Eu falo que é uma missão impossível ser intelectual, atleta e junkie ao mesmo tempo. Mas eu continuo tentando...
Preparando o meu naufrágio.
Intelectual é o que cobram de um escritor, que muitas vezes é confundido com o acadêmico, ou o cronista, ou o jornalista – que não só tem de se nutrir de alta cultura, mas que tem de ter uma opinião reveladora sobre tudo. Junkie é muitas vezes o nicho em que me encontro, nem tanto pelo consumo de substâncias ilícitas, mas principalmente pelo consumo de... junk – sejam balas em formato de minhoca, sejam filmes de piranhas assassinas. E atleta é o que me imponho pela vaidade e hiperatividade. Trabalho em casa, sou hiperativo, e se não me lanço, me canso e desando. A vaidade também serve como equilíbrio, para eu não me acabar de junkie nem virar um intelectual barbudo. A vaidade é que salva minha vida.
Enfim...
Quando vim morar na praia...
Quando vim morar na praia desequilibrei a balança para o lado do atleta é verdade. Aqui não tem cinema, não tem teatro, e eu tenho vivido mais de fotossíntese do que de cultura. Mas não posso enganar ninguém. Por mais que eu corra na praia e malhe todos os dias, por mais que eu pratique kite surf e caminhe por horas e horas, eu sempre vou ter algo de desengonçado, de errado, de patoso, de escritor...
Então eu decidi mergulhar.
André, meu instrutor.
Fiz esta semana inteira um curso intensivo de scuba diver – mergulho com cilindro. Em teoria, para mergulhar com cilindro de ar comprimido, você precisa estar credenciado. A não ser que mergulhe rasinho, com instrutor, etc, etc. Você sabe como eu gosto dos bichinhos... E como gosto de ampliar os horizontes. Então resolvi ampliar meu habitat de exploração vendo os bichinhos dentro d'água. Resolvi virar mergulhador. Não foi tão suave como eu pensava.
O curso começa com um dia inteiro de aulas teóricas. Bem teóricas. Para aprender não apenas quais são os equipamentos necessários, mas calcular a quantidade de Nitrogênio Residual no seu sangue (!) depois dos mergulhos, usar tabelas de tempos e profundidades máximas, procedimentos de emergência, etc. Beleza. Meio que me perdi nos números. Mas beleza. Foi o mais tranquilo.
A primeira aula prática é numa piscina. Tranquilo. Até divertido. Mas só deixa você ansioso para os mergulhos. E os mergulhos...
Pronto para embarcar...
Fiz 4 mergulhos. 2 em cada dia. O primeiro dia foi razoavelmente tranquilo, ainda que meio decepcionante. Visibilidade péssima, poucos peixes, água geladíssima. Fomos de barco até a Ilha do Xavier. Era mais para praticar exercícios. Ok. Deu tudo certo. Foi interessante. Grandes expectativas para o último dia de mergulho.
Já que íamos voltar para a Ilha do Xavier, vesti meu uniforme de X-man, que comprei pra kite (e serviu belíssimo para mergulho, devo dizer) e me alonguei para os últimos mergulhos.
Ainda todo coquete - adoro essas wetsuits. Eu andaria no baixo augusta com essas wetsuits. Quando eu for rico, vou fazer coleção de wet suits. Mas... quando eu for rico, não vou caber mais.
A petizada que mergulhou comigo.
Os últimos 2 mergulhos... Foram traumáticos. O mar estava muito agitado, visibilidade péssima e eu, que sou todo patoso, quase me afoguei enrolado nas alças do meu próprio equipamento. Sério! Fiz umas coisas do tipo... descer doze metros de profundidade com o SNORKEL na boca (isso, snorkel, cheio d'água, sem o ar comprimido do cilindro) e lá embaixo me lembrar de colocar o regulador, esquecer de inflar o colete na superfície e ficar lutando para não afundar. E para coroar... me perdi. De todo mundo. A visibilidade estava péssima, não consegui ver mais ninguém e acabei voltando para o barco.
Só me restou bronzear.
Consegue ler na boca do povo? ("Ts, ts")
Santiago tem fé.
Mas EU FUI credenciado porque fiquei cool – acho que os instrutores ficaram com mais medo do que eu - consegui fazer todos os exercícios, que incluíam coisas como instrutor tirar sua máscara embaixo d'água e você ter de colocar de volta e tirar a água (soprando ar pelo nariz); instrutor fechar sua torneira de ar e você ter de pegar ar do parceiro; você ter de tirar seu EQUIPAMENTO TODO embaixo d'água e vestir de volta...
Depois ainda tinha uma prova escrita teórica. Que eu quase gabaritei, embora estivesse mega, mega tonto desse nitrogênio residual no sangue.
E você me pergunta: e os peixes? E os bichinhos? Bem, a parte GOSTOSA eu não conheci. Hahah. Foi só sofrimento. Sério. Não me arrependi de fazer o curso, é bem interessante, repertório e pré-requisito para viagens mais suaves; mas eu ingenuamente achava que o curso de mergulho ia ser tartarugas comendo na minha mão.
Bem...
No mais, além de todo o conhecimento da área, o curso ainda me deixou com... sotaque de catarina. Passei um ano nesta ilha incólume, principalmente porque não convivo com ninguém; mas uma semana conversando com a petizada mané e já me percebi cantando hoje no final do dia.
Poderia ser pior. Eu poderia mesmo ter morrido.
É salgado morrer no mar. Agora eu sei.
Por pouco que não sou credenciado.
Santiago tem fé.
Mas EU FUI credenciado porque fiquei cool – acho que os instrutores ficaram com mais medo do que eu - consegui fazer todos os exercícios, que incluíam coisas como instrutor tirar sua máscara embaixo d'água e você ter de colocar de volta e tirar a água (soprando ar pelo nariz); instrutor fechar sua torneira de ar e você ter de pegar ar do parceiro; você ter de tirar seu EQUIPAMENTO TODO embaixo d'água e vestir de volta...
Depois ainda tinha uma prova escrita teórica. Que eu quase gabaritei, embora estivesse mega, mega tonto desse nitrogênio residual no sangue.
E você me pergunta: e os peixes? E os bichinhos? Bem, a parte GOSTOSA eu não conheci. Hahah. Foi só sofrimento. Sério. Não me arrependi de fazer o curso, é bem interessante, repertório e pré-requisito para viagens mais suaves; mas eu ingenuamente achava que o curso de mergulho ia ser tartarugas comendo na minha mão.
Bem...
Quando eu era criança pequena em Barbacema, e em Ilha Bela, eu mergulhava (de snorkel) na casa do meu tio. E era lindo. Lembro que pegávamos lagostas e meu primo comia as ovas com o bicho ainda vivo. Acho que ele é que acabou com as lagostas na costa brasileira. Agora é preciso afundar mais.
No mais, além de todo o conhecimento da área, o curso ainda me deixou com... sotaque de catarina. Passei um ano nesta ilha incólume, principalmente porque não convivo com ninguém; mas uma semana conversando com a petizada mané e já me percebi cantando hoje no final do dia.
Poderia ser pior. Eu poderia mesmo ter morrido.
É salgado morrer no mar. Agora eu sei.
Game Over, paulista.