02/12/2010

ENTÃO É NATAL...

Fim de ano sempre é meio deprê...


Aquele clima de fim de festa, fim do mundo, quem comeu comeu, quem não comeu não come mais. Eu sempre acabo enfiando o pé na jaca e chego à ceia de Natal com depressão química e overdose de noz moscada.


Parece que Augusten Burroughs - o autor do excelente livro de memórias Correndo com Tesouras - também se sente assim, pelo menos pelas histórias que conta em seu You Better Not Cry, livro de crônicas natalinas, ainda não lançado em português no Brasil (eu comprei na Tower Records de Tóquio.)


Mais uma vez é um livro de memórias - ele também lançou um romance, mas se tornou célebre contando suas aventuras bizarras e tragicômicas - que vão desde sua infância até os tempos atuais. Incrível que tantas desgraças possam acontecer com uma pessoa, mas, como colocou um leitor da Amazon, lendo este livro você entende o motivo: karma.



As crônicas são colocadas em ordem cronológica, e o livro começa fofo com Augusten petiz, em sua confusão para entender a diferença entre Papai Noel e Jesus Cristo, ou literalmente comendo um Papai Noel de cera, e achando que vai apodrecer no inferno. Mas logo a personalidade do autor vai se revelando mais leviana e negativamente americana.


Ele atormenta os pais para ganhar um pônei (que vai batizar de Al Capone - hohoho) e vai piorando em sua escalada de criança mimada, até a idade adulta. Burroughs se tornou um publicitário homossexual e alcóolatra - e eu não poderia pensar numa outra combinação de palavras para descrever alguém mais desprezível... Ah, acrescente "americano."


O livro segue essa tônica. O menino pentelhinho que queria um pônei se torna um adulto que trepa com um "Papai Noel francês de boteco," depois acorda no dia seguinte de ressaca com o velho ao lado e faz questão de demonstrar seu nojo. Até solta a seguinte pérola, quando o velho fala com ele em francês: "Epa, epa, Monsieur Santa, chega dessa lingua romântica enquanto eu estiver por aqui, ok? Vamos tentar de novo no belo e universal inglês."




Eu larguei o livro por uma semana depois disso.


Mas voltei. E o livro não Itálicose redime. Quando Augusten não é o alcóolatra escroto, é o gayzinho sentimental e novo rico montando árvores de Natal com seu "companheiro." (Não sei por que, mas essa palavra me dá vontade de vomitar...).


Pode parecer mais interessante e divertido do que é, mas aviso: You Better Not Cry é um livro para criar antipatia em todos os leitores que Burroughs conquistou em Correndo com Tesouras. E para ajudar os depressivos natalinos a cortar os pulsos.



E cortando a jugular...


Annie Lennox também deve se deprimir com o Natal. Deprimiu a mim, com seu recém lançado disco de canções natalinas. Ok, "disco de canções natalinas" já é uma peça de qualidade duvidosa em si, mas há boas surpresas como... o disco de Natal do Jordy!



Um clássico das festas aqui de casa.


Voltando à Lennoxa, seu A Christmas Cornucopia traz canções pouco conhecidas para nós. Tem "Noite Feliz" ("Silent Night") e só. As outras são clássicos bem britânicos, bem solenes e cristãos, como "God Rest Ye Merry Gentlemen" (que tem o verso ultra festivo: Lembre-se de que Jesus nasceu no dia de Natal para nos salvar a todos das forças de Satanás, quando estávamos perdidos" - Sério!). Tem também uma música inédita, "Universal Child", com renda revertida para crianças na África e o escambau. Preciso dizer mais?



Annie Lennox continua minha maior diva. Mas é aquela Annie Lennox andrógina, dos Eurythmics até começo dos anos 90. Uma tiazinha polticamente correta e engajada ninguém merece no aparelho de som.



Então ainda estou tentando entrar num clima positivamente natalino. Não que meu clima esteja lá tão negativo. Este ano, por estar morando na praia, parece que saltei direto para o reveillon. O tempo já está esquentando, os turistas voltaram às praias e não dá pra pensar em bonecos de neve fazendo kite surf. Mas já tive há pouco mais de um mês a experiência mais natalina que um ser humano pode ter, quando visitei a "Vila do Papai Noel", no círculo polar ártico, em Rovaniemi, Finlândia. Tudo bem que o próprio bom velhinho estava de folga, e eu não consegui ver uma rena viva. Mas valeu bem só por ter caminhado perdido pelas estradas de Rovaniemi, na companhia de um argentino, cantando em looping "Rudolph the Red Nosed Reindeer" ("A Rena do Nariz Vermelho") (Eu estava tentando levantar o astral dele, que tinha sido chifrado pela namorada...)
Rovaniemi, onde Noel perdeu as botas, em outubro.

Para terminar:

A menina sentou no colo do Papai Noel e perguntou:

"Papai Noel, você roe unha?"

E ele respondeu:

"Rô, Rô, Rô."

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...