - para que movimente um pouco as vendas, para que possa continuar publicando por grandes editoras...


Sacrifícios...



Lançando o primeiro livro... (Oh, eu era tão jovem, tão tolo, tinha tantos sonhos...)




Isso não se restringe só a lançamentos de livro, não. Cada vez que alguém me convida para ver o show de sua banda, a discotecagem numa boate, eu estremeço. E penso comigo mesmo: "graças a Deus que não tenho mais de convidar as pessoas para essas coisas..."


Mas acho que já falei sobre isso...



Lembra?



Por que será que em peça de teatro eu gosto de ir? Ah, já sei... Não é por nenhuma razão muito cult, não. É simplesmente porque em peças eu posso escolher o dia que vou, não me sinto pressionado por um evento pontual, e assim às vezes até posso ir na estréia.



A peça de ontem também me fez pensar um pouco mais naquela velha questão, na função da arte. Recentemente, num debate, até ouvi uma colega escritora dizendo que “literatura é inútil, não serve pra nada.” Não concordo. Ou concordo? Não concordo. Acho que a literatura talvez seja inútil, sim, mas como quase tudo o que a sociedade humana criou.

Afinal, pensando racionalmente, tudo não passa de um jogo, de uma brincadeira. A gente tem de realizar provas para ganhar um papel desenhado – que deram o nome de dinheiro. Economistas, banqueiros e bancários vivem para entender e administrar as regras desse jogo – e não deixam de realizar um trabalho tão inútil quanto a arte.

Podemos cair naquela idéia básica, então, de que útil mesmo só os trabalhos de sobrevivência: a agricultura, a medicina (isso se nem considerarmos as religiões e as leis divinas), mas até aí, também há o seu grau de inutilidade. Para que, afinal, o ser humano precisa ser curado pelos médicos? Por que devemos viver mais do que a natureza determina? A sobrevida de um paciente não tem função nenhuma no ciclo da natureza (pelo contrário, só está colaborando para destruir o planeta). Se pensarmos na utilidade do ser humano, nascemos para chegar à puberdade, procriar e acabou.

E acabou?

Ainda não. Seguindo esse niilismo cíclico, é praticamente tudo inútil. Nem sei por que estou escrevendo isso. Papo sem sentido. Mas se a arte (e a literatura) é inútil como tudo, qual é o sentido que podemos dar a ela, assim como demos a todo resto?

Eu sempre tive a resposta.

A arte – como a medicina, a arquitetura, a economia – existe para expandir o mundo. Existe apenas para existir, ampliar as possibilidades, ocupar espaço e ampliar o universo. Vivemos neste mundo de chupacabras, papais noéis, tartarugas ninjas e suicidas seriais porque nós colocamos isso nele. O mundo é maior e tem mais possibilidades do que a natureza (ou Deus?) nos deu por causa do poder de criação humana. E esse poder as vezes explica, às vezes complica o mundo para nós, mas sempre ajuda a nos desenvolver, levando o ser humano para mais longe de suas raízes animais.

Mas para que serve nos afastarmos de nossas raízes animais?

Isso eu não sei, mas Jesus diz que é para conquistarmos o reino dos céus.

Claro que, nesse poder de criação humana, a arte ocupa um papel fundamental. E a literatura especificamente? Também. E talvez o papel específico que a literatura ocupe no poder de criação humana seja materializar (ou “tornar visível”) o universo de um indivíduo. No cinema, na TV, na música, esse universo está comprometido pelo “consenso” ou o “conjunto”, porque não são criações individuais (na maioria das vezes).

As artes plásticas também podem ter essa geração individualista, mas não têm tanta capacidade narrativa (tem bem mais capacidade imagética, entretanto).

Portanto, a função da literatura é expandir o mundo através da visão de um indivíduo, aumentando a comunicação entre as pessoas, libertando escritor e leitores das celas solitárias de suas mentes. Você pode espiar um pouco o que acontece aqui dentro, e você pode – quando se identifica – perceber que não está só.


Acho que é para isso que serve.

Fábio, ainda petiz, chegando até mim. (É pra isso...)

