18/12/2010

PAVOR DE GERAÇÃO

Saiu hoje na Folha, com textos de Fabio Victor e Paulo Werneck uma “pré-crítica” a antologia organizada pelo Nelson de Oliveira, “Geração Zero Zero.”

A antologia, que será lançada no começo do ano pela Língua Geral, traz contos de 21 prosadores que começaram a publicar nesta década, escolhidos (pelo antologista) entre os que mais se destacaram.

Assim como aconteceu com o lançamento da Geração 90 (também organizada pelo Nelson), as críticas levantam polêmica sobre “a confusão do termo geração”, os nomes que ficaram de fora e a intenção de fazer “marketing literário.”

Preguiça...

Não há nenhum grande plano nefasto por trás, não há nenhuma intenção perniciosa. É só (mais) uma antologia. Muita gente bacana começou a publicar dos anos 2000 para cá, Nelson só reuniu alguns dos nomes de forma a colocá-los todos juntos, apresentar ao leitor médio que já havia ouvido falar de vários, mas ainda não tinha lido. Uma forma de poder conhecer um pouco de cada. Enfim, uma antologia.

Eu não entendo essa necessidade de explicar e justificar, e por que uma antologia dessas e o termo “Geração” causam tanto atrito. É pentelhação mesmo. Uma visão acadêmica e pesada da literatura, que passa longe da relação dela com o leitor.

Mais compreensiva é a “cobiça das gaivotas,” a inveja dos que ficaram de fora da seleção e o questionamento dos que sentiram falta desses, porém não é esse o foco central da crítica. A seleção sempre é subjetiva – não é um prêmio, não é um concurso público, ninguém vai ficar rico com isso. Mas sei que Nelson não privilegiou os amigos – não sou amigo do Nelson, e estou lá. Sei também, pelo próprio Nelson, que alguns dos autores citados como ausentes não estão na antologia porque não quiseram participar.

Enquanto Fabio Victor questiona principalmente o termo “geração”, Paulo Werneck critica o marketing dos escritores - “Marketing é para editoras e livrarias, não para autores e críticos.” Por quê? O escritor tem é de escrever – se além disso faz marketing, dança balé, espanca a mulher, come sushi e tem HIV o que interfere na qualidade da literatura? Grande parte dos grandes escritores “clássicos” é formada por grandes filhos da puta; a vaidade ou narcisismo dos autores de hoje é perfeitamente desculpável. É mesmo um traço de geração, portanto maior do que a escolha individual. TODA a classe artística está presa hoje ao marketing, do artista plástico à cantora de axé. Os próprios reclusos, como Rubem Fonseca, já admitiram que isso também se torna uma questão de marketing.

Só não entendo muito o que isso tem a ver com a antologia, uma vez que não foi uma estrategia de marketing dos próprios autores. Ninguém se reuniu para criar um grande plano de autopromoção. Eu mesmo recebi o convite do Nelson por email, fiz meu textinho sozinho aqui na ilha, não tenho ideia do que os outros autores mandaram e nem mesmo sabia a lista completa dos autores.

Continua Werneck: “É preciso um ensaio de peso, uma revista, um manifesto que justifiquem o batismo de uma nova geração literária.” Taí, PESO. Engessa a literatura e manda entregar na Academia Brasileira de Letras.

NESTE SÁBADO!