30/12/2010

ESQUENTANDO PARA 2011


Uma ilha só minha.


Fiz bem. Ano passado passei o reveillon aqui na ilha como turista, pagando os olhos da cara por um quarto de pousada, sozinho. Este ano não faria o menor sentido sair daqui, e aproveitei para convidar os amigos mais próximos - Cristiane Lisbôa, Marcelino, Luis Fernando, Gustavo Vinagre, Alexandre Palo, Alexandre Matos, Nicolas e Bianca, Laerte, Dan Nakagawa, Leandro, Shuhei, Thiago, Ricky e Filipe... e nada. Ninguém quis vir, ninguém me quis...



Na varanda aqui de casa, esperando por qualquer alguém...



Mas de última hora vieram os melhores! Strausser, Simone e o Hau. Muito bem. Que se dane o resto. Sei que nem todo mundo podia vir mesmo, uns trabalham, outros tinham passagens já compradas; para alguns o convite se extende para todo o verão, para outros, fica o link:

http://www.guesthousemarujo.net/

Casalzinho lindo.


Hau.


As praias aqui do lado já estão em polvorosa. É uma outra ilha, lotada, turística e surumbática. Tem sido muito interessante ver a percepção do Hau (que na verdade se comporta mais como chinês do que como Canadense) sobre tudo. A primeira frase que ele soltou ao chegar na praia aqui da Barra foi: "This is sooooo much better than Rio..."


Primavera de sabores.


Hau provando dos sabores do Brasil.


Já fiz minha famosa salada "Primavera de Sabores" (de frutos do mar) e temperei um peru e empanei lulas para amanhã. Dizem que não se deve comer peru no ano novo, porque a coisa cisca para trás, mas o ano foi tão bom que é bom que volte mesmo. E, além do mais, depois de uma certa idade, é preferível não investir apenas em avanço...


Torcendo agora para que a zica que tive no reveillon que passei com Strausser e Simone (no Rio, de 2008 para 2009) não se repita... Tivemos pneus furados de madrugada na linha vermelha, o Fábio ficou doente e permaneceu uma sensação generalizada de mal estar...

Simone Spoladore acaba com Nazarian.



Hau capta flagrante raro do meu sorriso torto.



Hoje fomos todos para a sequência de camarão, arruinar o que conquistamos tão duramente nesses meses todos de academia. O verão promete.



Comida.
Trilha.
E trilha.

Ficam aqui as primeiras fotos da nossa festa. As panorâmicas foram feitas com a Pentax que comprei em Tóquio. As mais "artísticas" foram tiradas com o Iphone do Hau.




26/12/2010

MEET THE NAZARIANS

Hau, meu hóspede de final de ano, que veio direto do Canadá.


Pulo rápido em SP, para passar o Natal com a família, coletar os presentes, pegar o Hau e voltar para Floripa, onde passamos o reveillon. Fica aqui o registro do álbum de família.


Marina (esquerda) foi minha amiga de infância, e acabou casando com meu primo Eduardo, irmão da Drica (à direita).

Minha irmã e meu cunhado.

Minha linda e descolada prima Paula.

Meu primo Fernando.

No sábado o almoço foi na casa da minha mãe, no campo.

Familinha recebendo o Hau.

Minha mãe e o Renê, amigo da família.



Minhas duas irmãs mais velhas, e meu braço quebrado.

20/12/2010

A VIDA AMOROSA DOS MONSTROS


Apesar de dizerem que o centro da Lagoa está completamente poluído, nas margens ainda avisto pinguins, siris, mergulhões e muitos peixes, através de uma água transparente. Dia desses vi um casal de lontras. Foram seguindo do meu lado por toda a Avenida das Rendeiras.

E dia desses vi essa mensagem sendo escrita - "I Love You Dani" -; o homem jogava pedras à distância, da beirada, mirando, calculando e formando com elas as letras e o coração. Técnica interessante, ecológica e inofensiva.

Vi a mensagem, o coração se formando, e isso está lá ainda hoje. Imagino o sorriso que forma no rosto, não só de tal Dani, mas de quem vê a mensagem e pensa qual é a história por trás, como a mensagem foi feita; visualiza o apaixonado (ou apaixonada) que a escreveu como sua própria encarnação do amor romântico.