E isso possibilita um pensamento muitas vezes alienado, arrogante e elitista. Do artista que “só se preocupa com sua visão pessoal” de que “não pode se influenciar pelo mercado ou pelo público”. Acho isso discutível. Acho isso perigoso. Acho que em artes de fato elitistas, como a literatura, a visão pessoal do artista deve imperar, sim, mas não se pode esquecer de que, ainda assim, a arte é uma comunicação. Então o artista não apenas diz o que QUER dizer, mas deve pensar no que ele QUER QUE SEU PÚBLICO SAIBA.

Acho que literatura é comunicação, mas não é um diálogo. É um monólogo (eu nem permito comentários neste blog – hahaha). E poucas artes são assim.


Portanto há uma responsabilidade, há um papel político na literatura. Eu me preocupo com isso, conscientemente. Acho que não devemos de forma alguma ser panfletários, e podemos até defender uma idéia moralmente condenável, mas é importante trazermos novas idéias, questionarmos, fazermos as pessoas pensarem , confrontarmos idéias pré-estabelecidas. Se você defende, por exemplo, uma idéia condenável, faz com que o outro pense em contra-argumentos, tira o leitor do piloto-automático ideológico.

Essa é minha desculpa para a sordidez...



"Desculpe! Abri a boca sem pensar!"





Por fim, como monólogo, e como visão pessoal de um único indivíduo, é natural que atinja poucas pessoas. Ainda acredito que quanto mais pessoal a literatura, menos gente vai se identificar (comprar, ler). O que importa é COMO essas pessoas vão se identificar. E, há sempre a esperança, de que a sociedade se transforme, e que a visão pessoal do escritor possa, um dia, estar em sintonia com que a massa pensa.

Hoje a massa leitora está em sintonia com a verdade massificada de alguns escritores que pensam só no mercado... é verdade. Mas não se pode dizer também que a massa leitora está em sintonia com aquela verdade outrora tão própria, tão subjetiva, tão exclusiva de Machado?

Não tenho mais respostas.


Ops (o serviço da peça!): “Artistas!”, quartas e quintas, até começo de dezembro, no Teatro Fábrica (Consolação 1623), 21:30. (podem ir, que é divertido, não é todo esse papo cabeça, não, haha).

21/10/2008

EU QUERO VER SORAYA QUEIMADA...




Recebi esses dias o novo (não tão novo assim) cd do Tetine, “Let Your X’s be Y’s”.

Para quem não sabe, Tetine é o duo de Eliete Mejorado e Bruno Verner, brasileiros radicados em Londres, que fazem um som meio experimental, meio elektro, com algumas passagens de funk.

Acompanho o Tetine há um looooooooongo tempo, desde o começo, desde quando ainda se escrevia Tétine com acento, desde quando eles ainda moravam aqui, e Eliete berrava, berrava, berrava. Lembro de um show impressionante que vi no extinto Columbia (em 97?). Uma coisa elektro-goth-punk, mas com certa consistência cult (não é à toa que o primeiro álbum foi lançado pelo antigo selo “Cri Du Chat”, que lançou algumas das coisas mais bacanas – e loucas – da “música gótica brasileira”).

O tempo passou, Tetine foi pra Londres, ficou por lá, e a goticidade toda foi dando mais espaço para o elektro de pista e até para o funk carioca, mas sempre mantendo uma autenticidade (ou perversidade?) de Tetine.

Agora eles lançam esse álbum, que é mais ou menos uma coletânea conceitual, com algumas faixas novas, remixes, regravações. A faixa que abre, “I Go to The Doctor” é um elektro funk divertidíssimo, especialmente no remix feito pelo CSS (que fecha o disco). Coisas mais assumidamente funk eu não gosto tanto, apesar da ironia. Mas é engraçado que, apesar do funk carioca ser tão pouco melódico, é nos momentos funk que o Tetine trabalha mais a melodia, e deixa um pouco de lado o “spoken word”, que dominava os primeiros álbuns da banda, e que era tão bacana.


(Adoro aquele cd deles, “Música de Amor” – acho que ainda é meu favorito – em que eles têm faixas baseados em textos de Brecht, contando histórias meio bizarras, meio macabras, meio em português, meio em inglês. Totalmente climático.)