Mas não foi isso que eu pude ver. E pude entender que,como a religiosidade, o amor só pode ser encontrado com fé e abstração.

É preciso fechar os olhos para encontrar.

Porque só eu via, seguia sozinho. E não havia beleza que pudesse me fazer acreditar. Quem escrevia a mensagem era um gordo careca de sunga, com pelos nas costas. E as gaivotas me diziam que o amor era mais uma farsa.

18/12/2010

PAVOR DE GERAÇÃO

Saiu hoje na Folha, com textos de Fabio Victor e Paulo Werneck uma “pré-crítica” a antologia organizada pelo Nelson de Oliveira, “Geração Zero Zero.”

A antologia, que será lançada no começo do ano pela Língua Geral, traz contos de 21 prosadores que começaram a publicar nesta década, escolhidos (pelo antologista) entre os que mais se destacaram.

Assim como aconteceu com o lançamento da Geração 90 (também organizada pelo Nelson), as críticas levantam polêmica sobre “a confusão do termo geração”, os nomes que ficaram de fora e a intenção de fazer “marketing literário.”

Preguiça...

Não há nenhum grande plano nefasto por trás, não há nenhuma intenção perniciosa. É só (mais) uma antologia. Muita gente bacana começou a publicar dos anos 2000 para cá, Nelson só reuniu alguns dos nomes de forma a colocá-los todos juntos, apresentar ao leitor médio que já havia ouvido falar de vários, mas ainda não tinha lido. Uma forma de poder conhecer um pouco de cada. Enfim, uma antologia.

Eu não entendo essa necessidade de explicar e justificar, e por que uma antologia dessas e o termo “Geração” causam tanto atrito. É pentelhação mesmo. Uma visão acadêmica e pesada da literatura, que passa longe da relação dela com o leitor.

Mais compreensiva é a “cobiça das gaivotas,” a inveja dos que ficaram de fora da seleção e o questionamento dos que sentiram falta desses, porém não é esse o foco central da crítica. A seleção sempre é subjetiva – não é um prêmio, não é um concurso público, ninguém vai ficar rico com isso. Mas sei que Nelson não privilegiou os amigos – não sou amigo do Nelson, e estou lá. Sei também, pelo próprio Nelson, que alguns dos autores citados como ausentes não estão na antologia porque não quiseram participar.

Enquanto Fabio Victor questiona principalmente o termo “geração”, Paulo Werneck critica o marketing dos escritores - “Marketing é para editoras e livrarias, não para autores e críticos.” Por quê? O escritor tem é de escrever – se além disso faz marketing, dança balé, espanca a mulher, come sushi e tem HIV o que interfere na qualidade da literatura? Grande parte dos grandes escritores “clássicos” é formada por grandes filhos da puta; a vaidade ou narcisismo dos autores de hoje é perfeitamente desculpável. É mesmo um traço de geração, portanto maior do que a escolha individual. TODA a classe artística está presa hoje ao marketing, do artista plástico à cantora de axé. Os próprios reclusos, como Rubem Fonseca, já admitiram que isso também se torna uma questão de marketing.

Só não entendo muito o que isso tem a ver com a antologia, uma vez que não foi uma estrategia de marketing dos próprios autores. Ninguém se reuniu para criar um grande plano de autopromoção. Eu mesmo recebi o convite do Nelson por email, fiz meu textinho sozinho aqui na ilha, não tenho ideia do que os outros autores mandaram e nem mesmo sabia a lista completa dos autores.

Continua Werneck: “É preciso um ensaio de peso, uma revista, um manifesto que justifiquem o batismo de uma nova geração literária.” Taí, PESO. Engessa a literatura e manda entregar na Academia Brasileira de Letras.

12/12/2010

E A RETROSPECTIVA...


Em outubro, no Japão.


2010 foi um belo ano para mim. Na verdade, um dos melhores. Mudei de cidade, viajei bastante, conheci três países novos (Japão, República Tcheca e Espanha) e revisitei meia dúzia dos meus favoritos.