(E essa é a capa que eu mais gosto deles)



Voltando ao cd do X em questão, tem outras faixas novas bem bacanas, como a “Let the X” em si, um loungezinho gostoso, bem oitentista. Oitentistas e gostosinhas também são “Everything Must Die” e “What a Gift to Get”. Lembra Gary Numan, Human League, Classix Nouveau e Tetine das antigas.

"Let the X's be Y's" acaba sendo uma ótima introdução ao Tetine, em suas diversas fases, num cd coeso, gosto e engraçado. Eu só não considero a coletânia perfeita deles porque eu mesmo fiz a minha, com todos os álbuns deles que eu tenho, mas incluí várias que estão nesse cd.


Se você não conhece, aproveite que o Tetine está em seus últimos dias de temporada no Brasil. Quinta agora tem show no Tapas (Augusta 1246) em horário de balada. Domingo tem show no Centro Cultural da Juventude (Av. Dep. Emílio Carlos, 3641) junto com outras bandas, à partir das 15h.

Depois eles voltam pra Londres, claro, que aqui infelizmente ainda não tem muita alternativa para os alternativos.


Falando nisso, recebi também esta semana o cd de estréia da banda Kynna. É estréia, mas eles têm muito tempo de estrada. Banda da Lílian Knapp, Cadu Nolla e Carlini, músicos lendários do rock (e da jovem guarda) nacional. Bacana que não pararam no tempo, e regravam vários artistas mais recentes, como Júpiter Maçã, Graforréia Xilarmônica e... Tetine!

Legal, inclusive, porque muitos desses artistas inclusive foram influenciados por eles, pelo Carlini do Tutti-Frutti, a Lilian da Jovem Guarda (e do Leno) e agora eles trazem essas influências de volta. Lilan cantando "Eu não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro", do Wander Wildner, está em perfeita sintonia com os sucesso antigos dela (como "Eu sou Rebelde" e "Devolva-me"), tem aquele ar kitsch, irônico, divertido e doce.


Vi show deles no Centro Cultural Vergueiro, há alguns meses. Carlini ao vivo é impressionante, guitarrista de primeiríssima. Lílian também é queridíssima, participou do meu extinto programa de rádio e desde então mora para sempre no coração.

Tem cds e shows por aí...


Falando no meu programa, lembro que certa vez encontrei o Zeu Britto no Rio. Conversamos um pouquinhos e ficamos de marcar a participação dele. O programa acabou e entrevista nunca aconteceu.

Dia desses vi o Zeu Britto no Programa do Jô, e me lembrei de procurar o cd, que eu nunca tinha ouvido inteiro.

E depois da meia-noite, Soraya vai voltar...


Tem o espírito perfeito do “Le Kitsch C’est Chic”. A faixa “Soraya Queimada” já é um clássico do meu apartamento. O álbum tem outras faixas bem bacanas, com o vozeirão de Britto e uma pegada “rock’n roll do inferno nordestino”. Verdade que muitas vezes cai no beisteirol, e o besteirol nem sempre está em equilíbrio com a musicalidade, mas quase. Prefiro as faixas mais nonsense mesmo (como “Soraya Queimada” e “Azia” e “Maria vai Com as Outras”). Mas ver Zeu Britto tocando sempre é divertido.

E é isso. No mais, o que mais? Isso é o que mais (ainda) estou escutando:


Creatures (Siouxsie), Bernard Butler e Scott Walker.

16/10/2008

SHE WALKS IN BEAUTY LIKE THE NIGHT

Na revista Joyce Pascowitch deste mês tem um perfil/entrevista que eu fiz com a Carolina Ferraz. O que eu sei de Carolina Ferraz? Tudo o que ela me disse... E um pouco mais. Me inspirei num poema do Byron (e qualquer semelhança com uma letra do Suede não é mera coincidência). Foi divertido fazer.

A revista como um todo está bem bacana, fazendo aniversário de dois anos. Eu estava lá, no primeiro número, com um perfil meu, depois comecei a participar como colaborador. Joyce sempre deu força pra mim, desde o começo, e é uma mulher bem louca. Eu gosto.