Teve muito trabalho, algumas boladas de dinheiro, ganhei o edital a Petrobrás, mas este foi o primeiro ano em que a carreira não esteve em primeiro plano para mim. Desde que comecei a publicar, há quase oito anos, vim tratando da minha literatura e da divulgação dela de maneira obsessiva. Foi importante. Mas agora, seis livros depois, tudo parece relativo, ou menos importante. Ter saído de SP foi bom para isso, sair do circuito, ver que a vida continua acontecendo de outras formas, sem interferência nossa, e que o que eu escrevo não faz a menor diferença para o mundo. Faz diferença para algumas pessoas, acho. Isso já vale a pena. Faz a diferença para mim. E paga meu champagne. Mas eu nem estou fazendo a cena cultural brasileira atual. Quem está fazendo é... sei lá, Maria Gadú, Wagner Moura, Milton Hatoum...


Falo isso sem rancores. Eu sempre fui das minorias.


E o ano foi belo! Risonho! Límpido!


Verdade que no terreno afetivo foi uma negação, mas não se pode ganhar todas, principalmente sem estacionar, como eu estou. Não posso reclamar dos pitéus que, se foram escassos na ilha, abundaram (hehe) no exterior.


Deu pra eu ser feliz...



O ano começou já em Floripa, eu como turista. E continuei subindo essa lomba o ano todo, até agora, tentando queimar as caipirinhas e os camarões.


Ida e família (aqui, com o Tayia), foram a minha família em Florianópolis.



Logo que me mudei, em março, trouxe Antônia, minha faxineira de SP de 63 anos para conhecer o mar pela primeira vez.


Eu ainda não me cansei da beleza daqui, de correr na praia, remar na lagoa...




E do kite surf. Comecei há alguns meses; confesso que ainda sou bem prego (dia desses levei uma surra da prancha no mar), mas é uma experiência mucho loca, adrenalina, e algo que eu tinha de fazer, morando na praia. Agora em janeiro começo a fazer mergulho também (com cilindro).




Mas morar aqui tem seus momentos bem difíceis. O inverno, quando voltei da Espanha, foi frio, chuvoso, solitário e suicida. Valeu pelos pinguins e leões marinhos que avistei na praia




Entre os pouquíssimos amigos que vieram me visitar, teve o Marcelino, com quem também fui para Parati no começo do ano. Acho que o povo não é muito de praia...



Eui fui à praia até em Barcelona. Claro que a natureza lá não se compara com a daqui, mas os banhistas...



Barcelona foi extensão da viagem que fiz à Madrí. Fui um dos autores convidados pela Casa América para o II Congreso de Nuevos Narradores Iberoamericanos. Conheci grandes figuras, fiz bons amigos e...



Fui na parada gay! Que de quebra teve show gratuíto de Kylie Minogue. Também assisti ao show de Lady Gaga, na Finlândia, divertidinho. Mas deu de divas gays.



No Brasil, participei apenas de DOIS eventos literários. E foi o suficiente. Bacana para conhecer Cachoeiro do Itapemirim (ES), onde tive debate com Daniel Galera e Michel Melamed...




E Campo Grande (MS), onde fiquei três dias no Sesc Horto, participando de debate, oficina e instalação.


Em outubro fui pela primeira vez ao Japão, onde fiquei hiper bem hospedado na casa do Cesar.



Dizer que a viagem foi inesquecível é pouco, e nem vou tentar explicar numa legenda de foto. Já contei bastante da viagem aqui. Mas destaco como ponto alto o cenário que vi na ilha de Miyajima.

Antes, aproveitei que ia pro Japão e dei uma paradinha (de 4 semanas) na Europa. Tive um breve encontro com minha agente (Nicole, extrema esquerda, com sua equipe) e um jantar com editores na abertura da feira de Frankfurt.



Mas era uma viagem mesmo de férias. E os nove dias que fiquei na Finlândia (minha terceira passagem por lá) reforçaram intensamente meu amor por aquele país. Volto em breve.



Vendo tudo isso, até EU consigo entender como minha literatura ficou em segundo plano. E isso porque ainda consegui terminar livro novo - PORNOFANTASMA - meu primeiro livro de contos (contos longos, de 20, 30 páginas), que já está entregue na Record e sai no começo do ano, depois do carnaval.