Nesta edição tem divas de outros tempos, matérias policiais e um ensaio fetiche com Kayki Brito (nunca sei escrever o nome desse menino... sempre tento, todo dia, todo dia tento acertar o nome dele, mas não consigo. Queria eu fazer o Caique Britto... digo, queria eu fazer um perfil do Kayky Brito... digo... Queria fazer por inteiro mesmo, e deixemos nisso.)

Uh-lalá.

Na Rolling Stone tem uma pequena resenha que fiz da "Enciclopédia dos Monstros", também bacana. Leio sempre a Rolling Stone - é a revista ideal para ler no aeroporto, num vôo, porque dura a viagem inteira - mas escrevo pouco lá. Aliás, tenho escrito pouco na mídia em geral, porque tenho trabalhado mais no meio editorial. Então esse mês tenho de divulgar...

Tem também a entrevista/perfil que fiz com João Gilberto Noll, na Simples, que já falei aqui. Não sei se é fácil achar a Simples pelas bancas, mas vale a pena tentar.

Agora começa a Mostra Internacional de Cinema. Eu bem que quero ir. Todo ano tento acompanhar. Mas Fábio chega com o "Castlevania - Symphony of the Night" e eu sei que não vou mais sair de casa...



14/10/2008

QUANDO ACORDOU, O JACARÉ AINDA ESTAVA LÁ...

Foto: "The Alligator's Approach" (Sally Mann)

Soube que "Mastigando Humanos" foi um dos livros selecionados pro PNBE - Programa Nacional de Bibliotecas na Escola? Isso significa que será um dos livros adotados para o ensino médio em 2009, com exemplares distribuidos por escolas públicas e bibliotecas de todo o Brasil. Ótimo não só pelas vendas, mas pela divulgação com a petizada. É meu jacaré conquistando definitivamente seu posto de professor.

Acho um público ótimo, talvez o único público que interesse realmente. São leitores em formação, gente que começa a ler meu livro e que pode ter mais simpatia com a literatura como um todo, que pode se tornar meu leitor para a vida toda, que pode se tornar leitor para a vida toda.

Como eu queria ter lido sobre jacarés assassinos na minha adolescência...

Já dei algumas palestras em escolas onde "Mastigando Humanos" foi adotado. É claro que nem todos os alunos gostam, alguns até criticam na cara dura. Mas ainda acho que é um livro diferente, é uma opção diferente, e é importante dar a eles (mais) essa opção.

Então taí. Com aval (e aquisição) do governo.

Hoje mesmo eu estive numa escola, conversando com duas turmas de 8a série. Eles não tinham lido meus livros, mas eu li os contos dele. Tinham coisas bizarríssimas, no bom e no mau sentido, muito sangue, muita morte. Se eles fossem autores crescidos, perguntariam se "tiveram influência de Rubem Fonseca", sendo que talvez o Rubem Fonseca é que tenha recebido as mesmas influências que eles. Me perguntei isso. Se Rubem Fonseca escrevendo hoje, e essa petizada escrevendo hoje, pode ser considerada a mesma "geração literária", porque por mais que haja a diferença de idade, estão produzindo ao mesmo tempo, no mesmo tempo, sob o mesmo contexto social-urbano...

Minha conversa com eles foi um pouco por esse caminho, de forma mais simplificada (mas nem tanto, porque era uma turma bem espertinha). Perguntei sobre a função da arte, a função da escrita, do escritor, da literatura de ficção. Eu sempre gosto mais de perguntar do que de responder, gosto de jogar questões para a classe. É assim que costumo estruturar as aulas que dou - tanto para ensino fundamental quanto para faculdade - se não fica muito na "Entrevista coletiva": "Com quantos anos começou a escrever?", "Como faço para publicar?", "De onde você tira suas idéias". Pra mim, é mais interessante perguntar.

Assim meu jacaré vai chegando lá...

Como o dia foi longo. Esta noite conferi a estréia de "A Tempestade", com a Companhia de Teatro em Quadrinhos, no Sesi. Como diria meu amigo maestro, é um "Shakespeare for Dummies", mas é divertida a visão "clownesca" da coisa...

Quando coloco o cd com a trilha do "Cymbeline" aqui eu quase choro. Sério. Saudades. Ainda bem que não sou ator e não costumo fazer teatro, porque é muito cruel essa coisa de peça sair de cartaz e nunca mais...