Agora estou trabalhando num novo romance (lentamente, sem pressa) e naquele antigo juvenil, o GAROTOS MALDITOS (que venceu o Petrobrás), e está previsto para final de 2011, começo de 2012.

Tiveram ainda váaaaarias traduções. Destaco "A Garota dos Pés de Vidro", do britânico Ali Shaw. Foi difícil, mas o livro é incrível. Já saiu, pela Leya.



O ano termina mas, como sempre, o blog continua. Os trabalhos também - não vai dar para tirar mais uma temporada de férias agora. Dou um rápido pulo em SP pro Natal, depois volto pro reveillon em Florianópolis, com convidados.


Neste final de semana, já em forma para o verão 20011. (Detalhe para o kite do Magu ao fundo.)



10/12/2010

JACKO WACKO

Um Michael Jackson entrou pela janela aqui de casa. Ficou batendo pelas paredes, nos vidros, tentando sair. Eu tentei pegar com uma toalha, mas não consegui. Agora ele está em cima da estante, olhando pra mim...

Do Facebook:

Ary: O que ser um Michael Jackson?
Nazarian: O que ser Michael Jackson? Tipo, Rei do Pop? Onde você esteve nos últimos, tipo, 50 anos?
Ana Pou-la: Um corvo?
Estrela: Nunca vi corvo no Brasil...
Nazarian: Michael Jackson tem sim. Vi até no Morumbi, em 93.
Ary: Kkkkkk, pergunto sobre o que entrou pela sua janela...
Enoque: Morcego, gente, vocês nunca notaram a semelhança?
Gustavo: Mentira.
Estrela: Tadinho dos morcegos...
Nazarian: Olhando melhor, acho que é uma Susan Boyle.

08/12/2010

MICROPOST

Me olhei agora no espelho, me achei abatido...

Mas que diabos... moro na praia, estou bronzeado. Há vários... dias que não uso drogas, que não bebo; dormi bem...

Ah... é a idade.

04/12/2010

MATANDO A PAU

Texto de Drauzio Varella na Folha de hoje.

Violência Contra Homossexuais

A HOMOSSEXUALIDADE é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamento humano que se lhe compare.
Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência a mulheres e a homens homossexuais. Apesar de tal constatação, esse comportamento ainda é chamado de antinatural.


Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (leia-se Deus) criou os órgãos sexuais para a procriação; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).

Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?

Se a homossexualidade fosse apenas uma perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.

Em alguma fase da vida de virtualmente todas as espécies de pássaros, ocorrem interações homossexuais que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação.

Comportamento homossexual foi documentado em fêmeas e machos de ao menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.

A homossexualidade entre primatas não humanos está fartamente documentada na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no "Journal of Animal Behaviour" um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre os machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes.

Masturbação mútua e penetração anal estão no repertório sexual de todos os primatas já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.

Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas.

Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por mero capricho. Quer dizer, num belo dia, pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas, como sou sem-vergonha, prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.

Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.
A sexualidade não admite opções, simplesmente se impõe. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.


Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países o fazem com o racismo.

Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais que procurem no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal aceitam a alheia com respeito e naturalidade.

Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.

Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser nazistas a ponto de pretender impor sua vontade aos mais esclarecidos.

Afinal, caro leitor, a menos que suas noites sejam atormentadas por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu por 30 anos?

(Disse tudo. E gosto muito do Drauzio, como pessoa e como escritor. Como médico eu ainda não consultei, hehe.)

02/12/2010

ENTÃO É NATAL...

Fim de ano sempre é meio deprê...


Aquele clima de fim de festa, fim do mundo, quem comeu comeu, quem não comeu não come mais. Eu sempre acabo enfiando o pé na jaca e chego à ceia de Natal com depressão química e overdose de noz moscada.


Parece que Augusten Burroughs - o autor do excelente livro de memórias Correndo com Tesouras - também se sente assim, pelo menos pelas histórias que conta em seu You Better Not Cry, livro de crônicas natalinas, ainda não lançado em português no Brasil (eu comprei na Tower Records de Tóquio.)


Mais uma vez é um livro de memórias - ele também lançou um romance, mas se tornou célebre contando suas aventuras bizarras e tragicômicas - que vão desde sua infância até os tempos atuais. Incrível que tantas desgraças possam acontecer com uma pessoa, mas, como colocou um leitor da Amazon, lendo este livro você entende o motivo: karma.



As crônicas são colocadas em ordem cronológica, e o livro começa fofo com Augusten petiz, em sua confusão para entender a diferença entre Papai Noel e Jesus Cristo, ou literalmente comendo um Papai Noel de cera, e achando que vai apodrecer no inferno. Mas logo a personalidade do autor vai se revelando mais leviana e negativamente americana.


Ele atormenta os pais para ganhar um pônei (que vai batizar de Al Capone - hohoho) e vai piorando em sua escalada de criança mimada, até a idade adulta. Burroughs se tornou um publicitário homossexual e alcóolatra - e eu não poderia pensar numa outra combinação de palavras para descrever alguém mais desprezível... Ah, acrescente "americano."


O livro segue essa tônica. O menino pentelhinho que queria um pônei se torna um adulto que trepa com um "Papai Noel francês de boteco," depois acorda no dia seguinte de ressaca com o velho ao lado e faz questão de demonstrar seu nojo. Até solta a seguinte pérola, quando o velho fala com ele em francês: "Epa, epa, Monsieur Santa, chega dessa lingua romântica enquanto eu estiver por aqui, ok? Vamos tentar de novo no belo e universal inglês."




Eu larguei o livro por uma semana depois disso.


Mas voltei. E o livro não Itálicose redime. Quando Augusten não é o alcóolatra escroto, é o gayzinho sentimental e novo rico montando árvores de Natal com seu "companheiro." (Não sei por que, mas essa palavra me dá vontade de vomitar...).


Pode parecer mais interessante e divertido do que é, mas aviso: You Better Not Cry é um livro para criar antipatia em todos os leitores que Burroughs conquistou em Correndo com Tesouras. E para ajudar os depressivos natalinos a cortar os pulsos.



E cortando a jugular...


Annie Lennox também deve se deprimir com o Natal. Deprimiu a mim, com seu recém lançado disco de canções natalinas. Ok, "disco de canções natalinas" já é uma peça de qualidade duvidosa em si, mas há boas surpresas como... o disco de Natal do Jordy!



Um clássico das festas aqui de casa.


Voltando à Lennoxa, seu A Christmas Cornucopia traz canções pouco conhecidas para nós. Tem "Noite Feliz" ("Silent Night") e só. As outras são clássicos bem britânicos, bem solenes e cristãos, como "God Rest Ye Merry Gentlemen" (que tem o verso ultra festivo: Lembre-se de que Jesus nasceu no dia de Natal para nos salvar a todos das forças de Satanás, quando estávamos perdidos" - Sério!). Tem também uma música inédita, "Universal Child", com renda revertida para crianças na África e o escambau. Preciso dizer mais?



Annie Lennox continua minha maior diva. Mas é aquela Annie Lennox andrógina, dos Eurythmics até começo dos anos 90. Uma tiazinha polticamente correta e engajada ninguém merece no aparelho de som.



Então ainda estou tentando entrar num clima positivamente natalino. Não que meu clima esteja lá tão negativo. Este ano, por estar morando na praia, parece que saltei direto para o reveillon. O tempo já está esquentando, os turistas voltaram às praias e não dá pra pensar em bonecos de neve fazendo kite surf. Mas já tive há pouco mais de um mês a experiência mais natalina que um ser humano pode ter, quando visitei a "Vila do Papai Noel", no círculo polar ártico, em Rovaniemi, Finlândia. Tudo bem que o próprio bom velhinho estava de folga, e eu não consegui ver uma rena viva. Mas valeu bem só por ter caminhado perdido pelas estradas de Rovaniemi, na companhia de um argentino, cantando em looping "Rudolph the Red Nosed Reindeer" ("A Rena do Nariz Vermelho") (Eu estava tentando levantar o astral dele, que tinha sido chifrado pela namorada...)
Rovaniemi, onde Noel perdeu as botas, em outubro.

Para terminar:

A menina sentou no colo do Papai Noel e perguntou:

"Papai Noel, você roe unha?"

E ele respondeu:

"Rô, Rô, Rô."

NESTE SÁBADO!