12/10/2008

VIVE LA FÊTE
Momento "Tiburon 3-D" da semana.
Fui ao show do Vive La Fête, mas não lembro de muita coisa. Isso foi o que consegui resgatar da minha memória (digital).


Fábio, Aidê, Cris Lisbôa e eu.

Ambooleg e Fábio.

Eliete (Tetine) e Rodrigo Araújo.

Acho que foi divertido...

10/10/2008

A VOLTA DE J.T. LEROY

Ai, de novo essa história?


Savannah Knoop, a “dublê” de J.T LeRoy acabou de lançar “GirlBoyGirl”, um livro contando toda a história.

Quer dizer... nem toda. O livro é feito de episódios em que ela teve de interpretar o petiz literário, mas deixa muita coisa de fora (como a visita dele/dela ao Brasil).

Já contei a história dezenas de vezes aqui (e até traduzi uma entrevista), mas como sempre tem gente nova (e desinformada) chegando: J.T LeRoy é um autor que bombou no começo dos anos 2000, com dois livros em que contava sua história de vida, como garoto de rua, prostituto mirim, que foi abusado de todas as formas possíveis.

O lance era o garoto ter sobrevivido, escrito sobre tudo e ter se tornado um escritor celebrado, que só se apresentava publicamente de peruca e óculos escuros. Tornou-se, obviamente, uma celebridade cult, conquistando leitores como Gus Van Sant, Madonna, Billy Corgan e Shirley Manson (que até fez uma música para ele, aquela “Cherry Lips”, do Garbage).

Seu segundo romance, “Maldito Coração”, foi adaptado para o cinema pela (péssima) Asia Argento (isso, filha do Dario, diretor italiano lendário de filmes de terror). Tem pra alugar por aí, mas eu não recomendo. É bem chato.

O filme.



J.T LeRoy veio ao Brasil em 2005, lançar seu primeiro livro, “Sarah”. Como eu estava traduzindo o segundo (“Maldito Coração”) fui jantar com a editora e com ele. Achei um menino bem bonitinho, andrógino, que na época devia ter uns 23 anos.


Foto da época: "JT", minha irmã Nina e eu (ao fundo).



Só que poucos meses depois foi revelada a farsa: J.T LeRoy não existia. Toda a história havia sido criada por uma escritora balzaquiana, Laura Albert, e quem interpretava o petiz andrógino era sua cunhada, Savannah Knoop. Foi ela quem eu conheci. Os emails que troquei durante a tradução foram com a autora, Laura. E tem pitadas bem irônicas:

“Obrigado por ser eu... porque é o que um tradutor deve fazer.”


Laura (a autora) e Savannah (a dublê).



Apesar da farsa ter sido revelada por um repórter investigativo, Albert tentou capitalizar em cima da coisa. Criou até essa ótima camiseta:



Com o tempo, a história esfriou. Agora, Savannah Knoop lança um livro contando como foi montada a farsa. Isso, Savannah, a dublê, não a autora. E esse é o problema básico do livro. É escrito por uma não-escritora, e isso se torna visível (para não dizer “risível”) pela ruindade do texto.

Além disso, Savannah não parece saber a história toda. Quero dizer, a maioria das entrevistas e amizades de J.T LeRoy foram conduzidas pela própria Laura, por telefone (disfarçando a voz) e por emails. Muitas das celebridades que entraram em contato com J.T LeRoy nunca o encontraram pessoalmente, nunca encontraram com Savannah, então ela não tem muitas informações sobre a parte mais legal da história.

O livro tem algumas passagens divertidas, como um jantar com Gus Van Sant e Michael Pitt (tem várias fofoquinhas, inclusive). E é interessante ver como Laura Albert reagia a tudo, acompanhando J.T LeRoy como sua mentora, mas sem poder revelar que era ela a verdadeira autora de toda a história.

Mas, no geral, o livro é bem chato. Savannah é uma lésbica resmungona, que passa o livro inteiro contando seus problemas de bulimia, de auto-aceitação, meio para justificar ter aceitado o papel de J.T. E ela nem fala sobre a visita ao Brasil, apenas narra uma outra viagem que fez (por conta própria) ao Rio.

Li o livro a pedido de uma editora. E meu parecer foi negativo, claro. Mas continuo esperando por novos livros de Laura Albert, sendo como JT ou não, porque ela sim escreve, criou uma história fascinante que, ao meu ver, transcende os limites da literatura.
A bela edição brasileira da Geração Editorial. A tradução é minha.



Outro livro com uma história bem parecida é “The Night Listener”, do Armistead Maupin, também baseado em fatos reais.

Nesse, outro menino adolescente que foi abusado escreve suas memórias e manda para Maupin, que fica fascinado com o livro. Eles começam a conversar com freqüência por telefone, mas, com o tempo, Maupin começa a achar que a voz do menino e de sua assistente social são muito parecidas...

O livro rendeu um filme também, e apesar de ser estrelado pelo Robin Williams, é ótimo. Tem pra alugar, se chama “Segredos na Noite” aqui no Brasil:







Estou agora fazendo o parecer de um livro bem divertido, bem masculino, de um cara que viaja pelo mundo bebendo, jogando, trepando e realizando todas as fantasias masculinas (independentemente da sexualidade do macho em questão). Me deu saudades dos quartos de hotel, dos serviços de quarto, dos concierges que me recebiam com "welcome, young man", e pediam meu cartão de crédito....
Hotel...
Hotel...
Hotel...

Hotel...



07/10/2008

"SAMBA"

Começa nesta quarta, dia 08, a Mostra Sesc de Artes 2008, que reune música, teatro, literatura, artes visuais e muito mais, em todas as unidades do Sesc.



Eu participo de uma instalação nas escadarias do Sesc Pinheiros, novamente em parceria com Alexandre Matos (que ilustrou meu livro fantasma).







Alê e eu.





Nossa idéia foi criar sombras de personagens descendo e subindo, com suas narrativas internas, como se as sombras revelassem o verdadeiro estado do indivíduo.



"Impressionante o que se esquece por essas escadas..." (Aqui, no caso, é um coração).


Fizemos uma anoréxica perdendo calorias pelos degraus, um fumante esvaecendo em fumaça, um homem com o coração vazio, crianças correndo, uma grávida flutuando e até (claro) um jacaré. São sete lances de escadas, sete grupos de personagens.





O layout.


A montagem.



O resultado.




Acho uma delícia criar essas coisas. E é legal receber convites de gente que percebe que o escritor é, antes de tudo, um criador, que pode ousar além do papel, da tela, do texto.




Mais um jacaré.


Fora que minha parceria com o Alexandre Matos está afinadinha, ele já ilustrou diversos dos meus conceitos (em livro, jornal e agora parede) e nossa arte casa super bem.


O topete é dele. A fumaça é minha...

A Anoréxica: "Quanto mais penso sobre isso, mais peso sobre mim mesma. Mais uma escada e menos um quilo. Uma maçã a menos, ao menos, eu consigo."

"Ela desceu as escadas. Jurei que não ia atrás. Sem ela é mais leve a subida. Mas com esse buraco no peito é mais fácil afundar."


"Não é a gravidez, é a gravidade. A gravidade é que me puxa para trás. É só a física que me puxa para baixo. Meu futuro me faz flutuar."


O nome da instalação é "Samba", porque fiquei dias tentando pensar em algo com "Sombra" e achei que Samba tinha um som parecido, tinha ritmo, movimento e dava samba. Fora que eu e o Alê temos tão pouco a ver com samba, que acho que seria essa nossa versão, sombria, trevosa, mas ainda bem humorada e "sweet".


A equipe toda de montagem.





Fica pelo menos até dia 18, no Sesc Pinheiros (Talvez fique permanente, mas eu não vou mais lá ver, porque tenho medo de amanhã já estar rabiscado, rasgado, interferido... Sabe como é, a gente cria os filhos pro mundo, depois que coloca na rua, não é mais nosso...)



Aproveite e cheque toda a programação da Mostra, porque tem coisas bem legais, Literatura de Celular, aquele patinho de borracha gigante (no Sesc Itaquera) e muito mais:



http://www.mostrasescdeartes.com.br/blog/

NESTE SÁBADO!